Discurso durante a 157ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Leitura da carta enviada por S.Exa. à direção do jornal Folha de S. Paulo sobre declarações que lhe foram atribuídas acerca do 11 de setembro; e outros assuntos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Leitura da carta enviada por S.Exa. à direção do jornal Folha de S. Paulo sobre declarações que lhe foram atribuídas acerca do 11 de setembro; e outros assuntos.
Aparteantes
Wellington Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 13/09/2011 - Página 37125
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • COBRANÇA, RETRATAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), MOTIVO, ADULTERAÇÃO, DECLARAÇÃO, ORADOR, RELAÇÃO, ATENTADO, TERRORISMO, VITIMA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • LEITURA, TRECHO, ENTREVISTA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DIRETOR, CINEMA, DIVULGAÇÃO, MOBILIZAÇÃO, CIDADÃO, ORIENTE MEDIO, BUSCA, PAZ.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Wellington Dias, Srs. Senadores, fui surpreendido ontem, quando meu irmão Paulo Matarazzo Suplicy ligou-me para perguntar se era fato que eu havia feito uma declaração que constava ontem na Folha S.Paulo, no caderno Mundo, sobre o 11 de setembro de 2011. Ao lado de diversas outras personalidades, saiu a minha foto. Saí ao lado da foto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em que estava a afirmação de que eu de nada me lembrava e de que pouco me havia importado. Diante daquilo, avaliei que certamente tinha acontecido um erro. Eis por que resolvi escrever uma carta, que aqui leio, para o diretor de redação da Folha de S.Paulo, Otavio Frias Filho, assim como ao editor do caderno Mundo, Fábio Zanini, e ainda ao diretor executivo, Sérgio Dávila, que também escreveu naquele caderno.

Quando meu irmão Paulo Matarazzo Suplicy ligou-me ontem, fiquei perplexo. O caderno Mundo Especial, desse domingo, na Folha, sobre o 11 de setembro de 2001, atribuiu-me uma frase, ao lado de minha fotografia, que por absoluto nunca pronunciei ou que sequer pensei. A declaração que lembro ter feito sobre aquele dia foi registrada pela Folha.com, em 2 de setembro de 2011, em que esclareci ter ficado extremamente impressionado com as duas tragédias que haviam acontecido: a morte do Prefeito Toninho, de Campinas, do PT, na noite de 10 de setembro de 2001 - eu havia estado com ele, para proferir palestra na Câmara Municipal de Campinas, por isso estive no local do crime logo após o assassinato -, e a morte de mais de três mil pessoas, vítimas dos atentados perpetrados em Nova York e em Washington, na manhã de 11 de setembro. Naquela trágica manhã, fui fazer a gravação do programa do PT e, no estúdio de TV, vi as imagens que obviamente muito me chocaram.

Na quarta-feira, dia 12, pronunciei-me na sessão do Congresso Nacional, repudiando os atos de terror perpetrados contra a população dos Estados Unidos, que, indefesa, tornou-se vítima de um terror inadmissível, reiterando ser de extrema importância a realização de esforços em prol da paz mundial.

No dia seguinte, 13 de setembro, apresentei requerimento na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, registrado em discurso na sessão do Senado, em que solicitei “às autoridades brasileiras todo o esforço, junto ao governo dos EUA e junto aos governos dos países do Oriente Médio, no sentido de realizarem a paz”, o mais rápido possível. Considerei importante encaminhar ao Presidente dos Estados Unidos uma mensagem de solidariedade pelas vítimas dos atentados terroristas. Acrescentei que “é preciso verificar onde colocar a energia e qual o passo adequado, pois há que se pensar em quantas vidas humanas, principalmente civis, que não têm a ver com esses procedimentos e que poderão acabar perdendo as suas vidas. Não podemos saber hoje, com precisão, quais serão as consequências de passos de guerra tão violentos quanto aqueles que infelizmente atingiram Nova York e Washington, o World Trade Center e o Pentágono, causando a morte de tantas pessoas.

Caro Otávio, você deve saber o prejuízo que a declaração, erroneamente a mim atribuída, certamente me causa. Estranho que a Folha, ciente de eu ser o Parlamentar do PT com maior votação obtida no Município de São Paulo, nos 31 anos de história do partido - 51,35% dos votos dos eleitores paulistanos na eleição para o Senado, em 2006 -, não tenha me considerado nas pesquisas de intenção de voto do Datafolha. Mesmo que eu tenha declarado ser pré-candidato e estar participando dos debates com os demais pré-candidatos, que a Direção Municipal do PT está organizando [e, neste final de semana, completaram-se 12 dos 36 debates que estão ocorrendo em todas as 36 regiões zonais em São Paulo, e de todos participei], penso que isso possa ser corrigido na próxima pesquisa Datafolha.

Por fim, espero a publicação da minha real opinião sobre o 11 de setembro, com o mesmo destaque da matéria de domingo, respeitando-se o que está no Manual de Redação da Folha e a opinião de seus leitores.

Respeitosamente, um abraço.

Senador Eduardo Matarazzo Suplicy.

            Eu, inclusive, anexei a própria publicação da Folha.com, de 2 de setembro de 2011, com o horário das 15h, em que, com foto publicada, estava destacado que eu me preocupava com que a guerra poderia desenrolar-se pelo mundo.

            “No dia fatídico, de 11 de setembro de 2011, o senador Eduardo Suplicy (PT) estava em Campinas, onde o Prefeito Toninho do PT fora assassinado.” Eu inclusive fui ao seu enterro. “Suplicy foi uma das personalidades brasileiras, convidadas pela Folha, a lembrar do momento da tragédia.”

            Portanto, a Folha me escolheu, e tive a honra de ser uma das pessoas ouvidas a respeito. Está aqui.

Primeiro, ele pediu um tempo para se lembrar exatamente o que fazia. Na segunda ligação, narrou o dia com detalhes - inclusive lendo trechos de discursos que fez na época.”

            Está na própria Folha.com:

Eu tinha estado em Campinas, onde o prefeito Toninho foi assassinado”, conta. Somando as duas tragédias, discursou em solidariedade à população de ambas as cidades, tornadas vítimas do terror.

Eu me preocupava que a guerra poderia se desenrolar de maneira trágica pelo mundo [...].

            Quero agradecer.

            Peço o jornal que está na bancada.

            Quero agradecer. Fábio Zanini está, nesta semana, em férias, então conversei hoje com a editora da Folha de S.Paulo, a subeditora do caderno Mundo, Silvana Arantes, que, depois do esclarecimento que fiz, pediu-me desculpas e disse que a minha carta sairá amanhã no Painel do Leitor, assim como haverá na seção Erramos a correção devida.

            Ela disse que fora decorrência de possível ingenuidade do jornalista que me havia entrevistado. Como eu havia dito na primeira ligação que gostaria de lembrar exatamente tudo que ocorrera naquele dia, então fui buscar os Anais de meus pronunciamentos e minha própria agenda, confirmando que eu tinha estado, no dia 10, em Campinas, para fazer uma palestra, e que tinha encontrado o Prefeito Toninho poucos momentos antes de ele ser assassinado. Ele tinha vindo saudar-me.

            Foi o momento em que o Prefeito Toninho chegou a dizer à Vice- Prefeita Izalene Tiene: “Se porventura acontecer alguma coisa comigo, você vai ser a primeira Prefeita mulher da história de Campinas”. Acho que ele falou isso uma hora e meia antes de ser morto.

            Depois da palestra, fui comer uma pizza, um lanche com as pessoas que estavam na palestra, os vereadores, e, quando estávamos ali, na lanchonete pizzaria, veio o Vereador Tiãozinho, que nos tinha convidado, avisar que infelizmente o Toninho tinha acabado de sofrer um atentado, um tiro, e que tinha falecido.

            Eu fui ver o local do crime. Estava lá o automóvel que havia sido atingido, os policiais fazendo as investigações, e, infelizmente, até hoje não se desvendou completamente o crime. E sou muito solidário a Roseana, sua esposa, a sua filha e ao seu filho, que até hoje esperam um melhor esclarecimento sobre a morte do Toninho.

            Naquela manhã seguinte, dia 11, fui para São Paulo. Fui até o estúdio onde Duda Mendonça fazia o programa do Partido dos Trabalhadores, e, enquanto preparávamos para fazer a gravação, vi no estúdio as imagens da terrível tragédia dos Estados Unidos e pude, então, compreender aquilo.

            E, no dia 12, eu aqui fiz um pronunciamento solidário ao povo de Campinas, à família de Toninho e aos familiares de todos que haviam falecido nos Estados Unidos. Inclusive redigi, no dia seguinte, um requerimento de solidariedade ao povo dos Estados Unidos e um requerimento em que também propunha fossem realizados esforços para que não se desencadeasse uma guerra ainda mais violenta pelo mundo, que pudesse haver o espírito de todos aqueles que, conforme eu, e V. Exª sabe, Senador Wellington Dias, sempre estão propugnando pela resolução pacífica de diversos conflitos que hoje temos no Brasil e no mundo afora.

            Então, eu lhe concedo um aparte, com muita honra, Senador Wellington Dias, meu companheiro.

            O Sr. Wellington Dias (Bloco/PT - PI) - Senador Suplicy, é só para manifestar a minha solidariedade. É lamentável a forma como foi interpretada e feita essa divulgação. Como seu companheiro e admirador, eu queria também manifestar a minha solidariedade. Sei que não poderia ser de outra forma como essa que V. Exª relembrou aqui, tanto em relação à tragédia em São Paulo, ao assassinato, como também em relação à sua solidariedade às vítimas, às famílias e também às vítimas nos Estados Unidos. Era basicamente para manifestar aqui essa solidariedade pela forma como isso foi colocado pela imprensa.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Wellington Dias. Certamente, como eu, V. Exª também se incorpora ao gesto de solidariedade com que a Presidenta Dilma Rousseff encaminhou, em nome de todos nós, brasileiros e brasileiras, ao Presidente Barack Obama, expressão do nosso sentimento de pesar, solidariedade e realização de paz no mundo.

            Aliás, eu hoje li uma entrevista, que considerei tão significativa e tão de acordo com esse espírito da realização de paz, de Julia Bacha para Sonia Racy, em Direto da Fonte, Encontros com o Estadão, no jornal O Estado de S. Paulo, no Caderno Dois. Eu queria registrar que a Julia Bacha é filha do Professor Edmar Lisboa Bacha, um dos responsáveis pela criação do Plano Real, e é uma cineasta que vive há 10 anos em Nova York e tem desenvolvido um trabalho de pesquisa na organização Just Vision. Seu documentário Budrus rodou os principais festivais do mundo e ganhou importantes premiações. Foi o preferido do público em Berlim e Tribeca e acaba de ser lançado no Brasil, em DVD, pela Copacabana Filmes.

            Sem vê-lo, já quero recomendar a todos, pois a experiência de Julia Bacha no Oriente Médio também a levou a participar do TED, ciclo de conferências globais que aconteceu este ano em Edimburgo, na Escócia. Ali, ela dividiu com a plateia relatos de seus filmes e movimentos de resistência sem o uso de armas ou violências, e aqui cito algumas de suas palavras:

E o que, na sua opinião, fará diferença nos próximos anos?

Temos de prestar atenção nos indivíduos que estão focados em realmente transformar o conflito, usando métodos que já deram certo em outros lugares, como a resistência pacífica.

Você acredita que divulgando, por meio dos filmes, movimentos de sociedades civis, eles ganham mais força e visibilidade?

Sim, com certeza. Para que esses movimentos possam se expandir, a atenção internacional e a mídia têm de estar voltadas a eles. Se permanecem invisíveis, não conseguem força local. Temos israelenses e palestinos trabalhando juntos pela paz, mas que não recebem a atenção merecida.

O que muda na população quando você liga a câmera?

Só de ligar a câmera para um israelense que trabalha sem violência, isso já amplia a credibilidade dele perante os olhos de seus colegas. Além de aumentar sua autoestima.

Amós Oz, escritor israelense, afirmou que as duas populações estão cansadas do conflito.

Sem dúvida. Ambas estão cansadas. Mas a consequência desse cansaço é diferente para cada uma. Porque eles estão em situações de poder muito diferentes.

Por quê?

Ainda acontecem episódios de violência contra israelenses. Mas o auge, que foi a segunda intifada, não existe mais. O conflito não é mais tão presente na vida dos israelenses. O que se assiste hoje, em Israel, é uma sociedade inteira se manifestando contra o governo, sem nada relacionado com o conflito. O que preocupa os israelenses, neste momento, não são os palestinos. E, sim, que os universitários querem sair de casa e não têm dinheiro para pagar o aluguel. Já com os palestinos é diferente. Eles vivem numa situação de ocupação militar. Além de ter dificuldade de manifestar qualquer oposição a essa ocupação. O cansaço pode levar à falta de ação do lado israelense. Isso não é a realidade do lado palestino. Eles não têm o privilégio de esquecer o conflito.

Tem algum palpite sobre a votação do Estado palestino na ONU, semana que vem?

Acho que a decisão de ir até a ONU faz todo sentido, politicamente, para o governo palestino. Mas não será aprovado [diz ela]. Não existe o apoio político necessário, por conta da pressão dos EUA. Entretanto, vejo como uma oportunidade para os movimentos locais de resistência pacífica se fortalecerem e aparecerem.

            A entrevista toda, eu peço a gentileza de ser transcrita. Só gostaria de aqui também acrescentar a opinião dela sobre Roberto Carlos.

Roberto Carlos acaba de fazer um show em Jerusalém, considerado o futuro barril de pólvora do conflito. Como você vê o poder midiático dessa visita?”. [Responde ela:] A visita do Roberto Carlos poderia ser uma oportunidade para chamar a atenção do público brasileiro aos israelenses e palestinos que lutam para a paz. Se, por exemplo, ele visitasse o bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém, onde um movimento israelense chamado “Solidariedade” luta contra o despejo de famílias palestinas, ele estaria fazendo uma contribuição para a paz na região. Porém, ele claramente mostrou estar mais interessado em revelar sua paixão por Cristo do que sua compaixão ao próximo.

            Até acho que ela aqui foi um pouco dura com Roberto Carlos.

            Eu tive a oportunidade de assistir ao seu show e eu acho que Roberto Carlos, em tudo aquilo que Roberto Carlos, em tudo aquilo que realizou ali quando cantou em Jerusalém, ele aproximou os povos. E é possível que, inclusive, quando cantou em hebraico a música de homenagem a Jerusalém, ele possa, de alguma forma, ter preocupado os palestinos, mas eu acho que ele ali falou, sobretudo, sobre o espírito da cristandade, sobre o exemplo de Jesus Cristo e procurou falar em como é importante realizar os esforços de um melhor entendimento e de paz, inclusive para superação dos problemas de tantos conflitos que parecem infindáveis no Oriente Médio.

            Nós brasileiros, que aqui testemunhamos o convívio tão bom e frutífero entre árabes, judeus, palestinos e pessoas de todas as origens, seja em quaisquer de nossos Estados e grandes metrópoles e em quaisquer cidades e Municípios brasileiros, nós temos a convicção de que nós brasileiros poderemos colaborar muito para o bom entendimento entre palestinos, israelenses, árabes, judeus e todos os povos do mundo.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.) ******************************************************************************************

Matéria referida:

- O fim do conflito passa pela revolução civil, O Estado de S. Paulo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/09/2011 - Página 37125