Discurso durante a 166ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a respeito do discurso da Presidente Dilma Rousseff na Assembleia Geral das Nações Unidas; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. REFORMA JUDICIARIA.:
  • Comentários a respeito do discurso da Presidente Dilma Rousseff na Assembleia Geral das Nações Unidas; e outros assuntos.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 23/09/2011 - Página 38777
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. REFORMA JUDICIARIA.
Indexação
  • ELOGIO, DISCURSO, AUTORIA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CORRELAÇÃO, AUSENCIA, VONTADE, POLITICA, TEORIA, SOLUÇÃO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, DEFESA, VALORIZAÇÃO, MULHER, PARTICIPAÇÃO, BRASIL, CONSELHO DE SEGURANÇA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), CRIAÇÃO, ESTADO, PALESTINA.
  • APOIO, MANIFESTAÇÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), CORRELAÇÃO, ETICA, SOCIEDADE CIVIL, POLITICA.
  • APOIO, PROPOSTA, PRESIDENTE, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), MINISTRO, CÉZAR PELUSO, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO, CODIGO PENAL, CODIGO, POLITICA EXTERNA, REFORMA JUDICIARIA, PROCESSO PENAL.
  • CRITICA, PROGRAMAÇÃO, JORNALISMO, TELEVISÃO, BRASIL.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, SENADOR, PAULO PAIM, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), CRISTOVAM BUARQUE, DISTRITO FEDERAL (DF).

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Senador Paim, prezado Senador Cristovam, neste final de sessão, abordo dois temas. O primeiro é o discurso da nossa Presidenta na Organização das Nações Unidas (ONU). Sinceramente, fiz questão de assistir ao discurso em casa, desde o início, desde as preliminares, e confesso que fiquei muito feliz e muito tranquilo com o pronunciamento de Sua Excelência.

            A Senhora Dilma diz que não é por falta de recursos financeiros que os líderes dos países desenvolvidos ainda não encontraram uma solução para a crise, mas é por falta de recursos políticos e de clareza de ideias. Ela disse isso ali, na tribuna da ONU. E disse uma verdade sobre a qual não temos mais dúvida. Quando a gente vê os números da realidade do mundo de hoje, quando a gente vê o que é gasto na construção de armas, quando a gente vê o que o americano gastou nos países da África e da Ásia, quando a gente sente que uma quantidade infinitamente mínima disso seria importante para resolver o problema da fome no mundo, vemos a importância do que diz a Presidenta, vemos o significado do que ela afirmou, com a autoridade que ela tem e, eu diria, com a autoridade que o Brasil tem nessa questão em nível internacional.

            Não foi feliz o Presidente Obama no seu pronunciamento logo após. Entendo que S. Exª não falou para uma Assembleia da ONU, não falou para o mundo, S. Exª falou para o público interno, falou como candidato que se prepara para a reeleição e que precisa do Congresso, onde os republicanos têm maioria e para onde ele terminou de enviar um pacote, diga-se de passagem, com a melhor das intenções. Ele quer que os milionários paguem um pouco mais de impostos para compensar as dificuldades dos mais pobres e tem a coragem de pedir que sejam cortadas verbas que hoje são gastas nas tristes guerras internacionais dos Estados Unidos, principalmente no Iraque e no Afeganistão. Ele está certo no propósito dele, está certo na proposta dele, está certo na luta dele, mas foi infeliz no discurso.

            A nossa Presidenta falou em sentido contrário. Está certa a Presidente Dilma quando fala sobre a valorização da mulher. Não há dúvida alguma de que estamos vivendo numa época no mundo em que a mulher está ocupando seu espaço. Digo, meu amigo Cristovam, que não é possível que o mundo fique pior do que ficou com a nossa atuação, dos homens. Nem que elas quisessem, elas conseguiriam fazer de forma pior.

            Vejo, com respeito, a posição da Primeira-Ministra da Inglaterra. Não tinha simpatia por ela, mas via com respeito a posição da Primeira-Ministra da Inglaterra, a Srª Thatcher, que teve peito e firmeza, que lutou e que, de qualquer forma, levantou a Inglaterra.

            A Presidenta Dilma foi muito feliz, quando disse que uma mulher como ela, que sofreu tortura na cadeia, sabe o valor da democracia e da liberdade e o valor da liberdade de imprensa. Fiquei emocionado com a singeleza, com a simplicidade com que, en passant, ela fez essa citação profunda e de grande conteúdo.

            Quando ela fala sobre o número de desempregados - 44 milhões na Europa, 14 milhões nos Estados Unidos, 205 milhões em todo o mundo -, ela mostra que a hora em que estamos vivendo é séria e responsável.

            A tese que vem de tempos e pela qual o Lula lutou com grande competência, ela a abordou com tremenda felicidade: o Conselho de Segurança da ONU não tem mais representatividade. É o Conselho dos vitoriosos na guerra que lá se foi há muitos anos, há cinquenta anos! Hoje, não tem significado. Hoje, faltam lá países como o Brasil e como a Índia. É necessária uma reformulação nesse Conselho de Segurança. E lá se vão dezoito anos nesse debate!

            A Presidenta tem razão quando diz que as teorias esvaziadas e o mundo velho devem ser reformulados pelas teorias do mundo novo. E diz que se tem de reformular o sistema financeiro, e essa é uma realidade que estamos vendo todo momento e toda hora. Não podem as normas brutais do sistema financeiro ditar a realidade do mundo: antes, o terceiro mundo; depois, o mundo emergente; e, hoje, inclusive, a Europa e os Estados Unidos.

            É emocionante quando ela diz que a administração não pode ser apenas de alguns países. E ela diz “alguns países” de forma majestática, porque, na verdade, é o americano e mais pouca coisa, a Europa como um todo. “Ou nos unimos todos ou perderemos todos”, diz a Presidenta.

            Eu me emocionei ao ver a Presidenta abordar a questão da Palestina. O Brasil tem sido muito firme nessa questão. E, olha, o Presidente Obama pedir tempo à Palestina e dizer que tem de haver um entendimento entre os dois é uma piada!

Lá, quando Oswaldo Aranha assinou a criação do Estado de Israel, ele assinou a da Palestina. Ele fez a divisão, criando o Estado de Israel e garantindo a Palestina. Depois, na consolidação, criou-se o Estado de Israel, e até hoje se sofre para definir a Palestina. Vamos ser claros. A Palestina ainda não foi criada por causa de um país: os Estados Unidos. Se dependesse do mundo inteiro, ela já estaria criada. Questões internas americanas, a força dos israelenses na imprensa americana e alguns setores da cultura americana fazem com que o americano esteja nessa luta cruel para impedir que a Palestina tenha um assento nas Nações Unidas.

            Será uma pena se isso continuar, e, se continuar, é porque coincidiu a votação com a caminhada do Sr. Obama à Presidência da República na reeleição. Para agradar os americanos e uma cúpula de poder, ele adota essa posição.

            Por isso, disse ela: “Eu, que venho de um país onde árabes e judeus se dão muito bem,” - e isso é verdade - “posso dizer e posso afirmar que seria muito importante que isso acontecesse.”

            Eu creio, Sr. Presidente, que foi um momento importante: a primeira mulher que falou abrindo a reunião da Assembleia-Geral das Nações Unidas. Ela nos deixou muito orgulhosos, nos deixou muito eufóricos, e eu felicito a Presidente. Não sei o que vai acontecer na Assembleia, se vai chegar a ir a votação, se vão forçar a Palestina a retirar o seu pedido ou impedir a votação da Assembleia-Geral Mas seria uma pena se isso acontecesse. Meus cumprimentos à Presidenta.

            O segundo assunto que me traz a esta tribuna, Sr. Presidente, V. Exª abordou uma parte dele aqui na comissão que V. Exª preside com tanta competência e que, justiça seja feita, está dando um simbolismo novo a este Senado, abordando, principalmente segunda-feira, às 8 horas da manhã, os assuntos mais importantes de interesse da sociedade, dos direitos humanos dos trabalhadores, dos oprimidos, dos injustiçados, que, pela primeira vez na história, têm uma chance não apenas de ter uma tribuna ou alguém que fale em nome deles nessa tribuna, mas têm uma chance de se reunir lá na Comissão de Direitos Humanos e eles próprios falarem, debaterem, discutirem, apresentarem a sua fórmula de ver suas ideias e colocar ao vivo, inclusive pela TV Senado, o que pensam muitas minorias das injustiças que sofrem, e muitas maiorias, das injustiças que sofrem.

            Hoje V. Exª criou exatamente o grupo de trabalho que coordenará o esforço que está sendo feito nesta Casa com relação a essa mobilização tão intensa pela ética, pela dignidade e pelo combate à corrupção. Eu acho que esse movimento será muito importante, como, aliás, diga-se de passagem, está sendo muito importante o que a sociedade brasileira vem fazendo.

            Ontem, foi no Rio de Janeiro. Milhares de pessoas na Cinelândia, ali no mesmo lugar onde começou a caminhada das Diretas Já, se reuniram para pedir providências à sociedade para o fim da impunidade e para o apoio à ética e à dignidade na sociedade brasileira. É um grande momento que nós estamos vivendo. Os jovens que, no mundo inteiro, nas redes sociais, pela Internet, estão se mobilizando também estão aqui no nosso País.

            Sete de Setembro assistimos, aqui no eixão, talvez um dos espetáculos mais lindos de democracia popular. Nós que, durante a ditadura, vimos aqui desfilar no Sete de Setembro apenas um presidente general de plantão da ditadura, alguns marchando e outros assistindo, aqui nós vimos uma Presidenta torturada no passado, uma democrata eleita pelo povo, dialogando com as Forças Armadas, e as Forças Armadas lhe prestando continência, e, do outro lado, os jovens vestidos de preto caminhando pela ética, pela moral, pela dignidade, pela justiça.

            O espetáculo foi o mais tranquilo, o mais sincero, sem um incidente, sem um problema, absolutamente nada. Respeito as Forças Armadas e a Presidenta, o Pavilhão da Pátria e a Caminhada pela Independência. E respeito os jovens que, no mesmo sentido de amar o nosso País e amar a Pátria, defendiam uma bandeira tão importante e tão significativa.

            No Rio Grande do Sul, dia 20 de setembro, um dia que consagramos à pátria gaúcha, a coordenação da OAB, as entidades mais representativas também caminharam. No desfile dos gaúchos no dia 20 de setembro, em comemoração à Revolução Farroupilha, também desfilou o piquete dos que defendem a legalidade, a moralidade, a dignidade e a seriedade.

            A OAB, entidade que emociona; a ABI, uma entidade histórica; e a CNBB estão à frente de dezenas e dezenas de entidades que estão se unindo e se dando as mãos nessa grande caminhada.

            O que a gente quer? A gente quer que isso... Estamos cansados, esgotados, sofrendo de ver diariamente jornal e mais jornal, televisão e mais televisão noticiarem porque roubou, porque matou, porque fez isso, porque fez aquilo, porque fez mais aquilo e não acontece nada. Nós queremos terminar com essa impunidade. Queremos estabelecer um regime de responsabilidade.

            E é por isso que os jovens estão caminhando. Estão cobrando de nós. Botaram 500 vassouras, 600 vassouras na praia de Copacabana, e pedi que mandassem a minha para mim, para eu fazer a minha parte. Estavam cobrando do Congresso Nacional o trabalho pela moral, pela ética, pelo fim da impunidade e pelo fim da corrupção.

            Creio que esse movimento está em um crescendo. Creio que essas ligações populares por essas redes sociais, que unem milhares e milhares de pessoas, vai crescer. E creio que, mais cedo do que pensamos, vamos ver esta Praça dos Três Poderes lotada de gente, cobrando de nós, com o dedo na nossa cara, cobrando dos parlamentares, cobrando do Executivo e cobrando do Poder Judiciário, que, a essa altura, é tão responsável como nós, inclusive por atitudes como a última que tomaram. O Tribunal Superior de Justiça mandou encerrar um processo praticamente pronto, sob uma alegação que prefiro não comentar.

            Isso vai acontecer. Nós seremos levados num arrastão. E, como aconteceu com o Ficha Limpa, que não era para ser votado, que muitos não queriam votar, mas, com os jovens na rua, cercando o Congresso, nós no Senado votamos por unanimidade, e a Câmara votou por imensa maioria.

            Dizem que agora se corre o perigo de a Ficha Limpa cair no Tribunal. Uma coisinha daqui, outra coisinha dali, e ela está sujeita a não ser mais aplicada para a eleição do ano que vem. Eu não acredito. Sinceramente, não acredito. O Judiciário já deu a sua palavra; o Supremo já deu a sua palavra, que é válida, que vale. Não valia para a eleição passada, porque não tinha decorrido um ano de prazo, mas vale para a próxima eleição. Mas, de qualquer maneira, é bom que a gurizada também cobre que a Ficha Limpa valha para a próxima eleição. Que não apareça nenhum subterfúgio seja lá do que no Judiciário e que seja aceito, a fim de impedir que isso aconteça.

            Houve determinado parlamentar que disse que estranhava essa nossa caminhada, pois ela estaria lembrando, meu amigo Paim, a UDN de Lacerda, golpista, falando no mar de lama do Palácio do Catete, mas na verdade tentando derrubar o Dr. Getúlio, que levou ao seu suicídio; e depois tentando derrubar o João Goulart, que o levou à deposição.

            Sim! Lacerda era um golpista. A caminhada dele, o esquema dele, o grupo dele era golpista. E tentaram golpear de tudo o que era jeito. Tanto que tentaram evitar a posse de Juscelino. Tentaram golpear a posse de Juscelino com os militares, e o Sr. Café Filho tomando uma posição golpista. E, ao contrário do que disse um ilustre parlamentar aqui desta tribuna, ou seja, que o Lott deu um golpe, isso não é verdade. O Lott evitou que um golpe fosse dado, porque o golpe era para evitar que o Juscelino tomasse posse. E o movimento foi para garantir a posse de Juscelino. Ali era a UDN golpista do Lacerda.

            Na deposição do Jango, foi a UDN golpista do Lacerda. No suicídio de Getúlio, foi a UDN golpista de Lacerda. Mas um deputado ou senador do PT querer nos comparar com isso?!

            Naquela época, estávamos na luta. Nós estávamos do lado dos que apanharam. Estávamos do lado dos que eram torturados. Estávamos do lado dos que caíram com o Dr. Getúlio Vargas. Dos que caíram com o Dr. João Goulart. Ali eles estavam pregando o golpe. O que eles diziam contra o Dr. Getúlio é que ele tinha dado uma verba muito grande para um tal de Samuel Wainer criar um jornal, o Última Hora.

            Na verdade, o Banco do Brasil concedeu um empréstimo registrado oficial para o Sr. Samuel Wainer lançar um jornal. E a grande imprensa da época, os jornais tradicionais, baronatos, gritaram. Um judeuzinho, de repente, querer ser dono de jornal! Mas não tinha uma vírgula de corrupção quanto à dignidade e a honra do Dr. Getúlio, mesmo com relação ao Dr. João Goulart. A UDN era golpista. Era! O Lacerda era golpista. Era! E aquela campanha era falsa, cretina, imoral e indecente. Agora vem um Deputado ou Senador do PT a esta tribuna fazer essa comparação? Vamos nos respeitar. Vamos nos respeitar.

            Em primeiro lugar, faço esta pregação invocando o contexto da sociedade brasileira. O apelo que faço é a todos. Pela atitude excepcional da Presidenta, eu acho que o que temos de fazer aqui é nos unir em termos de terminar com essa corrupção e terminar com essa impunidade, não olhando para trás, mas olhando para frente, não nos preocupando em atingir nem o pessoal da ditadura, nem o pessoal do Fernando Henrique e nem o pessoal do Lula. Olhando para frente, olhando para frente.

            Acho até que seria muito positivo se no Congresso Nacional, como estão fazendo a OAB, a CNBB, a ABI os empresários do Rio, os empresários de São Paulo, os empresários de Porto Alegre, os empresários de Brasília, os trabalhadores de todos os setores, nos uníssemos todos, fazendo um grande entendimento. Vamos sentar, vamos debater e vamos discutir. Talvez V. Exª e nós possamos fazer isto até na Comissão de Direitos Humanos: convidar a todos para buscarmos o entendimento. De quê? Como podemos terminar com a impunidade? O que tem que mudar? Estou falando para frente. Não estou querendo olhar para ninguém, mas para frente.

            Qual é a alteração? O Presidente do Supremo mandou para esta Casa uma proposta. Diz o Presidente do Supremo - modéstia a parte - o que venho dizendo há muito tempo. O que nós dissemos ao votar a Ficha Limpa? Que o problema do Brasil não é que o Brasil é mais corrupto do que a Inglaterra, que a Itália, que a Alemanha, que a França, que a China, que o Japão, que qualquer outra nação. Corrupção existe em todo lugar. É da natureza humana. Evitar, impedir, acabar com a corrupção é coisa quase que impossível. Mas combater, punir, isso deve ser feito. E a corrupção que tem aqui tem lá. O problema é que lá o cidadão é punido. Eu já disse mil vezes, vou ter que repetir mais mil e repetirei, enquanto tiver força. Lá, o Primeiro-Ministro do Japão, dois, três se mataram de vergonha de ir para a cadeia. Lá, o Presidente da Fiat, a maior empresa da Itália, foi para a cadeia. Lá, o Presidente Nixon renunciou porque ia ser deposto por corrupção.

            E no Brasil? No Brasil, um Presidente do Supremo grita e protesta e solta um senhor, banqueiro, porque ele é algemado e é preso. Embora provado. Embora aparecesse na televisão ele e o principal assessor dele botando um milhão para comprar um delegado. O delegado foi preparar o esquema. Foi lá, e ele dava um milhão. E o juiz de São Paulo mandou prender. E o Presidente do Supremo mandou soltar e mandou processar o juiz de São Paulo perante o Conselho Superior da Magistratura. Podemos debater e discutir esta matéria. O que nós queremos é olhar para o futuro.

            Ah, que saudade que eu tenho do meu PT até ele chegar no governo. O Lula foi um grande presidente. Fez grandes realizações. Eu não tenho nenhuma dúvida. E, conhecendo o Lula, eu digo mais: o Lula é um homem de bem, é um homem sério, é um homem correto, é um homem honesto. Mas no seu governo ele não teve a firmeza que ele precisava ter nessa questão.

            Talvez se diga que não era o momento. Há momento para tudo. Ali não era o momento. Agora é. Ali era o momento dele se firmar, dele ter força, dele ter autoridade, dele ter poder, dele fazer as coisas que ele fez. E ele achou que isso aí era continuar como já era. Afinal, roubar, fazer isso, fazer aquilo, não acontecia nada. No governo dele continuou não acontecendo nada. Só que isso foi crescendo, foi crescendo, foi crescendo, foi crescendo, e superou o Collor, a cassação do Collor. Os atos que determinaram o impeachment do Collor você vai ver que eles são muito menores do que muita coisa que está acontecendo aí, porque esses atos foram aumentando. Por isso é que agora nós vivemos um novo momento; por isso é que se forma na sociedade e nesta Casa um movimento de reforçar a posição da Presidente Dilma para ela ser firme, não se dobrar. É difícil, muito difícil.

            No Brasil, a chamada capacidade de governar se transformou em algo que é uma troca, dá lá, dá cá. A necessária governabilidade, que é um termo bonito - governabilidade -, o governo precisa ter governabilidade, precisa ter diálogo, precisa ter maioria, precisa conviver com a sociedade. Que coisa mais linda! Mas, no Brasil, virou uma questão de troca-troca. Governabilidade: aplica minhas emendas. Governabilidade: mas eu quero esses cargos. Governabilidade. Mas esse troca-troca que virou no Brasil não pode continuar, não tem como continuar.

            Por isso é que eu digo: vamos olhar para frente, vamos sentar à mesa, pode ser na Comissão de V. Exª, e vamos ver como é daqui para diante.

            O que quer o Presidente do Supremo? O Presidente do Supremo quer que no Brasil seja que nem no resto do mundo. O cara é processado, vai processar. O juiz vai lá e me condena: “Pedro Simon, está condenado”. Fui condenado. E aí eu recorro, recorro para a junta do Tribunal. Um juiz coletivo me condena. Eu sou condenado pela segunda vez. Eu posso ser condenado pela terceira vez pelo Tribunal, pela quarta vez aqui em Brasília, pela quinta vez, pela sexta vez. Eu posso ser condenado seis vezes. Na Itália, na Alemanha, na França, no Japão, também o cidadão pode ser condenado seis vezes. Qual é a diferença de lá para cá? Lá, é condenado pela segunda vez, vai para a cadeia. Aí tu recorres seis vezes, mas na cadeia. Aqui tu estás solto a vida inteira. Então, não chega nunca a última vez porque, antes da última vez, prescreveu. Acabou e não tem o que fazer. Tem aí governador, gente importante que já foi condenada trezentas vezes, mas nunca em definitivo.

            É isso que o Presidente do Supremo quer. Condenado uma vez, condenado a segunda vez, vai para cadeia. E aí vai recorrer. Só que ao invés de acontecer como hoje, em que eu, Pedro Simon, roubo, faço o diabo e pego um advogado, eu não para me absolver, pego para ele não deixar que eu seja julgado. O bom advogado não é o advogado competente que absolve. O cara não quer ser absolvido, ele não quer ser julgado, o problema é empurrar com a barriga. Recorre, recorre, recorre, quando chega lá, na sexta, prescreveu. Esse é o grande advogado. É com isso que o Presidente do Supremo quer acabar. É isso que a sociedade brasileira quer, quando dois milhões de assinaturas mandaram o processo da ficha limpa para cá. Quer acabar? Isso nós precisamos acabar.

            Estou falando apenas de uma das questões que está envolvendo a sociedade brasileira. Apenas uma das questões que envolvem a sociedade brasileira.

            Eu convoco o PT, peço ao ilustre Senador, não que ele retire a afirmativa que ele fez nesta tribuna, de que, realmente, o movimento udenista e lacerdista contra o Jango e contra o Getúlio era golpista. Era golpista, mas não nos compare. Este não é!

            Eu venho de longe, venho da época em que essas coisas todas me encontraram do outro lado. Gurizinho, eu estava lá, defendendo o Dr. Getúlio na hora do seu suicídio. Jovem parlamentar, eu estava lá, defendendo João Goulart contra a sua deposição. E hoje eu estou aqui, com as mesmas posições, com o mesmo respeito e com a mesma seriedade.

            A minha geração teve uma grande vitória, que foi terminar com essa ditadura tremenda que nós vivemos e ter este País de democracia e de liberdade, onde a nossa Presidenta vai lá na ONU e recebe aplausos do mundo inteiro pela pessoa que ela é, pelo país que ela representa, pelo povo que ela representa, pela sociedade e pela democracia que nós temos.

            O Brasil está avançando. O Brasil é hoje uma potência que cresce, ao lado dos Estados Unidos e da China. Fala-se em Índia, fala-se no Brasil, ao lado da Rússia.

            O Brasil está numa posição muito importante. É neste momento, é nesta hora, que temos de fazer a nossa parte. Dizem que, do PIB brasileiro, entre corrupção e gasto irresponsável, são 30%. São quase 40 bilhões. Se isso for aplicado de maneira racional, só isso equacionaria o problema da saúde, por exemplo, que são necessários 20 bilhões.

            É isso que queremos. Vamos aproveitar uma Presidenta da República que também quer isso. E, ao invés de fazer uma intriga entre ela e o Lula - que nós não queremos -, ao invés de querer botar isso nas costas do Lula, dizendo que ele deixou uma herança - que não é verdade -, ao invés de responder que não é o Lula, mas que o Fernando Henrique também fez - que é uma disputa, que não nos interessa quem fez melhor -, não é por aí. Apenas vamos ficar com o que o momento permite e fazer justiça.

            Belíssima carta da Presidenta Dilma nos 80 anos do Presidente Fernando Henrique. Achei até exagerado, mas fiquei até emocionado. É preciso ter grandeza, capacidade, espírito público, para fazer uma carta como a dela. Cá entre nós, belo gesto de Fernando Henrique, dirigindo-se à Bancada do PSDB, dizendo que não era hora de CPI, mas do entendimento.

            Se a Presidente está tomando atitude, mostrando que está preocupada em ir nessa orientação, vamos ajudar e nos dar as mãos, mesma posição adotada pela Marina. Candidata com vinte 20 e tantos milhões de votos, vamos dar força para que a Presidenta cumpra o seu caminho e o seu roteiro.

            Por isso, Fernando Henrique, com a Marina, com a Presidente Dilma, que reuniram cento e tantos milhões de votos, todo o povo brasileiro, estão pensando igual. Vamos traduzir esse pensamento nesta hora e neste momento em que nós temos esta chance.

            Eu disse em aparte a V. Exª, agora há pouco, que nós vimos chances passarem, momentos que nós podíamos ter feito isso e não fizemos. Olha que nós conseguimos uma reunião com o Presidente da República, Presidente do Supremo, Presidente do Senado, Presidente da Câmara, Ministro da Justiça, Presidente do Tribunal de Contas, Procurador-Geral da República. Nós estávamos ali reunidos, durante meses, para discutir a fórmula das leis que precisavam ser feitas para terminar com a impunidade. Não conseguimos. Não conseguimos porque não é fácil a gente ir não tendo algo que nos empurre.

            Outro momento épico do mundo inteiro foram os Mãos Limpas na Itália. Vieram para cá, mobilizaram. Este plenário ficou lotado. Percorreram o Brasil, mostraram uma coisa espetacular que eles fizeram na Itália. Aqui não deu em nada. É que, nas duas ocasiões, Sr. Presidente, nós quisemos fazer internamente, fechado - nós. Nós aqui fechados, discutindo entre nós, conversando entre nós. E entre nós não sai nada, de jeito nenhum! Se a sociedade não pressionar, eu falo isso no bom sentido, não ir para rua, não debater, não cobrar, não sai nada.

            Por isso, eu cumprimento V. Exª pela reunião de hoje. Eu cumprimento a Presidente Dilma pela posição dela. Eu cumprimento o Fernando Henrique e a Marina pela posição que eles tomaram. Que o PSDB entenda o que Fernando Henrique está dizendo.

            Há momento para tudo na vida. Ninguém mais comandou, chefiou, liderou CPI do que o Senador Pedro Simon, quando era para funcionar, tem que se pensar. Quando elas vinham, exerciam, funcionavam. Cassava o mandato de mais de 10 parlamentares; cassava o mandato até de Presidente da República. Ultimamente, cá entre nós, elas são de mentirinha.

            Então, a hora de criar, pode ser criada. Não tem problema nenhum. Mas não é por aí que nós vamos chegar aonde nós queremos chegar. Nós não queremos criar CPI para desmoralizar nem o Lula, nem o Fernando Henrique, nem a Dilma, nem ninguém. Nós queremos criar um movimento para terminar com a impunidade, olhando para frente. Esta é a hora, este é o momento, esta é a situação. E, para isso...

            V. Exª tem o aparte, Senador.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Pedro Simon, apenas para retomar o início do seu discurso, elogiando a Presidenta. Quero dizer que também fiquei bastante satisfeito de ver a Presidenta do Brasil fazer um discurso daqueles, não apenas pelo fato de ser a primeira mulher a abrir a sessão anual das Nações Unidas, porque sempre é o Brasil. Na verdade, 30 anos atrasados. Se fosse a Argentina que abrisse teria tido uma presidenta há 30 anos,, assim como o Chile já teve. O importante é o conteúdo do discurso, Senador Paim. De fato, ela falou grande - como o Brasil já é - para os presidentes do mundo inteiro, dizendo que precisam se colocar de acordo e precisam usar mais imaginação para encontrar uma saída. O que ela quis dizer é que o problema não está só na taxa de juros ou na taxa de câmbio. Está numa concepção nova de desenvolvimento. O que ela disse de importante - e o Senador Pedro Simon falou - é a dificuldade política. Por quê? Porque o mundo ficou numa crise global, mas nós somos eleitos por nossos países. O próprio Obama já disse uma vez: não existe presidente do mundo. Ele é candidato dos Estados Unidos e nós somos candidatos do Rio Grande do Sul, do Distrito Federal e isso dificulta propostas para o mundo inteiro. Por isso, a gente termina sendo pessimista de que os atuais dirigentes estão apenas comprando tempo, adiando a crise, sem uma visão global, sem uma imaginação nova. A sensação que tive, quando V. Exª iniciou o discurso, Senador Simon, da riqueza que a gente tem e vivendo crise é de que estamos vivendo momento de destroços dourados. Depois da Primeira Guerra Mundial, o mundo entrou numa crise terrível, mas tudo destruído; depois da Segunda Guerra tudo destruído. Hoje não está destruído nada, está tudo inteirinho, as indústrias, os transportes, tudo está inteiro e a gente está em crise. Como ela disse, não é falta de dinheiro, dinheiro tem. É como usar o dinheiro e para que usar o dinheiro, porque usar o dinheiro para aumentar produção de maneira ilimitada vai destruir o meio ambiente. Gastar mais dinheiro do que o Estado pode, para dar vantagens sociais para gente, vai trazer inflação. A gente está numa situação em que temos que mudar o propósito, o objetivo, o próprio conceito de riqueza. A riqueza igual ao produto material para o consumo não basta para enfrentar a crise. A Presidenta ontem, direta ou indiretamente, levantou esses assuntos. Espero que com sua voz de Presidenta do Brasil sua voz seja ouvida pelo resto do mundo e que possamos de fato construir o futuro com imaginação e saindo da visão tradicional que, em vez de resolver a crise... Pode-se até adiá-la, mas cada vez que ela volta, volta mais grave. Fico feliz por estarmos aqui nos lembrando de um belo discurso de uma representante do Brasil no cenário internacional num momento de crise e propondo algo ousado, que vai além desses pequenos gestos dos que querem continuar com o mesmo, apenas dando a impressão de que as coisas vão bem. Destroços dourados. É onde a gente vive hoje. Tudo de ouro, riqueza, Produto Interno Bruto alto, mas, ao mesmo tempo, há um destroço moral, um destroço de insegurança, um destroço de crise. A saída é esquecer esse ouro que está aí e inventar novas formas de fazer a população viver no bem-estar e na felicidade.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Profundo e correto o pronunciamento de V. Exª! Tudo o que nós estamos falando está dentro do contexto de como nós encaramos o Brasil.

            Se nós olharmos para a sociedade brasileira, nós vamos verificar que o contexto da sociedade brasileira é de uma sociedade competente, trabalhadora e responsável. Ao contrário do que diz o louco, aquele lá da Europa, que matou uma enormidade de jovens e disse que fez aquilo para o bem da humanidade e que o Brasil era o exemplo número um no mundo, porque, na mistura de etnias, o Brasil estava dando o exemplo para o mundo do que não deveria ser feito. Eu penso, como Darcy Ribeiro, o contrário: o Brasil é exemplo no mundo da integração das etnias.

            Ainda hoje você vai aos Estados Unidos, e está lá o bairro só de chineses; está lá o bairro só de japoneses; está lá o bairro só de judeus; está lá o bairro só dos árabes. Nunca se integraram. O Brasil, não. Você vai a São Paulo, e todos os judeus e árabes estão juntos, casando-se, abraçando-se, convivendo juntos. É aquilo que diz Darcy Ribeiro: nós estamos formando a raça brasileira, e essa raça é de bem: íntegra, trabalhadora, responsável. Nós não vemos movimentos dentro do Brasil buscando hegemonia a, b ou c, aqui ou acolá, que não seja a integração no entendimento geral.

            Nós avançamos nesse sentido. Quando se diz que 40 milhões que estavam na miséria hoje melhoraram, melhoraram. Estamos caminhando nesse sentido.

            Temos que ter o debate, a discussão, e V. Exª é herói nesse sentido, em termos da educação, em termos de seriedade, em termos de responsabilidade e de credibilidade. É isso o que temos que fazer.

            Não podemos ver televisão. Vê-se o Jornal Nacional, e tudo é nivelado por baixo. Você não pode viver numa sociedade onde coisas belíssimas acontecem e não se toma conhecimento delas; as mais horríveis acontecem, e são essas as que vão para a vitrine.

            Eu propus ao Presidente do Senado e ao ilustre Diretor de Comunicação, César Mesquita, uma belíssima pessoa, diga-se de passagem, que a TV Senado repetisse o que passou na TV Globo, naquele programa Gente que Faz. Eles vão fazer. Ele já determinou um estudo para isso vai acontecer. E o primeiro exemplo apareceu: um rapazinho que veio do Rio Grande do Norte - 500 quilômetros depois de Natal - para receber a premiação pelo primeiro lugar em redação num concurso daqui do Senado. E, quando veio para receber, foi mostrada a casinha dele, humilde, dois quartos, um banheiro, uma cozinha e uma sala. Na metade da sala ele criou uma biblioteca. Ele e mais de duzentas pessoas, trezentas pessoas por mês vão lá estudar. Um menino, por conta dele, no fim do mundo, tem uma biblioteca! Isso não pode ser apresentado, não tem que ser debatido, não precisa ser demonstrado? Quantos exemplos como esse acontecem no Brasil? Temos que elevar o moral da nossa gente. Há movimentos bonitos em todos os lugares.

            Eu falo agora porque, casualmente, na semana que vem, vamos debater o caso da TV Canção Nova. Pegam essa gurizada e saem por aí, debatendo, discutindo, lotam o Ginásio de Esportes, com 30 mil pessoas, e passam quatro dias de carnaval brincando, descansando, debatendo, discutindo, analisando as coisas que são positivas. E isso existe por tudo que é lugar.

            Temos que fazer um movimento nesse sentido. Temos que debater com os professores, porque o problema deles é sério. Eles têm razão, o salário é muito fraco; eles têm que melhorar o salário. Mas também, por outro lado, temos que olhar um pouquinho como era antigamente, como era no nosso tempo o professor. Eu me lembro mais da professora do que da própria mãe. Coisa fantástica aquela professora, ali, dando carinho, dando afeto, abraçando, beijando, cuidando, preocupada com a gente todo o tempo. Mudou. Hoje é diferente, porque, naquela época, ser professora era praticamente uma função altruísta, porque mulher não trabalhava. Só era professora, e o marido que ganhava. Hoje, não. Professor é uma profissão e tem que ganhar mais. Claro que tem que ganhar mais, mas não precisa perder aquele espírito de beleza, da formação, que podem e devem continuar.

            Então, são essas coisas que temos que fazer, que temos que discutir, que avançar. Acho que a TV Senado pode entrar nesse sentido. Sofri porque criei uma comissão especial para debater a televisão no Brasil; debatemos longamente e defendemos a tese de uma TV tipo BBC de Londres, uma TV oficial. Eu sonhava com uma TV oficial, uma televisão de primeiro mundo, com cultura, com educação, com saúde, qualquer coisa, que nem a BBC, que, às 4 horas da tarde, transmite a Orquestra Sinfônica de Nova York para o povo.

            Aqui, fizeram por medida provisória. Criaram a coitada da televisão por medida provisória. Então, está aí: zero de audiência. Uma bela gente, a diretora é muito competente, muito positiva, mas não deram chance para fazer uma coisa séria. Eu disse: “Vocês estão cometendo um crime, porque é uma ideia da maior importância que estão botando fora. Vocês não tinham o direito de fazer o que estão fazendo.” Mas fizeram. Então, está lá uma televisão igual às outras, dez vezes mais fraca. Mas podíamos aproveitar. Temos condição de fazer.

            Eu me lembro - lá se vai muito tempo - que o Dr. Ulysses e eu, não sei a pretexto de que, fomos almoçar com o Dr. Roberto Marinho. No meio da conversa, eu disse para ele: “Dr. Roberto, o senhor me desculpe uma coisa”. “Pois não, meu filho” - eu era bem jovem até. “Mas esse jornal da noite - acho que era Jornal da Globo, na época, que se chamava - é uma notícia ruim atrás da outra, atrás da outra, atrás da outra; às vezes desligo porque tenho medo de dormir depois. Pelo menos, bota no final umas notícias positivas, bota uma poesia, alguma coisa que é para a gente ouvir algo positivo”. Foi interessante. Ele se virou e disse: “Tome nota”. E não sei se vocês notaram, mas, realmente, o jornal da noite termina hoje, há muito tempo, com uma coisa positiva.

            Como não dá para fazer isso? A resposta é uma só: é que o povo gosta de coisa ruim. O povo gosta!

            Eu sei que eles respondem, estou falando com os jornalistas, e eles dizem: “O povo gosta de coisa ruim, gosta de sangue, gosta de homem corno, gosta de cara que apanha, gosta de ver roubo, gosta de ver a porcaria do lado de lá”. De coisa boa, não acham graça, coisa boa não vende. Um jornal que bota coisa boa na capa não vende nada. Botou uma desgraça, vende - dizem eles que é isso. Pode até ser verdade, mas, pelo menos, botem alguma notícia boa. Botem dez ruins, mas botem duas boas, botem duas positivas para melhorar o ânimo de nossa gente e a competência da nossa Casa.

            Então, é isso o que eu vejo. Eu sou um admirador de V. Exª e sou admirador do Paim. O que o Paim está fazendo na Comissão é emocionante! O que o Paim está fazendo na Comissão de Direitos Humanos... Olha, eu estou aqui há muito mais tempo do que vocês, estou aqui há trinta e tantos anos, e sei que, às 8 horas de segunda-feira, nem faxineira chegou ainda. Mas o Paim está lá, às 8 horas, com a Comissão funcionando, lotada de gente, e a TV transmitindo. É uma oportunidade. É uma coisa que ele fez, um horário que não existia, mas ele criou. É dá maior importância! E como vejo gente importante, gente que vem do Brasil inteiro para ter a chance de falar, de debater, de dizer e de discutir.

            E eu tenho aprendido muito com isso. Eu vejo aquele programa e noto que é gente do povo que está ali, que traz aquilo que a gente pensa que é sábio, mas não é sábio: ele traz aquilo que ele vive. Uma coisa é ele viver todo dia e outra coisa é ele ouvir dizer.

            V. Exª é outro. Seu debate, a que eu assisti hoje... Há uma coluna belíssima sobre V. Exª em que se diz que parece até repetitivo, de uma nota só... Mas ele acha que está certo, e eu também acho. V. Exª é um exemplo disso. As suas manifestações não são de oposição nem de governo, nem daqui nem dali, mas vão no sentido da construção de uma realidade que é necessária. Quem vê os pronunciamentos de V. Exª vê o encaminhamento, sente vontade, porque V. Exª fala o que é, o que deve ser, como pode ser naquilo que deve ser. Foi assim até quando V. Exª apresentou um projeto que muitos não entenderam, o direito à felicidade. Mas eu entendi a profundidade do que V. Exª queria dizer. É realmente isto, sim: o direito à felicidade que todos nós temos. Mas tem de fazer alguma coisa.

            Olha, eu fico pensando comigo mesmo o seguinte. Eu estou aqui, não sei quantos milhões me mandaram para cá, tenho equipe, tenho gente, tenho funcionário, tenho mais não sei o quê, tenho carro. Será que eu estou correspondendo? Será que ficar aqui nesse blablablá, escolher uma lá, defender um aqui e não sei o quê... É por aí ou tem que ter um caminho mais profundo? Ou tenho de ter responsabilidade de ter um caminho mais profundo, de fazer alguma coisa? Isso tem de ser feito!

            Quando o manifesto dos mineiros contra a ditadura apareceu, parecia que não iria dar nada, mas deu: terminou. Por isso, eu acho que este momento que nós estamos vivendo... Hoje nós criamos um grupo de trabalho na Comissão de Direitos Humanos para ver essa questão da ética, da moral, da corrupção. E vamos levá-lo adiante conforme nós conversamos. Vamos levar adiante, vamos debater, vamos discutir, vamos trazer gente. Quem sabe não se esta aqui começando um movimento para se fazer alguma coisa em vez de chorar o que nada faz?

            Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/09/2011 - Página 38777