Discurso durante a 156ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise da Marcha contra a Corrupção, realizada no dia 7 de setembro em Brasília.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Análise da Marcha contra a Corrupção, realizada no dia 7 de setembro em Brasília.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2011 - Página 36974
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • ANALISE, DEFESA, MARCHA, ESTUDANTE, REALIZAÇÃO, DISTRITO FEDERAL (DF), REIVINDICAÇÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO, IMPUNIDADE, PAIS, COMENTARIO, PAPEL, POLITICO, DEMOCRACIA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mozarildo, Senador Pedro Simon, Senador Eurípedes, que sempre nos prestigia aqui nesta Casa, é difícil complementar ou continuar um discurso como o do Senador Pedro Simon, por isso, em vez de fazer um discurso, vou fazer algumas perguntas, Senador, algumas perguntas que estão vindo à minha cabeça no momento em que vejo as fotos nos jornais desses movimentos que ocorreram no Brasil e, sobretudo, no Distrito Federal.

            O do Distrito Federal tem um simbolismo muito especial, Senador Pedro Simon, porque a imprensa, de tanto identificar política com corrupção e Brasília com política, terminou fazendo com que Brasília fosse símbolo da corrupção. O povo foi à rua mostrar que existe uma coisa que é a política que se faz na Capital do Brasil e existe uma coisa que é a cidade de Brasília com a sua população, com a sua população de trabalhadores, que, nas ruas, demonstrou a reação ao atual quadro.

            Foi muito bom para Brasília ver essa quantidade de gente nas ruas, como eu vi pela televisão, pelos jornais. Faço questão de dizer isto para dizer que não estava lá. Não estava lá porque eu estava participando de um seminário, como disse há pouco, sobre construção e sustentabilidade, mas eu não estava lá também, Senador Pedro Simon - e esta é a primeira das perguntas - porque aquela população não queria políticos com ela. Nós não éramos bem-vindos. Poderíamos até ser tolerados, alguns de nós. Acredito que, se eu fosse, não haveria reação direta nem hostilidade. Mas aquele povo deixou um recado: essa é uma festa, no sentido amplo da palavra, nossa, não dos políticos.

            Senador Mozarildo, isso precisa de uma reflexão nossa aqui. Se nós, que somos eleitos pelo povo, não somos bem-vindos a uma festa do povo é porque nós estamos errados, não é o povo. Nós temos que refletir.

            Na época das diretas, em que, sendo Senador, como o Senador Simon foi, lutando contra a ditadura, qualquer político que fosse a uma manifestação pelas diretas era carregado nos braços do povo, era tratado como herói. Hoje não vou dizer que somos tratados como bandidos, mas somos tratados com desconfiança. Algo está errado quando políticos, que deveria ser sinônimo de líderes, eleitos, algo está errado quando eles são tratados com desconfiança nas manifestações contra a corrupção, que têm o mesmo nível do contra a ditadura, têm o mesmo nível do contra a censura, têm o mesmo nível do contra a eleição indireta, o mesmo sentido. O mesmo sentido. Contra a corrupção é contra a ditadura, é contra a tortura, é o mesmo nível do ponto de vista de projeto humanista, humanitário e de futuro da nação. Algo está errado e precisamos pensar onde é que estamos errando.

            Ao mesmo tempo, faz parte dessa pergunta uma outra: se hoje muitos de nós têm vergonha do cargo e se muitos de nós, que têm vergonha do cargo, não são bem-vindos no meio do povo, eu me pergunto: vale à pena? Vale à pena o exercício da política do ponto de vista da militância parlamentar no Executivo, eletiva? Porque aqueles jovens estavam fazendo política também, eles pensam que não, mas é outra política. A gente tem que se perguntar: vale à pena? Será que o lugar certo de estarmos, aqueles que querem lutar por um Brasil melhor, será que o lugar certo é aqui? Não estou dizendo que a resposta é não ou sim, estou me perguntando, mas é uma pergunta íntima do meu coração, não é uma pergunta retórica para ajudar a refletir sobre o assunto. Não, eu pergunto: vale à pena? Vale à pena tudo isso? Quem quer lutar pelo povo não ser bem-vindo no povo? E hoje nós não somos. E eles têm razão em não sermos bem-vindos.

            Eu me pergunto, por exemplo - e ele não está aqui para ouvir, não sei se ele vai ouvir - essa figura maravilhosa que temos aqui chamada Lindbergh Farias. Será que ele vai achar que vale à pena estar aqui em vez de estar no meio do povo, ele que foi o símbolo dos cara-pintadas? Lindbergh foi o símbolo dos cara-pintadas. Vinte anos depois, se ele for à manifestação do dia 20 - não é isso? - no Rio de Janeiro, provavelmente ele não será hostilizado, eu espero, mas, será visto com desconfiança. Ele já não vai ser mais visto como o jovem que pintou sua cara e de milhões de outros brasileiros para lutar contra a corrupção naquele momento, e, vamos ser sinceros, era desse tamanhinho comparada com o que é hoje.

            Então, eu me pergunto, será que o Lindbergh vai achar, se ele pensar com o coração dele: “vale à pena eu estar lá no Congresso em vez de estar aqui no meio do povo?”.

            A outra pergunta é: onde estamos ficando obsoletos? Porque estamos ficando, não pela idade, Senador, porque a sua é a minha, mas porque, hoje, quem lidera são os liderados por meio das redes sociais. Eles se autolideram se comunicando pelo MSN, pelo Twitter, pelas mensagens de Internet. Não tem líder, é um novo tempo, o tempo da obsolescência da figura do político pela imagem negativa, inclusive da corrupção, mas uma obsolescência também pelo avanço dos meios de comunicação, aos quais nós não conseguimos nos adaptar. E vou aqui fazer justiça a uma pessoa.

            A primeira pessoa que me levantou a ideia de que nós poderíamos estar ficando obsoletos - já se vão cinco anos disso - conversando, foi o Presidente Sarney. O Presidente Sarney, conversando ali, ele disse: “Será que esses meios de comunicação todos não estão fazendo com que o papel do Congresso comece a estar atrasado em relação a redes de comunicação que se criem, prescindindo das figuras de líderes?”. Talvez seja a razão.

            Talvez a maneira como nós funcionamos esteja levando à obsolescência da política como ela é feita hoje, que não é tão diferente assim nos últimos seiscentos anos, talvez, desde que os grandes Estados se formaram na Europa. Há o primeiro homem da Grécia, e era o povo na rua que decidia, em praça pública, votando “sim” ou “não”. Não precisava de Parlamento. Avançou isso para os sistemas gregos e romanos, sobretudo romanos, a posterior, em que havia o Senado romano, escolhido, com pessoas que tomavam decisões, e isso se mantém há dois mil anos. Não tinha ar-condicionado, não tinha computador na mesa, mas no mais era igualzinho.

            Será que não está havendo uma revolução na maneira de fazer democracia, de tal forma que o papel dos líderes e dos políticos vai ficar pequeno diante da maneira como a população se relaciona diretamente? Essa é outra pergunta.

            A outra, Senador Simon, é para onde está indo esse movimento sem líder, sem político, sem o filtro que representa o Congresso. E aí não sou otimista porque, por pior que seja hoje o Congresso, sem Congresso, sem congressistas, sem representantes, a população fica presa do imediato. Ela passa a refletir apenas de acordo com aquilo que o seu instinto do momento leva para a rua e, aí, desaparece a capacidade de refletir, de analisar, de formular leis que olhem para o futuro.

            As massas, às quais devemos servir, são a soma de indivíduos, e cada um de nós, uns mais e outros menos, não consegue ver muito longe no tempo, porque nós não temos muito tempo de vida. Nós temos uma deformação mental, não sei se estou falando bem diante de um médico, que nos faz pensar só no curto prazo.

            Quando falo disso, eu cito, não no sentido político, mas no sentido de minhas aulas e sobre ecologia, eu sempre cito, Senador, veja como temos um horizonte limitado no tempo: a gente tem nome para filho, para neto, para bisneto, para trineto ou tataraneto, mas não tem para o seguinte, porque ninguém vê - ninguém vê - o filho do tetraneto. No máximo, poucos conseguem ver o bisneto, raríssimos conseguem ver o tetraneto, ou trineto, depende de como chamem, mas o seguinte, ninguém vê. E não conseguimos pensar, familiarmente, além disso. Não conseguimos pensar no Estado além de cem anos.

            O Congresso é o único lugar onde é possível pensar em longo prazo, quando se pensa em longo prazo. Quando não se quer pensar não se faz. E para aonde vai o movimento espontâneo? Não vai. Movimento espontâneo faz, mas não vai, ele tem um limite, por isso as suas bandeiras são tão imediatas, tão curtas, tão importantes e tão urgentes, como a luta contra a corrupção.

            Mas não basta. E aí a outra pergunta: o que a gente precisa fazer para que essa população, que está mobilizada hoje, usando esses instrumentos novos... Porque não somos só nós que estamos perplexos, não, Senador. Mais do que nós, a mídia está ficando obsoleta, a mídia tradicional. Cada um hoje já consegue ter a sua televisão em casa, não para ver, mas para transmitir; cada um de nós já tem o seu jornal em casa, não para ler, mas para divulgar. Há um processo de obsolescência na maneira como a gente se comunica do ponto de vista massificado.

            Então, não basta apenas a luta contra a corrupção. É preciso uma luta contra as outras formas de corrupção invisíveis. O analfabetismo é uma corrupção. Um adulto que não sabe ler está sendo roubado, ele está sendo roubado do direito de ler as coisas que são escritas na frente dele. É um roubo, é um assalto deixar uma pessoa analfabeta. Mas essa é uma corrupção que, em geral, os movimentos sociais não percebem.

            Conseguimos juntar 40 mil pessoas em Brasília contra a corrupção, e essa é uma coisa que Brasília nunca vai esquecer e pela qual terá de sempre agradecer a essas pessoas. Duvido que a gente junte quatro mil fazendo uma manifestação pela erradicação do analfabetismo. Sejam mil, duas mil ou quinhentas pessoas, não conseguiremos! E olhe que essa é uma corrupção muito grande!

            E a corrupção das filas nos hospitais, tirando a vida das pessoas que estão esperando por um médico que já está ali dentro? E a corrupção de um doente que conseguiu passar pela fila, que recebeu a receita do remédio e fica na porta da farmácia, querendo entrar, mas que não tem o dinheiro para comprar!

            Senador Simon, se uma pessoa que estiver com o filho doente e não tiver o dinheiro, entrar em uma farmácia e roubar o remédio, estará sendo ladra! Mas esquecemos que, se ele não roubar o remédio, estaremos roubando a vida do filho dele. E o roubo da vida de uma pessoa pelo fato de que não tem o dinheiro para comprar o remédio que cura é uma corrupção vergonhosa, trágica! Tão imoral ou muito mais até do que a corrupção de pegar dinheiro público e colocar no bolso.

            Esse movimento não vai adquirir essa força por si só! Como vamos fazer para que esse movimento que é hoje contra a corrupção se transforme em um movimento revolucionário para transformar a sociedade, para fazer a sociedade que nós queremos, em que o primeiro item pela urgência deve ser um País sem corrupção? Mas o segundo deve ser um País sem analfabetismo. O terceiro deve ser um País onde a saúde funcione bem para todos; um País onde a educação seja igual, independente da renda dos pais; um País onde a terra seja usada para a produção e alimentação das famílias, e não apenas para exportação de grãos para o exterior apenas - porque é importante a exportação!

            Como vamos transformar esse movimento que está começando em um movimento revolucionário, para transformar a sociedade?

            Uma outra pergunta, Senador, que me incomoda muito é: tem futuro um governo que se isola do povo que está na rua contra a corrupção? Não tem. Não tem futuro!

            A Presidenta Dilma, que merece todo o meu respeito, não tem futuro se ela se isolar dessas massas que estão indo para as ruas. Lembrem-se: os militares não conseguiram ter futuro, porque se isolaram das massas que foram pedir as diretas. A Presidenta Dilma não terá futuro se se isolar das massas que hoje vão às ruas pedir ética. Nós não temos futuro. Nós talvez já estejamos até sem presente. Agora, o futuro não há na política se surge um divórcio entre o povo e seus dirigentes; e entre os seus dirigentes, a principal hoje é uma mulher na Presidência.

            Uma outra pergunta, Senador, além dessa. Por quanto tempo sobreviverá a liderança da Presidenta, o papel, o respeito por ela, se ela não for capaz de estar do lado dessa população? Por quantos meses? Por quantas semanas? Vamos até ser mais otimistas, por quantos anos? Não muitos; não muitos. Eu diria que não anos suficientes para um mandato. E a Dilma, com a história que tem, ela merece sair da Presidência, depois de quatro, de oito anos, tratada com todo o respeito que ela mereceu pela luta dela, e não deixar cair essa imagem. Ela não pode - não pode - se isolar.

            A outra pergunta, Senador Simon, é: como é possível que movimentos que até há pouco tempo estavam na vanguarda, à frente da luta contra a corrupção, neste momento, estão atrás, criticando? Das declarações que eu vi sobre esse movimento, nenhuma me surpreendeu mais quando eu vi alguém - é até bom não lembrar quem - dizendo que esses eram militantes de direita. Quando alguém diz que lutar pela ética é um gesto de direita, está fortalecendo a direita ou está esquecendo que direita é quem disse isso, porque direita não é mais o partido em que está; direita é de que lado está. E o lado certo, neste momento, é o lado desse povo na rua; o lado certo, neste momento, é o lado pela ética na política; o lado certo é pela identidade dos responsáveis e punição dos responsáveis.

            Hoje, o Jornal Correio Braziliense põe a manchete, que mostrei durante o meu aparte, dizendo que R$652 milhões foram esvaídos por um buraco, em vez de construírem as obras que estavam previstas.

            Em primeiro lugar, é preciso dizer que isso foi feito, essa identificação, por um órgão do governo. Vamos elogiar. Não foi a imprensa, não foi um jornal, não foram repórteres; foram os investigadores de um órgão do governo. Elogio. Mas, segundo, se demorar muito para identificar quem fez isso e para punir quem fez isso e receber de volta o dinheiro de quem fez isso, aí a coisa positiva da identidade do crime vai se transformar numa coisa profundamente negativa pela tolerância com o crime.

            A Presidenta Dilma é uma das responsáveis positivamente pelo fato de que foi identificado esse buraco, esse furo, esse roubo. Veja bem: é muito dinheiro 652 milhões! É quase 1 bilhão! Ela tem a responsabilidade de transformar essa informação em ação. Se essa informação ficar só como informação, aí a gente pode dizer: melhor que os jornais dissessem, porque o papel do jornal é só informar, não é punir. Ela tem que transformar isso numa ação! E a pergunta que fica é quanto tempo isso vai demorar.

            A outra coisa, Senador, que me preocupou ao ver essas manifestações é como a corrupção está provocando outra corrupção: a corrupção que roubou dinheiro agora roubando as bandeiras, porque nós esquecemos todas as outras bandeiras desse País em nome da luta contra a corrupção.

            A gente não pode deixar que isso aconteça! É preciso enxertar aí as outras bandeiras. Não podemos esquecer os outros crimes em função de concentrarmos na justa luta para punir determinado crime. Temos que ressuscitar, porque está morrendo diante da força negativa da corrupção, cada uma das outras bandeiras por que nós lutamos. Não há bandeira por salário mínimo mais alto. Até vi bandeira, sim, dizendo que era preciso mais recurso para a educação. É preciso não deixar morrer as outras bandeiras, porque, se isso acontecer, a corrupção ganhou até quando perdeu, até quando perdeu ao ser denunciada, ao ser vencida, ela ganhou ao esquecermos as outras bandeiras tão importantes na ética quanto termos um governo decente, porque governo não basta ser decente no entendimento de que o dinheiro público fuja para bolsos privados. Não basta isso! O Governo decente é aquele em que ninguém rouba e o dinheiro vai para o lugar certo naquilo em que o povo precisa. Uma obra faraônica ao lado de um bairro sem água e esgoto, mesmo que ninguém se aproprie do dinheiro que foi para aquela obra pública, para aquele prédio faraônico de luxa já é corrupção. Um prédio de luxo, público, ao lado de uma favela sem água e esgoto já é corrupção, mesmo que ninguém roube para ser. É a corrupção nas prioridades. Nós não podemos deixar Senador que a corrupção vença até quando perde, fazendo com que as outras bandeiras que este País precisa e que o Brasil precisa para se transformar em um País não apenas de políticos honestos, mas um País decente. Há uma diferença. A gente pode ter um País onde todos os políticos são honestos, ninguém rouba, mas o País não é decente, porque o dinheiro não usado corretamente para servir ao povo.

            Durante o Império, Senador Pedro Simon, durante todo o Império o Brasil teve políticos muito decente, mas que conviviam com a escravidão. Logo os políticos eram decentes, mas as políticas eram indecentes. Os políticos não roubavam, mas eles toleravam conviviam, fechavam os olhos para essa maior de todas as formas de corrupção que existe que é o trabalho escravo que aliás continua no Brasil.

            Nós temos que tirar grandes lições, Senador Mozarildo nesses últimos dias, com muito otimismo, eu diria com muita alegria ao ver o povo na rua, ao ver as pessoas se autoconvocando. Isso é muito bonito gente, sem precisar de líder. Isso é muito bonito, mais é preciso preocupar-se até aonde vai, como empurrar mais, como fazer uma reação à corrupção; se transformar numa revolução pelo Brasil e sobretudo, dizendo aqui dentro do nosso canto, perguntar: vale a pena ficar aqui dentro se não podemos ir para a rua ao lado do povo. Vale a pena? Ai eu respondo que não vale a pena. Eu posso dizer que não tenho resposta de quanto tempo esse não vale a pena é tolerado pessoalmente por cada um da gente. Mas não vale a pena você ir para rua pedir voto e, depois de eleito, os seus eleitores reagem de um jeito que dizem isso aqui é nosso não é seu. E isso pode estar acontecendo Senador Pedro Simon, e não com um ou com outro, mas com todos nós. Alguns serão hostilizados, outros serão tolerados, mas não serão bem-vindos. E, para mim, não basta ser tolerado, é preciso ser bem-vindo.

            Até quando cada um de nós será bem-vindo nas manifestações de massa, convocadas espontaneamente pelas pessoas dessas massas, na luta por uma causa tão importante, tão urgente, tão necessária, que é a ética na política? Mas também a política com ética. São duas coisas diferentes. A ética na política, nenhum político rouba. A política com ética é, além de não roubar, a gente aplicar o dinheiro naquilo que é de importância à Nação e ao povo e não apenas de interesse de grupos que não roubam, mas fazem coisas que os beneficiam, criando privilégios.

            Isso, Srs. Senadores, era o que eu tinha para falar nesta sexta-feira. São reflexões que vêm diante deste momento que o Senador Pedro Simon tem dito nas conversas, é verdade, este momento ímpar, talvez maior que a luta pelas diretas, pela espontaneidade como surge e pela própria causa. Claro que não seriam possíveis, com a ditadura, essas manifestações.

            O SR. PRESIDENTE (Pedro Simon. Bloco/PMDB - RS) - As diretas tinham um comando, tinham uma razão, tinham uma ditadura para derrubar. Agora não.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Exatamente.

            O SR. PRESIDENTE (Pedro Simon. Bloco/PMDB - RS) - Agora não. Agora o povo é a ética é a moral; é o sentimento do povo daquilo que deve mudar.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Isso é que engrandece. Não é visível o inimigo. Isso engrandece quem está indo para a luta.

            Eu quero dizer que fiquei orgulhoso de ver essa manifestação em Brasília. Fiquei profundamente orgulhoso como morador de Brasília e muito preocupado como Senador por Brasília, como Senador da República brasileira.

            Espero que nós que aqui estamos não apenas percebamos se estamos ou não do lado certo, mas, mais do que isso, reflitamos sobre qual é o nosso futuro como políticos no mundo em transformação em que nós vivemos. Transformação na indignação diante do que está errado e transformação diante dos instrumentos de comunicação, Duas coisas que o político tem de trabalhar: os meios de comunicação, com os quais ele fala e ouve, e a indignação, com a qual ele quer mudar o mundo.

            O povo nos deu uma lição. Espero que a gente aprenda essa lição e que a Presidenta Dilma, mais do que uma lição, perceba os riscos e as oportunidades que ela vive. A oportunidade de se transformar numa grande Presidenta, sintonizada com esse povo, ou uma Presidenta isolada, contra esse povo.

            Eu estou aqui para ajudá-la a ficar do lado desse povo. Eu estou aqui para ajudá-la, com esperança. Não sei por quanto tempo - sinceramente, Senador Simon e Senador Mozarildo, que têm tido a mesma posição minha -, não sei por quanto tempo eu ainda vou ter essa esperança. Mas continuo com a esperança de que é possível ela dizer: eu estou do lado daqueles que estão indo para a rua; e aqui está a prova do uso da força do Governo, dentro da democracia, para transformar essa luta de vocês em mudanças concretas para trazer a ética na política em nosso País.

            Muito obrigado, Senador Mozarildo, Senador Simon, que presidiram esta minha fala aqui, que foi tão longa que precisei de dois presidentes.

            O SR. PRESIDENTE (Pedro Simon. Bloco/PMDB - RS) - Agradeço muito o pronunciamento de V. Exª. Acho muito importante esta nossa reunião. V. Exª é um apaixonado por esta questão de valorizar o Senado. Como bem mais velho que V. Exª, eu digo...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Nem tanto, Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Pedro Simon. Bloco/PMDB - RS) - ...não me lembro de uma chance tão importante, para valorizar, como esta que estamos vivendo hoje. Falo isso do fundo do coração: nós estamos em condições de iniciar uma caminhada profunda, onde esses jovens que vão para a rua, que na verdade não têm um objetivo claro, a não ser o de combater a corrupção, mas não sabem nem como, de fazer um movimento não só pela ética, não só pela seriedade, não só pelo fim da corrupção, mas por algumas transformações na sociedade. Acho que é muito viável e V. Exª, que é campeão nesse debate, tem tudo para levá-lo adiante.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Obrigado, Senador Simon.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2011 - Página 36974