Discurso durante a 181ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da abertura de procedimento do Ministério Público de São Paulo contra o humorista Rafinha Bastos, do programa CQC.

Autor
Magno Malta (PR - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Registro da abertura de procedimento do Ministério Público de São Paulo contra o humorista Rafinha Bastos, do programa CQC.
Publicação
Publicação no DSF de 07/10/2011 - Página 40745
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • REGISTRO, NECESSIDADE, CONSELHO NACIONAL, REGULAMENTAÇÃO, IMPRENSA, MOTIVO, COMENTARIO, ARTISTA, PROGRAMA, TELEVISÃO.

            O SR. MAGNO MALTA (PR - ES. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Pela ordem, Srª Presidente.

            Quero fazer um registro, porque fiz um pronunciamento ontem sobre o procedimento do apresentador Rafinha Bastos, afastado da Bandeirantes de uma maneira acertada, que fez uma piada macabra, jocosa, difamatória, desnecessária quando apareceu a imagem da cantora Wanessa Camargo.

            Poderia ser qualquer pessoa, podia ser uma cidadã que faz panela de barro no meu Estado, que são tão honradas - não é, Senadora Ana Rita?. Poderia ser uma costureira ou uma rendeira lá do seu Estado, Srª Presidente, dos pampas; ou uma pescadora, uma merendeira de escola, uma Senadora da República, uma Deputada, uma mãe de família, em qualquer lugar deste País. Mas ela é uma artista. A Wanessa aparece grávida e ele diz: “Gostosa, está grávida. Eu como a Wanessa e o bebê. Eu como o bebê”.

            Ontem, fiz um pronunciamento dos mais tristes que já fiz na minha vida, até porque não consigo me acostumar, embora tenha visto, na quebra do sigilo do Orkut, pediatra abusando de criança de 30 dias de nascida, que me causa repulsa, indignação - e os justos não podem parar de se indignar nunca -, eu me pronunciei e provoquei o Ministério Público de São Paulo.

            Hoje, pela manhã, falei com a Drª Valéria, promotora da Promotoria da Mulher. Ela disse que já tem um procedimento aberto contra ele, porque fez uma fala de que mulher feia tem de ser estuprada. E ela, então, traz o assunto para sua mão. Eu acredito na força e na coragem da mulher. E qualquer um precisa reagir a isso, principalmente o Ministério Público provocado.

            Quando fala de um bebê, é estupro de vulnerável. É delegacia especializada. É vara especializada. E a Drª Valéria está chamando essa vara especializada por conta da questão do bebê.

            Ontem, esse rapaz postou um vídeo mais irônico ainda na Internet. Ele senta numa churrascaria - é um vídeo elaborado - e aí a pessoa pergunta para ele: “O senhor quer beber?” Ele diz: “Não”. “O senhor quer fraldinha?” Ele diz: “Não”.

            O senhor quer baby beef? Ele diz “não”, ironizando a questão da criança, pelo absurdo que fez. Não tem limite será? Não tem limite? Aonde é que nós vamos parar? Ai eu fico me perguntando, quando o Lula tentou fazer esse Conselho Regulatório da Imprensa, todo mundo reagiu. Então quer dizer que alguém que está na imprensa pode desgraçar a vida pessoal de alguém, pode entrar na intimidade de alguém, pode expor alguém, pode deflorar a honra de alguém, e ele simplesmente diz: “Eu tive uma fonte, eu não informo”.

            Eu acho que tudo neste País tem agência regulatória. Qual o problema disso? Eu tenho certeza de que um Mitre jamais passaria por isso; um Datena jamais passaria por isso; uma Fátima Bernardes, um Eraldo Pereira, tantos por aí jamais passariam por isso; gente honrada que faz jornalismo no meu Estado, no seu Estado.

            V. Exª é a maior prova disso. A sua vida é uma história de jornalismo. Ou as pessoas acham que a senhora veio parar aqui tão somente porque achavam essa loira da terra de Gisele Bündchen bonita e virou Senadora? Pela profissional jornalista que a senhora sempre foi, preservando a honra das pessoas, tratando com fatos e não fazendo ironia, invadindo a honra...

            Agora é uma prática. Todo mundo é vítima disso. O sujeito invade a sua privacidade, a sua honra, põe notinha, lhe esculhamba, lhe expõe, você e a sua família, e você não pode fazer nada, porque é uma casta especial. Ora, acho que esse debate tem que vir à tona com isso. “Eu como a mãe e a criança”, que história é essa, que história é essa?

            E há que o Ministério Público realmente reagir. Parabéns à Drª Valéria nessa ação. Que vá em frente.

            Hoje, mais uma vez, falei com o pai sofrido, o jovem Marcus Buaiz, que vai ser recebido pela promotora, juntamente com a sua esposa, a Wanessa Camargo. E há que se entender que a família toda pode reagir com processos os mais diversos de afronta à honra, e V. Exª sabe disso, e até o próprio bebê, até o próprio bebê, até o próprio bebê.

            Por isso, parabéns ao Ministério Público de São Paulo.

            Faço este registro de forma muito indignada. É bom ver o Ministério Público reagindo para que esse debate venha à tona. Virou moda expor a vida pessoal das pessoas e fazer uma macabra piada dessas, absolutamente de mau gosto.

            Encerro, apresentando a V. Exª... Está sentado ali, eu não sei onde é que ele está, o Marcelo Guimarães, nosso lar, capixaba, Senadora Ana Rita, esse jovem campeão do mundo, campeão do mundo de MMA, um dos wrestling mais importantes do Brasil e da nossa América Latina.

            Senadora, eu tirei esse menino da rua, fumando crack. Recebi um resto de pele e osso, de um pai sofrido, angustiado. Foi recuperado na minha instituição. Lá ele aprendeu os primeiros dias. Eu tenho orgulho de dizer que os primeiros socos que esse menino aprendeu foram comigo. E até hoje tenho a oportunidade de treiná-lo, em pé. É verdade que ele é faixa preta de Jiu-Jitsu. É faixa preta de Wrestling. E agora é um lutador do Ultimate Fighting americano. Na próxima semana, nós saberemos quem é o adversário dele numa luta nos Estados Unidos. Mas foi tirado do crack.

            Por isso eu digo à Presidente Dilma: tem jeito. Tem jeito se nós tivermos à disposição do que dizia a minha mãe, analfabeta profissional. Uma nordestina, baiana, minha mãe, D. Dadá, dizia: “Meu filho, a vida só tem um sentido, é quando a gente investe a vida da gente na vida dos outros”.

            E, como Marcelo, eu tenho muitos lá agora na nossa instituição me ouvindo, que saíram das ruas e que, certamente, são futuros campões. Mas, debaixo dos viadutos, nas capitais, nas pequenas cidades têm campeões de Wrestling, de boxe. Têm campeões de natação, de skate, de basquete, de futebol de areia. Campeões de voleibol. Mas campões que nunca o serão, que nunca subirão no pódio, porque já apodreceram pelo abandono daquilo que tínhamos que fazer antes, que é a prevenção.

            Dizer que vamos fazer um programa contra o crack é a maior idiotice. Digo ao Ministro da Saúde, com todo o carinho e respeito que tenho a ele: não é o Ministério da Saúde que vai resolver isso. Isso não é problema de saúde pública. Muito pelo contrário, é investimento em prevenção. É investimento na família, não é nem na escola, porque o drogado apavora o professor na escola, que não tem obrigação de educá-lo. Quem tem obrigação de educá-lo é pai e mãe.

            Mas o País, um país de bêbados, um país de fumantes, que acha que não são drogados. Tudo aqui é bebida alcoólica. Tudo aqui é nicotina e alcatrão. E o problema do Brasil é cocaína e crack. Mentira! O problema do Brasil é bebida alcoólica. Tudo é comemorado com bebida alcoólica. Eles celebram a bebida alcoólica como se fosse um deus, uma alegria de vida, para se comemorar pequenos e grandes feitos. Pode-se derramar uísque em todo lugar. E se comemora que o Brasil tem a melhor cachaça do mundo. Vá ao Sarah Kubitschek e veja o resultado da cachaça nos tetraplégicos, nos paraplégicos. Há que se celebrar uma coisa como essa? Isso me indigna.

            Agora é preciso que se façam investimentos na família. Resgatar valores de família. Porque com a prevenção...Isso é fruto de investimento de um pai, policial, mal remunerado, com os filhos sem mãe, fazendo bico, chorando, com os filhos envolvidos com droga, porque não podia ficar em casa; mas investiu, acreditou e, por último, me entregou o filho, porque não aguentava mais. E dizendo: “A última saída é largar você aqui”. Eu disse: larga ele comigo aqui, porque a missão é essa.

            Está aí o Marcelo Guimarães, que é um exemplo, campeão mundial. E o Brasil tem potencial para milhões de campeões como esse, que estão debaixo das pontes. Basta tão somente estender a mão e investir na família, porque só a prevenção fará minimizar esse problema.

            Obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/10/2011 - Página 40745