Discurso durante a 171ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração aos 33 anos da fundação da Comunidade Canção Nova.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração aos 33 anos da fundação da Comunidade Canção Nova.
Publicação
Publicação no DSF de 28/09/2011 - Página 39099
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, COMUNIDADE, IGREJA CATOLICA, EMPRESA DE RADIO E TELEVISÃO, COMENTARIO, ATUAÇÃO, INSTITUIÇÃO ASSISTENCIAL, UTILIZAÇÃO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, DIFUSÃO, DOUTRINA, RELIGIÃO, ELOGIO, QUALIDADE, PROGRAMAÇÃO, TELEVISÃO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, distintos membros que compõem a nossa Mesa, senhoras e senhores, eu não tenho dúvida da importância, nesses nossos dias, de uma “canção nova”, uma nova partitura, uma nova partitura para reger os destinos de nosso mundo.

            Portanto, a comunidade Canção Nova é muito mais que um título que reverenciamos há 33 anos, o tempo exato que o próprio Cristo viveu entre os homens, à procura do resgate e da imagem e da semelhança do Criador. A Canção Nova veio com uma nova proposta de comunicação, uma nova proposta de comunicação de fraternidade entre os homens e traz no próprio título uma mensagem, a mensagem da “boa nova”.

            Há muito que mudar neste nosso mundo de tantos e tamanhos contrastes. Uma nova relação entre os homens de boa vontade, com menos concorrência e mais semelhança. O mundo não pode continuar com mais de um bilhão de famintos, enquanto os sistemas de comunicação insistem na ribalta dos premiados pela loteria da vida. O mundo não pode continuar escolhendo o canhão ou o pão. Há que se ter um novo paradigma para a humanidade, até mesmo para que ela continue sendo chamada de “humanidade”.

            É à busca desse novo paradigma, para um novo mundo, uma nova era que a TV Canção Nova direcionou as suas antenas.

            Eu já não sei se qualquer semelhança é mera coincidência. É uma expressão válida se o assunto é a televisão.

            Eu sempre digo que não sei se é a realidade que inspira a ficção ou se vice-versa, que a ficção inspira a realidade. Novela e noticiário, por exemplo, o que inspira o que, cá entre nós? Infelizmente, e isso é assunto para os cientistas sociais, parece que dá mais ibope, hoje em dia, a má notícia. E essa mesma notícia, exatamente por chamar maior número de ouvintes e telespectadores, é veiculada como se fosse uma novela em capítulos.

            Infelizmente, também cada capítulo da vida real, como nas novelas, tem o condão de deixar na sala o gostinho do quero mais. Quem sabe esteja aí uma razão pela qual a multiplicação da violência, da má conduta, da falta de humanismo. O gosto de quero mais.

            Eu tenho certeza de que a boa notícia tem também efeito multiplicador, um quero mais benevolente, humano, solidário, fraterno. Quem sabe, então, tenhamos que nos inspirar muito mais no exemplo de vida de sistemas de comunicação, como é a Canção Nova.

            Será que não estaria aí a base para a tal mudança de paradigma no caminho do resgate do verdadeiro sentido de humanidade?

            Eu tenho certeza de que foi esta a inspiração do então humilde padre, hoje Monsenhor, Jonas Adib, quando idealizou a Comunidade Canção Nova: disseminar a boa nova para a construção dos melhores valores. E aqui levo o meu abraço ao Monsenhor Jonas Adib.

            Sou um admirador. Confesso que há algumas pessoas que, desde a primeira vez, no momento em que as conheci e tive a oportunidade de apertar suas mãos, emocionaram-me profundamente. Um foi Dom Hélder Câmara, ainda Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro; eu, Presidente da UNE. Ouvia falar, ouvia falar, mas, quando cheguei, pensei que ia ver uma figura monumental, apoteótica. Usava uma batina preta, toda esfarrapada. Era baixinho, pequenino, olhava de baixo para cima. Quando me abraçou, senti a presença de Deus em nosso meio. Quando conheci o Padre Jonas Adib e ele começou a contar suas ideias, seus sonhos, seus desejos, sua vontade, o que esperava, com o que contava, fui-me emocionando. Confesso que foi depois de falar com ele que criamos a Comissão Especial para estudar os programas de televisão aqui no Senado. Foi depois de conversar com ele, de ver a sua garra, a sua vontade, que acreditei que era possível. (Palmas.)

            Tenho batido reiteradamente na tecla de que devemos, o mais rápido possível, resgatar esses valores, reconstruir nossas melhores referências. Tenho 80 anos - e não vejo aqui ninguém que tenha chegado aos 70, tenho mais de 15 anos do que o mais velho entre vocês -, ainda sou do tempo em que as discussões sobre os grandes temas da vida se davam no tripé família, escola e igreja. Sou filho da minha família, da minha escola e da minha igreja desde que eu era criança. Naquela época era assim: um grande círculo orientado pelos pais, pelos mestres, pelos pastores. O objetivo era a formação do ser humano na sua essência. A humanidade como nos melhores dicionários: a natureza humana, o gênero humano, a benevolência, a clemência, a compaixão e a solidariedade.

            Hoje, o círculo de discussões virou um semicírculo completado e orientado pela televisão. Já nem sei mais se somos nós a apertar os botões do controle remoto ou se somos nós os verdadeiros controlados pela televisão. A grande preocupação já não é mais a essência da existência, mas a audiência; não mais a formação do ser humano, mas a informação ao consumidor.

            Longe de mim querer imaginar, nestes nossos tempos, uma sociedade sem a televisão e sem as suas, agora, finas telas, sem a tecnologia que abre uma janela do mundo nas nossas salas, sem a sensação de ter o controle do universo na ponta dos dedos ao apertar do botão, sem a ideia, embora quase sempre falsa, de se sentir protagonista da história.

            Por um longo tempo, reclamamos da televisão não ter cor. Agora, temos a sensação de que ela não tem apenas cor; tem gosto, um gosto duvidoso, muitas vezes um amargo gosto. É que a televisão deixou de ser um substantivo para se transformar em um verbo: ter. Já não importa mais tanto o cidadão, mas o consumidor. Para a televisão, se ele tem, ele é; não é se não tem. Repito, já não importa mais tanto o cidadão, mas o consumidor. Para a televisão, se ele tem, ele é; se ele não tem, ele não é.

            Aí está, portanto, a diferença de redes de comunicação com a Canção Nova: para se resgatar o cidadão no seu melhor sentido, é preciso que se busque o ser antes do ter.

            A Canção Nova cortou o vício que teima em colocar a televisão como sujeito da história. E nós, objetos. Na busca pela verdadeira essência do ser humano, ela inverteu esse viés. O ser humano na Canção Nova é o senhor da história.

            A Canção Nova é como se, em um mesmo círculo, colocássemos a família, a escola, a igreja. O pai, o mestre e o pastor estão ali, na Canção Nova.

            A oração como ação, a ação como oração.

            A Canção Nova não tem patrocinadores aos moldes da TV comercial. Ela é algo assim como se o parlamento também não se elegesse com recursos privados, principalmente de grandes corporações.

            Coincidência: são praticamente os mesmos os patrocinadores da TV comercial e os financiadores de campanha eleitoral. Coincidência?

            Quem sabe, então, também o parlamento esteja necessitando de uma "canção nova"?

            Quem sabe esta sessão não seja, tão somente, uma homenagem mais que merecida pelos 33 anos da Comunidade Canção Nova? Aos seus sistemas de rádio e televisão?

            Quem sabe ela poderia ser, também, uma boa nova para as consciências de todos os representantes de uma comunidade maior, exatamente aquela que clama por novos paradigmas? Por uma nova prática de humanidade?

            Quem sabe possamos, então, longe da sanha do ter, que financia a campanha política e a comunicação comercial, formular leis e construir referências, de acordo com as nossas próprias consciências, e não para atender a imposições individuais ou de pequenos e determinados grupos?

            Quem sabe possamos ouvir e ver programas de rádio e TV menos impregnados de subliminares comerciais? Formular leis sem o custo da indicação do apadrinhado facilitador da corrupção? Sem a emenda orçamentária direcionada para o financiador da campanha?

            Quem sabe, então, nesta merecida homenagem, tivéssemos mais a ouvir do que a falar? Aqui deveríamos falar menos e ouvir mais.

            Que as antenas da Canção Nova tenham, então, cada vez mais, alcance, mas que elas cheguem, também e principalmente, a estes plenários, aos gabinetes e a todos os níveis de todos os poderes, para que possam inspirar um novo paradigma, um novo mundo, um verdadeiro sentido de humanidade, "uma verdadeira canção nova"!

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/09/2011 - Página 39099