Discurso durante a 156ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a Marcha contra a Corrupção, realizada no dia 7 de setembro do corrente, destacando que o movimento não teve o objetivo de derrubar a presidente, mas de manifestar contrariedade com a corrupção e a impunidade no país.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Comentários sobre a Marcha contra a Corrupção, realizada no dia 7 de setembro do corrente, destacando que o movimento não teve o objetivo de derrubar a presidente, mas de manifestar contrariedade com a corrupção e a impunidade no país.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2011 - Página 36968
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • COMENTARIO, DEFESA, REALIZAÇÃO, MARCHA, ESTUDANTE, PAIS, REIVINDICAÇÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO, APOIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr. Senador, estamos aqui, V. Exª presidindo novamente, o Senador Cristovam, que era o primeiro e me cede o lugar, e eu. Estamos felizes porque a nossa Secretária-Geral está aqui, o que nos dá força de que com a presença dela a sessão tem mais credibilidade.

            Vamos voltar ao assunto de ontem, Sr. Presidente. Uns jovens do PT, como diz o Cristovam, não foram felizes e vieram para a imprensa e deram nota, dizendo que o movimento da mocidade é um movimento de direita, é um movimento de pessoas que querem colocar em cheque o Governo da Dilma e o Lula; que é um movimento que visa, e fazem aquelas comparações que já foram feitas, inclusive por líderes do PT, com Dr. Lacerda, em 1954, com o Dr. Getúlio, e o Dr. Lacerda em 1964 com o Dr. João Goulart.

            Esses jovens não foram felizes.

            Olha, Sr. Presidente, vivi dois momentos da minha vida em que me empolguei. Quando o País parecia que tinha chegado no seu final e tinha que ir para a luta armada, tinha que ir para a luta armada, Brizola e outras pessoas defendiam essa tese. E nós do MDB defendíamos a tese de que a luta armada não resolvia.

            E lembro-me que eu dizia, eu ficava sozinho, Senador Cristovam, e ficava meditando até de madrugada: será que sou covarde? Será que tenho medo? Será que isso que estou fazendo, na verdade, é algo para fugir da hora, porque eu admirava os jovens, eu admirava aquela gurizada, que nem a Dilma, que iam para a luta, que se enfrentavam, que aceitavam o desafio, que queriam mudar.

            Mas, a minha consciência me dizia que não iria relevar nada; a minha consciência e o debate que tinha com as pessoas me mostraram que havia um equívoco tremendo de querer comparar o Brasil com Cuba. Em Cuba o problema todo se resumia a sair da montanha e tomar a capital. E eles saíram e tomaram a capital. Mas, o Brasil era uma luta que inclusive o americano queria criar o Brasil do norte e o Brasil do sul.

            Está provado agora, e o próprio embaixador do Brasil da época escreveu um livro dizendo que a 4ª frota estava aqui, dizendo que eles ficaram desiludidos, porque eles queriam que Jango resistisse. A expectativa era da resistência de Jango, porque aí eles entravam. Se colocaram, naquela época, 200 mil em São Domingos o que eles fariam aqui!

            Então, minha consciência me dizia: não podemos ir para uma guerra civil, não podemos ir para isso de querer dividir o Brasil na metade, como aconteceu na Coréia do Norte e na Coréia do Sul, no Vietnã do Norte, Vietnã do Sul. A Índia que os ingleses, antes da independência, repartiram no meio com o Paquistão.

            Eu achava que a luta valia à pena e com o tempo eu passei a ter um respeito muito grande pelo velho MDB. Olha, eu achava, eu era um guri, cheguei lá deputado estadual de primeiro mandato, cassaram, limparam todo mundo, quando eu vi o guri era presidente do partido.

            Uma coisa, meu Deus do céu, eu não consigo nem me lembrar como é que a coisa foi adiante. No Rio Grande do Sul, a violência foi muito dura, Sr. Presidente. Com o João Goulart e com o Brizola, a 500 km de distância, em Montevidéu, e com os exilados, todo mundo lá do outro lado, o Brizola falando em resistência e luta armada e tudo o mais, a vida no Rio Grande do Sul foi muito difícil.

            Ao contrário de outros Estados em que houve uma cassação em 64 e uma outra depois, no Rio Grande do Sul, vieram levas de cassações e, quando vi aquela gente resistir e quando via o nosso pessoal do MDB porque, inicialmente, o MDB não era nada, era cadeia, era não ter emprego, era não ter favor, era não ter empréstimo, era ter a sua firma quebrada, não era nada. E a gente lutava no MDB e a gente era firme do MDB. Eu achava que a gente era patriota, éramos heróis. Eu achava que era uma luta de pessoas fantásticas e foi assim até chegarmos ao poder. Quando eu cheguei ao poder, vi que aquilo era um sonho.

            Meu amigo Cristovam, meu amigo Presidente, o poder corrompe e é difícil resistir ao poder. De repente, aquelas pessoas pegando cargos de dez, vinte, trinta mil, pegando vantagens esqueceram o sonho, esqueceram os ideais e se atiraram em busca de aventura. Daí, eu, no MDB, passei a ter uma inveja cristã do PT.

            Quando olhei o PT, quando olhei o D. Evaristo Arns reunir daquela gurizada e dar aula de orientação, de formação, de ética, de moral e tudo o mais e quando vi o pessoal do PT nas campanhas, de chinelo, de pé descalço, ganhando um sanduíche e um copo de guaraná para passar o dia inteiro ali. Eu disse: “Essa gente é fantástica!” E votei no Lula. Eu Governador do Estado, e toda a minha equipe, inclusive o Guazzelli que tinha vindo da Arena, fomos ao palanque do Lula para apoiar o Lula como candidato a Presidente.

            Eu disse: “Essa gente vai longe.” E foi assim e o Lula perdeu, e perdeu a segunda e perdeu a terceira e aquela gente do PT firme, aquela gurizada firme lutando e foram para o poder.

            E aí, ilustre Dr. Lula da Silva, o senhor foi um grande Presidente, grande. Grande biografia, grandes fatos, grandes argumentos a favor da diminuição das diferenças entre ricos e pobres, muita coisa positiva. V. Exª é um homem de bem, Presidente Lula, é um homem sério a sua vida inteira, desde que saiu lá do seu Pernambuco, na sua luta sindical, na sua luta para ser candidato a presidente, V. Exª se elegeu presidente sem empreiteira, sem dinheiro, sem porcaria nenhuma, a não ser o povo do seu lado. E fez um bom Governo.

            No entanto, na seriedade, nos princípios, V. Exª não foi bem. V. Exª quando pegou aquela gurizada de pés descalços, que estava ali distribuindo campanha, sonhadores por um mundo melhor, e distribuiu para eles cargos de 22 mil, de 12 mil, de 8 mil, de 9 mil, de 10 mil, sem saber fazer o quê. Sem orientar ser Governo. V. Exª foi tirando os sonhos do PT. E aí está essa gurizada agora.

            Olha a UNE nas mãos do PT e do PC do B, olha a CUT com o prestígio e a força da carteira dos fundos de pensões da Petrobras. Há pouco, jornalistas, de todos os jornais, perguntavam: mas nessa caminhada de 7 de setembro, onde estava a CUT e a UNE? Onde estavam as velhas lutas, as velhas entidades que iam às ruas o tempo todo? E agora, além de não irem, querem criticar os jovens que foram.

            Eu não nego que sou um homem magoado com a vida, com as dificuldades, mas sou um otimista, porque muita coisa boa aconteceu. Eu espero há muito a hora que estamos vivendo.

            Gostei da imprensa, gostei do Jornal Nacional, gostei de O Globo, gostei de O Estadão. Não consegui entender como é que O Globo fala que tinha mais de 35 a 40 mil pessoas e a Folha só falou em 12 mil. Eu gostaria que alguém me explicasse isso. O Globo falar em 40 mil e a Folha falar em 12 mil. E a Polícia de Brasília fala em 40 mil! Eu achei a querida Folha meio estranha, eu não entendi. Mas a imprensa deu boa cobertura.

            Eu dizia desta tribuna - eu, o Sr. Presidente, o Cristovam - que algo de novo estava acontecendo. Nós vivemos a experiência. Estou aqui, fui o presidente designado da Comissão das Diretas Já! Eu, Presidente, olhava para um lado e para o outro e dizia: “O que vamos fazer?” Exército, Igreja, grande imprensa, empresariado, estava todo mundo do lado de lá. O que iríamos fazer? Todo mundo ria da nossa cara, até o momento em que os caras pintadas foram para a rua. No momento em que os jovens saíram, tiveram força e tiveram fé, e foram os milhões que se reuniram, tudo mudou! Mudou nas Diretas Já, que a emenda quase foi aprovada! Não foi aprovada porque o Exército cercou o Congresso Nacional, pressionou, coagiu, e muitas pessoas não vieram votar de medo. Mas, mesmo assim, o movimento continuou, e o Tancredo ganhou no Colégio Eleitoral. Aquelas centenas de Deputados da Arena que votaram no Tancredo votaram porque o povo estava cercando aqui. Votaram porque sentiram que a hora era aquela e fizeram um grande papel!

            Agora, estamos vivendo um momento muito diferente. Eu pediria a Deus para que me inspirasse para que eu pudesse dizer as palavras que eu gostaria de dizer, que não é a rotina dos outros dias, mas é a hora que estamos vivendo. Por isso o PT não está se dando conta de que na história vão contar que, lá naquele Sete de Setembro, quando os jovens foram à rua, a mocidade do PT foi contra! Pelo menos, se tivesse ficado calada, teria sido muito melhor!

            Mas o importante é de hoje em diante.

            Há um fato novo que se chama redes sociais populares. É uma revolução na tecnologia de informação no mundo inteiro. Nunca existiu nada parecido. Lá no Oriente Médio, ditaduras têm caído não por movimento terrorista, nem por partido político, nem por religiões, nem por coisa nenhuma; pela ideia dos jovens, da mocidade, para derrotar a ditadura de trinta, de quarenta anos. Até se tem a preocupação para ver qual vai ser o caminho agora, para onde eles vão caminhar, como eles vão se entender no novo governo. Mas aconteceu assim, nas redes sociais: “Olha aqui, não sei o quê e tal. Vamos nos reunir amanhã, às dez horas, na frente do Palácio.” E o governo não tinha como controlar, porque não tinha autor, não tinha líder, não tinha chefe; era um falando com o outro, era um se comunicando com o outro. E milhares foram para as ruas e derrubaram.

            Estou aqui numa missão de muito amor e de muita paz. Não me passa pela cabeça que esses jovens estejam nas ruas para fazer qualquer tipo de movimento dessa natureza. Aliás, eles têm deixado muito claro que não é isso que eles querem. Esses jovens estão nas ruas, inclusive - e o PT não notou isso -, com elogios à Presidente Dilma, dando apoio à Presidente Dilma, dizendo que o que querem é o fim da corrupção, é o fim da impunidade. E querem fazer uma caminhada nesse sentido.

            Não é por nada que a OAB, a CNBB, a ABI e tantas outras entidades estão fechadas com essa tese. A ABI, a OAB e a CNBB são entidades tradicionais na luta brasileira. Não se pode falar em Constituinte sem se falar em CNBB, OAB e ABI; nem em Diretas Já, nem na vitória no Colégio eleitoral, nem na convocação da Constituinte, nem na vitória da anistia, não se pode falar sem se lembrar de ABI, de OAB e de CNBB.

            E era só na frente do movimento, com mais de 40, 50 entidades que também fazem parte do movimento. E, agora, essas redes sociais populares de jovens, que não se sabe como vai parar.

            Eu imagino, Senador Cristovam, que essa agora que está marcada para o dia 20 na Cinelândia, no Rio de Janeiro, vai ser algo que vai reunir uma imensidão, uma imensidão.

            Eu acho que os jovens... E nós temos obrigação de tentar ver a linha desse trabalho, e não deve ser apenas um trabalho contra a corrupção, contra a falta de ética, e não sei mais o quê, e vamos protestar, e não sei mais o quê, e ficar por aí. Não é nem, como pensam alguns, que nem meu amigo Alvaro, no sentido de uma CPI para demitir o fulano, ou provar que o beltrano é isso ou que o beltrano é aquilo. Muito mais do que isso. Nós queremos encontrar fórmulas para evitar que isso se repita. Nós queremos é evitar que isso se repita, o que fazer para que isso não se repita. Mais do que punir os que fizeram, a minha preocupação é que não se repita!

            Por isso, eu acho que deu certo quando as entidades pegaram uma bandeira: ficha limpa, botaram 1,4 milhão de assinaturas, numa iniciativa popular, e mais 2 milhões de assinaturas em solidariedade via Internet. E foi tudo em cima do ficha limpa, ou ficha suja, como quiser. E eles ganharam.

            Vamos falar claro aqui! Vamos falar claro: o ficha limpa está correndo. Eu tenho projeto, não sei quanto mais gente tem projeto igual, e nunca saiu da gaveta das comissões. Mas, no momento em que o povo foi para a rua, no momento em que veio o projeto popular, no momento em que se noticiou que a votação seria por voto nominal e seria acompanhada, tudo mudou.

            Vamos falar cá entre nós, esquecendo essa eleição: muita gente não queria que aprovasse.

            Lá na Câmara, aprovaram cheio de coisas altamente equivocadas, para mandar para o Senado, que nós tínhamos que emendar; e nós emendarmos e voltar para a Câmara morreu, passou o prazo. E a Câmara aprovou por ampla maioria. Um projeto que não era para ser aprovado no Senado. E veio aqui. Eu mesmo... Todos apresentamos uma série de emendas, houve um montão de emendas para melhorar. Foi quando se argumentou aqui. Nós emendamos, aprovamos, volta para à Câmara, e vai para a gaveta.

            Então, aí, o Senado teve um gesto heroico. Todos vieram desta tribuna dizendo: “Este não é o projeto que eu quero, mas esse é o projeto que deve ser votado para criar o ‘ficha limpa’, mas depois vamos melhorar”. E a Câmara ficou esperando, e o Senado, por unanimidade, votou. Por que votou por unanimidade? Porque o povo estava na rua, porque a CNBB, a OAB, a ABI, os estudantes, os jovens estavam na rua, colhendo os nomes que iam votar contra. Nenhum votou contra. Foi por unanimidade! Foi por unanimidade! Sabe-se de gente que não queria votar a favor. E, sabe-se que eles foram surpreendidos, e eles não imaginaram que um projeto... “Mas esse projeto tem erro! Tem isto aqui, que tem que mudar! Como é que nós vamos votar um projeto dessa natureza, com erros tão graves? Nós temos que emendar!” “Vamos votar com os erros, porque ele vai ser sancionado amanhã. E não vamos melhorar, para não ficar engavetado na gaveta da Câmara”. E deu certo, porque o povo estava na rua.

            Eu acho que as igrejas, a OAB, a CNBB, as várias entidades culturais, intelectuais, sociais deveriam continuamente, com essa campanha, aproveitar para fazer um movimento nesta sociedade que eu acho que nunca foi feito. Um movimento de conclamação ao civismo, de conclamação a chamar jovens, trabalhadores, procurar todas as pessoas que vêm a sua presença. “Olha, você nunca foi chamado, ninguém ligou para ti, essa é a tua vez! Venha, ponha a tua cara. Venha, mostra o que tu queres!”

            Eu acho que esta é a hora. Esta é a hora, por exemplo - e eu proponho isso -, de nos dirigir à associação dos donos de jornais, rádios e televisões e dizer a eles, dentro da mais absoluta liberdade de expressão: “Olhem, meus amigos da Rede Globo, a gente já sabe. Se perguntarmos por que os jornais e televisões, de noite, é crime e morte, morte e crime, crime e assalto, é porque isso dá notícia, isso dá audiência. A pessoa gosta de ver isso”. Então, é isso.

            Eu já contei daqui, e repito, de uma oportunidade que tive, junto com o Dr. Ulysses Guimarães, de almoçar com o Dr. Roberto Marinho. E eu me atrevi a dizer para ele: “O senhor me desculpe, Dr. Roberto, mas principalmente no programa da noite, o senhor não podia, depois de todas as desgraças que o senhor anunciasse, antes de terminar o programa, botar uma notícia boa sobre a beleza da vida, um fato positivo que tenha acontecido, para a gente dormir com um pouco mais de calma?” Claro que não foi por minha causa, mas reparem que, em todo final, na Globo, é uma poesia, é uma notícia positiva.

            Eu dizia lá na Globo: “Olha, por que não repetir aquele programa que o Unibanco tinha todo sábado, antes do Jornal Nacional, de 15 ou 35 minutos, “Gente que Faz”, que cada vez mostrava o exemplo de alguém que saía pelo mundo e realizava uma obra monumental de dedicação, de amor, de afeto, de paz, coisas que, no dia seguinte, eu me lembro, eram só o que a gente comentava?” Houve o caso daquele médico, criado lá em Ipanema, uma vida que era uma maravilha, que resolveram levar para o Projeto Rondon. Ele foi e ficou lá na Amazônia, está há 20 anos num lugar onde a única ligação que ele tem com cidade é via rio. Está lá se dedicando de corpo alma, porque viu, olhou aquela gente, e o coração dele disse: “É aqui que eu vou ficar”.

            Agora, o jornal Correio Braziliense publicou uma página onde mostra pesquisas em que os alunos que saem das escolas particulares são os primeiros lugares, e os alunos que saem das escolas simples não têm chance de coisa nenhuma. Há três anos, um grupo de jovens que passaram nos primeiros lugares criou um curso pré-vestibular para atender aos que saem das escolas públicas, e o índice de aprovação desses jovens é de oitenta por cento, oitenta por cento desses jovens, e fazem isso espontânea e gratuitamente.

            Mas esse não é um gesto que se deve mostrar, espalhar, publicar, para que as coisas se repitam?

            Acho que este é o momento de as redes de televisão, rádio e jornais fazerem uma grande campanha nesse sentido; misturar essa campanha com essa gurizada que vai para a rua, para, no meio disso tudo, criar esse sentimento.

            Eu confio nesse movimento. Eu confio. Eu não confio nesta Casa.

            O meu querido Presidente Sarney nomeou uma comissão importantíssima de intelectuais, juristas e parlamentares para fazer a reforma política. Não fiz parte dessa comissão, mas agora estou lá na Comissão de Justiça. É piada. Sabe quando a gente está se reunindo de mentirinha, sabendo que nada vale? Então, estamos discutindo: é mentirinha; não, é verba pública de campanha; não é fidelidade partidária, não sei o quê. Mas ninguém está levando a sério porque sabe que não é para valer, sabe que o projeto vai sair dali e, se vier para o plenário, vai cair no plenário, e, se for para a Câmara, a Câmara não vai dar bola.

            Vamos discutir, nesta hora, algumas teses, não muitas, mas algumas teses, como a educação do Senador Cristovam, teses fundamentais. Vamos fazer com que o povo brasileiro viva em torno delas, e vamos aproveitar, porque só com esse povo na rua sai alguma coisa desta Casa, da Câmara dos Deputados, do Poder Executivo e da Presidência da República e do próprio Judiciário. Por nossa conta, não sai nada. Por nossa conta, não sai nada!

            Presidente Dilma, repare V. Exª a beleza do movimento. Uma palavra negativa contra V. Exª não apareceu. Pelo contrário. Foi de apoio e de estímulo.

            Convém que se esclareça aos nobres líderes do PT: eu não entro em movimento que visa a atingir a dignidade do Presidente Lula. Eu não aceito a tese de que o Lula deixou herança maldita. Porque, se formos falar em termos da tese de que o Lula deixou, nós tínhamos que começar com a tese do que o Fernando Henrique deixou. E o PSDB não tem autoridade para cobrar do Lula aquilo que não cobrou do Fernando Henrique.

            Prefiro felicitar o Fernando Henrique, que aconselha o seu partido: não é hora de CPI. É hora de darmos força para a Dilma levar adiante o seu trabalho. Prefiro a tese da Marina: é hora de darmos força para a Dilma levar adiante o seu trabalho.

            Fique tranquilo, Presidente Lula. Não é um movimento contra V. Exª, até porque seria injusto. O mundo é o mundo e suas circunstâncias, já disse o grande filósofo. O homem é ele e suas circunstâncias. V. Exª fez muitas coisas boas, mas, infelizmente, nessa questão veio vindo, terminou no mensalão, e as coisas não conseguiram ir adiante. Se a sua liderada, hoje Presidente da República, conseguir levar adiante com o seu apoio, será vitória dela e sua. Não pode existir uma grande vitória da Dilma se o Lula não estiver junto; não pode haver uma grande derrota da Dilma que o Lula não esteja junto na derrota. Esses que estão querendo endeusar o Lula e queimar a Dilma estão muito enganados. Não existe a hipótese de a Dilma ir mal, e o Lula ser Presidente da República; existe a hipótese de a Dilma ir bem; e se chegar à conclusão de que não é a Dilma, é o Lula o candidato, isso pode acontecer. Mas queimarem a Dilma, humilharem a Dilma, desmoralizarem a Dilma, dificultarem para a Dilma e achar que vem o Lula como herói? Não vem. Vai acontecer que a Dilma aconteceu porque o Lula e seus asseclas não deixaram.

            Com o maior prazer, Senador Cristovam.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Simon, quero, primeiro, dizer que, quando terminar o meu mandato, uma das coisas boas que vou levar de lembrança são esses discursos seus, com a sua linha, que não é de partido, nem de grupo. A sua linha e a maneira como o senhor nos fala aqui, com mais juventude do que o jovem, do que muitos não só desta Casa, mas também de fora dela. Estamos muito sintonizados. Aliás, sempre estivemos muito sintonizados, nós dois aqui; mas, neste momento, talvez seja aquele em que eu me sinta mais sintonizado, mesmo sem conversar, fazendo as mesmas coisas, lendo as mesmas coisas, lutando junto com essa juventude. Mas depois vou falar sobre isso. Depois do senhor, vou falar sobre as perguntas que me ficaram depois de ver essa coisa maravilhosa da juventude, e nem tão jovens assim, nas ruas, espontaneamente. Mas quero falar sobre a nossa posição de que é preciso apurar tudo, punir tudo o que houve, dando chance à Presidenta de fazer isso. O senhor e eu estamos na posição, nem sempre compreendida, de que é hora de levar adiante essa briga - o povo entendeu, na rua, dando apoio à Presidenta -, mas sem precisar ainda de uma CPI que, se der em alguma coisa... A maioria das CPIs não dá em nada, salvo o grande circo que se arma - pode ser que essa dê -, mas ela faria isso empurrada. Se ela não o fizer, nós temos a obrigação de empurrá-la a fazer. Mas temos que lhe dar a chance de fazer antes de precisar de empurrão. Aí, é preciso ter esperança e ficar atento. Quando a gente vê a manchete de hoje do jornal Correio Braziliense: “R$682 milhões no buraco e nenhum culpado”, nós nos permitimos duas constatações. A primeira é a de que isso é o resultado de uma investigação feita pelo Governo, não pela mídia, o que mostra que a Presidenta continua demonstrando uma boa intenção. Segundo, Senador Mozarildo, quanto tempo vai durar essa impunidade? Quanto tempo vai passar sem que se saiba quais foram os culpados? Dependendo desse tempo, sintonizados com as ruas, talvez a gente possa vir, sim, a colocar o Congresso, o Senado para apurar os culpados. Ainda acredito que, se foi possível identificar esse buraco - a CGU que fez isso, ou seja, um órgão do Governo fez essa apuração -, se foi possível apurar isso, vai ser possível saber quem foi. E, sabendo quem foi, é obrigação da Presidenta tomar as medidas cabíveis para que a punição venha a ocorrer. Claro que, no caso dela, constitucionalmente, sua punição pode estar na demissão, na divulgação de tudo isso - aí entra a Polícia, aí entra a Justiça, que nem sempre pune, até podemos dizer que raramente pune -, mas ela tem hoje nas mãos a apuração por um órgão. Eu sempre dizia aqui que eu queria ver sair no Diário Oficial, antes de sair nos jornais, a notícia da demissão de alguém que foi culpado de corrupção. Não saiu ainda no Diário Oficial, mas já saiu no relatório do Governo. Então, é um passo, um passo importantíssimo, porque mostra que nós ainda estamos certos de dizer: Presidente, a gente acredita que é bom para o Brasil que seja a Senhora que tome a iniciativa de fazer a faxina - como ela chamou -, de limpeza, do que for. Ainda é tempo de dar essa oportunidade à representante máxima do Brasil para que faça as ações cabíveis. Eu creio que isso prova que nós estamos certos. O Governo está apurando, mas nós temos que continuar alertas. O Governo pode apurar e não fazer nada, e aí vai ser o nosso momento de usarmos instrumentos que temos aqui para fazer o que o Governo não tenha feito. Mas eu continuo totalmente sintonizado com a sua posição e, na minha fala, eu vou colocar como estou vendo este momento, como estou vendo, com esperança e como preocupação, essa meninada, esta juventude e muitos nem tão jovens, na rua, e sem querer político por perto. Isso merece uma grande reflexão nossa.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - V. Exª, Senador, tem tido uma atuação neste Congresso realmente muito emocionante, começou pela bandeira da educação. V. Exª se preocupa em consolidar um debate que tenha profundidade, que tenha conteúdo e que influencie a vida do País. V. Exª tem demonstrado que sofre ao ver este Senado praticamente sem nenhuma influência em nada que acontece neste País, ao ver os debates vazios aqui, sem nenhum reflexo, nem na imprensa, nem na sociedade, nem no Governo.

            Nesta caminhada, V. Exª tem levantado algumas bandeiras realmente muito, muito importantes. Ainda não conseguiu empolgar o Congresso. E vou ser sincero: nunca vamos ter um Senado sério funcionando terça-feira e quarta-feira. Nunca. Para termos um Senado sério, ele tem de funcionar segunda, terça, quarta, quinta e sexta.

            A proposta que eu apresentei - faz tempo - é muito feliz. Hoje, está lá: sessão não deliberativa; ontem, estava lá: sessão não deliberativa; segunda-feira, estava lá: sessão não deliberativa. Então, temos terça e quarta. Por que não fazer segunda, terça, quarta, quinta, sexta - e os caras riem quando eu falo -, sábado e domingo em reuniões extraordinárias? Ficamos aqui vinte dias e, depois, iríamos para os nossos Estados e lá ficaríamos dez dias. Se resolvermos os assuntos em quinze dias, ficaríamos quinze dias aqui e iríamos para os Estados, onde ficaríamos por 15 dias. Hoje, ficamos um terço da semana aqui; um terço da semana nos nossos Estados; e um terço da semana sentados nos aeroportos, esperando avião, ou andando de avião.

            Mas as teses de V. Exª são de uma profundidade muito, muito, muito grande, mas não são levadas a sério, porque terminamos hoje e só vamos nos reunir na outra semana, quando não lembraremos mais o que foi feito.

            Acho que V. Exª chama atenção para um detalhe que é importante: a Presidente Dilma vai ser a grande condutora desse processo. A Presidente Dilma, que é tida como firme, que bate na mesa e não sei mais o quê, tem de mostrar se essa firmeza é para valer, porque ser firme com subalterno é fácil. Bater na mesa com subalterno - faz isso, faz aquilo - é fácil. Eu quero ver se ela é firme agora, ao manter a linha do Governo dela, linha que ela criou, que foi aprovada, que a sociedade está apoiando. Mas há alguns contrários no PT, no PMDB, no PDT, no PTB. São aqueles que são as emendas, são aqueles que são os cargos, são aqueles que têm a distribuição, que querem fazer partido em cima do Governo. Que ela tenha a coragem de evitar isso. O partido que diga que há alguém competente, alguém capaz, que faça um bom governo. E aí sobra para o seu partido. Mas não com função gratificada, enchendo, botando...

            Uma das coisas que nós temos que fazer, Dona Dilma... Os 35% do PIB são gastos no roubo e na exorbitância da máquina pública. Dizem até que é um dos recordes do mundo. Se esses 35% fossem reduzidos a 15% ou 20%, esses 20% já resolveriam os problemas do Brasil. Isso é que é importante! Isso é que é importante!

            Quando eu peço à Dona Dilma... Não digo que ela suspenda o leilão ou sei lá o quê do metrô Campinas/São Paulo/Rio de Janeiro, mas que o deixe na gaveta. Quarenta bilhões de dólares! Já está essa confusão aí que eu não consigo entender.

            Para a Copa do Mundo são três, quatro estádios. Nós já tínhamos o Maracanã, que era uma maravilha, tínhamos o de são Paulo, que era uma maravilha, o Mineirão, que era muito bom, o Beira-Rio, que é muito bom. Demolir, aqui, um estádio que nunca lotou para fazer um monumental em Brasília? Que tipo de jogo vai receber? Que tipo de jogo vai receber? Um estádio espetacular que nem o Morumbi! O que tinha que se fazer no Morumbi era arrumar os banheiros e os bares, e não construir uma cidade olímpica do Corinthians lá no fim do mundo. São coisas que são piadas.

            No meio disso, um trem-bala de US$40 bilhões, que está sendo discutido no Japão, que é deficitário na França e está sendo estatizado porque a iniciativa popular não pode fazer. Com esses US$40 bilhões dá para fazer dez vezes mais trilhos para levar a soja, a agricultura do oeste para o Atlântico ou lá para cima, no Maranhão. Esse é o tipo do projeto, ilustre Presidente... Não anula! Não! Não suspende! Não! Deixa na gaveta! Deixa na gaveta! Deixa passar essa confusão de Copa do Mundo, de Olimpíada, essa coisa toda, e, depois, vamos discutir esse projeto.

            V. Exª tem grande responsabilidade, Presidente. Tem grande responsabilidade! E essas responsabilidades, esse desafio nós estamos acompanhando.

            V. Exª terá o povo ao seu lado, terá o Congresso ao seu lado. Essa meia dúzia que vai perder cargo, os cargos de cupinchas - o meu cunhado está em tal lugar, o meu irmão está em tal lugar, a minha mulher está em tal lugar, não sei mais o quê -, isso não vai lhe atingir. Isso não vai lhe atingir.

            Eu concordo com V. Exª. Eu não aceitarei aqui que se faça um movimento de rompimento entre a Dilma e o Lula. Não é bom para o Brasil. E não é isso que interessa. O momento que nós estamos vivendo não é o momento da vindita, não é o momento de se fazer cobrança.

            Meus queridos amigos do PSDB que escutem Fernando Henrique quando ele diz “parem com a CPI e vão ajudar a Dilma no trabalho que ela quer fazer”. Isso é importante.

            Por isso, meus jovens, eu considero que o Sete de Setembro foi, talvez, o Sete de Setembro mais histórico da vida do Brasil. E que ele continue, que ele seja vitorioso e que nós, em primeiro lugar, não atrapalhemos - não vamos atrapalhar -; em segundo lugar, vamos nos colocar à disposição; em terceiro lugar, vamos aceitar que muitas dessas reuniões da mocidade vão sobrar para nós, e vamos reconhecer, cá entre nós, que nós merecemos. Nós merecemos, mas vamos ter a grandeza de olhar adiante.

            Eu defendo isso. Eu estou nessa luta de corpo e alma. Neste meu final de vida pública, eu acho que vale a pena.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Simon, o senhor me fez lembrar, quando falou dos estádios, especialmente desse daqui, de Brasília, que está sendo construído, de duas coisas. Uma delas é uma pergunta que recebi, um dia desses, por e-mail, de um amigo meu, um estrangeiro, em que ele disse: “acabo de ver, na televisão, uma matéria sobre os novos estádios que estão sendo feitos no Brasil para a Copa”. Aí ele pergunta: “como é que vocês conseguiram ser campeões se não tinham estádios?” Ele não consegue imaginar, obviamente, que a gente tinha e derrubou para fazer outro. Não consegue imaginar. Mas é a realidade que está acontecendo no Brasil. E a segunda coisa: nesse feriado, participei de um encontro, na Universidade do Espírito Santo, em Vitória, sobre construção sustentável, ou seja, sobre como se fazem construções civis sustentáveis ecologicamente. Por exemplo, é o contrário disto aqui. Isto é absolutamente insustentável ecologicamente. Graças ao ar condicionado, temos aqui uma depredação ambiental terrível. Depois do automóvel, climatização é o segundo ato responsável pelas mudanças climáticas. Nesse encontro, estava presente o professor Vanderley, a quem eu perguntei se o estádio daqui de Brasília, que é o que conheço mais, era uma construção sustentável do ponto de vista ecológico, que é o que se diz na propaganda. Ele me deu uma resposta surpreendente, dessas que não tem nada a ver com o que a gente pergunta, mas muito melhor. Ele disse: “não existe nenhuma obra sustentável se ela não for útil; e se a utilidade for provisória, não é sustentável. Ela pode ter tudo o que é moderno na arquitetura da sustentabilidade, mas, se for para usar só durante cinco, seis, sete ou dez jogos da Copa, não é sustentável”. Eu achei essa resposta surpreendente, primeiro porque veio de um engenheiro que trata de sustentabilidade, e a resposta dele foi muito mais a de um filósofo, sobre a razão de ser da sustentabilidade, sobre a definição da sustentabilidade. A frase dele, inclusive, foi muito bonita, quase poética: “não é sustentável a obra que é inútil no tempo”. Digo isto porque o senhor está lembrando: não é possível que a gente precisasse dessas obras para fazer uma Copa se nós somos o país do futebol. Está certo que era preciso dar uma limpada, melhorar os assentos, mas nem mesmo ampliar deveria ser necessário, sobretudo se o evento se concentrasse em algumas cidades. Alguma outra razão deve estar por trás. E vai ver que essa razão que está por trás tem tudo a ver com as caminhadas dos jovens pelas ruas contra a corrupção. Corrupção não só porque é possível que essas obras terminem beneficiando pessoas, mas também porque temos que descobrir a ideia de que há duas corrupções: a corrupção do comportamento de políticos que se apropriam de dinheiro e a corrupção de políticas que usam o dinheiro sem desvio para obras que não deveriam ser prioridades.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - E a corrupção dos corruptores, que corrompem os políticos.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - E aí os corruptores estão junto também. Corruptos e corruptores deveriam estar juntos. A gente devia inventar uma palavra que juntasse esses dois. O dicionário está meio capenga aí. Tinha que ter uma palavra que resumisse estas duas atividades: o ativo e o passivo da corrupção. Pois bem. Nós vimos, agora, em frente ao estádio de Brasília, uma faixa bem grande que colocaram ali - não sei se já a tiraram - dizendo “Esta obra é uma corrupção às prioridades”, independentemente de haver ou não desvio de recursos. Então, o que o senhor trouxe aqui sobre os estádios tem tudo a ver com essa luta da população, dos jovens e de outros nem tão jovens nas ruas.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª.

            Agradeço ao Sr. Presidente, inclusive, a exagerada tolerância de S Exª, entendendo a hora que estamos vivendo.

            O normal em um país civilizado, depois do momento que vivemos no Sete de Setembro, seria o Senado estar lotado, ontem e hoje, para debater, para discutir, para falar.

            Ontem, quinta-feira, a sessão foi não deliberativa, assim como hoje.

            Fizemos um esforço, V. Exª, o Presidente e eu, e estamos aqui, nós três, fazendo uma sessão. Pelo menos o Senado está funcionando. Pelo menos eu, com simplicidade, o ilustre Presidente, com sua competência, e V. Exª, com seu brilhantismo, vamos fazer com que não seja um dia gris. Imagine se a notícia de amanhã fosse “O Senado não se reuniu’. Não, nós nos reunimos. E tenho certeza de que os três estamos aqui representando muitos Senadores que, no fundo, defendem o que queremos.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2011 - Página 36968