Discurso durante a 159ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo aniversário, hoje, de Dom Paulo Evaristo Arns.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo aniversário, hoje, de Dom Paulo Evaristo Arns.
Publicação
Publicação no DSF de 15/09/2011 - Página 37439
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, ARCEBISPO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Paulo Paim, que preside esta sessão, nobres colegas, é verdade que V. Exª, como em todos os momentos, sempre está em algum lugar. Quando se vê, chega o Senador Paim ou ali se encontra. Aliás, é tradição já.

            Mas, Sr. Presidente, nobres colegas, eu dizia há pouco, em um aparte à Senadora Lídice da Mata - dentre alguns temas, ela fez referência ao nonagésimo aniversário de Dom Paulo Evaristo Arns - e inclusive disse a ela que eu já havia pensado em alguma coisa para registrar a passagem desses noventa anos deste Ilustre catarinense que nasceu no Sul do Estado, na região carbonífera de Forquilhinha, Município à época distrito que pertencia, naqueles tempos, ao Município de Criciúma, no Sul do Estado. Inclusive, eu tive a honra, quando Governador, de na emancipação sancionar a criação do Município de Forquilhinha.

            Faço algumas considerações:

            Neste 14 de setembro de 2011, Santa Catarina e o Brasil têm que comemorar o aniversário de um de seus mais honrados e brilhantes filhos. Apesar de ele não desejar grandes celebrações, eu não poderia me furtar de fazer este registro: hoje completa 90 anos de uma bela existência Bom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito de São Paulo, uma verdadeira legenda na luta pela vida e pela igualdade neste País.

            Nascido em 14 de setembro de 1921, na cidade de Forquilhinha, região sul de Santa Catarina, quinto entre treze filhos do casal Gabriel Arns e Helena Steiner, este frade franciscano dedicou toda sua existência em defesa do próximo, dos mais necessitados e, ao fim, de uma sociedade mais justa e igualitária.

            No campo familiar, vale destacar que D. Paulo é irmão da médica pediatra Zilda Arns, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, três vezes indicada ao Prêmio Nobel da Paz pelo Brasil, internacionalmente conhecida pela luta contra a mortalidade infantil. Zilda Arns faleceu em 12 de janeiro de 2010, nos terremotos que se abateram sobre Porto Príncipe, no Haiti.

            A atuação pastoral de Dom Paulo foi, desde sempre, voltada aos habitantes da periferia, aos trabalhadores, à formação de comunidades eclesiais de base nos bairros, principalmente os mais pobres, e à defesa e promoção dos direitos humanos.

            Durante os pesados anos de ditadura militar, este nobre catarinense desempenhou um papel de extrema relevância, sempre com notável coragem e responsabilidade. Nunca teve medo quando se tratava da defesa do próximo: ia aos porões onde homens e mulheres, grande parte deles jovens, eram perseguidos porque queriam um país mais justo. Nunca hesitou em enfrentar delegados, generais e ministros. Fazia o possível e o impossível para libertar presos políticos. Tornou-se uma referência, para o bem e para o mal. Se por um lado sempre foi procurado para interceder pelos que estavam na luta pela democracia, foi alvo de dura perseguição pelos militares, sendo apelidado de "Bispo Vermelho".

            Lembro, em 1975, sua brava atitude de celebrar uma missa de sétimo dia ecumênica - junto a um rabino e um pastor protestante - na Catedral da Sé, em homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, assassinado por seus torturadores. O ato foi extremamente simbólico e tornou-se um marco na luta volta da democracia no país.

            Dom Paulo Evaristo Arns foi além: em 1986, foi o organizador de um rico compêndio, intitulado "Brasil: Nunca Mais". Este livro é um dos mais importantes relatos sobre o momento político vivido pelo País, um completo inventário dos crimes praticados contra a dignidade humana.

            Em 1989, demonstrando novamente sua bravura, desempenhou a difícil incumbência de negociar com os seqüestradores do empresário Abílio Diniz. Além de colaborar para a libertação de Diniz, D. Paulo garantiu a rendição pacífica dos seqüestradores, não sem antes garantir que não fossem torturados ou maltratados no trajeto até a delegacia de polícia.

            Sem jamais perder a humildade, Dom Paulo foi merecedor de homenagens mundo afora - foram prêmios, medalhas, títulos de Doutor Honoris Causa, além de ter sido o primeiro brasileiro a ser indicado a receber o Prêmio Nobel da Paz, em 89 - quando foi escolhido o Dalai Lama.

            Em 1990, quando Governador de meu Estado, tive a honra de homenagear Dom Paulo Evaristo com a Medalha do Mérito Anita Garibaldi, a mais alta honraria catarinense. Sei que essa homenagem é pequena frente à estatura deste nobre brasileiro, mas é motivo de orgulho para os catarinenses, que não deixaram de reconhecer sua obra.

            Apesar de todos os avanços alcançados, ainda estamos longe de alcançar o nível de cidadania e igualdade que desejamos: ainda temos milhares de pessoas à margem da sociedade; lutamos contra trabalho escravo; contra a tortura, a miséria, a prostituição, a exploração de menores e as drogas; pela educação e pela inclusão social plena.

            Por isso, nobres colegas, as lições de D. Paulo Evaristo Arns ecoam com força entre nós. Que sua história de luta e amor ao próximo nunca seja esquecida, mas, pelo contrário, seja modelo de atitude para todos aqueles que almejam um Brasil mais justo e igualitário.

            Essas são algumas considerações em relação a esse emérito, Arcebispo de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns, nascido lá na pequenininha Forquilhinha, no sul de Santa Catarina, abriu caminhos para o Brasil, caminhos para o mundo, da fraternidade, das lutas, da coragem e vejam bem, são 90 anos hoje, são 90 anos de existência, 90 anos de pregação e de caminhos.

            O franciscano, com o seu cajado, têm defendido muitas lutas, ajudado, principalmente, nos direitos daqueles mais desprotegidos a ter voz. Ficou na história, ele e a família.

            Por isso essa nossa homenagem nesse aniversário, o nosso regozijo de poder prestar essa homenagem a Dom Paulo Evaristo Arns.

            Muito obrigado, Sr. Presidente e nobres colegas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/09/2011 - Página 37439