Discurso durante a 151ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta para o drama das mulheres escalpeladas em acidentes com barcos nos rios da região amazônica.

Autor
Geovani Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Geovani Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Alerta para o drama das mulheres escalpeladas em acidentes com barcos nos rios da região amazônica.
Publicação
Publicação no DSF de 02/09/2011 - Página 36311
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO, MULHER, VITIMA, ACIDENTE PESSOAL, EMBARCAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, RESULTADO, MUTILAÇÃO, REGISTRO, IMPORTANCIA, CAMPANHA EDUCACIONAL, ESTADO DO AMAPA (AP), PREVENÇÃO, ERRADICAÇÃO, PROBLEMA, SAUDAÇÃO, INSTITUIÇÃO CIENTIFICA, CIRURGIÃO, REALIZAÇÃO, ESTADO DO PARA (PA), MUTIRÃO, CIRURGIA, ACIDENTADO.

            O SR. GEOVANI BORGES (Bloco/PMDB - AP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, gostaria de solicitar à Mesa, a exemplo do Senador Walter Pinheiro, que considere o meu discurso como lido e que ele seja publicado.

            O tema é o ocorrido há três anos, quando Brasília foi a sede do Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica. Na época, tivemos a oportunidade de ver renascer nesta Casa debates importantes acerca de triste ocorrência em nossa região, pelos rios navegáveis. E vai por aí afora...

            A exemplo do nosso Comandante Marcelo, Randolfe, gostaria de solicitar a V. Exª que considere ir para publicação o meu discurso, não só no Diário do Senado, como também no Jornal do Senado, nos termos em que já fui orientado pela Mesa.

            Muito obrigado.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR GEOVANI BORGES

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            O SR. GEOVANI BORGES (Bloco/PMDB. - AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há cerca de três anos, quando Brasília foi a sede do Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica, tivemos a oportunidade de ver renascer nesta casa debates importantes acerca de uma triste ocorrência de nossa região, plena de rios navegáveis.

            Trata-se do drama das mulheres escalpeladas, vitimadas pela situação absurda de descaso nas pequenas embarcações que cortam nossos rios.

            Os motores vão descobertos, e na tarefa de tirar água das embarcações, mulheres e homens - mas sobretudo mulheres de cabelos longos - se acidentam, quando o cabelo se enrola no eixo, provocando a partir daí uma seqüencia macabra de dores e mutilações.

            À época, mulheres como Maria do Socorro Nascimento e outras tantas vítimas dessa atrocidade, estiveram em Brasília, onde a matéria foi tratada no âmbito do Congresso Médico. Na verdade, abriu-se uma pauta no tema central do encontro para fomentar o debate.

            Considerado uma Tragédia Amazônica e especialmente no Pará, onde 90% dos casos ocorre, o escalpelamento de mulheres (crianças e adultos jovens) ainda ocorre com uma média de um caso por mês, apesar das ações desenvolvidas junto às comunidades ribeirinhas, voltadas para a prevenção desses acidentes, orientação aos barqueiros e ação concreta de proteger o eixo do motor das embarcações.

            Lembro-me que meu irmão Gilvam Borges pronunciou-se diversas vezes sobre o assunto, assim como o ex-senador amapaense Papaleo Paes, revelando as nuances de dor e desespero que marcam para sempre as vítimas de escalpelamento. E quando o assunto foi tratado, muitos aqui presentes até desconheciam a existência dessa tragédia.

            O tratamento das vítimas é longo, doloroso, não recupera os cabelos e nem as lesões decorrentes do arrancamento de orelhas e pálpebras.

            As chamadas “meninas de turbantes”, que são crianças e adultos jovens na maioria, precisam passar por várias intervenções cirúrgicas e acompanhamento ambulatorial com cirurgião plástico e acompanhamento por uma equipe multiprofissional da instituição.

            Ano passado, finalmente tivemos a alegria de ver acontecer no Estado do Pará o primeiro mutirão de cirurgias reparadoras, numa iniciativa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, reunindo especialistas de Minas Gerais, São Paulo e Brasília.

            Agora nesta próxima semana, a mesma equipe multidisciplinar e os mesmos renomados cirurgiões, estarão de volta ao Pará, para a segunda etapa de cirurgias daquele mutirão, uma vez que como já dissemos, o tratamento é feito de forma lenta e gradual. Entre eles, o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Dr. Ognev Cosac, a quem desejo desde já cumprimentar. 

            E isso porque, o Pará estará sediando a vigésima sexta Jornada de Cirurgia Plástica, cujo tema central será face e nariz. 

            Tradicionalmente, os integrantes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica incluem nas suas ações científicas, uma ação caritativa, como é o caso dos mutirões.

            Eu gostaria portanto de saldar o advento dessa jornada científica, que inclui a segunda etapa de cirurgias reparadoras em favor das escalpeladas, para as quais, tal como ocorreu na primeira fase, estão selecionadas vítimas oriundas também do Amapá.

            É importante citar que muito se tem a fazer para erradicar essa tragédia, porém, todos nós precisamos estar comprometidos com a causa, para atingirmos esse objetivo.

            E talvez o passo mais importante seja o de incentivar e divulgar de forma permanente as ações de prevençâo em nossa região ribeirinha, alertar as mulheres que usam cabelos compridos para viajarem com os cabelos presos, envolver as escolas municipais com propostas de trabalhos e campanhas sobre o tema, envolver ainda as igrejas, pastorais, Conselhos e a comunidade em geral.

            Aliás, é justo que se diga que tivemos esta semana lá no nosso Estado a 3ª Campanha de Educação, Prevenção e Erradicação ao Escalpelamento na Amazônia, cujo tema é: "Todos de mãos dadas pelo fim do escalpelamento".

            No mais, é desejar que todos de fato se engajem pelo fim dessa triste casuística . E desejar também sucesso aos cirurgiões que vão reunir-se no Estado do Pará para essa etapa continuada no mutirão.

            Um mutirão que na verdade tenta trazer de volta um pouco da auto-estima daquelas pacientes, sua reintegração social e uma resposta da medicina às lesões terríveis das quais foram vítimas.

            O Brasil que tem na cirurgia plástica um reconhecimento internacional, mais uma vez conta com a sabedoria e preparo de seus médicos, para dar alguma resposta de alegria à dor imensa daquelas pessoas vitimadas pelo descaso, pela falta de informação, pela falta de vigilância nas embarcações.

            Era nosso registro.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/09/2011 - Página 36311