Pronunciamento de Antonio Carlos Valadares em 17/10/2011
Discurso durante a 188ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Comemoração aos 94 anos de nascimento do Professor Afonso Pereira e o Dia do Professor.
- Autor
- Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
- Nome completo: Antonio Carlos Valadares
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Comemoração aos 94 anos de nascimento do Professor Afonso Pereira e o Dia do Professor.
- Publicação
- Publicação no DSF de 18/10/2011 - Página 41587
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM, DIA NACIONAL, PROFESSOR, HOMENAGEM POSTUMA, VIDA PUBLICA, PERSONAGEM ILUSTRE, ESTADO DA PARAIBA (PB), ESTADO DE SERGIPE (SE).
O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmo Sr. Presidente desta sessão, Senador Wilson Santiago, e primeiro signatário desta homenagem; Exmo Sr. Senador e companheiro Cristovam Buarque; Exmo Sr. Deputado Wilson Filho, Presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Profissionais do Magistério; familiares do homenageado, Professor Afonso Pereira, de saudosa memória; Sr. Vice-Presidente do Movimento Educacionista do Brasil, Tomaz Passamani; Sr. Professor Doutor e associado fundador do Centro Universitário de João Pessoa, José Lourenço Lopes; meus senhores e minhas senhoras convidadas, é com entusiasmo, alegria e esperança no futuro deste País que hoje ocupo esta tribuna em nome do PSB, Partido que lidero nesta Casa, para juntar-me às homenagens que o Senado presta ao Dia do Professor, celebrado em 15 de outubro, por iniciativa do Senador Wilson Santiago, que personificou esta homenagem na figura do Professor paraibano Afonso Pereira, lembrando os 94 anos do seu nascimento.
O Professor Afonso Pereira nasceu em 30 de outubro de 1917, em Bonito de Santa Fé, Paraíba, e faleceu no dia 8 de junho de 2008, em João Pessoa. Dedicou sua vida à concretização do ideal de que é preciso educar para libertar.
O Professor Afonso Pereira construiu escolas, universidades, realizou trabalhos em diversas áreas sociais e de cunho filantrópico, com objetivo de oferecer serviço à comunidade. Entre outras realizações, foi o idealizador, o intermediador da fundação Teatro do Estudante da Paraíba, cujo elenco era composto por seus alunos do Liceu paraibano.
Mas a homenagem de hoje é muito mais ampla. Além de fazer justiça a esse emérito Professor da Paraíba, imortalizado por suas obras sociais, por sua dedicação à educação, o Senado rende, hoje, também suas homenagens aos milhares e milhares de educadores brasileiros, anônimos, espalhados do Oiapoque ao Chuí, que enfrentam todas as dificuldades para desempenhar com afinco, dedicação e, acima de tudo, com amor a sua sagrada missão de educar nossas crianças, nossos jovens e nossos adultos. O Professor é um missionário da fé, da esperança, da justiça, da liberdade; afinal, sem educação, não se constrói um país livre, soberano, democrático e independente.
Não foi à toa que se escolheu o dia 15 de outubro para se comemorar o Dia do Professor. Quinze de outubro é o dia consagrado à educadora Santa Teresa de Ávila, e, no dia 15 de outubro de 1827, Pedro I, Imperador do Brasil, baixou um decreto imperial que criou o ensino elementar no Brasil. Pelo decreto, todas as cidades, vilas e lugarejos tinham que ter suas escolas de primeiras letras. Esse decreto falava de bastante coisa: descentralização do ensino, salário dos professores, matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender e até como os professores deveriam ser contratados. A ideia, inovadora e revolucionária, teria sido ótima, caso tivesse sido cumprida. Mas foi somente em 1947, 120 anos após o referido decreto, que ocorreu a primeira comemoração de um dia efetivamente dedicado ao professor.
Começou em São Paulo, em uma pequena escola, no número 1.520 da Rua Augusta, onde existia o Ginásio Caetano de Campos, conhecido como Caetaninho. O longo período letivo do segundo semestre ia de 1º de junho a 15 de dezembro, com apenas 10 dias de férias em todo esse período. Quatro professores tiveram a ideia de organizar um dia de parada para se evitar a estafa e também para o congraçamento e análise de rumos da educação para o restante do ano.
O Professor Salomão Becker sugeriu que o encontro se desse no dia 15 de outubro, data em que, na sua cidade natal, Piracicaba, professores e alunos traziam doces de casa para uma pequena confraternização. A sugestão foi aceita e a comemoração teve presença maciça - inclusive dos pais. O discurso do Professor Becker, além de ratificar a ideia de se manter na data um encontro anual, ficou famoso pela frase: “Professor é profissão. Educador é missão”. Repito: “Professor é profissão. Educador é missão”, frase do Professor Becker. Com a participação dos Professores Alfredo Gomes, Antônio Pereira e Claudino Busko, a ideia estava lançada.
A celebração se mostrou um sucesso, espalhou-se pela cidade e pelo País nos anos seguintes, até ser oficializada nacionalmente em um feriado escolar pelo Decreto Federal nº 52.682, de 14 de outubro de 1963.
Não se pode falar em educação sem citar os grandes educadores brasileiros, como Anísio Teixeira, Paulo Freire e tantos outros que fizeram de suas vidas um compromisso permanente com a educação.
Eu não posso deixar também, como sergipano, de prestar uma homenagem merecida aos professores do meu Estado, escolhendo para representá-los uma das maiores educadoras de Sergipe, quiçá do Brasil, Maria Thétis Nunes, que faleceu em 2009, aos 86 anos de idade, depois de ter trabalhado como professora e pesquisadora de forma ininterrupta durante os últimos 63 anos. Nesse período, a Professora Maria Thétis publicou mais de 20 livros, além de artigos e ensaios em revistas científicas.
Nascida no Município de Itabaiana, região do agreste do Estado de Sergipe, concluiu o seu curso de graduação na Bahia aos 22 anos de idade. Na sua estreia como intelectual, concorreu à cátedra de Geografia e História do Atheneu Sergipense, escola onde também tive a honra de ser professor de Física e de Matemática durante quatro anos.
A partir daí, trabalhou dando aulas e dirigindo o Atheneu Sergipense até a sua mudança para o Rio de Janeiro, como estagiária do Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o Iseb. Depois do Rio de Janeiro, trabalhou na Argentina, como Adida Cultural do Brasil na cidade de Rosário.
Ao retornar a Aracaju, voltou para o Atheneu e passou a atuar também na Faculdade Católica de Filosofia até a fundação da Universidade Federal de Sergipe, onde ingressou em 1968. O seu primeiro texto foi publicado em 1945. Depois, em 1962, pela primeira vez, ela se mostrou como historiadora da educação. O seu livro sobre o ensino secundário no Brasil teve a sua circulação proibida pelos militares em 1964. Em 1973, produziu o primeiro trabalho sobre a história de Sergipe. Em 1976, fez a sua primeira reflexão sobre os intelectuais, ao estudar Sílvio Romero e Manoel Bonfim, dois grandes intelectuais sergipanos que ilustraram as letras brasileiras. Em 1981, inventariou os documentos relativos ao Brasil existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, em Portugal. Em 1984, publicou a sua História da Educação em Sergipe. Em 1989, colocou em circulação o primeiro volume da história de Sergipe Colonial. Em 2008, foi homenageada pela Sociedade Brasileira de História da Educação, durante a realização, em Aracaju, do V Congresso Brasileiro de História da Educação.
Primeira mulher sergipana a ingressar em uma faculdade, a paixão sempre foi o elo que uniu Maria Thétis Nunes ao magistério. O auxílio aos colegas de classe na escola primária já apontava o talento que sempre a fez desejar ser professora. Enfrentando as dificuldades típicas de uma garota humilde vinda do interior, conseguiu tornar-se a primeira mulher sergipana a ingressar em uma faculdade - a Faculdade de Filosofia da Bahia, no curso de História.
O preconceito existente na década de 30 em relação à alfabetização de mulheres foi suprido pelo incentivo que recebia da família para se empenhar nos estudos.
Fundadora de faculdades, professora de renome, diretora de colégios e conselhos, foi mulher pioneira em vários segmentos, principalmente relacionados à educação.
Ao homenageá-la, homenageio todos os educadores sergipanos e brasileiros, convicto de que eles são as vigas mestras que sustentam a nossa sociedade e projetam um futuro radiante.
Mas a melhor forma de homenagearmos os professores brasileiros é intensificarmos políticas públicas para a melhoria, cada vez mais, da qualidade do ensino no Brasil, a valorização dos profissionais da educação, com melhores salários, capacitação profissional, melhores condições de trabalho, e ampliar o acesso das crianças, jovens e adultos aos diversos níveis de ensino. Esse foi o caminho traçado pelo governo do ex-Presidente Lula e que continua a ser trilhado pela Presidenta Dilma. A educação deve ser prioridade no desenvolvimento das tarefas e dos planos governamentais de qualquer país.
Cheguei depois da homenagem que fez o Senado e não sei se aqui foi cantado o Hino do Professor. Eu recebi de um professor sergipano esta mensagem, o Hino do Professor, de que vou fazer a leitura.
Dai-me, Senhor, o dom de ensinar,
Dai-me esta graça que vem do amor.
Mas, antes do ensinar, Senhor,
Dai-me o dom de aprender.
Aprender a ensinar
Aprender o amor de ensinar.
Que o meu ensinar seja simples, humano e alegre, como o amor.
De aprender sempre.
Que eu persevere mais no aprender do que no ensinar.
Que minha sabedoria ilumine e não apenas brilhe
Que o meu saber não domine ninguém, mas leve à verdade.
Que meus conhecimentos não produzam orgulho,
Mas cresçam e se abasteçam da humildade.
Que minhas palavras não firam e nem sejam dissimuladas,
Mas animem as faces de quem procura a luz.
Que a minha voz nunca assuste,
Mas seja a pregação da esperança.
Que eu aprenda que quem não me entende
Precisa ainda mais de mim,
E que nunca lhe destine a presunção de ser melhor.
Dai-me, Senhor, também a sabedoria do desaprender,
Para que eu possa trazer o novo, a esperança,
E não ser um perpetuador das desilusões.
Dai-me, Senhor, a sabedoria do aprender
Deixai-me ensinar para distribuir a sabedoria do amor.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.
Muito obrigado. (Palmas.)