Discurso durante a 153ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem a Tereza Cruvinel, Presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), pelo trabalho desenvolvido na TV Brasil. (como Líder)

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a Tereza Cruvinel, Presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), pelo trabalho desenvolvido na TV Brasil. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 06/09/2011 - Página 36559
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE, EMPRESA, SUPERVISÃO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, EXECUTIVO, LEGISLATIVO, JUDICIARIO, MOTIVO, REALIZAÇÃO, TRABALHO, AREA, EMISSORA, TELEVISÃO, PEDIDO, ORADOR, PERMANENCIA, ATIVIDADE.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta Vanessa Grazziotin, eu gostaria de continuar na mesma frequência, no mesmo espírito do Senador Cristovam Buarque, para falar da nossa preocupação com a educação, com a cultura.

            Visitei, recentemente, a TV Brasil. Fiquei impressionado e gostaria de registrar minha impressão no plenário desta Casa. Eu queria começar falando da gestão que uma ilustre dama mineira está fazendo à frente da TV Brasil. Ela conseguiu, em pouco tempo, um local próprio. Ali fez uma obra que nos surpreende a todos. Eu não sabia que ela tinha as virtudes da administração. Sou engenheiro civil por formação e sei a dificuldade que é fazer uma obra no centro de uma cidade, sobretudo, como Brasília. Ela, vencendo enormes dificuldades, com aquele espírito dos bandeirantes, com a fibra da mulher brasileira, com a fé de um mártir, conseguiu fazer estúdios de rádio e de televisão, ajeitou toda a parte administrativa - é lá que eles fazem a resenha dos jornais pela madrugada - e implantou um sistema de computação extraordinário, tudo isso com recursos orçamentários modestos diante da obra que ela realizou.

            Conheço um pouco as televisões. Já estive nas grandes tevês brasileiras, não só concedendo entrevistas, mas também passeando, conversando. Conheço, talvez mais de perto, a Record. Sei do custo que tem isso tudo. Em nenhuma dessas grandes televisões brasileiras, vi, por exemplo, estúdios com câmeras de controle remoto, como vi nesses novos estúdios que estão sendo implementados na TV Brasil.

            Como a mídia exerce um papel extraordinário na cultura do povo - hoje, é um dos veículos com maior audiência -, entregar como patrimônio do povo brasileiro uma televisão com essa capacidade tecnológica e tão bem administrada é realmente algo que nos traz a esperança de ver, no futuro, programações que não poderiam passar nos canais privados, por questão de interesses financeiros, terem espaço nessa televisão ou nas nossas rádios.

            Sei que, agora, virá um processo legislativo. Vai vencer o mandato a nossa ilustre dama mineira, e eu gostaria de ser o primeiro, aqui, a defender sua permanência. Faço isso não por que ela pertença ao meu Partido ou por qualquer outro tipo de afinidade política. Faço isso por dever de consciência, por reconhecer uma obra, eu diria, extraordinária, as dificuldades que ela superou, todos os obstáculos que venceu - implantar alguma coisa no Brasil é sempre muito difícil -, com orçamentos escassos.

            Eu gostaria de aplaudir a nossa Tereza Cruvinel, que, durante muitos anos, dedicou sua vida, por meio da imprensa, a fazer críticas à política e a acompanhar o Congresso numa coluna que era lida por grande parte do público brasileiro. Ela sempre foi muito prestigiada. E, agora, ela nos dá a prova não só de sua capacidade de articular e de escrever - isso todos nós sabíamos e aplaudíamos -, mas também de administrar, de projetar, de vencer, com criatividade e com inteligência, a escassez dos meios e, num tempo recorde, de garantir um patrimônio para a educação, para a cultura, para a democracia do povo brasileiro, que é uma TV pública.

            Eu apenas gostaria de, numa próxima audiência, discutir, no Senado, não uma decisão da Tereza, mas uma decisão do Conselho de Administração, que retirou dessa televisão os programas religiosos da Igreja Católica, a Santa Missa em seu Lar, e também Palavra de Vida, da Igreja Batista. São Igrejas das quais não participei nem participo, mas acho que o Conselho cometeu um equívoco. Se a televisão estatal, como a TV Senado, que agora é usada como veículo para este meu pronunciamento, deve, sim, estar separada da religião, por uma questão da laicidade do Estado, o mesmo não se deve dizer de uma TV pública. A religião é muito importante para o espírito dos povos, sempre foi, e não há sinais de que deixará de ser. Portanto, o povo brasileiro, que é detentor de tradições cristãs, assistiria, eu diria, com prazer, tanto à programação católica quanto à programação evangélica, até porque o tempo que foi dado a elas não é nada excessivo. Acho que esse mesmo público reagirá mal, quando notar que da pauta foram retirados esses programas, sem que ele tenha sido consultado.

            A própria Conselheira que compõe esse órgão superior e que é oriunda do Senado Federal não me consultou. Não tenho certeza se ela consultou os demais Senadores, mas sou um Líder nesta Casa e não fui consultado. Se representa o Senado, ela, talvez, devesse consultar pelo menos os Líderes para adotar uma deliberação que acho relevante, muito mais - eu diria - pelo valor simbólico, já que, numa televisão pública, devemos defender nossa cultura, nossas raízes, nossos valores e aquilo que vemos presente na vida nacional das pessoas, na sua idiossincrasia, do que até mesmo pelo valor de audiência, que eu não saberia precisar - acredito que, no horário dado a esses programas, eles não conseguem atingir os maiores índices de audiência.

            Mas, de qualquer forma, Srª Presidenta, eu gostaria de deixar aqui o meu voto de aplauso, a minha satisfação e, eu diria até mais, o meu orgulho cívico de ter visto uma televisão, pela primeira vez, no nosso País... Havia outra antes, mas era muito incipiente. Quem visitava a TV Educativa no Rio de Janeiro saía dali até cabisbaixo, deprimido, porque as instalações eram de dar pena. A gente via que não teria nenhuma penetração no grande público por absoluta falta de meios, de avanços tecnológicos, de condições, embora os profissionais fossem todos muito competentes e até, de certa forma, laboriosos e voluntariosos. Agora, não! Agora, vemos uma TV pública à altura da nossa cultura, dos nossos valores.

            É importante para a democracia e para a Justiça haver um canal em que as pessoas possam assistir a uma programação que não seja apenas aquela dada, como ocorre nos canais públicos, para simplesmente conseguir mais audiência e, com a audiência, conseguir mais lucro, por meio, normalmente, da exploração das emoções, da alegria ou do choro. É assim que normalmente se movem as audiências e os marqueteiros, que fazem uso das emoções das pessoas para cativar a sua audiência. Agora, podemos contar com um canal público em que as pessoas são incentivadas à cidadania, à participação política, a vencer a resignação, mesmo diante de uma sociedade tão desigual como a nossa. Só vamos conseguir isso com a participação deles.

            Veja que, hoje, os grandes avanços que fizemos na política não diminuíram as desigualdades, porque conseguimos, na verdade, retirar milhões de pessoas da classe D. E isso é muito bom. Nós trouxemos pessoas para a classe C e para a classe B, mas, na prática, no empirismo da coisa, estamos aumentando o consumo. O consumo aumenta a desigualdade, porque aqueles que vendem, os que são donos dos meios de produção acabam enriquecendo mais. E consumo não enriquece, não no sentido das coisas materiais. É preciso, então, que haja participação política, porque, à medida que há maior desigualdade na nossa sociedade, o cidadão comum, diante desse imenso abismo, acaba se resignando, acaba achando que a política não é absolutamente o caminho para a conquista dos seus sonhos ou para a questão da justiça e acaba se afastando da vida pública.

            Podemos ver o exemplo dos Estados Unidos, onde há uma sociedade de consumo por décadas. Lá se elege um Presidente da República com 28% dos votos. O consumo é concentrador de poder e de renda, embora seja uma estratégia política para vencer eleições. Agora, aqueles que querem construir uma sociedade mais democrática e pluralista e conquistas de justiça e de democracia hão de dar valor a um canal público que possa, sim, trazer essa experiência ou esses valores para a população brasileira e despertá-la e engajá-la na luta política.

            Dessa maneira, como democrata, como Senador e como uma pessoa que quer pensar o Brasil para o futuro, eu não poderia deixar de vir aqui hoje, para enaltecer o trabalho feito até aqui e para dar um voto de confiança, para que essa ilustre dama mineira possa conduzir essa televisão e concluir o trabalho que tão brilhantemente iniciou, deixando de herança para o Brasil um marco, uma âncora da nacionalidade, capaz de nos guiar, eu diria, a um novo tempo.

            É isso que espero. É dessa maneira que começo aqui a fazer uma campanha até modesta, mas muito sincera e desinteressada, pela Tereza Cruvinel, parabenizando sua obra na TV pública.

            Muito obrigado, Srª Presidenta.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/09/2011 - Página 36559