Discurso durante a 165ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários acerca do atual processo de transformação nas formas de governança internacional.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Comentários acerca do atual processo de transformação nas formas de governança internacional.
Publicação
Publicação no DSF de 22/09/2011 - Página 38557
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, TRANSFORMAÇÃO, GOVERNO, MUNDO, DETALHAMENTO, INFLUENCIA, INTERNET, MOBILIZAÇÃO, POPULAÇÃO, PAISES ARABES, EUROPA, COMBATE, DITADURA, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, DEFESA, DEMOCRACIA, ALTERAÇÃO, MODELO ECONOMICO, IMPORTANCIA, APOIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BRASIL, INCLUSÃO, PAIS ESTRANGEIRO, PALESTINA, ESTADOS MEMBROS, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DISCURSO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ABERTURA, ASSEMBLEIA GERAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Um novo mundo está nascendo, Srª Presidenta Ana Amélia.

            No seu primeiro discurso nos Estados Unidos, ontem, a Presidenta Dilma e o presidente Obama referiram-se a um "Governo Aberto". Poucos sabem que isto é uma novidade radical na governança internacional. Até hoje, a grande maioria dos governos do mundo foi opaco e, apenas nesses primeiros anos do século XXI, com a existência da Internet e das redes sociais, é que o mundo está realmente começando a perceber que as multidões podem interferir concretamente e transformar os governos de seus países, como está acontecendo na Primavera Árabe, citada pela Presidenta Dilma na reunião de hoje.

            Aliás, o Senado Federal precisa aproveitar este momento de abertura e transparência e votar o PLC 41/2011, visando garantir a publicidade de todos os atos governamentais. Não podemos conviver com meias verdades no século XXI, a população tem o direito de ter acesso a tudo que é praticado pelo Governo.

            Mas, aqui, falamos em radicalidade, porque não é só a revolta pacífica das multidões no mundo árabe que está acontecendo, mas também ela se espalha pela Europa inteira, onde as populações indignadas se recusam a pagar os custos dos déficits enormes de seus países, causados pelas ajudas aos bancos, isto é, aos mais poderosos setores da democracia porque controlam o dinheiro a seu bel-prazer.

            Esta é a grande novidade que está marcando a segunda metade do Século XXI e mudando o tom dos discursos, que podem mudar as atitudes dos senhores do mundo. O exemplo máximo para nós, brasileiros, é o apoio da Presidenta à inclusão da Palestina como membro pleno da ONU, que não é partilhada por Obama por motivos políticos, mas o é pela grande maioria dos mais de 190 membros desta instituição, conforme pudemos observar nas palavras do discurso tão belo que a nossa Presidenta Dilma Rousseff proferiu, hoje, na abertura da Assembleia Geral da ONU.

            Nosso comentário aqui é que a questão palestina, a qualquer momento, pode levar o mundo a uma guerra capaz de incendiá-lo. Para saber por que precisamos voltar bastante profundamente na história.

            Os livros da Bíblia Êxodo e Números falam que Deus deu ao seu povo, recém-liberto da escravidão do Egito por Moisés, a Terra de Canaã, para aí se estabelecerem. Apenas, indiretamente, revela que esta terra já pertencia a outros povos, como os amalequitas, os heteus, os gebuizeus, os amareus e os cananeus e os filisteus, daí a palavra filistins ou palestinos, que continuou habitando a mesma terra não sem grandes lutas.

            Assim, podemos entender mais profundamente porque estas lutas duram até hoje. E se não houver uma transformação no pensamento mundial, ela vai permanecer para sempre. Dilma defendeu, hoje pela manhã, defendeu a entrada da Palestina como membro pleno da ONU, a partir dos limites de 1967, propostos pela mesma ONU em 1948.

            Devido a imenso lobby, nesta primeira fase do seu governo, Obama corre o risco de perder as eleições se apoiar a mesma proposta, insistindo que a Palestina seja mantida em nível de estado observador, como o Vaticano, o que lhe dá alguns poderes que até hoje não tem, como o acesso aos tribunais internacionais por crimes contra a humanidade, que têm sido praticados contra o povo palestino nestes 40 anos.

            Todas as guerras são crimes contra a humanidade e só agora as grandes multidões estão conscientes disso. Só agora as multidões estão começando a encontrar seu papel de sujeitos da história e Dilma se refere, claramente, ao incipiente papel que uma minoria milenarmente oprimida, a das mulheres, está conseguindo aos poucos conquistar e pacificamente.

            Uma mulher e um negro refletem melhor do que todos o desejo dessa abertura de governo, que, em médio prazo, pode chegar à transformação da natureza dos estados, como a transição das ditaduras do Norte da África. É o inicio de uma Nova Era, em que se possa chegar a uma democracia plena, inclusive onde as decisões sobre dinheiro não estejam apenas na mão do sistema bancário e das elites, mas, sim, circule por todo o povo.

            É esta nova atitude das multidões que está mudando aos poucos o paradigma financeiro e político internacional. Nunca houve uma verdadeira democracia no mundo, nem a americana, que é uma dura ditadura econômica e desde a globalização arrasta em efeito dominó todos os países civilizados.

            Nenhuma forma de ditadura é mais aceita pelas populações já conscientes de seus direitos, o que só conseguiram obter a partir das tecnologias de informação, que agem em tempo real e à velocidade da luz (Internet, redes sociais etc). São estas tecnologias que podem transformar o mundo em décadas, coisa que nunca foi possível em milênios, porque as classes oprimidas foram induzidas a acreditar que os poderosos estavam no poder por desígnio divino.

            Assim, Dilma e Obama, cada um a sua maneira, ela mais radicalmente e ele menos, são os arautos deste novo mundo que está nascendo.

            Srª Presidenta, dada a importância, a relevância e a beleza do discurso da Presidenta Dilma, peço a inclusão do Discurso da Presidenta Dilma hoje, na abertura da Assembleia Geral da ONU, nos Anais, como parte do meu pronunciamento.

            Muito obrigado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I, § 2º, do Regimento Interno.)

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     Matéria referida:

     - “Discurso da Presidenta Dilma na ONU”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/09/2011 - Página 38557