Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca da agricultura no Brasil e a participação de S.Exa., na Argentina, de uma série de debates do Clube da Fibra, em especial, sobre o algodão.

Autor
Blairo Maggi (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Blairo Borges Maggi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA. CODIGO FLORESTAL.:
  • Considerações acerca da agricultura no Brasil e a participação de S.Exa., na Argentina, de uma série de debates do Clube da Fibra, em especial, sobre o algodão.
Aparteantes
Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 31/08/2011 - Página 35589
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA. CODIGO FLORESTAL.
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, CONGRESSO, ALGODÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, COMPARAÇÃO, POLITICA AGRICOLA, POLITICA DO MEIO AMBIENTE, BRASIL, NECESSIDADE, PRESERVAÇÃO, AREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL, REFORMULAÇÃO, CODIGO FLORESTAL.

            O SR. BLAIRO MAGGI (PR - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Cumprimento o Sr. Presidente, Srªs Senadores, Srs. Senadores. Inicialmente, quero agradecer à Senadora Ana Amélia por ter me concedido o seu tempo para que eu pudesse falar um pouco aqui hoje sobre agricultura.

            Na semana passada, fui convidado por uma empresa a participar de um evento na Argentina, um congresso de algodão, chamado Clube da Fibra. E para lá foram levados mais de 300 produtores brasileiros, de todos Estados que são produtores de algodão e, por três dias, fizemos um debate sobre essa cultura tão importante para o País, para a vida nacional e para as exportações também.

            E tive a oportunidade então, no final desse evento, de andar pela Argentina para ver o que os hermanos estão fazendo. E confesso que levei um susto, se posso dizer assim, um susto agradável para os argentinos e um pouco desagradável para nosotros, brasileiros. Porque a Argentina, com seu território tão menor que o do Brasil, está a passos largos e está nos alcançando na produção de grãos.

            O Brasil é reconhecido no mundo inteiro como o grande país agrícola, com os grandes potenciais que tem, mas, na realidade, queria chamar a atenção do Senado para dizer que estamos ficando com o potencial, como é a África hoje, e os argentinos estão ficando com a produção. E, no final, vão acabar ganhando de nós.

            Andando pelo pampa argentino, não muito distante de Buenos Aires, uns 300 quilômetros, onde está concentrada a grande zona de produção, a gente percebe as diferenças nítidas que existem em relação ao Brasil. A primeira diferença é de logística. Enquanto toda a produção argentina está situada num raio de 300 quilômetros, a brasileira está a 1.800, 2000 quilômetros, como é o caso do Estado de Mato Grosso, como é o caso de Tocantins, como é o caso de Goiás, entre 1000 e 1.400 quilômetros.

            Os portos argentinos, do lado. Gastam-se US$ 4 a US$ 5 para tirar uma tonelada de milho, ou de soja, ou de cevada, ou de trigo da propriedade e colocar no armazém junto ao rio Paraná. No Brasil, nós gastamos US$ 50 por tonelada para fazer a mesma coisa.

            Mas, Sr. Presidente, o que mais me chamou a atenção, e confesso que não conhecia, foi como funciona a questão ambiental na Argentina. É muito interessante, porque, neste momento, Senadora Ana Amélia, estamos discutindo o Código Florestal brasileiro. E parece que há uma briga entre os setores urbanos e os setores produtores, até aqui dentro do próprio Senado.

            E o que vou dizer aqui, pena que não temos muitos Senadores na sessão, já que estamos com a pauta trancada, que seria importante, Senadora, até antes de votarmos, que pudéssemos ter uma comissão daqui do Senado para visitar o que os argentinos estão fazendo na agricultura.

            Nessa região do pampa, dos campos argentinos, como é o nosso cerrado, como são os nossos campos gerais no Paraná, e pampa, no Rio Grande do Sul, não existe um único metro quadrado de reserva legal. Não existe um único rio, um único arroio, um único córrego que tenha proteção de APP como se tem no Brasil.

            E olha, e quero deixar registrado, não estou nem reclamando do que estamos para votar e fazer aqui, porque concordo em muitos aspectos que temos que ter a preservação do meio ambiente, mas daí a competir com os argentinos, com os uruguaios em condições diferentes, e muito diferentes, só vai ter uma coisa para o Brasil: ser derrotado na corrida pela produção de alimentos no Brasil e no mundo.

            Tive a oportunidade de verificar que, em poucos anos, Senadora Ana Amélia, cinco anos, dez anos, no máximo, a Argentina estará produzindo mais soja do que o Brasil; estará produzindo mais milho do que o Brasil; estará produzindo, como já produz, mais trigo, girassol, couza e outras coisas. E para quem é o maior produtor de grãos, ou para quem for o maior produtor de grãos, sobrarão para esse país ou para essa economia, não só a exportação do grão, mas as outras atividades, as atividades agroindustriais, as atividades da verticalização da economia agrícola, que é sair dos grãos, sair da proteína vegetal, para a proteína animal, que é muito mais cara e que o mundo demanda muito mais do que simplesmente os grãos que exportamos.

            Então, eu queria chamar a atenção do Senado Federal e da sociedade brasileira para o fato de que a votação do Código Florestal que vamos fazer aqui seja um marco para a agricultura e para o sistema de conservação no Brasil, mas que não seja um impeditivo para que o Brasil continue a crescer, a evoluir e ser cada vez mais produtivo e cada vez melhor nesse segmento.

            Acho, e quero deixar aqui clara a minha posição, que aquilo que foi conquistado, aquilo que foi feito no nosso País - e, hoje pela manhã, discutimos, na Comissão de Meio Ambiente, a agricultura, e também, na Comissão de Ciência e Tecnologia, com a presença do Ministério das Cidades e outros -, em que as cidades pedem que as conquistas, os avanços, a ocupação das APPs sejam preservados pelo novo Código. E também vamos reivindicar, estou aqui dando a minha posição, que também queremos isso no campo, para respeitar a ocupação daqueles que fizeram no passado, dentro de outras regras e em outras situações.

            Concedo um aparte à Senadora Ana Amélia, que, tão gentilmente, me cedeu o espaço para eu estar aqui, nesta tribuna.

            A Srª Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - Com toda razão, Senador Blairo Maggi. Agradeço-lhe o aparte e agradeço também as informações extremamente atuais e importantes que o caro Colega traz dessa visita à Argentina. Isso não significa dizer que o fato de a Argentina, nosso principal concorrente na produção agropecuária dentro do Mercosul e fora dele também, a ausência do Estado, com regulamentação, com penalização, com uma série de outras normas legais, não significa dizer que essa ausência tem sido responsável por problemas ambientais na Argentina. Ao contrário. Tenho certeza de que V. Exª encontrou lá uma preocupação dos produtores argentinos com a preservação ambiental, porque eles têm consciência também de todas as questões relacionadas ao aquecimento global, à necessidade de preservação da terra, porque, como no Rio Grande do Sul, o agricultor está preparado, hoje, inclusive para a questão do uso do plantio na palha, que tem baixo carbono, para a agricultura de baixo carbono e todas essas práticas de manejo que são sustentáveis. Então, o que V. Exª traz é extremamente relevante, Senador Blairo. Concordo plenamente com V. Exª. Muitos agricultores, muitos empresários, não só da agricultura, estão indo buscar o ambiente mais seguro da produção na Argentina e no Uruguai, no Paraguai e até na Bolívia, porque o ambiente é de maior segurança e um ambiente mais favorável aos empreendedores, sejam eles da área rural, sejam eles da área industrial. É o que está acontecendo no meu Estado, o Rio Grande do Sul, são indústrias que estão indo para a Argentina, para o Uruguai e para o Paraguai ou com produtores rurais fazendo a mesma coisa porque o ambiente aqui não está favorável. Queremos aprovar, sim, até novembro, o Código Florestal, para evitar a judicialização de uma matéria tão importante, porque agricultor responsável, como são os agricultores, V. Exª é um deles, e os do meu Estado, têm responsabilidade com a preservação ambiental e com o aumento da produção de grãos de maneira sustentável. Muito obrigada.

            O SR. BLAIRO MAGGI (PR - MT) - Agradeço à Senadora Ana Amélia o aparte. O meio ambiente não conhece fronteiras. Não é porque tem o rio Paraguai e o rio Paraná, que divide os nossos países, que as coisas são diferentes. Na realidade, eles estão num sistema totalmente livre, desobrigados. Compra-se um hectare de terra na Argentina e planta-se um hectare de terra na Argentina. No Brasil, se estiver na Amazônia, compra um hectare, dez mil metros quadrados, e vai usar 20%. No cerrado, vai usar 65% e, no resto do País, 80%.

            Portanto, o que vem acontecendo é que nós temos uma lei ambiental pesada, dura - eu não diria que não é necessária, mas ela é dura, é pesada -, mas enquanto outros países não fazem a mesma coisa, não resta alternativa...

(Interrupção do som.)

            O SR. BLAIRO MAGGI (PR - MT. Fora do microfone.) - Mais um minuto, Srª Presidente.

            A SRª PRESIDENTE (Marta Suplicy. Bloco/PT - SP) - Um momento, que o Senador estava aqui falando.

            Mas vou conceder mais dois minutos para o encerramento, Senador. Desculpe-me.

            O SR. BLAIRO MAGGI (PR - MT) - Mas como eu brincava aqui, nosotros não podemos pular la frontera e produzir na Argentina.

            Então, acho que o Brasil deve se preocupar com isso. É uma questão para quem mora na cidade, que tem de ter a compreensão de como funciona o campo e de que não criemos aqui, no Senado Federal, um cabo de guerra nesse assunto. Porque, se fizermos aqui um cabo de guerra, alguém sairá vencedor. E nós não queremos nem ser vencedores nem ser perdedores. O que nós queremos é o consenso para fazer com que a preservação do meio ambiente e as questões de produção, de segurança alimentar, de uma economia forte que traga divisas para o País, que a gente consiga fazer isso com toda a tranquilidade.

            Então, quero, mais uma vez deixar aqui o meu alerta. A Argentina se prepara para aumentar a sua produção de soja em mais de 40% nos próximos anos, em 106% na área de milho, em 57% na área de trigo e em 45% na área de girassol, chegando a mais de 100 milhões de toneladas, enquanto o Brasil patina nos seus 145 milhões de toneladas.

            Quero aqui, mais uma vez, agradecer à Senadora e agradeço à Srª Presidente também.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/08/2011 - Página 35589