Discurso durante a 180ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à atitude do jornalista Rafinha Bastos, integrante do programa CQC. (como Líder)

Autor
Magno Malta (PR - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Críticas à atitude do jornalista Rafinha Bastos, integrante do programa CQC. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 06/10/2011 - Página 40602
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • REPUDIO, COMPORTAMENTO, DECLARAÇÃO, JORNALISTA, PROGRAMA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), RELAÇÃO, ABUSO, CRIANÇA.

            O SR. MAGNO MALTA (PR - ES. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente José Sarney, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, eu gostaria de chamar a atenção do Brasil, Senador Randolfe, daqueles que nos ouvem pelos meios de comunicação e nos veem pela televisão, os meios de comunicação desta Casa, os senhores, as senhoras que estão nas galerias sejam bem-vindos.

            Eu tenho muita coisa boa para comemorar, mas nem tudo é bom, Sr. Presidente. Assisti hoje, nesta Casa, à aprovação de um crédito para o meu Estado, o Estado do Espírito Santo, e esse projeto que beneficia tanto a micro e pequena empresa no Brasil. Ontem, houve o adiamento, Senador Lindbergh, da votação ou, quem sabe, não tenhamos o dissabor de votar esse veto concernente aos royalties. Queira Deus tenhamos tempo para informar ao País a verdade sobre os royalties, o que é royalty. Criaram uma confusão tão grande na cabeça da população brasileira, que acha que royalty e petróleo são a mesma coisa.

            Mas eu tenho muito dissabor também. Todas as vezes que eu venho a esta tribuna, Senador Pinheiro, para fazer algum registro que envolva criança, Senador Armando Monteiro, eu o faço de forma indignada. De forma indignada por que há que se ter sempre a indignação dos justos, Senador Suplicy. E essa eu tenho.

            Ninguém tem o direito, nem brincando, de fazer uma afronta a uma criança, ainda que seja de tenra idade, e é por isso que nós somos e lutamos contra o aborto. Nós sabemos que a vida começa no útero e uma criança no útero, com o coração batendo, em pleno funcionamento, alimentando-se pelo cordão umbilical, é uma vida e uma vida há que ser respeitada.

            Recebi muito estarrecido, ouvi estarrecido e li estarrecido, Sr. Presidente, e o Brasil também ficou estarrecido, com o que foi divulgado pelos meios de comunicação. A TV noticiou, assim como as rádios, os blogs e os jornais do Brasil.

            Com muita tristeza, venho a esta tribuna instado, provocado, cobrado Senador Suplicy, por milhões de brasileiros, milhões de brasileiros que aprenderam a nos ver fazer o enfrentamento e a defesa da criança no Brasil. Brasileiros estão cobrando de mim este pronunciamento, cobrando de mim, Senador Paim, uma postura diante desse quadro. V. Exª esteve comigo na CPI da Pedofilia, V. Exª me acompanhou ao longo desses três anos, V. Exª é parte dos resultados, e esses e-mails de hoje são parte de uma sociedade que aprendeu a se indignar, a se revoltar e revelar indignação por qualquer tipo de abuso, ainda que seja em forma de piada, contra uma criança. Falo do que ocorreu no programa CQC da Bandeirantes.

            Tenho o maior respeito pelo Marcelo Tas, rapaz muito versátil, capaz, um jornalista que, naquilo em que ele se meteu, em que entrou, nas oportunidades que lhe foram dadas, revela uma grande capacidade. Ele tem a minha admiração desde os tempos de TVE, TV Cultura, quando mostrava a sua capacidade de trabalhar com criança. Temos aquilo que é afeito, que tem um formato da natureza da gente e a gente gosta.

            Com todo o respeito que tenho ao programa CQC, é um formato de jornalistas inteligentes, de pessoas que tentam fazer humor diferenciado; não é um formato que me agrada, a mim de forma muito pessoal. Algumas vezes, fui entrevistado e penso que o tipo de entrevista que fazem, na verdade, tem a intenção de ridicularizar. Mas tenho respeito por esse jornalista e pelo formato que deu certo. Tenho que reconhecer que o Brasil gosta. E tenho que reconhecer também, como Presidente da CPI da Pedofilia, que, o Danilo, que hoje tem um programa sozinho, saiu, mas, na época, era um dos jornalistas do CQC, fez algumas matérias, Senador Lindbergh. O Danilo Gentili, tratando de pedofilia na Internet, fez algumas coisas muito importantes e sérias, porque o assunto é sério. Bati palmas daqui, e continuo batendo palmas.

            Mas estou estarrecido com a atitude e o comportamento do jornalista Rafinha, penso que é Rafinha Bastos, do CQC. E tenho razões para isso. O Brasil sabe que esse rapaz fez uma piada de mau gosto com uma mãe e com o seu filho, um bebê.

            Diante de uma imagem da cantora Wanessa Camargo - e não é porque é cantora; a reação viria da minha parte ou de qualquer outra pessoa, ainda que fosse anônima -, mãe de família, mulher - neste Brasil, convencionou-se desrespeitar a mulher -, eles dizem que ela está grávida, e ele faz um elogio sarcástico e diz: “Eu como ela e o bebê”.

            Comer o bebê?

            Uma piada de mau gosto, macabra, sinistra, não tem nenhum sentido. Hoje ninguém ousa fazer isso. As pessoas brincavam e diziam: “esse bebê é tão gostosinho, gordinho, que dá vontade de morder”; a mãe falava que dava vontade de comer, mas estava se referindo a um carinho.

            Mas ele disse: “Eu como a Wanessa e o bebê” - disse “o bebê”.

            Ora, o pai desse bebê é um jovem do meu Estado, Marcus Buaiz, de uma família tradicional que, ao longo da vida, mexeu com comunicação. Um rapaz que, embora sendo de uma família abastada, saiu para vencer sozinho fora do nosso Estado.

            O Marcus Buaiz é o pai dessa criança, e eu tenho dever com a criança, tenho obrigação com a mulher e com o Marcus Buaiz, que é do meu Estado.

            A Wanessa Camargo é filha de um amigo pessoal. Quando travei a minha amizade com o Zezé, Senador Lindbergh, as primeiras vezes que fui à casa dele, Senador Paim, eu o encontrei ensinando dever de casa para a Wanessa. Essa foi a prática desse sujeito, que acompanhei a vida inteira e de quem sou amigo pessoal.

            Tenho uma filha recém-casada, chama-se Carla, casada com um mineiro, Ulysses. Eu, sentado, assistindo TV, ouço alguém dizer uma expressão dessas, tão macabra, sobre a minha filha na tentativa de fazer humor? Qual é a intenção?

            Quero me solidarizar com você, Zezé, com a sua família, com a família Buaiz, com Marcus Buaiz, e quero repudiar a atitude desse jornalista.

            No Brasil, convencionou-se dizer que tudo de ruim que há neste País está na conta da polícia e dos políticos, faz-se o que quer com essas duas classes e fica por isso mesmo. É por isso que eles aprenderam a passar do limite, e as pessoas não reagem.

            Agora, quero me dirigir ao Ministério Público de São Paulo, quero me dirigir ao Procurador-Geral de São Paulo: é preciso que o jornalista explique a sua expressão.

            Quando se trata de uma criança, o que é comer um bebê? Isso é estupro de vulnerável! Sr. Procurador, isso é estupro de vulnerável! Sr. Promotor da Infância de São Paulo, isso é estupro de vulnerável! É preciso que se trate isso em delegacia especializada. Ainda que esse moço venha a público reconhecer o seu erro e pedir perdão, nunca vai justificar. E dizer que comer, morder seria canibalismo, um crime feio, mas bem menor do que ele disse, porque tem outra conotação.

            É preciso que o Promotor da Infância reaja, procurador!

            É preciso que o Promotor da Infância reaja, procurador!

            Aconselho a você, Marcus Buaiz, constituir advogado e ir às últimas conseqüências, porque, se a moda pega, o que é que nós vamos ouvir daqui a pouco?

            Quando quebrei o sigilo do Orkut no Brasil, sabe o que é que eu vi, Deputada Borghetti, sabe o que vi, Lucília, sua amiga e minha amiga também que visita esta Casa hoje? Vi pediatra abusando de criança com 30 dias de nascida; vi criança de um ano ser abusada no altar; vi pai e mãe estuprando criança de um ano. E é por isso que sou assaltado pela indignação dos justos.

            É preciso constituir advogado, Marcus Buaiz. trata-se da honra das pessoas.

            É preciso constituir advogado, Zezé.

            Hoje já li algumas notinhas dando outra conotação, que o rapaz foi tirado do ar por uma intervenção de Ronaldo Nazário, de Ronaldinho Fenômeno. Intervenção do Marcus Buaiz e, quem sabe, intervenção do Zezé.

            Ora, se o pai não tiver o sangue para reagir a uma expressão dessas, a uma brincadeira podre dessas, quem vai reagir? Se alguém que está sentindo dor não se cercar dos seus amigos... É como se o rapaz tivesse sido afastado a pedido dos poderosos. Espero que a direção da Bandeirantes o tenha afastado - e o próprio Marcelo Tas, por quem eu nutro o maior respeito do mundo pela capacidade desse jornalista - porque passou do limite, passou do limite. Ninguém vai provar... Estou aqui como Correio Braziliense, que publicou uma matéria desse tamanho, aliás o Brasil inteiro: “Rafinha com o sorriso amarelo”.

            Eu fico aqui pensando com os meus botões, e penso que esse deve ser o melhor comportamento. Imagino que esse moço esteja em casa - e assim que tem que ser - arrependido do que fez, do que falou.

            No Brasil, as pessoas se acostumaram a rir de tudo e qualquer piada que alguém faça com a honra dos outros. Nós, da classe política, que a imprensa criminalizou, e, com qualquer tipo de deboche - aliás, criminalizou tanto que, no Brasil, o político não tem que provar que é honesto, porque você tem que provar que é honesto todo dia, mas o político, no Brasil, tem que provar que é honesto todo dia e na Justiça -, você perde os seus direitos, você perde os seus direitos.

            Mais uma vez, chamo a atenção do Procurador-Geral de São Paulo, chamo a atenção do José Carlos Blat, do José Reinaldo, desses procuradores e promotores de São Paulo, acostumados a grandes lutas.

            Eu quero chamar a atenção do Francisco Cembranelli. Quem não se lembra do Cembranelli? Lembra o caso da pequena jogada pela janela? Lembra, Senador Paim? A pequena Nardoni, jogada pela janela? V. Exª não pode esquecer porque aquele tenente que estava lá no jardim, que foi ajudar a fazer a varredura, não foi fazer nada disso. Aquele filho de uma égua era pedófilo. Ele estava lá para olhar as partes íntimas daquela criança e, logo em seguida, nós o pegamos. E ele deu um tiro na cabeça, suicidou-se. Já foi tarde, esse desgraçado!

            Eu quero dizer ao Brasil, quero dizer àqueles que me ouvem, que a minha indignação será permanente.

            Senador Lindbergh, eu tenho assistido a V. Exª desde que esta legislatura começou. V. Exª tem uma filha especial. Todas as vezes em que pego seu telefone, por ser seu amigo, eu o abro. Não quero mexer com a emoção de V. Exª. Mas V. Exª só fala dessa filha. V. Exª tem sido o maior militante desta Casa na causa dos pequenos que nasceram especiais, porque realmente são especiais. E todas as vezes que eu olho as fotos de sua filha, aquela gracinha, eu me lembro do meu sobrinho Guigui, também especial.

            Senador Lindbergh, qualquer violência contra a criança, ainda que seja verbal; qualquer deboche, ainda que seja verbal, contra uma criança de tenra idade ou não, não há que se admitir qualquer tipo de deboche por uma criança, Senador, de cinco anos, seis anos, de dez anos, porque nasceu estrábica, porque tem um problema no dedinho ou na perninha... Ninguém há de admitir violência sexual contra a criança. É por isso que estou aqui hoje nesta tribuna.

            Tenho uma filha de 10 anos de idade. Minhas filhas já tiveram nove meses e também já tiveram um dia, dois meses, três meses - já estiveram no útero. Eu já vi - a mídia noticia - matérias especiais de mulheres que entram em depressão porque, no sexto mês, no sétimo mês de gravidez, perderam uma criança por uma hemorragia interna, um problema qualquer, um acidente. Elas choram não por que perderam, mas porque sangrou e foi necessário tirar restos podres de carne de um feto que foi vivente. Elas choram, sabe por que, Senador? É pelo sentimento de mãe, sentimento materno. Quando o pai chora por um feto é sentimento paterno; quando ele começa a pulsar no útero com um, dois, três meses é ser humano e tem vida.

            E não me venham dizer que vim a esta Casa fazer um drama; eu vim defender os direitos de um ser humano. Como pai de família, vim revelar a minha insatisfação, a minha indignação em nome de mim mesmo, em nome das minhas filhas e dos meus netos que virão, Senador Paim, porque, se nós nos calarmos diante dessas aberrações, daqui a pouco, teremos programas aconselhando e ensinando pai como abusar de filho em casa.

            Nós já tivemos a decisão do Supremo dizendo que a marcha da maconha é legal. Porque é direito, é direito de livre expressão, e eles podem se expressar. É direito a marcha da maconha. Também é direito para os pedófilos fazerem uma marcha de pedofilia. É direito à livre expressão. Livre expressão. Eles fazem os cartazes, levantam eles que: “Pai tem direito a abusar de filho. Abusem de suas crianças na escola. Qualquer homem tem o direito de abusar de uma criança”. E a polícia é obrigada a guardá-los, porque o Supremo disse que é direito à liberdade de expressão.

            Na hora em que você, Marcus Buaiz, entrar na Justiça... E entre, entre, para que o seu filho ao nascer não cresça sabendo que você foi um covarde e tome conhecimento um dia, porque o Dr. Google está aí para registrar tudo para a eternidade, que isso aconteceu e você não reagiu. O advogado dele dirá: “É direito, liberdade de expressão”. Até direito à liberdade de expressão tem limite, Senador Suplicy, tem limite.

            Portanto, receba, família Buaiz, do meu Estado, a minha solidariedade; receba, meu amigo Zezé, a minha solidariedade; receba, meu amigo Marcus Buaiz, pai desta criança - não é um feto; é uma criança -; Wanessa, que eu vi criança; Zilu; Brasil; crianças do Brasil, pais do Brasil, a minha indignada solidariedade.

            Nada contra a pessoa desse rapaz. Se reconhecer que cometeu um erro, quem sabe, com a inteligência e com a capacidade que tem, pegará esse limão e fará uma limonada, ensinando a outros que o mesmo erro não podem cometer.

            Mais uma vez, tirando o meu chapéu para a Rede Bandeirantes, tão bem dirigida, mandando um abraço àquele que eu entendo como a voz dos oprimidos, que se assentam no sofá e não têm como falar, José Luiz Datena, meu amigo pessoal, e ao Marcelo Tas, que comanda o programa e que é um sujeito absolutamente inteligente e lúcido.

            Ao Rafinha, meu lamento, e que Deus lhe dê melhores dias.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/10/2011 - Página 40602