Pronunciamento de Geovani Borges em 20/09/2011
Discurso durante a 164ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Comemoração do Dia do Economista.
- Autor
- Geovani Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
- Nome completo: Geovani Pinheiro Borges
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Comemoração do Dia do Economista.
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/09/2011 - Página 38201
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM, DIA, ECONOMISTA, COMENTARIO, HISTORIA, PROFISSÃO, BRASIL.
O SR. GEOVANI BORGES (Bloco/PMDB - AP - Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Senador Inácio Arruda, primeiro signatário da sessão, Senador atuante pelo Estado do Ceará, em retribuição à homenagem que o senhor acabou de fazer ao Estado do Amapá, muito obrigado.
Sr. Presidente do Conselho Federal de Economia, Waldir Pereira Gomes; Presidente do Conselho Regional de Economia da 11ª Região - Brasília/DF, Sr. Jusçanio Umbelino de Souza; demais autoridades; Presidente do Conselho Regional de Economia do Piauí, Sr. Pedro Andrade de Oliveira, faço questão de frisar novamente; Presidente do Sindicato dos Economistas do Estado de Alagoas, Sr. Marcos Antônio Moreira Calheiros; Conselheiro do Conselho Regional de Economia de São Paulo, Sr. Afonso Arthur Neves Baptista, aqui representando o Presidente Heron Carlos Esvael do Carmo; Assessora Especial da Presidência da Federação Nacional dos Economistas, Srª Mônica Beraldo Fabrício da Silva, que está aqui a minha esquerda, representando o Presidente Juarez Trevisan; Presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, Sr. Marcos Túlio de Melo; demais membros do Conselho Federal de Economia e dos conselhos regionais de economia, senhoras e senhores:
Sr. Presidente, Senador Inácio Arruda, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, comemoramos hoje uma profissão cada vez mais necessária em nossos tempos, o economista. É tão necessária que nos acostumamos a ler, cotidianamente, nos jornais a seção de economia, ainda que não tenhamos um centavo aplicado nas bolsas, que é o meu caso, ou em qualquer outro investimento.
Estamos familiarizados com as informações precisas sobre o mercado financeiro. Mesmo os que não lêem, têm alguma opinião fundamentada a oferecer. Talvez no Brasil a Economia concorra com a popularidade, Senador Inácio Arruda, do futebol. Da mesma forma que o brasileiro é um técnico de primeira mão, não hesita em proferir sentenças seguras sobre a vida econômica da Nação.
Esta presença preponderante da Economia em nossas vidas deriva da posição do fato econômico na estrutura das sociedades. Muitos pensadores, e vários foram citados aqui por V. Exª e pela Senadora Vanessa, quando querem compreender a dinâmica interna da sociedade, seu segredo interno, assumem o viés do economista. Procuram compreender como os homens estabelecem relações entre si para tornar possível a reprodução da sua existência. Sem correr o risco de reducionismo, podemos reconhecer que a Economia constitui, portanto, um fato primário na formação das sociedades.
No Brasil, porém, a Economia manifesta relevância maior. Provavelmente isso esteja relacionado com a peculiaridade da formação histórica do País, que está assentada na construção de uma civilização do trabalho. Desde que os portugueses aqui chegaram, tinham o pensamento fixo em acumular riquezas e retornar à pátria natal. Muitos permaneceram por estas terras, alguns deles seduzidos pelos encantamentos dos trópicos, como Gilberto Freyre apreciava lembrar.
Os nossos primeiros ensaios no campo da Economia procedem dos funcionários da Coroa portuguesa e dos empreendedores envolvidos com unidades complexas de produção integradas à economia mundial. Procuravam compreender e testar as possibilidades de aproveitamento econômico dos recursos naturais do mundo recém-descoberto, os melhores métodos e práticas de exploração e a força motriz de todo o movimento, o trabalho.
As grandes alterações demográficas que confluíram na formação étnica e cultural do brasileiro decorreram da experiência do trabalho. Os indígenas foram exterminados por motivos basicamente epidemiológicos em razão da experiência forçada de trabalho. A contribuição africana esteve assentada no trabalho compulsório. Nada explica melhor as correntes de imigração procedentes de vários países, nos séculos XIX e XX, a não ser a luta pela sobrevivência, mais viável aqui do que nos seus lugares de origem. O vocábulo “trabalho”, como nos esclarece Hannah Arendt, possui em várias línguas raiz etimológica comum associada à concepção de dor e de sofrimento.
Atualmente, quando alegremente discorremos sobre a admirável capacidade do Brasil crescer em condições adversas, o primeiro indicador a ser lembrado é a queda do desemprego. E, assim, quando se fala da herança bendita do governo Lula, o principal item da pauta é a ascensão dos emergentes. E o que provoca, Srªs e Srs. Senadores, esta quebra de barreiras dos setores desfavorecidos?
Com certeza não é exclusivamente o Bolsa Família, mas, sobretudo, o trabalho incessante. Aliás, é muito curiosa a expressão "emergentes", Senador Cristovam. Sugere uma aura de alegria resplandecente, um certo tom de Paraíso perdido. Parece repercutir o repertório clássico das visões do Paraíso, o País da Cocanha medieval, onde tudo sugeria abundância.
Esta é a visão da sociedade de consumo. A experiência íntima dos emergentes é marcada pelo sofrimento do trabalho incessante, sem repouso para repor energias ou para a convivência familiar. A visão do Paraíso está no fim, quase como estímulo para fazer diminuir a dor do presente.
No período colonial, Padre Antônio Vieira recomendava em seus Sermões que os escravos suportassem as agruras da vida presente como recompensa para a ascensão celestial. Hoje, os prêmios prometidos são outros. Lamentavelmente, não chegamos ao patamar de certas civilizações adiantadas, onde o trabalho não consome tanto e as pessoas dispõem de tempo para se dedicar ao desenvolvimento intelectual, cultural e espiritual.
No Nordeste, o pessoal trabalha muito, e no Norte também, apesar de a natureza lá ter sido muito generosa - o açaí, a pesca, a caça.
Assim, Senhoras e Senhores Senadores, vivemos em uma Nação de economistas por vocação e por necessidade. Por isso mesmo, essa profissão é valiosíssima. Aqui, mais do que em qualquer outro lugar do mundo, precisamos deles. Talvez isso explique a reputação elevada e o reconhecimento mundial da plêiade de grandes nomes do pensamento econômico brasileiro.
Neste momento em que o futuro da economia mundial encontra-se na encruzilhada, os faróis estão voltados para nós, a periferia. Quando todos os modelos econômicos de encantadora precisão matemática parecem ter perdido o poder de predição, a experiência da periferia passou a ser valorizada, Senador Cristovam, positivamente.
Agradecemos, em conclusão, aos nossos economistas que souberam, com competência e profissionalismo, pensar e conceituar a experiência brasileira, retirando dela o sumo necessário e precioso para que o mundo possa entrever caminhos para sair da crise em que se encontra.
Agora, se me permite V. Exª, quero fazer uma homenagem a dois economistas - por coincidência, um é meu irmão e o outro é primo -, que não exercem a profissão de economistas, eles passaram a ser humoristas lá no meu Estado: o Antônio Pádua de Pires Borges e o Luiz Gionilson Pinheiro Borges. Eu prometi a eles que iria fazer este discurso e citar o nome deles. Promessa cumprida.
Finalmente, quero parabenizar o Senador Inácio Arruda pela brilhante iniciativa de propor esta sessão solene para homenagear o Dia do Economista, V. Exª que, em seu pronunciamento, falou até do nosso caju, comparando com o Vietnã, e falou sobre os grandes pensadores da economia. Por isso e por outras razões, V. Exª tem o meu respeito e minha admiração pela sua visão, como nordestino, do mundo. Seu desempenho aqui no Senado Federal é louvável e motivo de orgulho para todos os seus colegas aqui. Parabéns.
Parabéns ao Dia do Economista. Muito obrigado. (Palmas.)