Discurso durante a 164ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia do Economista.

Autor
Lídice da Mata (PSB - Partido Socialista Brasileiro/BA)
Nome completo: Lídice da Mata e Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do Dia do Economista.
Publicação
Publicação no DSF de 21/09/2011 - Página 38210
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, ECONOMISTA, REGISTRO, IMPORTANCIA, PROFISSÃO.

            A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco/PSB - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, caros visitantes, certamente representantes dos conselhos de economia e profissionais de economia, eu lhe digo, Senador Inácio, que até me surpreendi com a existência desta sessão em homenagem ao Dia do Economista. Ela é um dos maiores sinais de que a economia do Brasil vai bem, porque nós, diferentemente dos profissionais de Medicina, de Direito, os advogados e médicos, por suas atividades, geralmente conseguem uma simpatia popular muito grande, diferentemente dos economistas, que são aplaudidos e homenageados quando a economia vai bem e que são, em geral, tratados com certo desprezo e ironia quando a economia vai mal.

            Lembro-me de que, num determinado período da História do Brasil recente, quando um economista aparecia na televisão, logo se dizia: lá vêm os economistas. Era o momento das dificuldades dos anos 80, 90, quando não era muito bom dizer que se era economista.

            Eu quero falar, Senador, para saudar V. Exª pela proposição desta sessão solene em homenagem ao Dia do Economista e, dessa forma, em nome do presidente do Conselho Federal de Econômica, Waldir Pereira Gomes, e do presidente do Conselho Regional de Economia da 5ª Região, Luiz José Pimenta, parabenizar toda a classe por esta importante data.

            É imperioso ressaltar que me sinto pessoalmente lisonjeada com a realização deste ato, uma vez que, antes de ser Senadora, Deputada Federal, Deputada Estadual, Prefeita e Vereadora por Salvador, sou formada em economia. Nunca digo que sou economista. Digo que sou formada em economia, porque, na Escola de Economia, eu me formei como cidadã e como política. Lá iniciei minha vida política, na velha Escola de Economia da Universidade Federal da Bahia, centro principal de todas as grandes mobilizações políticas existentes na nossa cidade no período da ditadura militar. Na Escola de Economia da UFBA, para qual eu fui - e digo que me filiei àquela escola -, fiquei mais tempo do que devia, em função do movimento estudantil e não em função do estudo da economia.

             Lá aprendi, digamos assim, todos os fundamentos que me fizeram ser conquistada pela política em nosso País. Na velha escola de economia, cujo corpo docente quero aqui homenagear, na figura de Jairo Simões, Professor de História do Pensamento Econômico, ausente de nossa vida, e Plínio Moura, Professor de Macroeconomia, até hoje presente naquela escola. Trata-se de dois grandes homens públicos, servidores públicos, que dedicaram a vida ao serviço público e ao ensino da Economia em nosso Estado.

            Naquele tempo, na Bahia, dizer que era da escola de economia era quase o mesmo que dizer que era subversivo. Lá tínhamos a representação de todas as correntes ideológicas. No ano de 1978, eu me elegi presidente do Diretório Acadêmico de Economia por 27 votos, portanto, uma eleição apertada, no dia em que uma manifestação estudantil fez com que nossa escola fosse invadida pelas bombas da Polícia Militar da Bahia, manifestação que ficou registrada na história da resistência política de nosso Estado.

            O Dia do Economista, como se sabe, é comemorado no dia 13 de agosto, data em que foi sancionada pelo então Presidente Getúlio Vargas a Lei Nº 1.411, que regulamenta a profissão. Obviamente que no ano de 1951, quando da sua da sua promulgação, o legislador não dispunha de condições de se debruçar sobre o panorama atual, razão pela qual é muito bem-vinda a realização desta sessão, pois permite, Senador Inácio Arruda, que se recoloque na Ordem do Dia uma questão de fundamental interesse não só para a classe, mas também para a sociedade brasileira, a necessidade da atualização desta lei, expressa no Projeto de Lei 658/2007.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, as faculdades de ciências econômicas de todo o País se debatem, há anos, com dificuldades para manter aceso nos jovens aceso o interesse por essa importante carreira. Isso se deve à falta de uma regulamentação mais precisa dos limites de atuação entre o economista, o administrador de empresas, o contabilista. A Lei nº 1.411 não cuidou de tornar privativas ao bacharel em ciências econômicas algumas atividades que deveriam ser de sua exclusiva competência, a exemplo da orçamentação pública e dos projetos de viabilidade econômica.

            A economia, como ciência, teve papel de destaque na história recente do Brasil e os profissionais da área com uma atuação não menos importante. O descontrole da inflação e das contas públicas, a falta de credibilidade de nossa moeda, o desemprego, entre vários outros fatores, representaram um enorme desafio para vários governos até chegarmos ao atual momento em que nosso País se encontra. Desafios que geraram políticas públicas para serem enfrentados, mas, antes de tudo, foram profundamente analisados por economistas que traçaram as bases das ações que seriam desenvolvidas nesse enfrentamento.

            Alcançamos a estabilidade econômica no Governo Itamar Franco/Fernando Henrique Cardoso com o Plano Real, o que permitiu ao governo Lula, em seguida, avançar nas políticas sociais e ampliar o número de brasileiros com melhores condições de vida. Parte dessa bem sucedida transição se deve ao trabalho de vários economistas, que trabalharam ao longo desses anos colaborando para que colocássemos nosso País no rumo do desenvolvimento.

            A relevância do trabalho dos economistas deve ser ressaltada também no setor privado, em colaboração tanto com o capital quanto com o trabalho. A presença de economistas em empresas e entidades representativas de trabalhadores é crescente e de grande importância. O Brasil atingiu um patamar de destaque no cenário internacional com diversas empresas atuando fora do País e uma boa parcela de trabalhadores brasileiros numa condição mais digna de emprego e renda. Essa situação não pode retroceder e o papel do economista na sustentação dessas condições é de fundamental importância.

            Falando de empresa importante, destaco a Petrobras, que vive um grande momento de sua vida, com muita saúde financeira, sob o comando do economista e professor da Escola de Economia da Universidade Federal da Bahia José Sérgio Gabrielli.

            Nesta sessão solene, em que destaca a relevância da carreira de economistas, não podemos deixar de destacar e enaltecer a figura tanto de Celso Furtado como a do economista Rômulo Almeida, grande baiano, definido como um dos sábios da América Latina, integrante da Cepal - Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, ao lado de Celso Furtado e do argentino Raúl Prebisch. Foi ele, sem dúvida, uma das figuras de maior destaque na economia do País em meados do século XX e que ainda não recebeu uma homenagem à altura de sua trajetória exemplar, repleta de grandes contribuições para o desenvolvimento socioeconômico da Bahia, do Brasil e da América Latina.

            Rômulo Almeida esteve presente na história da criação de grandes empreendimentos do País. Entre eles, podemos destacar a Fundação Casa Popular, a Petrobras, a Eletrobrás, a Confederação Nacional da Indústria, o Banco do Nordeste, a Sudene, a Rede Ferroviária Federal, o BNDES, a Capes e o Ibam.

            Na Bahia, projetou a pioneira Comissão de Planejamento Econômico - CPE, a Coelba, o Polo Petroquímico de Camaçari, à época com uma grande polêmica. Nos últimos anos de sua vida, dedicou-se também a lutar pela redemocratização do País. Foi Presidente do MDB, o representante da resistência à crítica da economia do País naquele momento e da resistência à ditadura militar em nosso País.

            Na Bahia, como Presidente do MDB, Rômulo foi anticandidato ao Senado Federal, e nós tivemos a oportunidade de vivenciar aquela histórica campanha de Rômulo Almeida, que incorporou a oposição da Bahia ao nosso também histórico cortejo do 02 de julho. A partir da campanha de Rômulo, em 1978, a oposição baiana, os sindicatos baianos, os movimentos populares de resistência à ditadura começaram a participar daquele evento sob grande repressão policial e militar.

            Portanto, Sr. Presidente, se a Bahia e, creio, os economistas baianos aqui presentes - permitam-me esta licença - tivessem que homenagear e escolher alguém para representar a figura do pensamento econômico, a figura do economista como profissional, sem dúvida alguma elegeríamos, no nosso Estado, para o nosso Estado, a figura do grande político e do grande pensador da economia do Brasil e da América Latina Rômulo Almeida.

            Tive a oportunidade de conviver com o Dr. Rômulo - como nós o chamávamos - como Presidente do MDB. Eu era militante estudantil da juventude do MDB e, depois, do movimento de mulheres do MDB.

            Inácio, olhando para você agora, lembrei-me de uma conversa do Dr. Rômulo com João Amazonas, em Salvador, durante uma das nossas manifestações, quando eles conversavam por muito tempo. Perguntei ao Dr. Rômulo, brincando com ele: Dr. Rômulo, está conversando tanto com João Amazonas. O que é que vocês estão decidindo? A revolução no Brasil? Ele disse: não, minha filha. Conversa de velho é conversa do passado, porque do futuro a gente sabe que tem pouco tempo. Ele já estava com a idade um pouquinho avançada, ainda na sede do MDB.

            É esta homenagem que a Bahia ainda precisa fazer ao Professor Rômulo Almeida, e nós, o Conselho de Economia, os economistas baianos, o Governo do Estado da Bahia e todos os baianos de bem temos o compromisso de realizar.

            Homens como Celso Furtado e Rômulo Almeida se dedicaram a pensar a pobreza do Brasil e como superá-la. Não é coincidência que sejam dois nordestinos, preocupados com a lição primeira da Economia, o equilíbrio entre as necessidades ilimitadas e os recursos limitados. Tivemos uma marca tão grande de pensadores da Economia no Brasil sendo do Nordeste, pela responsabilidade dos nordestinos de superar a sua miséria, a sua fome, a sua situação de patinho feio do Brasil, por representarem sempre as dificuldades, e hoje podermos olhar para este Nordeste, que pode ser a grande solução deste País e dos seus desafios de futuro.

            Portanto quero, em nome desses homens, homenagear todos os economistas e V. Exª pela realização desta sessão, garantindo dessa forma, com esse estímulo, que novos economistas, trilhando os mesmos caminhos de Celso Furtado e Rômulo Almeida, sejam capazes de planejar este Brasil do futuro, este Brasil em que vivemos hoje, já de superação da miséria. E somos convocados pela primeira mulher a presidir este País a realizar este sonho de geração de brasileiros de superar a miséria e de conduzir o nosso País para o novo desafio de nos incorporar à globalização da economia, visando demonstrar que é possível fazer diferente, em moldes diferentes, a economia mundial.

            Depois de termos vivido os tempos do elogio ao grande liberalismo, de termos as forças do mercado comandando a economia mundial e o seu fracasso recente, no exemplo da economia dos Estados Unidos, podemos repensar a economia do mundo olhando os Brics e os países em desenvolvimento, tendo, dentre eles, o Brasil.

            Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/09/2011 - Página 38210