Discurso durante a 155ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Relato da reunião com a Associação Brasileira de Imprensa, a que S.Exa. esteve presente; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.:
  • Relato da reunião com a Associação Brasileira de Imprensa, a que S.Exa. esteve presente; e outros assuntos.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 09/09/2011 - Página 36875
Assunto
Outros > ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
Indexação
  • REGISTRO, REUNIÃO, ASSOCIAÇÃO NACIONAL, IMPRENSA, MOBILIZAÇÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, MANIFESTO, FEDERAÇÃO, INDUSTRIA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), COBRANÇA, ETICA, MORAL, DIGNIDADE, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
  • APOIO, MOBILIZAÇÃO, JUVENTUDE, ORGANIZAÇÃO, INTERNET, MARCHA, COMBATE, CORRUPÇÃO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Querido Sr. Presidente, Srs. Senadores, V. Exª, Presidente, Senador Cristovam e eu estamos vindo de uma correria.

            Anteontem estivemos no Rio de Janeiro, numa reunião muito importante com a Associação Brasileira de Imprensa. Nós fomos lá, num dos berços das grandes lutas deste País. E ela está engajada nesta luta contra a corrupção que já toma as ruas de todo o País.

            O Presidente, jornalista Maurício Azedo, que não sei de onde vem esse nome, porque é uma criatura doce e carinhosa, é uma pessoa excepcional e o Vice-Presidente, Tarcísio Holanda, nosso bravo e querido jornalista de todos os dias aqui no Congresso Nacional, deram a solidariedade, iniciaram e entraram nessa integração institucional.

            O comitê central da caminhada é a OAB, onde também estivemos na segunda-feira, juntamente com a CNBB e a ABI.

            No mesmo dia, terça-feira, omparecemos a uma reunião da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro - . A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro lançou um manifesto a favor da ética, da moral e da dignidade, o qual peço transcrição nos Anais desta Casa.

            Aliás, diga-se de passagem que a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro tem uma posição tradicional, nas horas difíceis, de se colocar a favor das grandes teses, a favor do Brasil.

            Ontem, cada um de nós estava num local. Eu estava em Porto Alegre.

            A OAB do Rio Grande do Sul fez uma reunião com todas as entidades que se possa imaginar, representativas da sociedade do Rio Grande do Sul. Estavam presentes a Associação Brasileira de Imprensa, a Associação das Igrejas, o Arcebispo, estudantes, intelectuais. No total, 72 entidades estavam representadas. Naquele ato, foi lançado um manifesto. E lá também houve um movimento popular, caminhando pelas ruas a favor da ética e da moral.

            E hoje estou aqui correndo. Vejo V. Exª na Presidência, o Senador Cristovam ali, e vejo o Senador Suplicy terminando de chegar. Nós, que estávamos nessas reuniões, fazemos questão de estar aqui hoje, nesta quinta-feira, porque, como diz a imprensa, ontem não foi um dia comum. Ontem foi um dia excepcional na história do Brasil. Ontem foi um dia realmente extraordinário. Essa manchete do Correio Braziliense, “Brasília não foge à luta”, foi um espelho da realidade do que aconteceu aqui ontem aqui em Brasília.

            Aliás, diga-se de passagem, quando a gente vê, e a gente sente o Correio Braziliense falar que 40 mil pessoas estavam em Brasília contra a corrupção; quando o Correio Braziliense espelha em duas páginas o que foi essa decisão, o que foi essa movimentação de 40 mil; quando a Folha - que, surpreendentemente, foi mais tímida na sua exposição, não entendo o porquê -, faz a sua apresentação; quando o Correio do Povo de Porto Alegre, “Marchas anticorrupção marcam Sete de Setembro”; quando o Zero Hora, “Grita ‘basta de corrupção’ marca o feriado”;

            quando O Globo fala da faxina verde e amarela, eu me empolgo, Sr. Presidente. Há muito tempo, muito, muito tempo, sou um dos parlamentares que vem participando dessa caminhada. Eu sou um otimista em relação ao meu País. Acho que o Brasil é praticamente um grande continente. E tem uma grande nação. E já não iria dizer que tem um grande futuro porque hoje já é de se dizer que tem um grande presente. O que está faltando no Brasil que cresce, que desenvolve, que avança e que até em números sociais de comparação aparecem hoje evidências de que a justiça social está melhorando. São milhões de miseráveis que viraram pobres e milhões de pobres que viraram praticamente classe média. O Brasil vai bem.

            O que não vai bem são as nossas instituições. O que não vai bem é essa dominação em termos de nosso País na ética, na moral, na dignidade. Os números apresentados em âmbito internacional dizem que 35% do PIB brasileiro vai na corrupção anual, 35%, quarenta bilhões. Estamos brigando aqui alucinadamente para encontrar um pouco mais de vinte bilhões para resolver a questão da saúde. O dobro disso é a corrupção e a anarquia administrativa. O caos na administração brasileira, as milhares e milhares de funções gratificadas, cargos que se sobrepõem, uma burocracia que é feita para não funcionar, de um modo muito especial, a impunidade. O Brasil é o País da impunidade!

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senador Pedro Simon?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Daqui a pouquinho, só daqui a pouquinho, com o maior prazer.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Por uma emergência.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Logo, logo lhe darei.

            Pois não.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Caro Senador Pedro Simon, por uma emergência, terei que sair para acompanhar a Srª Cristiane Teles Battisti e Drª Vania Hungria, que são do Conselho Científico da Fundação Internacional da Mieloma, e para um diálogo com o Presidente da Anvisa, e muito preocupadas com os temas que V. Exª está trazendo aqui, quero cumprimentá-lo, inclusive pela iniciativa. A sua voz, Senador Pedro Simon, nas últimas semanas, desde o momento em que V. Exª ingressou no Senado tem sido tão significativa e sobretudo quando V. Exª passou a realizar pronunciamentos aqui dizendo à Presidente Dilma Rousseff que ela teria todo o apoio para prevenir, evitar os atos de corrupção. A palavra da Presidenta Dilma Rousseff, no próprio dia 6 de setembro - quando estivemos ali para a homenagem que a Firjan nos concedeu, por iniciativa do Presidente Eduardo Gouvêa Vieira -, foi colocada da maneira tão assertiva, quanto ela costuma fazê-la, no seu pronunciamento da sexta-feira à noite, por ocasião do Dia da Independência, quando ela observou que num país com o malfeito não se acumplicia jamais e que tem na defesa da moralidade, no combate à corrupção uma ação permanente e inquebrantável. Assim o apelo aos jovens que V. Exª fez nesses últimos dias e que responderam ontem nas ruas de Brasília e de tantas cidades brasileiras tem muito a ver com a sua iniciativa e com a qual estamos de acordo. Eu volto em breve aqui ao plenário, para estar me somando à iniciativa, à palavra de V. Exª. Meus cumprimentos, Senador Pedro Simon. 

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Obrigado a V. Exª que, desde a primeira hora, acompanha essa caminhada. Essa luta de combate à impunidade e à corrupção vem de longe. Já tivemos momentos muito positivos nesta Casa, mas não deram em nada até agora. Desta vez, eu creio que vai avançar e eu creio que vai dar certo.

            Veja, tudo começou com a Presidente Dilma. A Presidente, ao contrário de seus antecessores, quando apareceu um caso grave, demitiu: seu Chefe da Casa Civil, o homem da sua mais estrita confiança, que a representou no grupo que organizou seu Governo. O Lula veio aqui e pediu para ela não demitir. Ela demitiu. E fez o mesmo no Ministério da Agricultura e está fazendo o mesmo em outros Ministérios como o do Turismo.

            Eu acho muito importante, Senador Cristovam, nós deixarmos claro que esse movimento não visa fazer uma lavagem de roupa suja. Esse movimento não visa cobrar de A, B ou C as coisas que aconteceram. Deverá ser feito, poderá ser feito, mas, neste momento, na hora que estamos vivendo, visa mudar daqui para a frente. Isso visa a que, quando a Presidente disse, e repito pela décima vez: “Eu aceitarei nomeações de Partido, mas, no meu Governo, a pessoa que for indicada tem que ter passado limpo e competência para o cargo para o qual for indicada”, significa que ela, que está fazendo isso, continuará a fazer. E é o que não aconteceu nos Governos anteriores.

            No Governo Fernando Henrique, o Ministro desceu daquela tribuna, pegou o telefone, telefonou ao Fernando Henrique e pediu demissão depois de um debate nesta Casa em torno da privatização da Vale.

            A situação dele ficou tão insustentável e inexplicável, do Sr. Mendonça de Barros, que ele teve a grandeza, teve o gesto de pegar o telefone e dizer “eu não quero mais ficar, eu vou embora, não tenho condições de ficar”, mas demitir ninguém foi demitidoEssa é a diferença.

            Agora, tenho que ser claro. A Presidente Dilma, quando está fazendo isso, nunca se referiu que recebeu uma herança maldita e nunca fez qualquer tipo de referência ao seu antecessor principalmente ao Lula. Ela fez e faz isso com a maior discrição no sentido de dar um rumo novo.

            Eu tenho dito e repetido aqui que o Lula fez coisas muito positivas a favor do Brasil. O Brasil cresceu, o Brasil desenvolveu, o Brasil avançou, a economia vai bem, nos termos do social tudo bem, mas por circunstâncias que se vão, tiver uma ditadura militar que vemos desde 54, quando uma calúnia enorme levou ao suicídio o Presidente Getúlio Vargas dizendo que ele estava num mar de corrupção, um mar de lama embaixo do Catete.

            Dez anos depois, outra onda de calúnia e de infâmias fez com que o João Goulart fosse deposto da Presidência da República em coisas que jamais se provaram, mas isso tudo foi efêmero. Não se provaram, mas não se absolveu, nem se condenou. Esse caldo de cultura que foi formando e vieram os cinco generais ditadores Presidentes. E o clima foi aumentando e a Imprensa, numa censura total, não podia publicar e as coisas foram facilitando e o Brasil passou a ser profissionalmente como o País do “jeitinho”.

            Houve o Jânio Quadros, não vamos esquecer, que veio com a vassoura e, sete meses depois, renunciou. Tivemos a primeira eleição e o Sr. Collor e foi levado ao impeachment. Respeito o Itamar, mas com Fernando Henrique e Lula as coisas continuaram. E agora chegaram no momento de uma explosão. O Brasil acha que chega.

            Há momento para tudo. Houve o momento social: Fome Zero, entrou Lula. Houve o momento da economia, da explosão, da inflação, o infinito e veio o Plano Real. Agora, é o momento que a sociedade quer um ambiente de ética, de respeito e dignidade com a coisa pública. É exigência de todos, do mais simples, do mais humilde, da menor favela, passe por onde passar, essa é uma realidade unânime da sociedade brasileira. Temos que aproveitar! Temos que aproveitar!

            Esse movimento nasceu, Sr. Presidente, quando a Presidente Dilma tomou a iniciativa e começaram a aparecer as notícias nos jornais. Até se falou no afastamento da Presidente como ato de vendita. Falou-se que projetos negativos para a Presidente seriam votados, ainda que negativos para o País, em forma de vendita. Foi aí que tudo começou, vários oradores se sucederam nesta tribuna para dizer que a Presidente deve continuar.

            É claro que sabemos que há um termo que ficou conhecido de maneira infeliz neste País, que se chama governabilidade. É um termo bonito, numa democracia governabilidade significa que o Presidente da República tem que ter equilíbrio, tem que ter apoio da sociedade e, quando se fala em apoio da sociedade, fala-se de modo especial em Congresso Nacional. Só que essa governabilidade passou a ser símbolo da imoralidade. Tudo vale em nome da governabilidade. Emprego, favor, vantagem, nomear as verbas dos parlamentares e tudo mais. Tudo pela governabilidade é valido.

            Hoje, a Presidente Dilma vive um momento. Nós vimos o último congresso do PT, na última semana, em que só faltou um voto de protesto contra “A Caminhada da Corrupção”. Por isso a Presidente, que não pode recuar, também não pode aceitar as provocações, nem da imprensa, nem de quem quer que seja, de querer fazer uma abertura, rasgar páginas, desmoralizar o governo anterior; nem fazer uma lavagem de roupa suja perante a televisão no sentido de desmoralização das coisas. Ninguém quer isso.

            Apenas se quer que ela não se dobre diante da falta de ética. Errou, cai fora. Apareceu o ato de corrupção, cai fora. O partido nomeou alguém: “eu indico fulano de tal para o cargo tal”, primeiro, cadê a biografia desse cidadão? Quem é o cidadão? É normal, não tem nada? Tudo bem. Mas tem um, dois, três processos e já esteve no cargo tal, foi afastado por causa disso ou daquilo? Esse não pode ser nomeado. É o mínimo necessário.

            A primeira obrigação é do partido de não nomear alguém que não tenha uma ficha ilibada. Mas a palavra final é da Presidente. Se o partido fizer isso, não nomeia. E, segundo, é comoela disse. Tem que ter capacidade. Fulano é para ser ministro de tal, é para esse ou aquele cargo? Deve ter capacidade e competência para exercer o cargo! É isso que nós esperamos dela.

            Hoje, há um fato novo e, a rigor, é agora que eu começo o meu discurso. Esses jovens que ontem iniciaram sua manifestação. Meu amigo Cristovam, eu sei o valor disso!

            Nós andamos, na ditadura, caminhando pra lá e pra cá e não sabíamos qual era o rumo. Para onde iríamos? O MDB era realmente uma grande frente. No MDB tinha comunista, integralista, as mais variadas fontes, numa época que nem aquela, com a metralhadora ligada na nossa direção. Caça, prende, mata, tortura! Nós não podíamos pedir a biografia do cara que estava vindo. Nós só tínhamos que dizer: “Ó, tu tem que atacar pra lá e derrubar a ditadura!”

            Mas a coisa não andava, até o momento em que nós escolhemos uma plataforma. Quer luta armada? Não venha ao MDB; vá fazer por conta própria. Quer extinção de partido, voto em branco? Vá fazer onde quiser. Não é o nosso caso.

            O que é o nosso caso? É Diretas Já, é anistia, é fim da tortura, é Assembleia Nacional Constituinte, é liberdade de imprensa. Essas foram as metas que estabelecemos. E aí nós tínhamos uma bandeira. E, a partir do momento em que tínhamos uma bandeira, apareceu uma coisa nova: os jovens foram para a rua. Os jovens de cara pintada, por todo o Brasil, começaram a sair na rua, debater, discutir e levantar bandeira. Ninguém levou a sério. O que são uma dúzia, duas dúzias, dez mil estudantes, contra não sei quantos mil soldados e tantas empresas, e tantos jornais, e tanta igreja, e tanta burguesia? Mas eles começaram a ir, começaram a avançar. E aquilo que parecia impossível aconteceu. Não foi o Congresso em si; foi o povo na rua, foi o jovem na rua, que fez a eleição de Tancredo; foi o jovem na rua que convocou a Assembleia Nacional Constituinte; foram os jovens na rua que trouxeram a anistia; que terminaram com a tortura.

            Ontem, foi um dia histórico. E não podia ser escolhido melhor que o 7 de setembro. Embora um movimento como o de ontem tenha se espalhado pelo Brasil inteiro, praticamente em todas as capitais, e os jovens foram para a rua, foi aqui em Brasília que o acontecimento teve o grande símbolo. Aqui, em Brasília, na própria Esplanada dos Ministérios, no Eixo Monumental. De um lado, a Presidente, seu Ministério, seu neto, e as tropas passando. Do outro lado, quarenta mil jovens de preto e cara pintada, muitos com nariz de palhaço, desfilando, pedindo o fim da corrupção, pedindo o fim da impunidade, pedindo o respeito ao cidadão e o respeito à sociedade.

            É importante salientar: não teve participação política ou de político ou de partido nenhum nessa organização. Até no dia, partidos que quiseram aparecer com bandeira ou políticos que quiseram aparecer foram convidados a se retirar.

            Quem falou foi um homem muito grande no seu significado: o Presidente da OAB do Brasil. Esse, sim! Falou em nome de toda a Nação para toda a Nação, dizendo o significado daquele ato.

            Olha, escrevam o que eu digo, meus irmãos: esse 7 de setembro vai ficar marcado, porque eu acho que o que ali começou não vai parar, vai ser levado adiante e vai ter resposta.

            Eu dizia aqui nessa tribuna, semana passada, quando anunciava que a imprensa estava dizendo que essas coisas iam acontecer, não sabia o que seria, quando seria, como seria, mas noticiavam que as frentes populares pela Internet, as redes sociais estavam se organizando para pedir que os jovens fossem à rua lutar pela moralidade e pela ética, eu dizia que eu esperava muito. Não esperava 40 mil no primeiro dia. Eu lembrava, como repito aqui, esses redes sociais são algo de novo que está acontecendo. Tem ali os militares com a sua força, a Igreja com a sua força, jornal, rádio e televisão, as grandes cadeias com a sua força. Mas, de repente, não mais do que de repente, via Internet, a fala com b, b fala com c e, quando vai ver, são dezenas, são centenas, são milhares que se estão manifestando. Dizia eu e repito aqui: no Oriente Médio foi assim: sem extremista, sem igreja, sem partido político, sem liderança; só contra a ditadura, como na Síria: o pai, 40 anos; o filho, 20. Como agora na Líbia, o povo foi para a rua. Só pela rede social.

            A máquina do governo, a máquina da opressão não teve como responder. Mas de onde é que vem? Onde é que vai ser? À última hora, só se dizia: vai ser a tal hora em tal local. E em tal hora e em tal local, milhares de pessoas. E derrubaram os governos.

            Ontem se iniciou no Brasil.

            É um movimento de paz e não de guerra.

            É um movimento de amor e não de ódio.

            É um movimento de construção e não desconstrução.

            Estávamos lá na OAB, como disse, na terça-feira, quando apareceu ali de repente, conversando com o Presidente da OAB um dos integrantes desse movimento. E ele fez questão de dizer: Que o movimento era tão certo, cuidando dos mínimos detalhes, que ontem à tarde, no final, não tinha uma folha de papel solta na rua, porque eles deixaram tão limpo quanto encontraram; aliás, muito mais limpo do que encontraram. Tudo sob orientação, tudo sobre determinação e um objetivo: o fim da corrupção; a campanha pela ética.

            Agora no dia 15 na Universidade de Brasília outro movimento, para debater essa matéria. Dia 20 de setembro, eu calculo muito mais de 100 mil pessoas estarão no centro do Rio de Janeiro. O que temos que fazer agora é muito simples; é dar objetividade a esse trabalho. Não é ir para a rua debater, gritar, protestar. O que queremos? Aí eu acho que essas entidades que estão andando pelas ruas: a nossa OAB, CNBB, ABI e todas as que estão participando, vamos escolher uma série de princípios. Por exemplo, Fim da impunidade!

            Fim da infidelidade partidária!

            E aí a sociedade vai fazer como fez na ficha limpa. Na hora de votar a ficha limpa eles vão fazer, no Brasil inteiro, uma movimentação cobrando para ver como é que cada um de nós vai votar. Na hora do voto aberto, 

             aqui no plenário, para que na hora de votar a cassação de alguém, de autoridade ou coisa parecida, posições que realmente interessam ao povo, saber como nós vamos votar, o povo vai perguntar, vai cobrar.

            Eu acho que nós estamos às vésperas de uma grande caminhada. E faço um apelo, nobre Líder Alvaro Dias, V. Exª que é tão positivo e simpático às comissões parlamentares de inquérito, como eu. Eu o conheço e V. Exª me conhece. Fizemos grandes CPIs, como a que resultou no afastamento de um Presidente; como a que resultou na cassação de mais de quinze parlamentares, a CPI dos Anões do Orçamento; como aquela, presidida por nós, que resultou na denúncia dos escândalos do setor judiciário e de gente muito importante, muito ilustre, governadores e ex-governadores, gente do nosso partido. Pois, foi tudo para a gaveta do Procurador-Geral da República, na época do governo Fernando Henrique. Mas nós fizemos as investigações.

            Mas esse movimento, para poder dar certo, nós temos que ter grandeza. Ele não pode ter as cores nem os sentimentos partidários, contra ou a favor. Coisas erradas no governo do Lula, nós vamos analisar, sim, mas, cá entre nós, coisas analisadas no governo Fernando Henrique, que também não vieram. Então, não é botar em choque esse ou aquele, é tentar fazer o que pode ser feito para mudar a legislação, para mudar as normas de ação daqui para o futuro.

            Meu nobre Líder Alvaro Dias, quando eu vejo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se dirigir ao seu partido, dizendo que talvez fosse o momento, agora, não de suspender, mas de sustar a CPI, para dar um sentido abrangente nesta hora; quando eu vejo a Marina, ex-candidata a Presidente da República, em oposição - e é oposição - ao atual governo, dizer que acha que, neste momento, o nosso objetivo deveria ser a moralização, a ética, a dignidade, o fim da impunidade, independente de contra ou favor desse ou daquele governo, eu acho importante.

            Eu acho importante. Primeiro, é importante que a Presidente Dilma não se atemorize, porque tanto em um partido a, b e c do Governo, não precisa nem citar os nomes, há uma verdadeira pressão para que ela pare. Não vamos querer que ela dê soco em punhais, indo para uma luta inconsequente. Ela tem que ter competência, tem que falar; e ela está medindo as palavras. E eu até aqui estou totalmente favorável ao que ela está dizendo. Mas ela não pode recuar.

            Mas, por outro lado, cabe a nós dar condições de sustentabilidade para que isso vá adiante. Dizer ao Presidente Lula que ninguém aqui é da tese de que houve uma herança maldita. Não, ele deixou muita coisa boa. As coisas que estão erradas tiveram no seu governo, no anterior, no anterior e no anterior, e vêm de muito tempo. Há momento na vida, lá está na Bíblia, momento para rir, para chorar, para cantar, para rezar. Este é o momento que se encontrou para colocar essa questão. Não tem outra oportunidade. Esta é a oportunidade. A Dilma criou, e nós temos que levá-la adiante. Oposição é oposição; situação é situação. Pelo amor de Deus, não vá a oposição deixar suas bandeiras, sua luta, de crítica, de bater, de criticar, de dizer o que está errado no Governo. É claro que não. E não vá o Governo querer esmagar a oposição.

            Mas, nessa questão - nessa questão, meu amigo Alvaro -, vamos tentar encontrar um caminho onde nós vamos buscar mudar para o futuro, terminar com essas coisas, terminar com essa triste realidade da impunidade.

            No Brasil rico, se é importante, se tem dinheiro, cadeia jamais. Isso nós temos que mudar. E, para isso, tem que haver um grande entendimento. O PT e seus líderes têm que sair da sua soberba. 

            Outro dia, o vice-líder do PT nos falou que estávamos imitando o Lacerda e a UDN contra o Getulio, e que essa era uma campanha para humilhar e desmoralizar o governo constituído. Eu nego a S. Exª autoridade para se referir a nós com esse sentido.

            Sim, o Lacerda foi isto: uma campanha dura, radical, de mentiras, de ódio contra a figura do Dr. Getulio e que o levou ao suicídio. Suicídio para evitar derramamento de sangue.

            A nossa, não; a nossa é o contrário. Acho que estamos vivendo um momento em que um povo que é bom, que é digno, que é sério, que é correto vai perder esta pecha do povinho que vale tudo, o jeitinho brasileiro. Vamos mudar, mas não podemos mudar com o soldadinho, nem com o homem da vila, nem com o povo da favela; temos que mudar com o Senador, com o ministro, com o general, com o homem da empresa, com o banqueiro, com o homem que é importante, que tem dinheiro e que tem poder. Esse é que tem que sentir o peso da Justiça quando ele errar.

            Pois não, Senador Cristovam.

            O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. PTB - RR) - Senador Pedro Simon, antes do aparte do Senador Cristovam, quero fazer o registro de que se encontram, nas nossas galerias, os alunos do ensino médio da Escola Pentágono de Educação Ambiental de São Paulo. Portanto, sejam bem-vindos ao nosso plenário.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Simon, vou falar logo depois e, obviamente, será na mesma linha e no mesmo tema, mas eu não queria perder a chance, Senador Mozarildo, de tocar numa palavra que o senhor citou que é “governança”. Realmente, estamos usando a ideia de governança, uma palavra nova, moderna, que poderia ser trocada por “governabilidade”, como sempre se usou, mas se procurou imitar dos Estados Unidos a ideia de governança, Senador Simon, e nós estamos usando essa palavra - como o senhor disse, e eu quero reafirmar - para justificar fatos errados. Governança conivente com falta de ética é como dizer que existe assalto acordado entre assaltante e assaltado. Quando tem assalto, assaltante é assaltante, e assaltado é assaltado; se eles se juntam, surge uma conivência, não surge uma governabilidade. O que estamos vendo é ou uma incompetência de governar com ética, ou a falta de força em optar pela ética. Eu nem imagino a opção pela corrupção. Temos de desmascarar esse conceito de governança, governabilidade como forma de desculpar conivências e desculpar convivências equivocadas, de desculpar que, para manter o Governo funcionando, tem que pagar pedágio a alguns políticos. É isso que a gente está falando quando fala em governabilidade justificando o mau comportamento de pessoas dentro do Governo. É como se fosse parte do pedágio. Aí estamos vendo uma situação muito grave. É que boa parte daqueles que se apropriam do dinheiro público, Senador Pedro Simon, não acham que estão cometendo qualquer ato ilícito. Passou a ser natural receber propina para liberar recursos. Passou a ser natural receber propinas para colocar emendas no Orçamento. Passou a ser natural. Isso não está angustiando as pessoas que fazem tal coisa. Por isso, não estão tomando cuidado na maneira como fazem isso. Passou a ser normal. Do mesmo jeito que se usa “governança” se usa “consultoria”, para justificar esse tipo de transferência de renda do setor público para o privado. As pessoas já dizem: “Mas esse dinheiro está vindo de uma empresa”. Esquecem que essa empresa embutiu isso no custo que o governo vai pagar. Nós estamos corrompendo o vocabulário, corrompendo a língua portuguesa quando usamos “governabilidade” para justificar acordos ilícitos. Nós estamos corrompendo a língua portuguesa inclusive quando dizemos corrupção em vez de ladroagem, em vez de roubo, como dissemos dos pequenos. Os pequenos roubam. Os grandes, quando o dinheiro é público, não é roubo; é corrupção. Nós estamos corrompendo também a língua portuguesa quando, de repente, começamos a aceitar que o uso de palavras e o jogo de palavras transformem propina em remuneração de consultoria. Já não basta a corrupção que a gente faz nas prioridades, a corrupção que a gente faz por aí neste País, na apropriação privada de dinheiro público; ainda estamos fazendo corrupção em cima do dicionário, em cima do vocabulário, em cima da língua portuguesa, como o senhor chamou a atenção ao trazer a palavra “governança” como forma de justificar as armadilhas que surgem de acordos espúrios e de conivências na política.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Agradeço profundamente a V. Exª a reflexão, com a qual concordo integralmente.

            Mas eu quero, então, me dirigir aos jovens. Tenho 80 anos e eu lhes digo: passei por muitas lutas e por muitas batalhas, mas nunca eu me emocionei, nunca participei com tanta alma como quando eu era jovem. Presidente da Junta Governativa da UNE, na época de Juscelino, na época de Jânio, no suicídio de Vargas, gurizinho. Mas é muito bom. É muito bom nós termos o direito de sonhar, termos o direito de ter esperança.

            Por isso, meus jovens, numa época em que, de certa forma, até a UNE, nossa velha e querida UNE, terminou sendo um setor mais íntimo com o Governo do que com os estudantes, numa época em que a CUT, a ultrarradical CUT, hoje é mais defensora do Governo e dos cargos que recebe do Governo do que da luta dos trabalhadores, vocês jovens, vocês que escreveram uma página tão importante neste País, que foi esta democracia que estamos vivendo, vocês jovens podem fazer aquilo que nós não temos condições de fazer.

            Deste Congresso, meus jovens, de nós, não sai nada. Sai uma reforma política que fala em fidelidade partidária, mas diz que, de três em três anos, fica um ano para o cidadão pular de partido como bem entende. Fala em reforma como a que trata da verba pública de campanha, mas deixa a verba particular, e a verba pública é para o partido poder aplicar como bem entende.

            Não, daqui não sai. Do Executivo, pelo amor de Deus, menos ainda. E também não do Judiciário.

            Quando apareceu diante de você essa oportunidade...Ah, meu Deus, se tivéssemos isso no nosso tempo! Vinte pessoas se falando e se comunicando, hoje, são vinte; amanhã, são duzentas; depois de amanhã, são duas mil; depois, são vinte mil; mais adiante, são duzentas mil. Vocês podem fazer isto: o Brasil entrar numa caminhada em que os jovens vão nos chamar ao respeito; vão cobrar de nós que tenhamos vergonha na cara; vão cobrar de todos que façamos a nossa parte. Eu acredito.

            Nós não queremos, como lá no Oriente Médio, derrubar nenhum Governo, porque, graças a Deus, a democracia vai muito bem no Brasil. Não queremos fazer nem campanha de ódio, nem radical, nem contra Igreja, nem contra partido, nem contra raça, nem contra credo. Isso também vai muito bem no Brasil. O que queremos é que os princípios da ética, da moral, da dignidade, da seriedade, que hoje você, estudante, e você, operário, cumprem. Se não cumprem, apanham, pegam cadeia, são demitidos. Aqui, nós, para os políticos, os que têm dinheiro para escolher um bom advogado, não acontece absolutamente nada.

            O que queremos é igualdade, é respeitabilidade, é olhar para televisão e ver, como na França, o Presidente do Fundo Monetário Internacional, candidato majoritário à Presidência da República, indo para a cadeia, inclusive com as mãos algemadas, porque teve um caso com uma camareira. Esta é a diferença da Europa, dos Estados Unidos, da Ásia para o Brasil: lá, tem corrupção como aqui, mas, lá, foi apanhado em flagrante, paga o preço. No Brasil, só se for pobre. Aliás, se for pobre, não precisa nem ser em flagrante, uma bala perdida termina com ele.

            Você, jovem, entre nesse embalo. Cuidado. Não deixe que alguém, por aqui, por ali, tente tirar essa sua caminhada do seu rumo. Ela não é partidária. Ótimo. Ela não é de ódio. Ótimo.

            Ela é a favor do Brasil. É isso que tem que ser.

            Eu digo que este 07 de setembro foi um dia que ficará marcado. Foi ali que começou. E nós haveremos, mais uma vez, de ter orgulho da nossa mocidade.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PEDRO SIMON EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

- Do Teclado às Ruas;

- Marchas anticorrupção marcam Sete de Setembro;

- Marcha em Brasília contra a corrupção e impunidade;

- O Brasil em Movimento contra a Corrupção;

- Manifesto da Sociedade em Defesa da Ética na Política e da Moralidade na Administração Pública;

- Manifesto do Empresariado Brasileiro em favor da Ética na Política;

- Faxina verde-amarela;

- Ato contra corrupção ofusca a estréia de Dilma no desfile da Independência;

- Merval Pereira: Algo se move.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/09/2011 - Página 36875