Discurso durante a 155ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem ao grupo de 14 milhões de brasileiros adultos analfabetos, no transcurso, hoje, do Dia da Alfabetização; e outro assunto.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao grupo de 14 milhões de brasileiros adultos analfabetos, no transcurso, hoje, do Dia da Alfabetização; e outro assunto.
Aparteantes
Pedro Simon, Waldemir Moka, Wellington Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 09/09/2011 - Página 36903
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, ALFABETIZAÇÃO, SUGESTÃO, MOBILIZAÇÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO, REIVINDICAÇÃO, EXTINÇÃO, ANALFABETISMO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje eu venho falar, Senador Pedro Simon, Senador Mozarildo, sobre a mesma coisa, embora pareça tão diferente.

            Vou fazer duas homenagens, Sr. Presidente. A primeira homenagem é a um grupo de 14 milhões de brasileiros adultos que estão sendo roubados, todos os dias, roubados de seus direitos: os analfabetos brasileiros.

            Hoje é o Dia da Alfabetização. E o que temos nós para comemorar depois de 188, 189 anos da independência? Hoje temos mais analfabetos do que tínhamos em 1960; e ainda muito mais do que antes por causa do crescimento demográfico, Senador Wellington. Nós temos mais analfabetos hoje do que em 1961, na época da legalidade. Em 1963, quando Paulo Freire era o encarregado da alfabetização.

            Essa é uma homenagem que quero fazer, Senador Pedro Simon, porque fala-se tanto em corrupção, e a gente se esquece dessa corrupção terrível, que é a corrupção nas prioridades no Brasil, a corrupção que vai colocar 50, 60 bilhões para realizar uma Copa e não coloca 5, 6 bilhões que seriam suficientes para erradicar o analfabetismo no Brasil em quatro, cinco, seis anos.

            Então, a minha primeira homenagem é a esses brasileiros que são roubados todos os dias do direito de saber ler e, em consequência disso, são roubados de um salário digno, são roubados de poder saber o remédio que estão tomando, são roubados de saber qual é o ônibus que estão tomando. Eu quero começar falando dessa corrupção de este País, sétima potência mundial em economia, ter 14 milhões de analfabetos. 

            E a segunda homenagem, o Senador Alvaro Dias até falou de passagem na pessoa: eu quero fazer uma homenagem a um jornalista espanhol chamado Juan Arias, com quem, inclusive, tenho uma boa relação há quase dez anos. Juan Arias é o correspondente, aqui no Brasil, do jornal El País e foi ele que fez um artigo, há pouco tempo, manifestando sua indignação, sua surpresa com o fato de que, no Brasil, a gente assistia aos atos de corrupção sem grandes manifestações. Juan Arias, talvez, fique na história do Brasil como aquele que deu o primeiro passo para que o Brasil começasse a despertar e fosse às ruas lutar contra a corrupção.

            Ao mesmo tempo em que faço esta homenagem a ele, lembro como, a partir daquele discurso, daquele artigo dele, começou a se espalhar no Brasil o sentimento de constrangimento, de vergonha de que a gente estava parado, estava calado. E daí surgiram as denúncias, concretas. E daí surgiram as demissões feitas pela Presidenta, coisa inédita neste País de tantos dirigentes do Governo, que ela demitiu.

            E daí surgiu esse movimento aqui, liderado, sobretudo, pelo Senador Pedro Simon e reunindo um grupo de nós, que começamos a manifestar que nós queríamos duas coisas: uma, a limpeza e a outra, a confiança de que a Presidenta Dilma faria isso.

            E nós continuamos de pé ainda nisso. Nós continuamos de pé percebendo como há, hoje, pessoas que estão indo para as ruas fazer manifestações nesse sentido. Um grupo aqui de Senadores, em que estavam o Senador Mozarildo, o Senador Pedro Simon, eu também, recebemos uma condecoração de uma federação de indústrias. E não foi uma condecoração reunindo, como eu imaginava, dez ou quinze dos diretores. Um auditório absolutamente cheio, na véspera de um feriado, para dizer: “nós estamos nessa luta”.

            No outro dia, aqui em Brasília, o que a gente viu foi a quantidade de jovens e de gente não tão jovem indo à rua. E esse movimento foi sobretudo grande em Brasília, o que tem um grande significado, porque a imprensa, sempre que fala em corrupção, diz que é Brasília, não diz que são os políticos que estão em Brasília, inclusive os que são de Brasília. Não diz isto: que o povo desta cidade é trabalhador, que o povo desta cidade fez uma cidade em 50 anos que virou uma das grandes metrópoles deste País. E ali estava o povo de Brasília, não os políticos daqui ou que vêm para cá. Ali estava o povo de Brasília, na rua. E não teve nenhuma manifestação que chegasse nem perto, em número de pessoas, Senador Wellington, da que aconteceu aqui. Variam muito as estatísticas. Eu prefiro me concentrar em 25 mil, da Polícia Militar, mas eu já vi uma de 40 mil e vi outra de menos de 20 mil.

            Essa manifestação - é essa a linha de que falou aqui o Senador Pedro Simon, e é a minha - eu desejo, mas eu acredito que ela não vai parar. Ela não vai parar, até porque tem um caldeirão favorável a essa indignação, não só pela corrupção no comportamento dos políticos, mas também pela corrupção nas prioridades das políticas. Esses jovens estão indignados com a maneira com que algumas pessoas se apropriam do dinheiro público, mas estão indignados também com como se usa o dinheiro público, mesmo quando não se desvia para o bolso de alguém, para obras que não são prioritárias. Aqui em Brasília, um grupo de jovens colocou uma faixa na frente do estádio, dizendo: “esta obra é uma corrupção nas prioridades”. Mesmo que ninguém roube o dinheiro dela, porque, com o dinheiro dela, Senador Wellington, dá para fazer uma porção de coisas. Em vez disso, vai ser um estádio que vai ser usado por alguns dias de festa, e depois vai ficar como um elefante branco, mesmo com a desculpa de que vai ser usado para alguns espetáculos.

            Pois bem, esses jovens não estão indignados só com a corrupção dos políticos. Estão também indignados com a corrupção da política em si, com o funcionamento dos partidos, desta Casa. Não é só contra o Executivo. Isso não vai parar.

            E aí eu queria dizer, Senador Wellington, que a Presidenta Dilma cometerá um grande erro se se isolar desse movimento. Se ela tentar se isolar desse movimento, será um erro gravíssimo, porque Presidente não pode estar contra movimentos das massas do seu país. Ou lidera para dizer que esse movimento é errado e traz para cá as pessoas ou tem que entender a dinâmica que esse movimento social faz. E o senhor, Senador Wellington, como eu e outros, nós sabemos como os movimentos sociais foram importantes para levar Lula à Presidência e, ao levar Lula à Presidência, fazer Dilma Presidente. Esses movimentos sociais não podem agora ser ignorados.

            É claro que os movimentos sociais funcionam pelas massas nas ruas e funcionam em base de siglas. As siglas, de fato, não estão junto com as massas hoje. CUT, UNE, essas entidades não estão junto, pela primeira vez, aliás. Mas na hora de escolher entre o povo e as siglas que representam grupos do povo, a Presidenta não deve se isolar.

            A história da Presidenta Dilma é bonita demais para ela jogar fora por conivências com pessoas que a gente sabe que estão ao lado dela não pela ideologia dela, porque são pessoas, inclusive, que estavam do lado dos perseguidores dela, pessoas que estavam do lado daqueles que a prenderam, pessoas que estavam do lado daqueles que a torturaram. Ela não pode jogar fora essa história de uma heroína, digamos assim, na luta nas ruas pela democracia e, de repente, ao chegar ao poder - e ela lutou até com armas, até sacrificando a sua liberdade, até sacrificando sua integridade física, submetida à tortura - e, na hora em que chega ao poder, ela diga que não é bem assim e se ajuste de maneira tal em nome do que o Pedro Simon chamava de governabilidade para negar a essência de todo o pensamento que ela teve ao longo de sua vida. Eu espero que a Presidenta Dilma não cometa esse suicídio histórico.

            Ao mesmo tempo, temos que entender que a Presidenta pode ser prisioneira de algumas circunstâncias. Estamos aqui com a obrigação de tentar romper as amarras que aprisionam a Presidenta comprometida com seu passado de luta, querendo fazer o que ela disse: a faxina no serviço público brasileiro. Estamos aqui para tentar ajudá-la nisso. Ajudá-la é lutar para dar-lhe forças para que ela vá adiante, mas ajudar também é empurrá-la quando ela, por alguma razão, titubear no gesto definitivo de levar adiante a faxina que ela nos prometeu nessas últimas semanas. Nós estamos aqui para empurrá-la ou para apoiá-la; vai depender dela. Vai depender da velocidade que ela assumir ao caminhar na direção de fazer a limpeza, de trazer a dignidade, de limpar aquilo que está nos envergonhando no cenário internacional e aqui dentro e aquilo que está trazendo prejuízo muito grande à Nação brasileira.

            Nós lutamos contra o latifúndio improdutivo, que é uma forma de corrupção porque você segura a terra e não a deixa ser usada pelo camponês ao lado que quer trabalhar. Isso é corrupção das prioridades. Nós lutamos contra essa corrupção. Ela lutou! Não é muito diferente o latifundiário que segura a sua terra sem deixar que nela trabalhem e aquele que pega dinheiro, Senador Mozarildo, que poderia gerar retorno público e se apropria dele. A propina é um latifúndio improdutivo nas mãos de um corrupto, do jeito que o latifúndio improdutivo é corrupção nas mãos de um latifundiário. Ela não pode ficar do lado errado; ela tem que estar do lado certo, que é o lado da sua história, que é o lado da sua vida e que é o lado do discurso que ela fez no primeiro momento, quando surgiram as notícias, as denúncias de corrupção, e ela teve a coragem de ir atrás das denúncias e tomar as medidas certas.

            Nós estamos aqui, esse grupo, porque nós achamos que temos uma responsabilidade com este País. Chamou-nos a atenção um evento que houve no Rio em que estavam todos os partidos. Não todos, digamos, mas pessoas dos mais diversos partidos. Chamou-nos a atenção também uma coincidência surpreendente: é que aqueles que estavam ali fazem parte da lista dos dez parlamentares mais prestigiados pelo Congresso em Foco, uma coincidência, provavelmente.

            Nós estamos aqui querendo prestar um serviço ao Brasil, em primeiro lugar. O serviço ao Brasil se faz, até 2015, ao lado da Presidenta, desde que ela esteja ao lado do Brasil. E o Brasil hoje, Senador Wellington, está ao lado da luta contra a corrupção. Não adianta dizer que o Brasil não está ao lado da luta contra a corrupção. Está. Está, e a gente sente isso não é só na rua. A gente sente isso não é só nos noticiários. A gente sente porque a gente sente, porque a gente tem pele e quem tem pele sente. E está chegando até a gente que o Brasil está desse lado, até porque não dá para dizer que é mentira tudo isso que a imprensa diz.

            Nós estamos ao lado da Presidenta, mas ao lado dela nós estamos querendo apoiar o seu trabalho, mas temos de discutir como. Para mim, é com esse discurso, é com essas falas, é com essas manifestações. Não é, ainda, com a CPI, porque, para a Presidenta, para o Brasil e para a instituição presidencial, para a imagem do sistema político, seria tão bom que ela fizesse isso sem ser empurrada por uma CPI, ou sem ser empurrada pela mídia.

            O que eu mais desejo hoje, Senador Pedro Simon, há algumas semanas, é ver o Diário Oficial furando a mídia organizada, furando no sentido com que se usa no jornalismo: dar a notícia antes. Eu gostaria de ver a cara assustada dos jornalistas, descobrindo pelo Diário Oficial que a Presidenta tomou medida antes que a imprensa soubesse das denúncias. Seria tão bom isso para o Brasil! Isso fortaleceria de tal forma a imagem da Presidenta, e graças a isso o Brasil inteiro teria uma figura que a gente precisa ter com o respeito que deve merecer a pessoa que está na Presidência da República.

            Mas, se isso não acontecer, se a gente sentir que, por um lado, ela está titubeando e ficando conivente, por alianças, por conversas, por proximidades; ou, por outro lado, que ela quer romper, mas não consegue romper pelas amarras que se fazem, Senador Mozarildo, aí, talvez, a CPI seja a saída, ou para puxá-la ou para libertá-la. A CPI pode ser o caminho.

            Eu ainda vou me manter na ideia de que não chegou a hora ainda. As manifestações que eu recebo todos os instantes a meu respeito se dividem em duas partes: metade diz que estou numa posição absurda de denunciar a corrupção, até com o argumento de que todo mundo seria, que é um argumento absurdo; ou aquela metade que diz “não assinou a CPI, é um traidor da causa da moralidade”.

            Quando metade nos acusa de uma coisa e metade de outra é porque a gente está no lado certo. A gente está no lado incômodo quando não tem apoio, mas é o certo.

            Uma vez elogiei aqui um Senador porque ele deu um único voto contra determinada coisa. Eu não estava no lado dele, mas eu o parabenizei e o apoiei, dizendo “você é o único nessa posição; eu admiro quem tem coragem de tomar uma posição solitária”. É incômoda para caramba, mas é necessária. Por isso, estou tranquilo.

            Não chegou ainda o instante, Senador Moka, de fazer isso. Mas pode chegar, sim, o momento de dizer: “Presidenta, a melhor maneira de colaborar com a senhora é uma CPI. Lamento muito, mas seja, porque é a forma de a senhora se livrar das amarras que não a deixam fazer aquilo que a senhora quer; ou é a maneira de colaborar com a senhora dando um empurrãozinho, para que a senhora faça aquilo que é necessário e que a senhora, por uma razão ou outra, não está fazendo ainda”.

            Eu quero, antes de passar a palavra, dizer que, na reunião do Rio de Janeiro, conversando, sobretudo, com o Senador Taques e com o Senador Randolfe, Senador Simon, depois que saímos do evento, chegamos à conclusão de que esse grupo tem que dar um salto adiante não apenas na luta por esse lado da corrupção, mas também pelo lado dos outros aspectos, na grande pergunta que a gente não se faz aqui: que Brasil nós queremos? Essa é a pergunta que todo Senador deveria se perguntar todos os dias.

            E nós chegamos à conclusão, Senador Pedro Simon - e vamos conversar com o senhor -, que está na hora de a gente começar a trabalhar esta ideia: que Brasil nós queremos? Óbvio que já sabemos que é um Brasil sem corrupção, mas eu acho que é também um Brasil sem analfabetismo de adultos. É um Brasil com uma economia do crescimento baseado no conhecimento. É uma economia onde o sistema bancário tem compromisso com o setor produtivo. É o Brasil que nós queremos, onde não haja fila para o serviço médico e onde ninguém morra antes do outro porque tem menos dinheiro do que o que morre depois.

É um Brasil em que ninguém deixe de desenvolver o seu potencial intelectual, porque não tem dinheiro suficiente para pagar uma escola. Que Brasil é esse que queremos?

            Agora, hoje, o primeiro item dessa lista do Brasil que queremos é a ideia de um Brasil sem corrupção. E quem tem de levar isso adiante é a Presidenta Dilma. É bom para o Brasil que seja ela. Nós estamos aqui para empurrá-la ou para libertá-la, se ela sentir que precisa disso, mas não para nos calarmos, não para fugirmos das manifestações, não para, de repente, ficarmos do outro lado, dizendo que, em nome da governabilidade - o Senador Pedro Simon falou -, temos de aguentar tudo de ruim que tem por aí. Nós quisemos governabilidade para acabar com isso! Como agora, para manter a governabilidade, a gente mantém isso?!

            Nós acreditamos que isso não vai parar, felizmente, que isso vai continuar. E vai continuar, de preferência, puxado pela Presidenta e, se necessário, empurrando a Presidenta, para que ela faça.

            Esse é o discurso que eu queria fazer, reagindo à sua fala.

            Passo a palavra ao Senador Pedro Simon.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - A primeira hipótese é melhor.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Claro. Puxado por ela! É melhor para o Brasil, é melhor para a juventude, é melhor para a história, é melhor para todo mundo, é melhor para consolidar as instituições!

            Por isso, quanto mais adiarmos a CPI, melhor. Quanto mais: existe aí uma coisa subjetiva que é decidir quando é que já passou do tempo. Mas o ideal é que seja sob a liderança dela, do Poder Executivo. Se fosse outro Presidente, seria do outro Presidente, independentemente do partido. Agora, com a história que ela tem, porque, sem a história que ela tem, seria difícil fazer isso.

            O Senador Pedro Simon ainda quer o aparte? Depois, passo ao Senador Wellington.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - É muito inoportuno apartear V. Exª...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - ...pois V. Exª não faz um discurso, V. Exª dá uma aula, e aula temos de assistir. Eu assino tudo que V. Exª falou. Eu acrescentaria uma coisa importante. Quando Lula começou o primeiro governo dele, nunca se imaginaria que o sucessor seria a Dilma, na Presidência da República. Isso estava fora de qualquer hipótese. Nunca foi vereadora, nunca foi membro de diretório, nunca teve convivência político-partidária. As contingências.

A biografia dela é fantástica. Uma jovem de classe média alta, muito bem situada, professora. Colégio de padrão elevado. Na sua mocidade, entrou nessa vida da luta pela resistência contra a ditadura e foi aos limites que ela pôde suportar. Passado isso, ela vai para o Rio Grande do Sul e inicia uma nova atividade, casada, no Rio Grande do Sul. Foi Secretária da Fazenda do Prefeito Collares, PDT, nota 10; Secretária de Minas e Energia do Collares, Governador, nota 10; Secretária de Minas e Energia do Olívio Dutra, nota 10. Ela veio para o Ministério. Ela não veio para o Ministério porque o PT do Rio Grande do Sul a indicou. Não é verdade! O PT do Rio Grande do Sul teve oito Ministros: Olívio, Tarso... Meu Deus, uma montanha de Ministros! Ela não foi indicada. Quando o Lula organizou as comissões para preparar a transição do governo, ela ficou na Comissão de Minas e Energia, porque, nas reuniões de que ele participou para discutir Minas e Energia, Petrobras, etc., ela deu um show. Deu um show de tal maneira que o Lula a escolheu: “Não. Eu quero essa aqui”. O Lula sentiu ali que tinha o grupozinho do fulano, o grupozinho do beltrano, tinha grupo daqui, grupo dali, e disse: “Essa está fora de tudo”. E foi. Não há como deixar de reconhecer que o governo do Lula foi dois: um, quando ela não foi chefe da Casa Civil, e outro, quando ela foi chefe da Casa Civil. Ela deu uma linha, ela deu um norte de seriedade, de ética. Na primeira, convém que se diga - inclusive o querido Senador do PT do Ceará falou, noutro dia, que estão tramando e que aquilo que fizeram com o Vargas querem tramar agora contra o Governo -, houve um momento em que realmente se chegou a querer fazer um movimento para criar uma comissão e pedir o impeachment do Lula, e eu fui contra. Eu fui à reunião e disse: “Vocês vão fazer bobagem, primeiro porque vocês estão convidando aqui os maiores juristas. Podem ser os maiores juristas,...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - ... mas CPI não é questão de... CPI é questão de fato e de momento político. O que querem fazer é transformar o Lula em uma grande vítima, mas (Intervenção fora do microfone.) é um grande herói. Porque ele é líder sindical, porque ele é operário, vocês querem tirar”. Aí entrou a Dilma e mudou o governo. E ela, de repente, não mais do que de repente, se impôs ao PT. O PT nunca quis a Dilma, mas foi obrigado a aceitar, e ela está no Governo. Agora, ela está no Governo, e os fatos aconteceram. Vamos deixar claro: passa pela cabeça de alguém que a Dilma está tentando fazer um governo para queimar o Lula, para deixar mal o Lula, para desgastar o Lula? Ela chega a ser exagerada nos elogios que faz para o Lula. Agora, as coisas aconteceram. Não foi ela quem pediu. As coisas aconteceram. Foi o irmão do Líder do PMDB, aliás, o Líder do Governo, do PMDB, o irmão dele, na Cobal, que disse um bolo de coisas que estavam acontecendo no Ministério da Agricultura. Foi a imprensa que publicou, de uma maneira que não teve resposta, que o chefe da Casa Civil, dez dias antes de assumir a chefia da Casa Civil, comprou um apartamento de US$7 milhões no Rio de Janeiro. Os fatos apareceram. Ela não criou. Quis fazer e resolveu da maneira mais serena possível. Então, nós precisamos agora. Diz o PT que não pode aceitar que fique a sombra de que ela herdou uma herança maldita e que essa herança maldita é a corrupção do governo Lula. Eu concordo. Eu concordo que o PT queira evitar isso. Eu concordo que o Lula queira evitar isso, até porque sou muito sincero: eu não acho que o Lula é uma pessoa ligada à corrupção, identificada. Acho que ele é uma pessoa de bem, responsável e séria. As coisas aconteceram no governo dele, no governo de Fernando Henrique, no Brasil. Era esse o sintoma. De repente, agora tem chance de mudar. Vamos mudar. E a Dilma não quer mudar em cima do Lula. E nós, V. Exª diz muito bem, não queremos mudar... E essa é a nossa diferença. O Senador Alvaro Dias tem que entender que há momento para tudo na vida. Agora não é momento para fazer uma CPI para cobrar tanto do fulano, tanto do beltrano, tanto do cicrano. Este é o momento na vida de nós dizermos o seguinte: “Vamos nos reunir para que não aconteça mais”. Devíamos, e a Presidente Dilma poderia até comandar isso, fazer um movimento. O Fernando Henrique se ofereceu. Nota dez para o Fernando Henrique, com toda a sinceridade. Não é hora de CPI! Não é hora de CPI se dirigir ao PSDB. Não é hora de CPI! É hora de aceitar o apelo da Presidente e buscar o entendimento. A Senadora Marina disse a mesma coisa...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - Não é hora de CPI. (Intervenção fora do microfone.) Vamos chamar o PMDB, o PSDB, o PT, todo mundo e encontrar uma fórmula para fazer as modificações daqui para o futuro, para que essas coisas não se repitam. Essa é a questão. Como é que vamos terminar com a impunidade? Como é que vamos ter regras sérias e responsáveis para a vida política? É isso que nós estamos discutindo. Isso nós não vamos fazer em CPI, porque CPI é botar para fora o podre de todo mundo. E eu sei como é que é. Infelizmente, no passado, CPI era coisa séria, mas não é mais coisa séria no Congresso, porque cada grupo bota os cupinchas, que vão brigar e não buscar a verdade. Nós fizemos a CPI do Impeachment, fizemos a CPI dos Anões do Orçamento, em que os dois lados botavam gente séria, responsável, pessoas que debatiam, que mudavam de pensamento, mudavam o voto de acordo com as coisas que iam acontecendo. Quando tivemos a CPI do Impeachment, quase a unanimidade era contra. Repito: quase a unanimidade era contra. Nem se pensava! Aliás, ninguém pensava na CPI do Impeachment que viria a cassar o Collor; a gente falava era nas denúncias do PC Farias, ou melhor, nas denúncias do irmão do Collor...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (Bloco/PMDB - RS) - ...contra o PC Farias. E, de repente, apareceu. Então, agora, o que temos de fazer neste momento (Intervenção fora do microfone), e a Presidente Dilma tem que entender... Ela está assustada. E tem a obrigação de estar assustada com o PT e com o PMDB. O ambiente é tão delicado que o Líder do PMDB, ou melhor, o Vice-Presidente da República, Presidente do PMDB, não foi à convenção do PT, com medo de ser vaiado, porque várias agressões verbais - por aqui isso é isolado, até pode acontecer - fizeram com que ele terminasse não indo à convenção. Então, o medo que temos, nesse sentido, é de como as coisas serão conduzidas. Eu sou daqueles que digo: “Eu quero conduzir na busca de um entendimento que nos permita olhar o futuro, daqui para adiante”. Acho que é isso que devíamos... Isso que a Presidente Dilma devia fazer; tenho certeza de que o Lula, se a gente conversar com ele, vai aceitar; o Fernando Henrique já aceitou; e acho que é por aí que a gente devia caminhar. Muito obrigado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Obrigado, Senador Pedro Simon.

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Passo a palavra ao Senador Wellington.

            O Sr. Wellington Dias (Bloco/PT - PI) - Senador Cristovam, primeiro, quero me congratular com V. Exª pelo discurso que faz aqui hoje à tarde, a começar pelo da alfabetização. Acho que V. Exª tem toda a razão. Lembro-me ainda - e me espelho muito nele - do seu livro A Nova Abolição, mostrando a necessidade de o Brasil caminhar de forma célere nessa direção. Reconheço - vi esses dias os dados - que ainda são dados elevados, ainda estão abaixo, na redução ano a ano, mas, pelo menos, temos reduzido gradativamente. E há um dado que considero importante - nesses dias, me chamou a atenção: quando se considera essa geração que começou este século estudando, o número de analfabetos está na casa de 1,5% em todo o Brasil, o que corresponde, aproximadamente, à população com deficiência, o que nós e a própria ciência ainda não conseguiu resolver. A minha filha, por exemplo, é autista. Ela não estuda não é porque não quer, não é porque os pais e o Governo não permitem, é porque ela é autista, e a ciência ainda não conseguiu encontrar uma forma de alfabetizá-la, etc. Mas eu louvo a atitude e todo o apoio de V. Exª. Eu acho que é preciso atentar para uma fala que a Presidente fez quando afirmou que o combate à corrupção não é um programa de Governo, o combate a corrupção é um princípio. Eu creio que qualquer um de nós que tem o privilégio de conviver, conhecer a história da Presidente Dilma, sabe que coragem não lhe falta, sabe que compromisso não lhe falta. E isso ela não precisa provar a ninguém. É a história dela. É a história dela. Alguém que colocou, em um momento de sua vida, sua própria vida pela democracia, sabe, como ninguém - e eu digo isso aqui pelo privilégio que tive de conviver um pouco com ela -, o quanto a ética, a decência, a honestidade fazem parte da vida. Agora, é preciso não ter inocência. O que temos hoje no Judiciário, no Legislativo, no Executivo, no setor empresarial, em todas as áreas, é fruto do que vem da sociedade. É fruto do que vem da sociedade. Ainda temos regras que precisam ser mudadas. Eu acho que a gente pode dar, sim, uma grande contribuição. Eu quero estar junto, como estou, nesse trabalho de apoio. Fico alegre de ver os trabalhos sociais. Fico contente de ver a OAB, de ver um conjunto de entidades nessa mobilização. O que é preciso é separar o joio do trigo. É preciso compreender que tem muita gente que ainda não se conformou com derrota eleitoral. Ainda tem muita gente que não se conformou em ter uma Presidente mulher e um conjunto de coisas mais. Há outras disputas também na arena em que vivemos. A gente não pode esquecer isso. Por que a gente não trabalha uma pauta? Eu mesmo fiz um requerimento com todos os projetos que tramitam na Câmara e no Senado, para a gente trabalhe, aqui, uma pauta de votação de regras de combate à corrupção. O próprio Presidente Lula encaminhou um projeto que trata, por exemplo, não só do corrupto, mas do corruptor, do porteiro, do vigilante ao Presidente da República. Por que não colocá-lo em votação? Por que não trabalhar propostas como essa?

(Interrupção do som.)

            O Sr. Wellington Dias (Bloco/PT - PI) - Vou concluir. Ela vem da regra eleitoral. Todo mundo aqui sabe que a regra eleitoral que nós temos hoje no Brasil é uma estrada do tamanho do mundo para a corrupção. Por que não se trabalha a reforma eleitoral para valer? Por que está em banho-maria? Por que os pontos que mexem profundamente nisso não estão sendo tratados? Estão tratando da periferia, da abobrinha. Então eu acho que a gente pode trabalhar, perfeitamente, isso que o Senador Pedro Simon colocou aqui. Agora, só para esclarecimento.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Por que o Congresso Nacional, na hora de fazer a reforma, faz uma reforma de mentirinha?

            O Sr. Wellington Dias (Bloco/PT - PI) - É verdade, de mentirinha, é isso. Então, só para clarear aqui, Senador Simon, eu quero concluir dizendo que, primeiro, a Presidente Dilma não está assustada, ela está convicta do papel que ela tem neste momento que vive o Brasil; segundo, o Vice-Presidente Michel Temer não foi ao encontro do PT, como foram outras lideranças de diversos partidos, não foi não por receio do PT - devo clarear aqui -, tanto que outros lá estiveram e foram muito bem recebidos, e não foi ao desfile de 7 de setembro, não foi por razões da sua agenda, ele será sempre bem-vindo aos eventos do partido e respeitado como liderança, como Vice-Presidente da República. Era isso, muito obrigado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Obrigado, Senador.

            Eu passo a palavra ao Senador Moka.

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco/PMDB - MS) - Por favor, Cristovam, eu sei que está esgotado o seu tempo, mas não quero me omitir neste debate. Duas coisas apenas. Primeiro, eu sou um daqueles que acho que assinar CPI neste ... Eu não assinei porque acho que ela não contribui e não sou refém absolutamente de nada. Tenho coragem para assinar a CPI na hora em que achar que seja necessário. Só que eu acho, neste momento, diante do esforço que faz a Presidente, não sei se uma CPI aqui não iria paralisar o seu Governo. É essa a preocupação que tenho como Senador e cidadão, mas não é medo de assinar por qualquer motivo ou por ser refém de qualquer coisa. Segundo, a hora ...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco/PMDB - MS) - (Fora do microfone) ... a hora que eu achar que é o momento oportuno para assinar ... e não aquela história de assinar e alguém, logo em seguida, retirar a assinatura. Eu acho que é muito pior assinar e depois retirar do que não assinar. E, em terceiro lugar, eu confio na Presidente, gosto muito da atuação da Presidente Dilma. Não votei na Presidente Dilma. No Mato Grosso do Sul, o Governo do PMDB apoiou o Serra, estou satisfeito. Quando o Senador Pedro Simon diz que a Presidente pode estar assustada, acho que não é isso. Nós temos que garantir à Presidente que tudo que ela fizer a respeito de punir qualquer coisa errada, ela encontrará apoio, aqui no Senado ou na Câmara, de pessoas que querem isso, que desejam isso. E quero me incluir, Senador, V. Exªs, Senador Cristovam, Senador Pedro Simon e outros, mas eu sempre, desde o primeiro dia - até recebi um telefonema muito gentil da sua parte - indagando se eu me colocaria junto com esse Senador. Eu quero dizer publicamente - já lhe afiancei isso - que V. Exªs contem comigo nessa luta, que é uma luta do Brasil. Ontem, nós vimos o protesto da população indignada com o estado de coisas. A Presidente tem que continuar firme. Não acho que, neste momento, a CPI seja a prioridade. Na hora em que achar, tenho certeza, será o momento oportuno e, evidentemente, ela terá o meu apoio.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Muito obrigado. Quero um tempinho, só dois minutos, e terminarei, Senador.

            Quero agradecer e reafirmar que, no momento em que eu liguei, o senhor imediatamente aceitou. Ali não se estava discutindo CPI nem coisa alguma quanto a isso, mas como criar um movimento que ajudasse esse processo. Nós estamos, pelo visto, numa posição muito parecida em relação a como continuar a condução.

            Sobre o que disse o Senador Wellington, queria dizer, em primeiro lugar, que, de fato, não pode ser a base de um governo lutar contra a corrupção. Agora, no momento, hoje, essa é a prioridade que deve aparecer mais, da mesma maneira que construir os estádios da Copa. Não está na urgência do dia a luta contra a pobreza? Essa deve ser a grande faxina deste País, mas isso não pode ser usado para parar a outra, até porque manter a corrupção dificulta as outras faxinas.

            Quanto à alfabetização, sei que algumas pessoas não têm condições de aprender, como a sua filha e o meu irmão nunca vão aprender. Mas a taxa de analfabetismo no Brasil é muito, muito, muito maior do que esse indicador. A prova disso é que Paraguai, Bolívia, Peru, Venezuela, todos esses têm taxa de analfabetismo menor do que o Brasil, e eles não têm o número, em percentagem de doentes, com dificuldade de aprendizagem, maior do que o Brasil. Essa taxa é de 1%, 2%; o resto é pela corrupção nas prioridades, por não estarmos colocando o dinheiro certo nem fazendo a política certa.

            Sr. Presidente, termino a minha fala lembrando aqui que hoje é o Dia da Alfabetização e que o Brasil não tem nada para comemorar quando nos comparamos com os outros países. É uma vergonha, porque não precisávamos ter essa situação. Temos o dinheiro e temos os recursos de pessoas alfabetizadas capazes de alfabetizar as outras. Falta um Presidente que queira.

            A outra coisa é que, se essa é a corrupção nas prioridades, nós temos que lutar com a mesma força contra a corrupção no comportamento.

            Lembro ao Senador Wellington que também há um projeto meu, que tem cinco anos, que faz da corrupção crime hediondo. Está na hora de trazê-lo de volta junto com o projeto do Senador Taques.

            Era isso, Sr. Presidente, que eu tinha para falar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/09/2011 - Página 36903