Discurso durante a 164ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia do Economista.

Autor
Vanessa Grazziotin (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do Dia do Economista.
Publicação
Publicação no DSF de 21/09/2011 - Página 38200
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, ECONOMISTA, REGISTRO, ATUAÇÃO, CATEGORIA PROFISSIONAL.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente desta sessão, Senador Inácio Arruda, a quem cumprimento não só por estar presidindo uma sessão que tem um caráter tão importante para o Brasil inteiro, para todas as categorias profissionais, e não somente para os economistas. Então, cumprimento V. Exª, Senador Inácio Arruda, por permitir que estejamos aqui hoje homenageando os economistas e assim refletindo um pouco acerca do papel dos economistas na sociedade brasileira e nos destinos de todas as nações do mundo.

            Afinal de contas, no dia 13 de agosto, comemora-se o Dia do Economista e, há exatos 60 anos, ocorreu a aprovação da Lei nº 1.411, sancionada pelo então Presidente Getúlio Vargas, que regulamentou o exercício da profissão de economista no Brasil.

            Então, estamos todos e todas aqui a homenagear 60 anos de uma profissão regulamentada no Brasil, que tem um caráter e uma importância não só no campo da economia, mas no campo social, porque o social, de acordo com o meu humilde entendimento, é muito fruto do desenvolver da economia. Assim, cumprimento V. Exª, Senador Inácio Arruda, assim como o Sr. Waldir Pereira Gomes, Presidente do Conselho Federal de Economia, e o Sr. Jusçanio Umbelino de Souza, que preside o Conselho Regional de Economia da 11ª Região, aqui de Brasília, do Distrito Federal.

            Quero dizer às senhoras e aos senhores que, como bem disse o Senador Inácio Arruda em seu pronunciamento - vou repetir muito do que falou V. Exª, mas pela importância do que V. Exª, Senador Inácio, destacou -, quando o nosso País, após uma longa hibernação neoliberal, retoma o caminho do desenvolvimento e do combate decidido às desigualdades, cresce enormemente a importância e a contribuição que os economistas podem prestar para que alcancemos os padrões civilizatórios que almejamos para o nosso povo.

            É exatamente esse o ponto que gostaria de abordar no meu pronunciamento: a função social do economista. Infelizmente, no mundo de hoje, o papel do economista se deslocou do fazedor de políticas públicas para o fazedor de previsões acerca de riscos e possibilidades de sobrevivência de empresas e do próprio governo. O profissional, que antes desenhava o projeto do desenvolvimento, tem sido substituído pelo profissional que se ocupa em prever os horizontes financeiros de curto, médio e longo prazo.

            Aqui, quero abrir um parêntese no meu pronunciamento para dizer que, desde muito jovem, sempre fiquei muito preocupada quando ouvia comentários econômicos afirmando que decisões precisavam ser tomadas, o governo tinha de ampliar o seu superávit, o governo tinha que tomar uma série de medidas para não permitir o retorno da política inflacionária. Diziam os comentaristas que isso iria causar uma perda no poder aquisitivo do povo, mas isso era apenas um detalhe.

            Ou seja, não podemos continuar a concordar com essa sociedade que vê a população, a situação social da população como um detalhe, e o mais importante sendo o capital diante de tudo isso. E nesse aspecto, os economistas têm um papel fundamental. Essa é uma situação que precisamos resgatar, precisamos mudar, para que o economista possa voltar a cumprir sua função social. A economia vai muito além da mera especulação dos mercados, das bolsas de valores ou da cotação de moedas estrangeiras; ela atinge aquilo que é mais caro ao ser humano: a sua dignidade.

            Karl Marx já dizia que “a desvalorização do mundo humano cresce em razão direta à valorização do mundo das coisas”. Por isso, no mundo cada vez mais “coisificado” em que vivemos, é importante valorizar a dimensão humana do economista como agente do fazer social, criando mecanismos para o desenvolvimento e uma distribuição de renda mais equitativa. A esse respeito, o nosso querido e saudoso ex-Presidente Tancredo Neves nos ensinava: “Enquanto houver neste País um homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras, toda a prosperidade será falsa”.

            Por esse motivo, Sr. Presidente, Senador Inácio Arruda, entendo que a ciência econômica deve estar a serviço da melhoria da qualidade de vida de todos nós, sobretudo dos menos favorecidos. Essa qualidade não se restringe ao mero consumo de bens ou serviços e deve abarcar a dimensão histórica do ser humano.

            Sabemos que, em qualquer tempo histórico, os economistas se preocupam em buscar alternativas de desenvolvimento ou de crescimento econômico, porque apenas com desenvolvimento é possível produzir justiça social. Contudo, o grande dilema do economista é e sempre será administrar a escassez. Mas, quando existe escassez para muitos, existe fartura para poucos.

            Vejam, por exemplo, os números que constam de um relatório, datado de 1998, produzido pelas Nações Unidas, que trata de desenvolvimento humano. Apesar de datar de 1998, ainda retrata muito a situação em que vivemos hoje. Naquela época, o relatório já mencionava que o mundo possuía recursos mais do que suficientes para acelerar o desenvolvimento humano para todos e erradicar as piores formas de pobreza do Planeta. Para tanto, a fim de que fossem universalizados os serviços básicos, bastariam - em 1998 - US$ 40 bilhões. Isso significava míseros 0,1% da renda mundial.

            Mas, infelizmente, passados mais de dez anos desse relatório, nada mudou, assistimos aos mesmos descalabros, aos mesmos desatinos, enquanto milhões de pessoas são condenadas à miséria e à fome. E a realidade brasileira não é diferente disso. Há uma distância muito grande entre as camadas mais ricas da população e as camadas mais pobres. Precisamos nos perguntar: até quando vamos continuar passíveis diante desse estado de coisas? Apenas a política pode auxiliar os economistas a cumprir sua função social; a vontade política dos governantes é o motor desse processo, determinando a formulação de políticas macroeconômicas consistentes, voltadas para o social. Por isso, é imperativo que economia e política andem lado a lado.

            Nesse sentido, ao Congresso Nacional cabe a inescapável missão de mediar os debates com toda a sociedade brasileira, a fim de traduzir a vontade do povo em decisões políticas e econômicas, aprovando ou rejeitando as proposições emanadas da Presidência da República.

            Antes de concluir o meu pronunciamento, Sr. Presidente, neste dia em que homenageamos a profissão de economista, também gostaria, como fez V. Exª durante todo o seu pronunciamento, de relembrar aqui o Dr. Celso Furtado. Apresentei um projeto, que tramita na Câmara, denominando o nome de um espaço da Câmara de Celso Furtado. Talvez ele não seja o mais, mas é um dos mais ilustres economistas que este País já teve, e a sua grande marca foi exatamente a de ver o Brasil como uma Nação de oito milhões e meio de quilômetros quadrados, de uma Nação que tem uma região Norte, uma região Nordeste, uma região Sudeste, uma região Centro-Oeste e uma região Sul. Portanto, vendo isso, trabalhou a necessidade de aliarmos o combate à desigualdade social ao combate à desigualdade regional. Esse foi o papel que teve Celso Furtado e que têm todos os economistas, todos, absolutamente todos, porque os economistas é que podem e devem nos auxiliar - não só os políticos, mas a Nação, a população como um todo - na orientação do que é o mais certo, mais correto do ponto de vista social. A sociedade não se move por números, a sociedade se move por pessoas, e os números têm que se mover conforme os interesses e as necessidades da sociedade, da maioria da nossa gente, da maioria do nosso povo.

            Fica aqui o meu abraço a todas as economistas e a todos os economistas deste País.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/09/2011 - Página 38200