Discurso durante a 181ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas às palavras da Ministra Miriam Belchior sobre os projetos de infra-estrutura urbana nas cidades sede da Copa de 2014.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE.:
  • Críticas às palavras da Ministra Miriam Belchior sobre os projetos de infra-estrutura urbana nas cidades sede da Copa de 2014.
Publicação
Publicação no DSF de 07/10/2011 - Página 40724
Assunto
Outros > ESPORTE.
Indexação
  • CRITICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO ORÇAMENTO E GESTÃO (MOG), MOTIVO, COMENTARIO, FALTA, IMPORTANCIA, PROJETO, INFRAESTRUTURA, REALIZAÇÃO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, REGISTRO, ORADOR, POSSIBILIDADE, BRASIL, PERDA, SEDE, ESPORTE.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Senadora Ana Amélia, que neste momento preside esta sessão, Srªs e Srs. Senadores, TV Senado, Senhores ouvintes da TV Senado, é difícil acreditar que a Ministra do Planejamento, Miriam Belchior, teve a coragem de dizer que os projetos de infraestrutura urbana nas cidades sedes da Copa de 2014 são um legado importante, "mas não são essenciais para operacionalização da Copa do Mundo". E o pior é que, diante de tantos problemas, como acessos a aeroportos e de locomoção urbana, as autoridades já estão pensando em resolver tudo com o famoso e velho jeitinho brasileiro.

            Vão decretar feriado no dia dos jogos da Copa!

            Olhe, Srª Presidente, quando ouvimos argumentos dessa natureza, ficamos estarrecidos, perplexos. Ficamos tristes com a imagem que se constrói do Brasil. E não é para menos! O Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo em 2007. Portanto, tinha sete anos para cumprir etapas, caso fizesse um planejamento adequado. Mas, com os prazos sendo estourados, o que tem transparecido é um improviso atrás do outro. Estamos correndo atrás do prejuízo e sem grandes probabilidades de ganhar a disputa.

            Vejam que, acertadamente, a Presidente Dilma quer deixar claro para a Fifa a natureza da República Federativa do Brasil. Está correta em mostrar a impossibilidade de revogarmos nossas leis federais e estaduais em benefício dos interesses de patrocinadores da Copa ou da própria Fifa.

            Agora, convenhamos que tudo isso já poderia ter sido esclarecido há muito tempo. Um Governo com diretrizes mínimas de planejamento não deixa para a última hora a aprovação da Lei Geral da Copa. Os termos do evento deveriam ser objeto de avaliação logo no primeiro momento, até porque diversos outros países já passaram pelo mesmo processo.

            Sr. Presidente, o Brasil precisa agir rápido, porque o tempo voa, e a Fifa tem o poder de tirar-nos a Copa caso as obras de infraestrutura não sejam realizadas.

            Das 49 obras de mobilidade urbana da Copa, só nove começaram. Oito dos treze aeroportos iniciaram reformas, mas são puxadinhos, arremedos de terminais. Pelo menos cinco estádios do total de doze, vão estourar o prazo inicial fixado pela Fifa.

            Será que vamos perder a Copa?! Esperamos que não!

            Mas o certo é que, de uma forma ou de outra, vamos passar uma tremenda vergonha diante do mundo se o Governo não cair na real e tomar providências urgentes para dotar o Brasil de infraestrutura adequada. Isso vai demandar um esforço fenomenal e uma mudança de mentalidade.

            Vejam, por exemplo, o que foi feito pela Infraero.

            Com uma canetada, resolveram-se todos os problemas de infraestrutura dos aeroportos brasileiros. Como? Bastante simples, senhoras e senhores: a Infraero alterou a metodologia do cálculo da capacidade dos aeroportos atenderem a demanda de passageiros.

            Com a metodologia anterior, a capacidade dos 13 aeroportos estratégicos para a Copa de 2014, ou seja, as doze cidades-sede mais Campinas, chegaria a 150 milhões de passageiros por ano, como resultado dos investimentos de R$6,4 milhões até lá. Mas, com a nova forma de calcular da Infraero, passaram a 256 milhões de passageiros por ano.

            É isso mesmo. Em 2014, por obra da magia, a Infraero quer nos convencer de que nossos aeroportos serão capazes de atender cem milhões a mais de passageiros que o previsto anteriormente.

            Para se ter uma ideia, Senador Alvaro, da esperteza e da irresponsabilidade dessa manobra, em 2010, 104 milhões de passageiros passaram pelos 13 aeroportos das cidades-sedes, mais Campinas. Esses aeroportos tinham, de acordo com a própria Infraero, capacidade para 95 milhões de passageiros por ano nos cálculos feitos pela antiga metodologia.

            Como ficou evidente em diversas oportunidades, nossos aeroportos operam bem acima da capacidade e não têm condições de atender a crescente demanda de passageiros. É como se, com a nova metodologia, todos os problemas desaparecessem. Não existem mais. Ou seja, a Infraero quer nos convencer de que tudo, no dia a dia dos nossos aeroportos, é pura ilusão de ótica, obra dos devaneios de nossos passageiros. Não há atrasos, não há falta de terminais, não há carência de infraestrutura. Isto porque, acredito, os dirigentes da Infraero, como os Srs. Ministros e a Senhora Presidente não passam pelos terminais por que os mortais são obrigados a passar. Eles têm, sim, suas salas VIP, seus terminais especiais.

            É isso mesmo. Refazendo contas e alterando métodos, nossos aeroportos já foram ampliados sem que fosse necessário assentar um único tijolo. Não foi preciso fazer nem mesmo um puxadinho! Da noite para o dia, como num passe de mágica, espichamos nossos aeroportos e agora já temos uma folga em termos de capacidade de passageiros. E, em 2014, a folga será duas vezes maior que a recomendada pela Associação Internacional de Empresas Aéreas - Iata.

            Com a nova metodologia de cálculo adotada pela Infraero, nossos aeroportos passarão a ter a capacidade de 256 milhões de passageiros por ano, ou seja, 41% a mais que o mínimo necessário para receber os turistas durante 2014. A Iata recomenda 20%.

            Como é que se deu o milagre? Como tantas outras manobras contábeis deste Governo e do anterior: manipularam os números! E o Diretor de Planejamento da Infraero, Sr. Walter Américo, defende os novos cálculos e diz: "Hoje, você faz check-in pelo celular, o que reduz a necessidade de tantos balcões". O senhor precisa passar pelos nossos aeroportos, Sr. Walter. O senhor precisa ser um mortal. O senhor viaja por caminhos diferentes, por jatos particulares. Diz ele ainda: "Os aeroportos ficam abertos 24 horas, mas a Infraero não considerava os vôos da madrugada no cálculo da capacidade, que agora são muitos".

            Aí, Sr. Presidente, não nos resta alternativa, mas dizer que o Governo está fazendo chacota com o sofrimento de quem utiliza os aeroportos. O Governo está brincando com a verdade e colocando em risco a imagem do Brasil perante a comunidade mundial. A dura verdade é que o Governo brasileiro está perdendo o efetivo controle sobre o andamento das obras da Copa do Mundo. Os relatórios apresentados não batem com a realidade das obras nas cidades-sedes da Copa e já existem autoridades pensando em fazer o evento com o que existe hoje. Dá para imaginar?! Aeroportos superlotados, puxadinhos mal arranjados, transportes urbanos atabalhoados e infraestrutura inadequada.

            Para comemorar, tem futebol com feriado nacional! Esse é o jeitinho brasileiro, mas o mundo não vai aceitar.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/10/2011 - Página 40724