Discurso durante a 163ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração da passagem do vigésimo primeiro aniversário de criação do Sistema Único de Saúde - SUS.

Autor
Paulo Davim (PV - Partido Verde/RN)
Nome completo: Paulo Roberto Davim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração da passagem do vigésimo primeiro aniversário de criação do Sistema Único de Saúde - SUS.
Publicação
Publicação no DSF de 20/09/2011 - Página 38020
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS).
  • COMENTARIO, HISTORIA, ATUAÇÃO, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS), SUGESTÃO, FINANCIAMENTO, SAUDE, PAIS.

            O SR. PAULO DAVIM (Bloco/PV - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta Senadora Vanessa Grazziotin; Sr. Assessor Especial do Ministro da Saúde, Fausto Pereira dos Santos; Presidente do Conselho Federal de Fonoaudiologia, Srª Bianca Arruda Manchester de Queiroga; Sr. Vice-Presidente do Conselho Federal de Medicina, Dr. Carlos Vital Tavares Corrêa Lima, aqui representando o Presidente Roberto d’Ávila; Sr. Secretário Executivo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde - CONASS -, Dr. Jurandi Frutuoso Silva; Assessora da Presidência do Conselho Regional de Enfermagem Distrito Federal, Enfermeira Marilene Teixeira Santos, aqui representando a Presidente Enfermeira Eloísa Sales Correia; Sr. Secretário Municipal de Saúde de Manaus, Sr. Francisco Deodato Guimarães; representante da CNBB no Conselho Nacional de Saúde - CNS, Sr. Clóvis Adalberto Boufleur; Assessor Técnico do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde - Conasems, Sr. José Ênio Servilha Duarte; Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Santa Catarina, Dr. Ricardo Polli; Presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Mato Grosso do Sul, Sr. Amarílis Pereira Amaral Scudelari; membro do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo, Srª Helena Stella; Secretário-Geral da Federação Interestadual dos Odontologistas, Sr. Aroldo Pinheiro de Moura Neto; Coordenadora do projeto da Associação Brasileira de Odontologia do Distrito Federal na comunidade, Srª Edice Nedine de Oliveira Souza; Srs. Senadores, Srªs Senadoras; senhoras e senhores aqui presentes; todos que nos assistem pela TV Senado e que nos ouvem pela Rádio Senado, é com grande satisfação que venho à tribuna desta Casa, como proponente desta comemoração do 21º aniversário do Sistema Único de Saúde. O SUS comemora a maioridade.

            Mesmo com todos os seus problemas, o Sistema Único de Saúde brasileiro é um serviço notável de atenção à saúde, a começar pela ambição do seu objetivo principal, estabelecido pela Constituinte de 1988. O SUS foi concebido para cumprir o dever do Estado de promover a saúde de todos os brasileiros, prevista na Constituição Federal como um direito dos cidadãos.

            As estatísticas do Sistema apresentam números formidáveis. Examinemos alguns dos últimos dados disponíveis. A integralidade da população brasileira - ou seja, 190 milhões de pessoas - é beneficiada gratuitamente pelo SUS. O SUS produz, anualmente, 7,8 bilhões de unidades de 400 tipos diferentes de medicamentos, dos quais 163 bilhões são de medicamentos antirretrovirais, usados no tratamento da AIDS, doença cujo programa brasileiro de prevenção e tratamento tem reconhecimento internacional.

            Dois milhões de partos são realizados por ano pelo Sistema e mais de 105 milhões de pessoas são atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o nosso querido Samu, criado em 2003. O SUS conta com 40 mil equipes do Programa Saúde da Família; 240 mil agentes comunitários de saúde e 22 mil equipes de saúde bucal; 87 milhões de brasileiros são atendidos anualmente pelo Programa Brasil Sorridente, de atendimento odontológico. São 25 as centrais estaduais de transplantes organizadas, o que já permitiu a realização de 24 mil e 600 transplantes só neste ano de 2011.

            Graças a essas e a outras ações do SUS, que resultam de um trabalho conjunto dos governos Federal, estaduais e municipais, os resultados obtidos em termos de melhoria das condições de saúde e de vida da população são expressivos.

            Para citar apenas alguns, a mortalidade infantil caiu para 19 por mil crianças nascidas vivas; doenças como a paralisia infantil e o sarampo foram erradicadas do País; o número de fumantes caiu para 17% da população; e o mais importante: a expectativa de vida dos brasileiros subiu para 72,3 anos em média. Não é sem razão que o Sistema foi reconhecido como exemplo, em 2008, pela Organização Mundial de Saúde.

            Evidentemente, nem tudo são flores quando se trata de um sistema desse tamanho e dessa complexidade. Se, de um lado, há benefícios inquestionáveis à população, do outro ela também tem suas queixas em relação ao SUS, como ficou evidenciado por uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada - IPEA, em novembro de 2010.

            Os principais problemas indicados pelos usuários do Sistema foram a falta de médicos, apontada por 57,9% dos entrevistados, e a demora para o atendimento nos postos, centros de saúde e hospitais, reclamada por 35,9% dos que responderam à pesquisa. Aliás, para 34,9% a demora na consulta a especialistas é o principal defeito do SUS.

            Como médico e servidor público, há 26 anos trabalhando com pacientes críticos, não poderia deixar de registrar o triste dilema, vivenciado diuturnamente pelos médicos intensivistas, numa verdadeira escolha de Sofia, consequência do déficit de leitos de UTI no Brasil ou ainda os graves problemas enfrentados pela rede na assistência ao paciente da traumaortopedia.

            A pesquisa trouxe, no entanto, um dado extremamente interessante: a qualidade dos serviços do SUS foi avaliada positivamente por 72,4% dos entrevistados. A melhoria da qualidade do atendimento foi mencionada por apenas 11% das pessoas ouvidas quando sugestões de aperfeiçoamento do SUS foram pedidas pelos entrevistadores.

            Se o SUS tem problemas é preciso buscar soluções. Além desse diagnóstico dos usuários, há outras visões, como a de membros do Governo Federal que estão atentos a iniciativas que visem aprimorar o SUS.

            Para citar um exemplo, o Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Miranda Magalhães Júnior, manifestou seu ponto de vista em audiência da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de São Paulo, em junho passado. O Secretário afirma:

Não será o aumento unitário da tabela do SUS nem a elevação do chamado teto dos repasses a Estados e Municípios que vão promover a solução para o financiamento da saúde pública. A forma de aumentar o teto e acrescentar recursos ao sistema de saúde está ligada à expansão da rede de atenção à saúde.

            O Secretário se refere à expansão das redes de atenção, à obstétrica e neonatal (Rede Cegonha); de urgência e emergência; de atenção psicossocial (enfrentamento do uso do álcool, do crack e de outras drogas); de atenção oncológica; e de doenças crônicas e envelhecimento. Elas são as prioridades atuais do Ministério.

            Contudo essa expansão também exigirá mais recursos financeiros, o que parece ser a questão central a ser resolvida. Até 2014, só a Rede Cegonha demandará recursos da ordem de R$9,3 bilhões. A Rede de urgência e emergência consumirá outros R$19 bilhões, com a previsão de mais R$39 bilhões entre 2015 e 2018.

            A questão que está em discussão nesse momento é exatamente de onde virão esses recursos de que o SUS necessita para funcionar melhor. A própria Presidenta Dilma Rousseff disse em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, no último dia 11 de setembro, que, embora ela seja contra uma nova CPMF, o Sistema demandará mais recursos “inexoravelmente”, segundo sua própria definição.

            Isso é fato. Por isso mesmo, defendo um amplo debate envolvendo vários segmentos da sociedade, governos e Congresso Nacional, para, juntos, buscarmos fontes plausíveis e exequíveis de financiamento da saúde no Brasil.

            Vejo que a regulamentação da emenda 29 poderá significar um novo momento para o SUS. O primeiro passo para a sustentabilidade do sistema. Para tanto, precisamos fugir do convencional e buscarmos novas fontes, fontes alternativas de financiamento do SUS, associadas à gestão profissionalizada e austera.

            Srª Presidente, vejo que outras medidas precisam ser colocadas em prática, como, por exemplo, racionalizar o uso dos recursos do SUS - reduzindo o fenômeno do “hospitalocentrismo”, como o batizou o economista especializado em administração hospitalar e economia da saúde Bernardo Couttolenc, ex-professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP).

            Segundo ele, qualquer sintoma é motivo para o brasileiro procurar um hospital, onde está a atividade mais cara do Sistema. Muito do que é feito nos hospitais, de acordo com o especialista, poderia ser tratado antes, nos ambulatórios ou nos serviços de atenção básica, a um custo bem menor.

            Como se vê, há margem para melhorar o funcionamento desse formidável sistema de saúde pública instituído no Brasil, garantindo-se a otimização dos recursos. Certamente, os Governos Federal, Estaduais e Municipais, em conjunto e colaborativamente, sob a fiscalização participativa da sociedade brasileira, haverão de trabalhar com seriedade para aperfeiçoar, racionalizando seu funcionamento e reduzindo seus custos.

            Quero terminar, saudando cada um dos brasileiros que trabalham para fazer funcionar bem o SUS. É deles que depende a nossa população, notadamente a mais pobre, nas suas horas mais difíceis, de dor e de doença. É com os profissionais ligados ao SUS que elas contam para superar o sofrimento e vencer a morte. A esses profissionais, a nossa homenagem e o nosso agradecimento. São eles que devem receber os parabéns no aniversário que marca os 21 anos do Sistema Único de Saúde no Brasil.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/09/2011 - Página 38020