Discurso durante a 157ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração dos 109 anos de nascimento do ex-Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK).

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 109 anos de nascimento do ex-Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK).
Publicação
Publicação no DSF de 13/09/2011 - Página 37050
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srª Anna Christina Kubitschek, Senadores, senhoras e senhores, creio que é difícil encontrar na história do Brasil uma figura que, no seu perfil, reúna os atributos e as qualidades de Juscelino. Foi o político completo na sua caminhada - Deputado, Prefeito de Belo Horizonte, Governador de Minas Gerais, Presidente da República. Como Prefeito de Belo Horizonte, foi um inovador: a sua obra na Pampulha e tantas outras; a sua aliança com o grande arquiteto Niemeyer e com Lúcio Costa durou a vida inteira. Como governador, foi um marco na história de Minas, o governador que marcou o seu governo por estradas, por energia, por indústria. Em qualquer análise que se faça na vida mineira, diz-se que o grande governador que mudou, que transformou a maneira de ser de Minas Gerais foi Juscelino Kubitschek.

            Ao final de seu governo, seu nome era uma candidatura natural, mas ele não era o candidato do PSD. Juscelino, pelo seu estilo independente, pela sua forma de agir, de ser, não era um homem de conchavo, daquele velho PSD, dos coronéis. Aquele não era o Juscelino.

            O candidato a Presidente da República do PST era o Nereu Ramos, e toda a cúpula do PST estava com Nereu Ramos. E veio Juscelino. E, aí, o Juscelino teve um lance de genialidade. Ele pagou caro, quase não assumiu, mas fez o lance. Não vamos esquecer que Jango tinha sido Ministro do Trabalho de Getúlio, que o Memorial dos Coronéis exigiu sua deposição. Era o filho querido, embora não o filho natural, mas filho afetivo do Getúlio; o homem que, durante o exílio de Getúlio, nos anos que ele passou lá em São Borja esquecido de todos, ficou quatro anos com o Dr. Getúlio; depois saiu com ele percorrendo o Brasil. Ministro do Trabalho, deu aumento salarial considerado exagerado para a época, e os coronéis fizeram um memorial exigindo a demissão de João Goulart. Getúlio, que já estava na fase do desgaste, foi obrigado a aceitar, e Jango foi demitido do Ministério do Trabalho.

            Preparando para concorrer na chapa, eis que o Juscelino vai buscar para ser o candidato a vice o João Goulart. E é claro que pegou a má vontade total por parte dos militares, acompanhada, inclusive, por parte da cúpula do PSD que teve de aceitar, mas lutaram até o fim pela candidatura do Nereu. Aliás, lutaram até o fim pela candidatura do Nereu, que chegou a passar pela Presidência. Não durou muito tempo, mas passou pela Presidência. Ele teve coragem, fez uma aliança PSD/PTB.

            À época, apresentavam-se várias hipóteses: o grande nome do PTB era o Oswaldo Aranha, que queria ser candidato e tinha todas as condições para ser candidato, e seria o candidato. Juscelino tirou o tapete quando fez o acordo com Jango, que era o dono do partido e presidente do partido, e elegeu-se Presidente da República

            Todos sabemos como foi difícil a posse! Aragarças, Jacareacanga, movimentos e mais movimentos contra a posse de Juscelino. A rigor, o argumento era João Goulart... E também não tinha nada contra o Sr. João Goulart: ele tinha dado um aumento ao funcionalismo...aos trabalhadores da época com salário mínimo. Foi uma luta difícil.

            O Sr. Carlos Lacerda... Figura estranha a do Carlos Lacerda... Carlos Lacerda foi um gênio! Gênio da comunicação. Às vezes, eu... Graças a Deus, quando ele estava aqui, ainda não tinha televisão. Se fosse com a televisão, eu não sei o que ele faria, se fez tudo o que ele fez com a rádio: derrubou Jânio, derrubou Getúlio e quase não deixou Juscelino tomar posse.

            Assumiu! Aí, todo o mundo ficou na expectativa e todo o mundo cobrou! Juscelino tinha - até para manter sua autoridade - de tomar providências. Alguém tinha de pagar o preço pelo verdadeiro golpe que tramaram e que só não saiu porque o Lott, com muita competência - grande competência! - quando foi demitido do Ministério do Exército (à época Ministério da Guerra) e viu que a demissão dele significava a não posse de Juscelino, de madrugada, em vez de ir para casa, como anunciado, foi para o Ministério da Guerra e garantiu a posse de Juscelino.

            O drama de Carlos Luz, Presidente da Câmara, assumindo, e Café Filho, Vice-Presidente em exercício, que ficou doente e, de repente, quis voltar para assumir... Aí, não! Está doente, fica doente. Mas o Nereu ficou e garantiu a posse de do Juscelino Kubistchek. Assumiu, e a primeira coisa que fez foi dar anistia. Esqueceu. Nem Lacerda, nem militares, nem coisa nenhuma... Foi um governo que se iniciou sob o ritmo da paz e da compreensão. E assim foi o seu governo.

            E assim foi o seu Governo: acertou-se com o PSD, teve o melhor entendimento com o PSD. Também não é muito mérito, porque o PSD, quando viu que o Juscelino era o novo Presidente, adaptou-se ao novo Presidente. Mas ele teve a competência de fazer isso bem, coisa que hoje não se faz - estamos vendo aí que, com o PMDB, não consegue acertar-se. Acertou-se com o João Goulart, acertou-se com o PTB, fez um diálogo de respeito recíproco e fez um grande governo.

            Cá entre nós, fazer Brasília em menos de cinco anos... Não tem exemplo. É uma obra que, realmente, demonstra capacidade, porque ou ele fazia em cinco anos ou até hoje não tinha acabado. Se ele tivesse feito a avenida dos ministérios, mais não sei o quê, mais não sei o quê, e deixasse para o Jânio continuar, o Jânio não continuaria, pararia tudo, passaria a vassoura e tiraria tudo. E, se deixasse para os militares, meu Deus do céu... Fez com competência, com autoridade.

            É impressionante analisar as obras que ele realizou, as estradas que ele fez, as hidrovias, como Furnas, Três Marias... Realmente, olha que adotou com categoria os 50 anos em 5. Se fez 50 anos mesmo em 5, eu não sei, mas que ele fez muita coisa em 5 anos eu não tenho dúvida alguma. Sempre com respeito, com tranquilidade, com a maior democracia, a maior serenidade.

            A campanha do Jânio Quadros contra ele foi absurda, ridícula, escandalosa e foi feita com Jânio dizendo que vinha com a vassoura e não sei o quê. Ele aguentou firme e aguentou tranquilo.

            Mas, que figura magnífica a de Juscelino!

            Ele e a tua avó o Brasil admirava. Dizem que ele dançava muito e não sei quê, mas o carinho que tinham, o afeto que demonstravam! Quando vejo ali - uma coisa interessante -, por exemplo, o Parque da Cidade, Parque Dona Sarah Kubitschek. O parque deveria ser Sarah Kubitschek; o “Dona” era porque todo o Brasil se acostumou a chamá-la de “Dona”. É “Dona” e ficou como Dona. É o Parque Dona Sarah, Hospital Dona Sarah, porque, realmente, ela impôs o nome dela nesse sentido.

            Eu me lembro de que fui presidente da junta governativa da UNE durante seis meses, e fizemos um congresso mundial de estudantes de Direito em Porto Alegre. Organizamos todo o congresso, fizemos tudo, preparamos, convidamos todo o mundo, tudo. Lotamos hotéis, fizemos tudo o que tinha para fazer. Tinha tudo, só não tinha dinheiro para pagar; não tinha nada! Aí - essa fotografia está lá no Memorial -, eu cheguei para o Juscelino e disse o seguinte: “Presidente, é assim? A obra é assim, é assim, é assim. O mundo inteiro... Presidente, é a obra mais importante do seu governo, Presidente!”. Ele se virou para o Paschoal Carlos Magno, que era o homem particular para assuntos de cultura dele, e disse: “Paschoal, é a obra mais importante do meu governo, e você ainda não me falou nada, Paschoal!”.

            Eu morri de vergonha, mas ele deu o dinheiro, bancou e fez.

            Que saudade eu tenho daquele tempo! Eu era guri, mas foram cinco anos da maior tranquilidade; foram cinco anos de amor, de paz; foram cinco anos de compreensão, de respeito.

            E ele, com a maior grandeza, entregou a Presidência para Jânio Quadros. Olha que a própria UDN não fazia muita questão de entregar o governo para o Jânio Quadros. Jânio Quadros foi um fenômeno que aconteceu e aconteceu, mas ele não: entregou e fez a sua parte.

            Eleito Senador, JK-65 estava na rua. E, cá entre nós, eu não tenho nenhuma dúvida - nenhuma dúvida! - de que o JK-65 ganharia do Carlos Lacerda. Nenhuma dúvida de que era o candidato e que também queria ser. Aí, é um fato interessante. Quando Juscelino era Presidente da República, na Escola Superior de Guerra, o Lacerda estava lá fazendo demônio contra o governo dele. Então, ele mandou o Dr. Tancredo Neves ir lá para a escola vigiar o Lacerda. E o Tancredo foi. O Tancredo, ladino, terminou à mesa ao lado do Castelo Branco. Ele, durante todo o período, almoçava, jantava e tomava café da manhã com o Castelo Branco, e fez grande amizade com o Castelo Branco, tanto que o Castelo Branco tinha uma filha, e o Tancredo foi padrinho de casamento da filha do Castelo Branco.

            Na hora em que veio aqui para votar no Castelo Branco para Presidente da República, Tancredo levou Juscelino para o lado: “Não vote.” “Mas ele é teu amigo! Tu és padrinho da filha dele de casamento!” “É meu grande amigo, é um grande homem, é um grande brasileiro, mas é um radical. Ele tem ideias na cabeça que ele acha que é aquilo. Ele vai te cassar!”

            Juscelino não acreditou. Então, aconteceram coisas que ninguém estranhou até hoje: um homem tranquilo que nem o Tancredo, pacifista total, foi o único que votou contra o Castelo Branco. Juscelino votou a favor, e, pouco depois, viria a cassação.

            São coisas difíceis.

            Eu aconselharia a vocês irem lá ao Memorial e apertarem ali para ver: um avião vindo em direção a Brasília, em que estavam o Juscelino e o piloto do avião, pedindo para descer em Brasília, e a torre dizendo que não tinham autorização para descer em Brasília. “Mas nós estamos ficando sem gasolina; eu não posso chegar até lá!” “Façam o que quiserem. Em Brasília, não descem!”.

            E não os deixaram descer.

            Vale a pena ver, porque é uma coisa que só assistindo! Eu assisti a isto mais de uma vez, sempre com lágrimas nos olhos: um Presidente da República vindo, impedido de chegar à cidade que ele construiu.

            Juscelino foi um homem de gestos impressionantes. Quem diria que ele fosse a Montevidéu - não para falar com o Jango, porque o Jango e ele foram grandes amigos a vida inteira -, levando o Lacerda junto. Jango, Lacerda e Juscelino fizeram a Frente Ampla. E tiveram a coragem de fazer a Frente Ampla, que era um movimento democrático para democratizar o País, em que a tese era deixar de lado as coisas que eram passado e olhar para a frente. Olhar para a frente, olhar para o futuro.

            Os dois, inclusive, diziam que as duas candidaturas não eram importantes. Importante era a retomada da democracia.

            Esse era o Juscelino.

            É muito difícil encontrar uma figura como Juscelino na política do mundo inteiro. No Brasil, então, meu Deus! E ele fazia isso tudo com aquela alegria, com aquele sorriso, com aquela felicidade, com aquele otimismo! Ele olhava para a gente e abraçava... Eu vou falar para vocês, com toda sinceridade: eu nunca me senti tão bem na vida, abraçando alguém, quanto quando eu cumprimentei o Dr. Juscelino. Ele era ativo. Ele fazia as coisas com felicidade, mostrando que ele estava gostando de fazer aquilo.

            Os funcionários que trabalhavam com ele diziam isso, e eu vi num livro que fala sobre ele. O ex-Ministro Costa Couto, que fez uma biografia espetacular, conta isso: o carinho, o afeto e a amizade que todos que trabalharam com ele têm. Todos! La na prefeitura, lá no governo do Estado e na Presidência da República. Um afeto profundo! Ele os tratava de igual para igual.

            Esse era o Juscelino.

            É verdade que o Brasil, até vamos fazer justiça, não presta muitas homenagens, mas, graças a alguns grandes amigos, nós temos esse memorial, porque ele merece. É um belo memorial, singelo, simples. Aquele túmulo, naquela imponência, nos deixa meio gelados, mas hoje é um grande dia.

            Eu vi, ontem, aquelas manifestações, e a televisão do mundo inteiro chorando pelos três mil mortos nos Estados Unidos. E chorou bem. Foi uma barbárie, foi uma violência aqueles dois aviões derrubando aquelas torres, quando três mil inocentes morreram.

            Os americanos poderiam ter aumentado um pouco e, junto ao memorial, botar não sei quantos milhões do Iraque, não sei quantos milhões do Afeganistão e tantos milhões do Japão e tantos milhões não sei da onde, que também morreram, fruto do mesmo absurdo. Quem usa a violência acaba sofrendo a violência.

            Meu amigo Juscelino, eu não tenho nenhuma dúvida, mesmo dos mais apaixonados, se é que ainda existe alguém, herdeiros do Lacerda, eu duvido que tenha alguém hoje que não tire o chapéu para o Juscelino. Eu duvido. Eu duvido que, seja político, seja o que for alguém, não reconheçam: “Esse foi um grande homem”.

            V. Sª deve orgulhar-se. Olha que ser neta de Juscelino, meu Deus do céu! Você tem do que se orgulhar! Mas o Brasil inteiro se orgulha contigo.

            Obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/09/2011 - Página 37050