Discurso durante a 157ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração dos 109 anos de nascimento do ex-Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK).

Autor
Vanessa Grazziotin (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 109 anos de nascimento do ex-Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK).
Publicação
Publicação no DSF de 13/09/2011 - Página 37045
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srª Anna Christina, eu gostaria, primeiro, de agradecer ao nobre Senador Crivella pela oportunidade que me dá de falar neste momento. Muito obrigada, Senador Crivella.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, lembrar Juscelino Kubitschek é evocar um dos períodos mais cruciais e importantes da história recente do Brasil, um período a que, não sem razão, muitos se referem como “os anos dourados”. Mesmo que aqueles anos não tenham sido uma verdadeira “idade de ouro”, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pelas contradições e pelas limitações que o caracterizaram, o Brasil viveu, sem dúvida alguma, um tempo de otimismo, de criatividade, de entusiasmo juvenil, de arrojo, e tudo isso se cristalizou em torno de uma figura extremamente carismática chamada Juscelino Kubitscheck. Se não foram de puro ouro ou de ouro puro, ao menos aqueles anos foram, sim, dourados.

            Juscelino Kubitschek entrou para a política às vésperas do Estado Novo. Era Deputado Federal quando, em 10 de novembro de 1937, Vargas deu o golpe. Poucos anos depois, por indicação de Benedito Valadares, que, depois do golpe, continuara no Governo do Estado de Minas Gerais como interventor, assumiu a Prefeitura de Belo Horizonte. Com a redemocratização, foi eleito novamente Deputado e participou da elaboração da nova Constituição. Finalmente, em 1955, foi eleito para a Presidência da República.

            A trajetória política de Juscelino Kubitscheck confunde-se, portanto, com as convulsões que caracterizaram a entrada do Brasil na modernidade. Apoiou o movimento que levou Vargas ao poder, na década de 30, participou ativamente, depois, do movimento de redemocratização que se seguiu ao fim do Estado Novo varguista. Politicamente, participou nas duas frentes que deram forma ao Brasil moderno: a frente que resultou na quebra dos esquemas políticos da República Velha, abrindo caminho para a inovação econômica, mas com uma opção que se revelou, no final das contas, politicamente autoritária; e a frente que resultou na redemocratização após a Segunda Guerra.

            Infelizmente, como sabemos, após a passagem de Juscelino Kubitscheck pela Presidência, o País entrou em um novo ciclo de instabilidade política, que resultou em mais um longo período autoritário. O próprio Juscelino Kubitscheck seria vítima da ditadura que se instalou em 1964, perdendo o mandato de Senador que conquistara pelo Estado de Goiás em 1962.

            Economicamente, a marca de Juscelino Kubitscheck, como bem destacou o Senador Rodrigo Rollemberg em seu pronunciamento, foi o desenvolvimentismo. A promessa arrojada dos “50 anos em cinco” visava a superar os obstáculos estruturais que entravavam o desenvolvimento nacional. As metas eram de fato, arrojadas, mas, na maior parte, como se reconhece, foram razoavelmente alcançadas. A construção de Brasília, que sintetizava o arrojo do Plano de Metas, é o símbolo mais eloquente das realizações do Governo Juscelino Kubitschek. Embora tenha tido um custo, que se manifestou na crise inflacionária e no desequilíbrio das contas externas, não há dúvida alguma de que a política desenvolvimentista fez o País dar um salto e avançar em diversos aspectos.

            Culturalmente - esta é uma questão importante de se destacar, porque, quando homenageamos Juscelino Kubitscheck, falamos muito dos seus feitos em relação à logística, ao trabalho desenvolvimentista de integração do território nacional; a construção de Brasília foi um passo muito importante para a efetiva integração do nosso País, mas é preciso falar de outro lado importante também, que foi o lado da alegria, da cultura, de um novo momento que passou a viver o nosso País -, os “anos dourados” foram também de grandes mudanças, em consonância com o que ocorria em todo o mundo, após as duras duas décadas anteriores, com a guerra que as marcou. A prosperidade e o otimismo favoreceram o desenvolvimento de novas formas de consumo, de novos comportamentos, de novos gostos. O Brasil, cada vez mais urbano, modernizava-se também nos seus costumes.

            O entusiasmo pelo novo se espalhou pelas artes: cinema, teatro, música, literatura. No cinema, diretores como Nelson Pereira dos Santos já prenunciavam o movimento do Cinema Novo. Na literatura, novos caminhos eram explorados por autores como Guimarães Rosa, com seu Grande Sertão: Veredas, de 1956, e com as experimentações poéticas de Haroldo e Augusto de Campos. Nas artes, Lygia Pape, Lygia Clark e Hélio Oiticica ousavam nas formas, assim como, na arquitetura e no urbanismo, faziam Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. E, na música, João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Morais começavam a revolução da Bossa Nova. Enfim, ao otimismo e à inovação dos costumes, veio juntar-se uma explosão de criatividade, que marcou, sem dúvida, apesar dos anos plúmbeos que se seguiram ao dourado dos anos 50, a evolução posterior da cultura brasileira.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todo esse otimismo, toda essa esperança e essa criatividade que marcaram os “anos dourados” acabaram associados e sintetizados na figura carismática de Juscelino Kubitschek, até hoje lembrado com saudade e reverência por muitos brasileiros, inclusive por aqueles que não o conheceram. E, mesmo para estes, o arrojo e o otimismo associados a Juscelino Kubitschek permanecem como um índice do que gostaríamos de ser, do País que gostaríamos de construir, um país que realizasse todas as suas promessas e enormes potencialidades contidas em seu povo, em seu território, em suas riquezas naturais, com mais justiça, com mais igualdade e com mais democracia para todos.

            É dessa forma, com muito otimismo, que concluo meu breve pronunciamento, Sr. Presidente, dizendo que Juscelino Kubitschek foi importante para o Brasil porque não foi só mais um Presidente, mas foi um Presidente que ajudou muito a fazer deste País o País que é hoje.

            Muito obrigada.

            Cumprimento todos! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/09/2011 - Página 37045