Discurso durante a 157ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração dos 109 anos de nascimento do ex-Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK).

Autor
Geovani Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Geovani Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 109 anos de nascimento do ex-Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK).
Publicação
Publicação no DSF de 13/09/2011 - Página 37048
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

            O SR. GEOVANI BORGES (Bloco/PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Rodrigo Rollemberg, primeiro signatário do requerimento de realização desta sessão; Srª Presidente do Memorial JK e neta do nosso querido homenageado, Srª Anna Christina Kubitschek; ex-assessor do Presidente da República Juscelino kubistchek Oliveira, Sr. Coronel Affonso Heliodoro dos Santos; Embaixador da República Eslovaca, Exmº Sr. Branislav Hitka - desculpe-me a pronúncia -; Procuradora-Geral da Justiça do Ministério do Distrito Federal e Territórios, Exmª Srª Eunice Pereira Amorim Carvalhido; nosso ex-Governador do Distrito Federal e ex-Senador da República Exmº Sr. Paulo Octávio, que nos brinda aqui com sua presença e que está acompanhado do nosso querido Senador Adelmir Santana; senhoras e senhores representantes do corpo diplomático, meus senhores e minhas senhoras, estamos reunidos, hoje, para celebrar os 109 anos de nascimento de Juscelino Kubitschek. Geralmente, as datas comemorativas dos mitos da história nacional são marcadas na ocasião da sua morte, mas JK só poderia ser lembrado pela data de nascimento. Talvez, isso seja produto do cuidado com que o notável político casava os eventos da sua biografia com os fatos da biografia da Nação. Na sua época, o 12 de setembro era quase uma data nacional.

            Não seria exagero considerar que o período de JK representou a alvorada da evolução histórica brasileira. Nos anos de 1950 e de 1960, os nossos anos dourados, o Brasil mudou. A população cresceu fortemente e urbanizou-se. A década de 1950 a 1959 experimentou níveis de expansão asiáticos, com a segunda melhor média anual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do período posterior a 1946, 7,15%.

            Chamo a atenção para o termo “Alvorada”. O político mineiro, em antevisão que anunciava o limiar da nova era, utilizou-o em uma das passagens mais citadas do ideário nacional, ao fixar a primeira impressão, em 2 de dezembro de 1956, daquele que seria o maior desafio da sua gestão, a construção de Brasília. Deixo registrada esta citação:

Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu País e antevejo esta Alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.

            Nesse contexto, a mudança da capital passou a ser a representação mais visível do Programa de Metas de JK, que prometia fazer crescer o País 50 anos em apenas cinco, pois simbolizava a interiorização da sua ocupação econômica. Até então, o Brasil estava condenado a palmilhar as costas litorâneas feito caranguejo, para utilizar uma expressão do primeiro historiador brasileiro, Frei Vicente do Salvador, ao caracterizar a colonização portuguesa em pleno século XVII. A fórmula expansão para o Oeste era, até JK, apenas um capítulo da história das ideias, sem encarnar qualquer projeto consequente.

            Mesmo a morte de JK, em circunstâncias trágicas conhecidas de todos, representou outra Alvorada em nossa história. Naquele momento, em que a ditadura conhecia as suas primeiras derrotas nas urnas, as cerimônias fúnebres do grande líder inauguraram os movimentos de protesto que marcariam a transição democrática.

            Naquele momento, o político corporificava a restauração da democracia, sem jamais esquecer que seu último mandato político foi de Senador, antes de conhecer a cassação pelo regime autoritário. Mesmo no exílio, não se cansou de lutar pela derradeira missão de sua vida.

            O compromisso sólido com a democracia, Srªs e Srs. Senadores, marcou a biografia desse homem público, até mesmo na leitura que fazia do projeto urbanístico de Lúcio Costa para a Praça dos Três Poderes, em 1959, como deixou registrado:

A ideia, enfim, de localizar a sede dos três poderes fundamentais, não no centro do núcleo urbano, mas na sua extremidade, sobre o terrapleno triangular, como palma de mão que se abrisse além do braço estendido da esplanada, onde se alinham os ministérios. Assim sobrelevados, e tratados com dignidade e apuro arquitetônico, em contraste com a agreste natureza circundante, eles se oferecem simbolicamente à Nação e parecem dizer ao povo: votai, que o poder é vosso!

            Símbolos do que chamou Vinícius de Moraes “imensos limites da pátria”, como nos lembra o poeta maior João Cabral de Melo Neto, os monumentos de Brasília escondem energias insuspeitadas dos candangos que os construíram. E revelam outra faceta de JK: a imersão no universo popular e a solidariedade comovente com os mais humildes.

            Abro outro parêntese, para dizer, desta tribuna, que tenho a honra de ser filho de um ex-candango de Brasília, Sr. Miguel Pinheiro Borges. E minha mãe, neste momento, está nos assistindo. Nasci no Amapá, mas minha família gerou um filho aqui, o ex-Senador Gilvam Borges, no tempo em que meu pai ajudou a construir Brasília. E, como Senador da República, tenho esta oportunidade.

            São muitos e variados os depoimentos sobre a relação de JK com o povo mais humilde e trabalhador. Juscelino percorria as obras de Brasília, muitas vezes em um jipe apinhado, para fiscalizar pessoalmente o andamento da construção. E como gostava de se misturar com os peões, que o saudavam euforicamente nessas ocasiões! Meu pai, naquela época, contava-nos que ele conversou com o Presidente Juscelino Kubitschek num barraco, sentado numa caixa de sabão vazia, que era o banco, no meio dos candangos; ele me deu esse testemunho. Deles, dos peões, JK retirou a energia e o apoio necessários para enfrentar os momentos delicados da sua grande obra, que não foram poucos.

            Recentemente, em obras de reparo do prédio do nosso Congresso Nacional, localizaram-se, em seus subterrâneos, escritos dos peões que trabalharam na construção. A mensagem mais extensa chamou-me a atenção. Era do operário José Silva Guerra, trazia a data de 22 de abril de 1959 e consignava o seguinte texto, Sr. Presidente: “Que os homens de amanhã que aqui vierem tenham compaixão dos nossos filhos e que a lei se cumpra”. Seu José parecia ter em mente o perfil de JK, que se notabilizara por esta compaixão com o povo humilde e trabalhador e pela percepção de que a democracia se assenta na observância das leis.

            Qualquer discurso laudatório, em conclusão, não poderia dar conta do fundador de Brasília. Parafraseando João Goulart, no pronunciamento de instalação do Congresso Nacional, de 21 de abril de 1960, poderíamos dizer que, com Juscelino, “a eloquência está nos fatos, não nas palavras”.

            Era o que tinha a dizer.

            Quero parabenizar o nosso Senador Rodrigo Rollemberg pela bela iniciativa.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/09/2011 - Página 37048