Discurso durante a 159ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da aprovação de um Código Florestal equilibrado, que associe a produção de alimentos à preservação do meio ambiente.

Autor
Acir Gurgacz (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RO)
Nome completo: Acir Marcos Gurgacz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CODIGO FLORESTAL.:
  • Defesa da aprovação de um Código Florestal equilibrado, que associe a produção de alimentos à preservação do meio ambiente.
Publicação
Publicação no DSF de 15/09/2011 - Página 37291
Assunto
Outros > CODIGO FLORESTAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, RADIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ECONOMISTA, ANALISE, AUMENTO, CONSUMO, ALIMENTOS, EFEITO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, PRODUTIVIDADE, AGRICULTURA, BRASIL, ATENDIMENTO, CRESCIMENTO, DEMANDA, IMPORTANCIA, APROVAÇÃO, REFORMULAÇÃO, CODIGO FLORESTAL, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, PRODUÇÃO AGRICOLA.

            O SR. ACIR GURGACZ (Bloco/PDT - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Boa tarde, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ouvintes da Rádio Senado e espectadores da TV Senado!

            Hoje, pela manhã, na rádio CBN, ouvi duas entrevistas que trataram indiretamente de um assunto muito importante para o Brasil na atualidade, um tema que está em discussão no Senado.

            A primeira entrevista foi feita com um economista da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (USP), Lucílio Rogério Alves, que também é pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. O entrevistado explicou por que o mundo atravessa hoje um momento de alta dos preços dos alimentos. Segundo o economista, essa tendência vem especialmente do fato de a China vir passando, nos últimos anos, por um franco processo de milagre econômico. O país está gerando condições de melhoria de qualidade de vida para os seus mais de 1,3 bilhão de habitantes. As pessoas estão passando a se alimentar melhor, e isso vem aumentando drasticamente a demanda de alimentos em todo o mundo. O mesmo vem acontecendo com a Índia, que tem mais de um bilhão de habitantes. O país, integrante do BRICS, também vem ganhando, cada vez mais, vigor econômico. Num mundo de cerca de 7 bilhões de habitantes, é uma demanda influenciada por cerca de 30% de toda a população do Planeta.

            O programa do comentarista de Economia Mauro Halfeld, minutos depois dessa entrevista, destacou o mesmo processo. Ao responder a uma pergunta de um ouvinte sobre investimentos em compras de imóveis no Norte do Brasil, ele apresentou dados sobre a valorização de terras agricultáveis em todo o mundo, seja no Brasil, seja nos Estados Unidos ou na África. A causa, segundo ele, também é o milagre econômico chinês. Srªs e Srs. Senadores, esse é um fato impossível de se desconsiderar. O enriquecimento de um povo sempre causa a melhoria da qualidade de vida das pessoas, e isso sempre é registrado com o aumento do consumo de alimentos. Dois bilhões de bocas no mundo se alimentando mais e melhor hoje do que há poucos anos é um fato econômico de muita relevância.

            Por esse motivo, brasileiros companheiros nossos que nos acompanham pela TV Senado, o preço dos alimentos sobe no mundo inteiro. No Brasil, a produção é excedente, graças a Deus! Com isso, podemos exportar e gerar riquezas para o nosso País. Isso faz com que a demanda interna aumente mais ainda e com que possamos ver nossos filhos e netos crescerem mais saudáveis que as gerações anteriores, com mais e melhores alimentos.

            Todo esse contexto está ligado diretamente ao texto do Código Florestal que estamos avaliando no Senado Federal. Somente com um conjunto equilibrado de leis para o setor ambiental é que poderemos contar com uma agricultura capaz de produzir mais, de forma sustentada, e com preços acessíveis para toda a população brasileira.

            Pesquisa recente do Datafolha aponta que 85% da população brasileira querem um Código Florestal que preserve o meio ambiente, mesmo que isso prejudique a agricultura. A meu ver, a pergunta foi direcionada desnecessariamente. O Código que deveremos aprovar no Senado preserva o meio ambiente sem prejudicar a agricultura, porque já é um Código equilibrado entre o meio ambiente e a produção agrícola brasileira. A pergunta da pesquisa deveria ter sido feita da seguinte forma: você quer um Código Florestal que preserve a natureza e garanta a agricultura? Acredito que 100% das pessoas diriam “sim”. Todos nós queremos um Código Florestal que garanta a produtividade para nós, brasileiros, para que possamos exportar alimentos para o resto do mundo, sem que isso prejudique o meio ambiente. Esse é o grande desafio que enfrentamos hoje no Senado e que está em discussão, para que possamos votar esse Código Florestal dessa forma, de acordo com aquilo que quer a população brasileira.

            O texto atual, apesar do que muitos dizem por aí, não vai aumentar o desmatamento. O que se propõe é que as áreas já desmatadas até 1996 e que estão sendo produtivas possam continuar produzindo. O texto não propõe que possa haver mais desmatamento. E isso muita gente não está entendendo. O texto do novo Código Florestal não permite novos desmatamentos. Não há parágrafo ou qualquer pedaço do texto que incentive ou permita o desmatamento no Brasil.

            O texto também não propõe anistia para quem desmatou ilegalmente. Esse é outro dado que está sendo mal-interpretado por algumas pessoas. O novo Código Florestal não traz anistia para quem fez desmatamento ilegal no nosso País. Na verdade, o novo Código estabelece segurança jurídica, exige compensações ambientais de quem desmatou, corrige a situação que vivemos hoje, mas sem cometer injustiça.

            O que precisamos, meus amigos, é de um Código Florestal equilibrado, que permita a agricultura e a produção de alimentos, assim como a preservação do meio ambiente. Como disse o articulista Reinaldo Azevedo em seu blog, no site da Veja, esse Código permite a preservação de 70% das terras brasileiras! Isso, Srªs e Srs. Senadores, é equilíbrio, é justiça. Não podemos cercear a agricultura desnecessariamente e exigir que os produtores rurais sejam obrigados a investir tecnologia a ponto de inviabilizar a sua produção. O povo quer alimentos acessíveis, os produtores querem condição de trabalho. Isso somente é possível com equilíbrio, com terras agricultáveis, com um meio ambiente bem cuidado, com matas ciliares preservadas, com APPs e nascentes protegidas, para conservar a nossa biodiversidade.

            É isto! Precisamos continuar produzindo, conservando, para preservar a nossa economia das armadilhas do mercado internacional.

            Fizemos, ontem, uma audiência pública em conjunto com a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, com a Comissão de Meio Ambiente, com a Comissão de Ciência e Tecnologia e com a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, na presença dos seguintes convidados: Dr. Paulo Affonso Leme Machado, professor e doutor honoris causa em Direito Ambiental da USP, pós-graduado na Universidade de Limoges, na França; Dr. Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin, Ministro do Superior Tribunal de Justiça; Drª Cristina Godoy de Araújo Freitas, Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo; Dr. Nelson Jobim, ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal e ex-Ministro da Justiça; e Dr. Mário José Gisi, Subprocurador-Geral da República.

            Debatemos o assunto com os demais Senadores. Estamos tratando desse assunto com a maior responsabilidade, com todo o equilíbrio, tirando o cabo de força que existiu no passado entre ambientalistas e agricultores, pois entendemos que ambos querem a mesma coisa. Nós queremos uma produção de alimentos suficiente para alimentar os brasileiros, para que possamos alimentar também pessoas fora do nosso País e para que continue a haver um saldo positivo da balança comercial brasileira, mas sem permitir que o meio ambiente não tenha o cuidado que merece e de que precisa. É assim que queremos o nosso País: nós o queremos produzindo e conservando. Esse é o nosso desafio. Esse é o nosso trabalho.

            Quero cumprimentar os nossos Relatores, tanto o Senador Jorge Viana, como o Senador Luiz Henrique, que estão tendo uma presteza muito grande, uma atenção muito grande, para que, realmente, Srª Presidente, possamos chegar ao consenso que quer - não agricultores, nem ambientalistas - o povo brasileiro.

            Muito obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/09/2011 - Página 37291