Discurso durante a 176ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa do investimento de parte dos recursos oriundos do Fundo Constitucional do Distrito Federal em segurança, saúde e educação nas regiões do Entorno.

Autor
Rodrigo Rollemberg (PSB - Partido Socialista Brasileiro/DF)
Nome completo: Rodrigo Sobral Rollemberg
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Defesa do investimento de parte dos recursos oriundos do Fundo Constitucional do Distrito Federal em segurança, saúde e educação nas regiões do Entorno.
Publicação
Publicação no DSF de 04/10/2011 - Página 39966
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, DESIGUALDADE REGIONAL, ENTORNO, CAPITAL FEDERAL, ESTADO DE GOIAS (GO), DEFESA, DESTINAÇÃO, PARCELA, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, FUNDO VINCULADO, DISTRITO FEDERAL (DF), INVESTIMENTO, MELHORIA, SEGURANÇA PUBLICA, SAUDE PUBLICA, EDUCAÇÃO, REGIÃO GEOECONOMICA.

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Sr. Presidente desta sessão, Senador Mozarildo Cavalcanti, prezadas Senadoras, prezados Senadores, na última segunda-feira, apresentei aqui a ideia de que deveríamos fazer com que o percentual do Fundo Constitucional do Distrito Federal, progressivamente, fosse investido nas regiões do Entorno.

            Propus para o debate, naquela ocasião, que deveríamos, a cada ano, destinar 1% dos recursos do Fundo Constitucional do Distrito Federal para ser investido na região do Entorno em segurança, saúde e educação, priorizando as cidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano, de menor Produto Interno Bruto por pessoa e as cidades fronteiriças ao Distrito Federal. Defendi a ideia de que, para cada real colocado pelo Distrito Federal, Goiás fosse obrigado a colocar o mesmo valor, o que permitiria garantir investimentos na região do Entorno jamais vistos até hoje na história de toda essa região.

            A proposta, como não poderia deixar de ser, pela importância dela...

            Quero registrar que também defendemos que fosse criado um consórcio entre o Estado de Goiás e o Distrito Federal, que administraria esses recursos, que, como disse, seriam colocados gradualmente. Depois, evoluímos para a ideia de que, em vez de 10%, poderia ser 0,5% ao ano, até atingir o limite de 5%, em dez anos, porque o Estado de Goiás também seria obrigado a colocar o mesmo recurso, o que faria com que, efetivamente, nós tivéssemos, a cada ano, 1% do equivalente aos recursos do Fundo Constitucional do Distrito Federal.

            Apresentamos a proposta também de que a União deveria comparecer com 30% desses recursos, o que faria com que, a cada recurso, digamos, a cada real colocado pelo Distrito Federal, R$1,3 deveria ser colocado também na região do Entorno pelo Estado de Goiás e pela União.

            Como não poderia deixar de ser, a ideia mobilizou muitas opiniões. Recebi manifestações as mais diversas possíveis, manifestações entusiasmadas, é claro, de pessoas que sabem a importância de se resolver o problema do entorno como algo estratégico para o Distrito Federal; manifestações contrárias, algumas veementes, preocupadas em mexer com uma conquista do Distrito Federal, que é o Fundo Constitucional do Distrito Federal.

            Quero registrar que, em função desse debate, pelo meu compromisso como Senador pelo do Distrito Federal, pela compreensão que tenho da importância, do ponto de vista estratégico, tratar a questão do Entorno como absolutamente indispensável ao desenvolvimento do Distrito Federal e de toda a região, solicitei ao Líder do Bloco ao qual pertence o PSB pertence, o Deputado Humberto Costa, que me designasse - o que já foi feito - como titular para a Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo, onde pretendo aprofundar esse debate. Então, o debate especificamente sobre uma ideia ou sobre um anteprojeto de lei. Mas uma audiência pública em que possamos fazer uma reflexão profunda com o objetivo de apresentar soluções concretas para esse que, sem dúvida alguma, do ponto de vista estratégico e histórico, é hoje o desafio mais grave por que passa o Distrito Federal.

            Quero, aqui, voltar a trazer alguns dados para o início dessa reflexão, reflexão que, sem dúvida, mobilizará as forças políticas não apenas do Distrito Federal, não apenas de Goiás, mas do País, pela importância estratégica que tem Brasília como Capital do Brasil, como investimento que significou Brasília como Capital do Brasil.

Primeiro, quero registrar que considero que cidades como Águas Lindas, como Novo Gama, como Santo Antônio do Descoberto, como Cidade Ocidental, como Planaltina de Goiás, como Valparaíso e outras, são cidades filhas de Brasília, nasceram em função de Brasília, dependem de Brasília. E só uma visão muito curta ou de muita insensibilidade poderia concluir que o Distrito Federal não tem nada a ver com o destino dessas cidades, que o destino destas cidades é de competência exclusiva de Goiás. Não é! O Distrito Federal tem responsabilidade, sim, e muita, como Goiás tem e como a União também tem. Essas cidades, além de serem filhas de Brasília, estão entre as cidades mais pobres do Brasil.

            Eu citei seis cidades, Senador Mozarildo, que nasceram em função de Brasília, e são exatamente essas seis cidades que têm o menor Produto Interno Bruto per capita de toda a região do Entorno e que têm uma característica comum em função da dependência de Brasília. São cidades que, na composição do seu Produto Interno Bruto, a agricultura e a indústria não chegam a atingir sequer 20%, mostrando a completa dependência dos serviços públicos e das atividades do Distrito Federal.

            Águas Lindas de Goiás: Produto Interno Bruto per capita: R$2.871,00; população: 159.230 pessoas; participação da agricultura e da indústria em seu Produto Interno Bruto: 14,5%.

            Novo Gama: 95 mil habitantes; Produto Interno Bruto per capita: R$3.317,00; participação da agricultura e da indústria no Produto Interno Bruto: 16,3%.

            Santo Antônio do Descoberto: 63.144 habitantes; Produto Interno Bruto per capita: R$3.336,00; participação da agricultura e da indústria no Produto Interno Bruto: 17,6%.

            Cidade Ocidental: 55.826 mil habitantes; Produto Interno Bruto per capita: R$3.471,00; participação da agricultura e da indústria no Produto Interno Bruto: 19,53%.

            Planaltina de Goiás, a mais antiga dessas cidades: 81.420 mil habitantes; Produto Interno Bruto per capita: R$4.195,00; participação da agricultura e da indústria no Produto Interno Bruto: 20%.

            Valparaíso de Goiás: 132.808 habitantes; Produto Interno Bruto per capita: R$4.360,00; participação da agricultura e da indústria no Produto Interno Bruto: 10,8%.

            É importante registrar que essas seis cidades perfazem 51% da população que mora no Entorno do Distrito Federal - 51%. E se o Distrito Federal é responsável por 69% da população de toda a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, a sua participação no seu Produto Interno Bruto de toda essa região é de 93,5%. Temos uma disparidade imensa. A diferença do Produto Interno Bruto do Distrito Federal, que é de quase R$46 mil por ano, para o de Águas Lindas de Goiás, que é de R$2,8 mil por ano, é mais do que dezesseis vezes. É importante registrar que me referi a seis cidades que têm os seus Produtos Internos Bruto que variam de R$2,8 mil a R$4,360 mil, lembrando que a Unidade da Federação que tem o menor Produto Interno Bruto per capita é o Estado do Piauí, que é de R$5,3 mil.

            Ou seja, não podemos, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, conviver com tamanha desigualdade, com tamanho quadro de injustiça para com essas pessoas que, em algum momento, moraram no Distrito Federal, muitos nasceram no Distrito Federal e, em função da especulação imobiliária, em função da concentração de renda acabaram sendo expulsos do Distrito Federal e foram morar nessas cidades próximas ao Distrito Federal.

            Não podemos ignorar Não temos muros, já disse, não queremos e não podemos ter muros entre o Distrito Federal e as cidades do Entorno. O que precisamos é de uma atitude corajosa, uma atitude de compreensão de que não podemos pensar no Distrito Federal, não podemos pensar no desenvolvimento de toda essa região sem melhorar a qualidade de vida das populações que vivem nessa região metropolitana de Brasília, que passou a ser conhecida, ao longo do tempo, como Entorno do Distrito Federal.

            Em nossos hospitais, mais de 25% dos atendimentos feitos na rede pública de saúde do Distrito Federal, são para as pessoas que vêm do Entorno e que vêm legitimamente, porque são brasileiros como nós e como qualquer outro.

            Eu pergunto: será que essas pessoas que moram em Luziânia, que moram no Novo Gama, que moram em Valparaíso, que moram em Águas Lindas, que moram em Formosa ou em Planaltina de Goiás saem de suas casas para serem atendidas na rede pública de saúde do Distrito Federal porque querem ou porque não têm opção próxima aos seus locais de moradia? O que seria mais inteligente do ponto de vista do desenvolvimento integrado da região: oferecer alternativas descentralizadas de saúde para esse conjunto da população ou simplesmente concentrar essas atividades no âmbito do Distrito Federal?

            Hoje, Brasília, infelizmente, sofre o flagelo do tráfico de drogas e do uso indiscriminado de drogas, especialmente o crack. Muito se diz que grande parte do tráfico acontece nas cidades do Entorno. No entanto, a nossa polícia não pode atuar nas cidades do Entorno.

            Chamo à reflexão: será que combater a violência, combater o tráfico, melhorar as condições de vida nas cidades do Entorno não vai contribuir para melhorar a qualidade de vida no Distrito Federal, para reduzir o uso de drogas no Distrito Federal, para reduzir o tráfico de drogas no Distrito Federal?

            Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, quero registrar que todas as manifestações que recebi ao longo dessa semana, toda a veemência dessas manifestações favoráveis, contrárias, de críticas, de aplauso levam-me a concluir que estamos no caminho certo, que precisamos aprofundar esse debate, e que o ambiente adequado para fazer esse debate, a Casa responsável pela Federação é aqui no Senado Federal.

            Por isso solicitamos ao Líder Humberto Costa que nos designasse. E já conversei com o Senador Benedito de Lira para ir para a Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo. Lá, queremos criar um fórum permanente de debates sobre essa região e o que podemos fazer juntos para o desenvolvimento dessa região.

            Quero registrar que não vamos nos furtar debater qualquer proposta desde as mais ousadas, como a proposta do então Deputado Federal Tadeu Filippelli, hoje Vice-Governador do Distrito Federal, que apresentou uma emenda à Constituição à época no sentido de ampliar os limites do Distrito Federal, incorporando ao Distrito Federal algumas cidades do Entorno, como a proposta que apresentei recentemente, como outras propostas, talvez a criação de um fundo específico para desenvolvimento do Entorno. E, vamos acompanhar. Vamos acompanhar e cobrar os investimentos do Governo do Distrito Federal na região, os investimentos do Governo de Goiás na região, os investimentos realizados pelo Governo Federal na região.

            Quero contribuir para montar um verdadeiro observatório das políticas públicas desenvolvidas no Entorno.

            Estou, Sr. Presidente, nesta cidade há 51 anos. Sou apaixonado por Brasília. Vim para Brasília sua inauguração. Sempre fui admirador de Juscelino Kubistchek, que, em minha opinião, foi o maior estadista da história deste País, que trouxe a Capital para o interior do Brasil e que sabia que, ao trazer a Capital para o interior do Brasil, Brasília provocaria o desenvolvimento de toda essa região. Efetivamente, Brasília provocou o desenvolvimento. Grande parte do Centro-Oeste brasileiro hoje está ocupado e é extremamente dinâmico, do ponto de vista econômico, em função de Brasília.

            Entretanto, Brasília representa também algumas das distorções mais graves das políticas econômicas adotadas no Brasil nos últimos anos, políticas que concentraram renda, políticas que concentraram oportunidades, políticas que atraíram milhares e milhares de pessoas para cá.

            Portanto, nós não podemos fingir ou fazer de conta que isso não tem nada a ver conosco, que não é responsabilidade de Brasília cuidar do Entorno. É responsabilidade sim. Precisamos fazer isso num clima de serenidade, mas debatendo com toda profundidade, com toda tranquilidade, ouvindo todas as partes e buscando construir soluções que sejam efetivas, que sejam eficientes, mas que venham definitivamente mudar esse estado de coisas no Entorno do Distrito Federal.

            Para concluir, Sr. Presidente, quero dizer que toda essa minha preocupação só foi ampliada ao conversar, na última sexta feira, com um empresário da construção civil do Distrito Federal, e isso pode ser atestado por todos que andam pelo Entorno do Distrito Federal, em função do crescimento do País, das políticas públicas de acesso à habitação realizadas pelo Governo Federal, pelo Minha Casa Minha Vida, todas elas extremamente louváveis, extremamente importantes para o País, extremamente importantes para a população, especialmente para a população mais pobre, mas a informação que mostrou a gravidade desse fato que relato e a necessidade de nos debruçarmos sobre ele - convoco todo o Senado para essa reflexão - é a seguinte: apenas no eixo Novo Gama, Valparaíso, Cidade Ocidental e Luziânia, para os próximos sete ou oito anos, está prevista a construção de 150 mil unidades residenciais. Apenas nesse eixo serão 150 mil unidades residenciais nos próximos seis ou sete anos, o que significa dizer que haverá cerca 600 mil novas pessoas morando nessa região apenas nesse eixo sul do Entorno do Distrito Federal.

            Ora, essas pessoas vão precisar trabalhar, vão precisar pegar ônibus, pegar trem, essas pessoas vão precisar de hospital, de escolas, e nós não podemos achar que esse é um problema para amanhã. Esse é um problema para hoje. Essa é uma questão estratégica, repito, não apenas para o Distrito Federal, mas para toda a região do Entorno e para o Brasil, porque nós estamos falando de Brasília, a Capital de todos os brasileiros, que também foi reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

            Portanto, Sr. Presidente, eram essas as considerações que eu gostaria de fazer na tarde de hoje, conclamando todos a participarem desses debates, dessas audiências públicas.

            Pretendo ainda esta semana, apresentar na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo a proposta de um ciclo de debates, de audiências públicas, para que possamos nos debruçar sobre essas questões e formular alternativas que sejam consistentes, que sejam duradouras, que sejam sustentáveis e que possam garantir o desenvolvimento do Distrito Federal e de toda a sua região geoeconômica.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/10/2011 - Página 39966