Discurso durante a 163ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Entusiasmo com as mobilizações contra a corrupção planejadas por meio de redes sociais.

Autor
Jarbas Vasconcelos (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PE)
Nome completo: Jarbas de Andrade Vasconcelos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Entusiasmo com as mobilizações contra a corrupção planejadas por meio de redes sociais.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Wellington Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 20/09/2011 - Página 38167
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • ELOGIO, MOBILIZAÇÃO, INTERNET, PROTESTO, CORRUPÇÃO, PARTICIPAÇÃO, JUVENTUDE, PAIS.

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco/PMDB - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Meu caro Presidente Valdir Raupp, Srªs e Srs. Senadores,

            Venho a esta tribuna dominado por dois sentimentos antagônicos: O primeiro constitui uma esperança baseada na crença de que as manifestações do último 7 de setembro, inicia um novo momento na história social e política do Brasil; o segundo é o pessimismo, Sr. Presidente, em relação a capacidade de nossa classe política entender com clareza o processo que teve início no último aniversário de nossa Independência.

            O povo foi às ruas. Os manifestantes, em sua maioria jovem, ocuparam várias cidades do país com uma única palavra de ordem: “Chega de corrupção”. Resgatamos uma capacidade de mobilização desconhecida pelas novas gerações, a qual só tem paralelo em movimentos de mais de vinte anos atrás como o dos “caras pintadas”, do impeachment e o das “diretas já.”

            O que há de novo, Sr. Presidente, nessa manifestação em relação as que a precederam? A forma de mobilização e seus objetivos. Surge no Brasil, Srªs Senadoras, Srs. Senadores na mesma linha do que vinha ocorrendo em várias partes do mundo, o poder de mobilização das redes sociais. Jovens brasileiros conectados por meio de seus computadores pessoais e telefones, reuniram-se em torno da ideia de combater essa verdadeira calamidade nacional: a corrupção.

            A indignação individual, na maior parte das vezes restrita ao núcleo familiar ou aos mais próximos, ganhou as redes sociais e difundiu-se, rapidamente, em um movimento independente e poderoso, que alcança todos com rapidez; um poder de mobilização jamais visto na nossa história.

            Como venho repetindo há tempos, Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, desgraçadamente a corrupção incorporou-se à paisagem brasileira. Corruptos de todas as estirpes tiveram no ex-Presidente Lula um protetor benevolente, que incentivou os criminosos. Tomado de uma letargia inexplicável, o País passou a assistir a sucessivos escândalos. Mas, como afirma o senso comum, tudo tem um limite. A faxina - conduzida pela Presidente Dilma Rousseff no início de seu governo - que ocupou grande espaço na mídia e atingiu quatro de seus Ministros, despertou a sociedade para a verdadeira endemia em que se transformou a corrupção entre os agentes públicos em nosso País.

            Fomos todos vencidos pelo cansaço. Cansamos de ver criminosos sendo flagrados recebendo dinheiro público roubado e protegidos por seus iguais, como o recente episódio da Srª Jaqueline Roriz, desgraçadamente inocentada em um ato de puro corporativismo e irresponsabilidade da Câmara dos Deputados. Cansamos de acompanhar investigações e processos intermináveis, como o do mensalão. Cansamos de acompanhar operações da Política Federal em que muita gente é algemada e ninguém fica preso. Cansamos, e a sociedade, no Dia da Pátria, finalmente soltou seu grito de indignação.

            Essa indignação, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, atinge a todos nós. Hoje, a atividade política é associada imediatamente à corrupção - cada um dos Srs. Senadores sabe que isso não é invenção minha, não é uma palavra que está colocada aqui apenas para compor o meu discurso. Se os agentes públicos, aí incluídos os três Poderes do Estado, subestimarem a capacidade de mobilização das redes sociais, estarão colocando em risco as próprias instituições.

            Não tenho dúvidas, Senador Cristovam Buarque, um dos mais combatentes Senadores neste Plenário, de que o que está sendo questionado nas ruas é, em última instância, o próprio sistema representativo, a base da democracia, como a conhecemos atualmente.

            Nesses quatro anos de mandato, nos momentos em que ocupei esta tribuna para denunciar, principalmente, a impunidade, repercutindo cada novo escândalo que era apurado pela imprensa, cheguei a pensar que jamais seria ouvido e que os que aqui defendiam uma postura ética no exercício da política eram uma minoria em extinção.

            Eis aí, o motivo do meu entusiasmo: estamos sendo ouvidos. Infelizmente, essa audiência não se dá neste Plenário, mas chegará aqui, com toda certeza, imposta pela sociedade, que cobra uma postura ética dos seus representantes.

            Segundo estimativas da Fiesp, senhores senadores, a corrupção é responsável pelo desvio, dos cofres públicos, de valores entre R$ 41 bilhões e R$ 69 bilhões a cada ano. Rouba-se mais do que o valor arrecado da CPMF em 2007, seu último ano de vigência, quando o imposto totalizou R$ 37 bilhões. Não precisamos de um novo imposto para combater a verdadeira calamidade da saúde pública no Brasil; basta enfrentarmos, com eficiência, a corrupção.

            Aqui nesta Casa, se faz tudo ao contrário. Ao invés de se discutir a questão da saúde, se faz, como hoje, sessão solene em homenagem ao SUS. O SUS merece todo nosso respeito, mas a questão da saúde não é essa; a questão da saúde são os desvios, a má gestão. No governo Lula, inclusive, houve Ministro da Saúde exonerado por absoluta incompetência. Não havia dinheiro que fosse suficiente para suprir as necessidades da saúde.

            Senador Cristovam, ontem completou uma semana que a Presidente Dilma disse que a CPMF foi um engodo, que o dinheiro foi completamente desviado. O dinheiro era para ser exclusivamente destinado à saúde, era essa a campanha do então Ministro da Saúde Adib Jatene. O intitulado “Imposto do cheque”, para ajudar a saúde, foi desvirtuado.

            Quem pode assegurar que se um novo imposto for criado - o que não deve ocorrer - não seja novamente desviado, numa prática de corrupção abusiva, completamente abusiva, instalada no Brasil há muitos anos?

            É contra esse verdadeiro absurdo que os jovens foram às ruas. É por esse ideal que milhares de internautas acessam diariamente as comunidades que divulgam as mobilizações. No Brasil, as redes sociais contam com quase 50 milhões de integrantes, número que nos coloca em posição de destaque quando comparado aos dos países desenvolvidos.

            A primeira e histórica mobilização promovida pelas redes sociais do Brasil é o fato político mais importante deste início de século. Estamos diante de uma verdadeira revolução, e meu desejo sincero é que ela frutifique, despertando milhares de jovens a deixar o conforto do lar e lutar por princípios e objetivos que lhes interessem diretamente, como o combate à corrupção, a defesa da ética e uma verdadeira reforma política que livre este País daqueles que não têm decência para exercer a atividade pública.

            Espero, Sr. Presidente, que todos participem das manifestações nesta terça-feira, 19 de setembro, na Cinelândia, no Rio de Janeiro, e no feriado do dia 12 de outubro vindouro, sendo que esse ato será um ato desencadeado em todo o País.

            Que todos permaneçam independentes, sem permitir a participação oportunista de partidos políticos, centrais sindicais, organizações sociais e ONGs comprometidas com o Governo Federal e comprometidas com interesses inconfessáveis. Estejamos alertas e confiantes, pois isso é apenas o começo.

            O combate, Sr. Presidente, à corrupção tem sido realizado no Brasil de forma tímida, de forma acanhada. Aqui foi feita uma verdadeira frente a favor da faxina, uma faxina que a Presidente Dilma tem enormes dificuldades de dar continuidade, de manter e lhe dar caráter permanente, porque se sabe que cada ministro desses integrou a equipe na base da política do toma lá e dá cá, que ela contestou na entrevista ao Fantástico, na semana passada, mas que, na realidade é o que acontece. Uma reforma política, inclusive, iria se não evitar, pelo menos reduzir esse expediente do toma lá e dá cá, porque poderia acabar com as legendas de aluguel, poderia acabar com aquelas legendas imorais que vêm para cá para fazer negócios.

            Então, Sr. Presidente, esse movimento das redes sociais no Brasil foi, sem nenhuma dúvida, o fato mais importante que eu presenciei nesta legislatura.

            A mobilização é consciente, corajosa e deveria contar com a Une, que, infelizmente, virou uma entidade chapa branca, e com entidades sindicais, que, infelizmente, viraram pelegas, ligadas ao Governo Federal e contrárias aos interesses nacionais.

            Tudo isso nos leva à descrença com relação as entidades e, ao mesmo tempo, nos leva à fé, à esperança de que, através das redes sociais, a gente possa, realmente, ter uma mobilização, como o mundo todo vem tendo, como na Ásia e na África. A população de vários países do mundo têm-se mobilizado para combater essa praga que estanca o desenvolvimento, que envergonha um povo, que assalta os cofres públicos.

            Está, aí, a situação da saúde. Eu nunca vi, como Deputado, Senador, Governador e Prefeito, a situação em que chegou a saúde no Brasil. Não tenho a menor dúvida de que, hoje, a saúde está completamente dominada, contaminada pela corrupção. Recursos existem, mas são mal geridos. A gente precisa, na saúde, de gestão pública: gestão pública nos postos municipais, nos hospitais dos Estados e nos hospitais da União.

            Por isso, Sr. Presidente, é que venho me congratular, mais uma vez, com as redes sociais e, sobretudo, com os jovens brasileiros.

            Ouço V. Exª, Senador Cristovam, para enriquecer o meu discurso.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Jarbas Vasconcelos, fico feliz em ver um Senador nosso, brasileiro, um Parlamentar ir à tribuna para falar que é preciso lutarmos contra a corrupção, porque a imagem que hoje existe é a de que nós todos somos coniventes. Há uma exposição de arte, Senador Wellington, eu ouvi no rádio hoje, em que o artista colocou, não sei com que arrumação, um número de vassouras equivalente ao número de Parlamentares do Brasil. Ou seja, nós temos uma vassoura lá. Cada um de nós tem uma vassoura lá indicando que somos corruptos. Quando se chega a esse ponto, ou despertamos, ou seremos atropelados. Por isso, a frase mais importante do seu discurso foi quando o senhor disse “não menosprezem a mobilização que está sendo feita neste País por meio das redes sociais”. Não menosprezemos isso. E quando eu digo não menosprezemos não é o fato de que amanhã a gente vai perder eleição por causa disso. Isso é um detalhe que pode afetar a vida de cada um. O que eu falo é da recusa em aceitar o funcionamento das instituições democráticas, porque, quando essas instituições passam a ser vistas como lugar de locupletar-se, as instituições começam a morrer. A sensação que tenho é de que nós estamos menosprezando. Quando eu digo “nós”, não é o senhor, não sou eu, não é nenhum daqui. Nós, o conjunto das lideranças nacionais, estamos menosprezando o grito da multidão.

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco/PMDB - PE) - A classe política de modo geral.

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco/PMDB - PE) - Senador Cristovam Buarque, o que me motivou, nesta segunda-feira, a vir à tribuna foi exatamente isso que V. Exª coloca. O reconhecimento do desempenho das redes sociais no Brasil e a participação dos jovens brasileiros. Esses são dois fatores da maior importância para que o combate à corrupção possa realmente tomar uma grande dimensão e as autoridades, em âmbito nacional, estadual e municipal, possam se sensibilizar e não apenas engrossar esse movimento, e que isso seja uma ferramenta para inibir aqueles que têm tendência para a má gestão do dinheiro público.

            O Sr. Wellington Dias (Bloco/PT - PI) - V. Exª me permite?

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco/PMDB - PE) - Pois não, Senador Wellington Dias.

            O Sr. Wellington Dias (Bloco/PT - PI) - Primeiro, quero me somar ao que destacou do pronunciamento de V. Exª o Senador Cristovam. Acho que há um sentimento alentador positivo na sociedade em compreender que nós chegamos a um estágio em que, de um lado, a sociedade fica sabendo mais; de um lado, não só as redes sociais, não só os meios de comunicação, a presença de entidades organizadas, desde a OAB até movimento estudantil, enfim. Eu me filiei à Frente Parlamentar que trata desse tema por compreender assim, chamando a atenção sempre exatamente para aquilo que é mais caro na democracia: que a gente evite a generalização, porque muitas vezes isso termina escondendo o verdadeiro mal. E permita-me V. Exª, não só como quem conviveu durante esse período como Governador, como membro de partido com o Presidente Lula, mas também tive a oportunidade de vê-lo, inclusive no momento em que redigia e encaminhava a esta Casa uma lei que, lamentavelmente, não foi aprovada, a lei que trata da regulamentação e da punição para o corrupto e para o corruptor. Infelizmente, a gente não deu andamento. E reafirmar uma posição: acho que a gente precisa, como Parlamento, colocar...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Wellington Dias (Bloco/PT - PI) - ... colocar na Ordem do Dia uma pauta de projetos importantes de diferentes partidos, de diferentes iniciativas, para que a gente possa aperfeiçoar ainda mais a legislação existente. Parabenizo V. Exª. Acho que há esse sentimento no seu Pernambuco, lá no meu Piauí, no Rio de Janeiro, aqui no Distrito Federal, no Brasil inteiro. Acho que a gente precisa estar em sintonia com o pensamento dessas novas gerações e de todo o povo brasileiro no combate à corrupção. Muito obrigado.

            O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco/PMDB - PE) - Eu agradeço o aparte de V. Exª, Senador, primeiro porque essa luta não deve ser exclusiva da oposição, de grupos ou de frentes; ela deve ser uma luta do povo brasileiro. É importante que V. Exª, como ex-Governador e atual Senador pelo Piauí, representando o Partido dos Trabalhadores, manifeste isto. Quem o conhece sabe que V. Exª não faria isso da boca para fora. Esse é o primeiro destaque que eu daria à sua fala e por se incorporar a tudo que está sendo dito, tornando uma luta geral, não uma luta reduzida, estreita.

            Em segundo lugar, quero chamar atenção da Casa para o fato de que é preciso manifestações de apoio às redes sociais, manifestações de apoio aos jovens brasileiros, que, descrentes de tudo e de todos, têm ocupado as ruas, de forma ordeira, de forma correta, de forma racional, para mostrar ao Governo, sobretudo ao Governo Federal que tem o poder de mandar no País, os dissabores da convivência perniciosa da população brasileira com a manutenção permanente da corrupção.

            Eram estas as palavras, Senador Valdir Raupp, agradecendo a V. Exª a benevolência que teve para com este Senador.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/09/2011 - Página 38167