Discurso durante a 153ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa da dosagem dos mecanismos de controle da inflação, pelo Governo Federal, como forma de assegurar o crescimento do País.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Defesa da dosagem dos mecanismos de controle da inflação, pelo Governo Federal, como forma de assegurar o crescimento do País.
Publicação
Publicação no DSF de 06/09/2011 - Página 36560
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • REGISTRO, DEFESA, CONTINUAÇÃO, REDUÇÃO, TAXAS, JUROS, MOTIVO, POSSIBILIDADE, BRASIL, COMPETIÇÃO INDUSTRIAL, MERCADO INTERNACIONAL.

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco/PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Pedro Taques, do Estado do Mato Grosso, Srªs e Srs. Senadores, nos últimos anos, o Brasil tem experimentado um ciclo de crescimento econômico bastante intenso. Mesmo no auge da grave crise econômica que atingiu boa parte do mundo há algum tempo, nosso País conseguiu manter níveis expressivos de expansão da economia, mas a economia, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é um organismo complicado. Suas reações são, muitas vezes, inesperadas e, outras vezes, mesmo quando esperadas, são complexas, muito complexas.

            O crescimento tem inúmeros e evidentes efeitos positivos na renda, no emprego, no consumo, no bem-estar, mas tem também seu efeito negativo quando promove, por exemplo, a inflação, que foi falada, ainda há pouco, pelo Senador Ferraço, do Espírito Santo. Essa, como sabemos, tem sido uma preocupação constante do Governo nos últimos meses. Temos instrumentos para lidar com isso, como é sabido. A política monetária tem suas ferramentas, que podem e devem ser usadas para prevenir os efeitos negativos do crescimento, em especial a inflação.

            Uma das ferramentas mais tradicionais da política monetária é o depósito compulsório, que controla a emissão de moeda escritural, como dizem os economistas, isto é, que reduz a proporção de depósitos em bancos, que podem ser convertidos em empréstimos. Com isso, há uma redução na oferta de crédito, o que, inevitavelmente, acaba se refletindo no consumo e, freando-se o consumo, toda economia, mais cedo ou mais tarde, ressente-se, diminuindo o seu ritmo. É o que está acontecendo praticamente, neste momento, no Brasil.

            No Brasil das últimas décadas, outra ferramenta de política monetária assumiu um papel especialmente importante. Refiro-me, Sr. Presidente, ao controle da taxa de juros. Também isso tem efeito direto sobre o crédito, tornando-o mais caro, e tem também um efeito importante sobre os investimentos, direta ou indiretamente. Com isso, afeta-se não só a oferta de crédito, com efeito sobre o consumo, mas também a produção.

            Ainda bem, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que o Banco Central, mais precisamente o Conselho Monetário, o Copom, baixou em 0.5 a taxa de juros, de 12,5% para 12%. Mas ainda é muito alta. Convenhamos, é uma das maiores taxas de juros do mundo. E nós sabemos que uma economia, para acelerar, para ter um crescimento forte, não pode ter uma taxa de juros dessa ordem.

            Espero que continue essa tendência na queda de juros. Vamos fazer aqui um apelo, como fazia nosso ex-vice-Presidente da República, José Alencar, que, por muitas e muitas vezes, como ouvi, em discursos pedia ao governo do qual ele era vice-Presidente - portanto, ao Presidente Lula -, pedia encarecidamente, o tempo todo, que o Presidente Lula e o Copom (Conselho Monetário Nacional), o Banco Central e o Ministério da Fazenda fizessem baixar a taxa de juros no nosso País.

            Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, cada instrumento de que dispõe a política monetária tem também seus efeitos colaterais. Se o superaquecimento da economia tem seus riscos, os meios de que dispomos para desacelerar o crescimento também tem os seus. Tudo passa a ser uma questão de como contrabalançar, de como combinar esses diversos riscos, de modo a preservar os efeitos benéficos do crescimento, ao mesmo tempo em que neutralizamos os seus possíveis traumas.

            Sabemos também que precisamos de um crescimento na indústria. O grande risco que o Brasil corre hoje é o da desindustrialização, fala recorrente do nosso Presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, e de tantos outros presidentes de federações do comércio e da indústria em todo o Brasil. Precisamos de uma indústria forte, produzindo, competindo com as indústrias que importam, que mandam grande quantidade de produtos de outros países, como a China, que está inundando o mercado brasileiro com produtos baratos, e a nossa indústria não tem capacidade de competitividade para concorrer com indústrias de outros países.

            Então, a taxa de juros mais baixa dá condições de as indústrias se incrementarem e terem uma produção mais forte para sustentar a demanda da produção brasileira.

            Outra coisa é a infraestrutura, na qual o Brasil precisa investir fortemente, investir pesado na construção de portos, de ferrovias, de hidrovias, de rodovias, duplicando nossa malha rodoviária.

            Hoje, é uma vergonha. O Brasil é a sétima economia do mundo, caminhando para a quinta, para a quarta talvez, daqui a dez, quinze, vinte anos, e só temos cinco mil quilômetros de rodovias duplicadas. Da malha federal, temos sessenta mil quilômetros de rodovias asfaltadas no Brasil, e só cinco mil quilômetros duplicadas. E o custo é de R$2 milhões a R$3 milhões um quilômetro de rodovia duplicada. Assim, com R$15 bilhões, R$20 bilhões, R$30 bilhões, seria possível dobrar a malha duplicada de nossas rodovias, barateando o transporte, diminuindo os riscos de acidente e mortes nas rodovias todos os finais de ano e todo o tempo.

            A grande questão, no que se refere a esses instrumentos, é saber qual vamos utilizar - se todos ou alguns -, quando utilizá-los e com que ênfase fazê-lo. Não há uma resposta exata e independente dos contextos. Não se trata aqui, Sr. Presidente, apenas de aplicar um conhecimento exato e certo, mas de exercer essa capacidade onipresente na política, inclusive na política econômica do nosso País, que é a prudência ou o discernimento.

            Era o que tinha para o momento, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/09/2011 - Página 36560