Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo à Presidente Dilma Rousseff para que não faça um "governo de continuidade".

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Apelo à Presidente Dilma Rousseff para que não faça um "governo de continuidade".
Publicação
Publicação no DSF de 31/08/2011 - Página 35592
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DEFESA, RENOVAÇÃO, GESTÃO, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, INTERFERENCIA, AUTORIDADE, ASSUNTO, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu tinha previsto hoje falar aqui lembrando, Senador Pedro Simon, os 50 anos da campanha da legalidade, liderada pelo nosso saudoso Leonel Brizola. Lembrar o que é que faz com que Leonel Brizola esteja vivo até hoje: seu carisma, sua honestidade, sua firmeza, sua combatividade, seu sentimento de Pátria, sua visão de longo prazo. E falar também uma especulação. Como seria o Brasil hoje se ele tivesse ganhado a eleição de 1989? Como ele teria feito a reforma política, que acho que ele teria feito? Como ele teria criado um modelo econômico subordinado aos interesses nacionais e da população? Como ele teria feito - e não há dúvida disso - uma revolução na educação brasileira?

            Mas, depois de ouvir o discurso do Senador Pedro Simon, creio que Brizola entenderia perfeitamente que eu mudasse o tom, o tema do discurso, e repercutisse a fala do Senador Pedro Simon.

            O que ele trouxe aqui foi uma preocupação de um patriota e de um patriota democrata. O que ele trouxe aqui foi a preocupação com a imagem do chefe ou da chefe de Estado deste País, no nosso caso hoje, da Presidenta Dilma. O que ele trouxe para nós não foram ilações nem suspeitas a respeito de coisas indecentes que alguns líderes brasileiros estejam fazendo, como as revistas colocaram. Não!

            Ele analisou aquilo que ninguém pode suspeitar de ilícito, Senador Luiz Henrique. Mas, mesmo sendo lícito, traz um respingo muito grande na imagem da Presidenta Dilma. O que ele falou é que o comportamento do ex-Presidente Lula, pela sua grandeza, até de uma maneira que ele não precise forçar, porque realmente ele tem uma dimensão muito grande, esse comportamento termina apequenando a Presidenta da República.

            O Senador Pedro Simon lembrou quando o ex-Presidente Lula sai para negociar com o Presidente da Bolívia; quando o ex-ministro José Dirceu recebe ministros e presidentes de estatais para despachar, mesmo que - o Senador Pedro Simon foi enfático - não haja nada suspeito, de ilegal por trás disso. Mesmo assim, é um gesto de lesa-República, porque é um gesto de lesa-imagem da nossa Presidenta. O que o Senador Simon veio fazer aqui hoje foi tentar defender a liturgia da Presidência da República, sem o que não se mantém o poder.

            Porque o regime militar mantém o poder com a farda e com as armas. Não precisa de liturgia. Não precisa de credibilidade. Os tanques nas ruas ou mesmo nos quartéis, com ameaça de irem para as ruas, são suficientes para dar a firmeza e a segurança, mas, nos regimes civis, a segurança e a firmeza não vêm sem uma imensa credibilidade, que surge dos gestos, que surge do respeito de toda a sociedade à Presidente da República.

            E há mais de uma maneira de ferir isso. Existe o ferimento das ofensas que a oposição pode cometer - e, se o fizer, a gente tem de combater aqui, não pode deixar que a figura de uma Presidente, de um Presidente, seja maculada de uma maneira perversa, de uma maneira má, de uma maneira irresponsável -, e há outra maneira: é sem ofender, mas dizendo ou fazendo coisas que façam com que o tamanho dela fique menor.

            Eu, Senador Viana, fiquei preocupado, fiquei preocupado com os movimentos recentes dessas grandes personalidades que são José Dirceu e o ex-Presidente Lula. Não estou aqui levantando suspeita de coisas ilícitas da parte de nenhum deles dois, como Pedro Simon não levantou, mas é que, ao tomarem uma dimensão tão grande como a que têm, em comparação, pode-se diminuir a imagem da Presidenta Dilma. E isso fica ainda mais perigoso pelo fato de a Presidenta, desde o seu primeiro dia, passar a imagem de que este é um governo de simples continuidade.

            Governo de continuidade já começa com mais de oito anos, e governo que começa com mais de oito anos já começa velho. Com todo respeito que ela deveria ter, por obrigação, por necessidade, à imagem do Presidente Lula, por mais que ela tivesse sempre tido a gratidão que tem a ele, era preciso rasgos de diferença entre um governo que terminou e um governo que começou, era preciso coisas inspiradoras novas, programas diferentes, sem acabar com aqueles que davam certo.

            Mas nós não estamos vendo isso. Apesar de o slogan ter mudado para muito melhor - no lugar de “Brasil, país de todos”, “País rico é país sem pobreza” -, apesar da campanha pela erradicação da miséria, que é um avanço no que se refere ao Fome Zero, apesar disso, a imagem que passa nesses oito meses é de um governo que é, pura e simplesmente, continuidade do anterior, inclusive continuidade das boas coisas do anterior - o anterior teve boas coisas sim, e não adianta a oposição querer descaracterizar qualidades do Governo Lula.

            Mas a simples continuidade não é boa. A democracia não é feita apenas para renovar o nome de quem assina os atos que vão para o Diário Oficial.

A democracia é feita também para renovar o conteúdo daquilo que vai para o Diário Oficial. E isso não temos visto ou temos visto muito pouco. E aí temos um governo que começa envelhecido. Isso é ruim para o Brasil, isso é ruim para a sua imagem.

            Agora, se, ao mesmo tempo, acontece isso com pessoas grandes, assumindo posições de liderança, despachando com ministro, com presidente de estatal, viajando ao exterior para negociar com chefe de estado projetos de interesse do Brasil e da Bolívia, corremos um grande risco, Senador Luiz Henrique, de termos um governo, que tem tudo para ser grande, se apequenando diante de dois fatos: a continuidade sem inspirações novas e a presença marcante, como uma sombra, de personalidades de antes sobre a Presidenta do momento.

            A nossa tarefa, dos republicanos, dos patriotas, de oposição ou não, é fazer os alertas que o Senador Pedro Simon há pouco fez, de fazer esses alertas que estou apenas repercutindo modestamente porque ele quem fez o discurso, foi ele quem levantou o problema. Nosso papel de quem quer zelar pela continuidade da Nação e não do governo, pela continuidade da Nação com novos projetos e não de um governo repetitivo, como o anterior, que quer dar a imagem do tamanho que deve ter uma presidenta da República maior do que a sombra dos outros, nós que temos essa preocupação, Senador Pedro, temos que estar aqui, Senador Benedito, falando com clareza e zelando pela imagem da Presidenta. Quando for necessário, com críticas - o que estou falando não deixa de ser crítica -, sobretudo, quando possível, com elogios, mas nunca diminuindo a figura dela, seja por discurso de oposição, seja por um excesso de presença de pessoas do Governo, do partido do Governo, ligadas ao Governo, mas jogando sombra sobre a Presidenta Dilma.

            Quero manifestar, aqui, o meu compromisso com a República brasileira, com a democracia e com a Presidenta que temos pelos próximos quatro anos, pronto a fazer críticas quantas vezes forem necessárias, a defender quantas vezes for preciso, mas não só da oposição, defender de muitos aliados que, deliberadamente ou não, cometem atos de lesa-República, porque são atos de lesa-presidência da República.

            Era isso, Senador Pedro Simon, Senador Presidente Sarney, que eu gostaria de ter falado hoje.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/08/2011 - Página 35592