Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem aos médicos, em especial aos do Estado do Roraima, pelo transcurso do Dia do Médico.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem aos médicos, em especial aos do Estado do Roraima, pelo transcurso do Dia do Médico.
Publicação
Publicação no DSF de 19/10/2011 - Página 42509
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, MEDICO, RELEVANCIA, CATEGORIA PROFISSIONAL, ESTADO DE RORAIMA (RR), IMPORTANCIA, MELHORIA, INVESTIMENTO, SAUDE, PAIS, NECESSIDADE, AJUSTE, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS).

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Marta Suplicy, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, como médico, para mim, é uma honra muito grande poder estar hoje na tribuna do Senado Federal para prestar homenagem a todos os colegas e a todas as colegas do Brasil todo, especialmente os do meu querido Estado de Roraima.

            Eu tive a felicidade de, como médico, ser o primeiro filho de Roraima a se formar em Medicina. Voltei para lá e exerci a minha profissão durante 14 anos ininterruptos, de maneira integral, porque éramos pouquíssimos médicos. Sequer dava para fazer uma escala de plantão para ter um médico por dia de plantão. E, embora eu fosse ginecologista-obstetra e cirurgião-geral, nós dizíamos lá - eu e os quatro colegas que trabalhávamos juntos - que fazíamos “tudologia”. Isto é, tratávamos, como se dizia na nossa linguagem, de mamando a caducando. E foi uma experiência muito fértil na minha vida.

            Lembro-me dos hospitais, Nossa Senhora de Fátima, que era da Diocese de Roraima; do Coronel Mota, do governo do então Território de Roraima; da maternidade, de todos os hospitais que existiam no interior, à época, um numa comunidade indígena na localidade do Taiano, e outro noutra comunidade indígena, na Vila Surumu - aliás, na época, não era comunidade indígena, mas que atendia prioritariamente os indígenas, que eram a grande maioria. 

            Tive também, embora até quebrando uma recomendação ética, a felicidade de ser o parteiro dos meus três filhos. Quer dizer, através da minha mulher e das minhas mãos, nós vimos vir ao mundo os nossos três filhos.

            Eu tenho muita felicidade e honra mesmo de ser médico. E foi por causa da Medicina que eu entrei na política, porque nós aprendemos, como médicos, a tratar do doente, da pessoa que sofre. O que é saúde? Todo mundo acha que é só não estar doente. Não. Conforme definição dada pela Organização Mundial de Saúde, saúde é um estado de bem-estar físico, psíquico e social. Portanto, até uma pessoa que está passando necessidade, que não tem dinheiro para comprar um alimento ou que não tem uma moradia não está sadia do ponto de vista social, e, consequentemente, tem outros problemas.

            Mas, eu quero falar também muito da preocupação que tenho, hoje, com a saúde no nosso País. Isso tem tudo a ver com o médico, em tese, mas, na verdade, os médicos são as grandes vítimas do Sistema Único de Saúde e dos próprios planos de saúde. Os planos de saúde, por exemplo, reajustaram, nos últimos anos, em mais de 400% o que o segurado paga para o plano de saúde e reajustaram, para os médicos, em menos de 40%. É aviltante saber que a consulta mais cara de um plano de saúde, por exemplo, é R$62,00 e o pagamento normal de uma consulta no plano de saúde é R$25,00. Imagine o SUS!

            Para nós, médicos, o mais importante não é a questão do dinheiro, embora nós não sejamos os sacerdotes, como muita gente diz. Nós somos seres humanos que temos família, mulher, filhos, temos que comprar livros, estar atualizados. Então, como qualquer profissional, precisamos ter um tratamento digno.

            Há poucos dias, aqui homenageamos os professores. Eu disse que o professor era o profissional, talvez, mais importante, porque era ele que formava os médicos, era ele que formava os advogados, era ele que formava os engenheiros, enfim, todos os profissionais saem das mãos de um professor. Mas, saúde e educação são irmãs siamesas.

            Alguém não pode aprender a ter uma boa saúde se não tiver educação. E ninguém consegue obter uma boa educação estando doente.

            Quero dizer que, se eu começasse de novo, eu ia ser médico novamente. Mas, hoje em dia, os jovens não sentem tanto entusiasmo para ser médicos, embora ainda seja a profissão mais procurada, porque sabem que hoje a profissão realmente foi aviltada. O médico trabalha em hospitais sucateados, com falta de equipamentos, com falta de material, recebendo um salário pequeno, tendo que ter às vezes dois, três tipos de empregos, dando plantão num hospital, correndo para operar em outro, para fazer um salário bom no final do mês. Isso realmente não é bom para o mais importante de todos que é o paciente.

            Ao homenagear a todos os colegas médicos e às colegas médicas, quero pedir ao Governo Federal, aos governos estaduais, aos governos municipais, aos donos dos planos de saúde que pensem que a saúde, exercida primeiramente pela medicina, não pode ser tratada como produto comercial ou como produto de uma mera estatística para efeito de demonstração de trabalho.

            Como país que quer ser rico, como país que quer ser grande, temos que investir mais na saúde. E quando falo em saúde, investir. E eu tenho dito muito: nós não precisamos de mais nenhum imposto para melhorar a saúde neste País. O que nós precisamos primeiro é de vergonha na cara por parte de quem administra o setor de saúde, tanto no setor público quanto na questão dos planos de saúde, porque o que existe muito é uma roubalheira enorme.

            A CGU, Controladoria-Geral da União, informou que só num órgão da saúde, a Funasa, nos últimos cinco anos, foram roubados R$500 milhões. No meu Estado, que é o menorzinho da Federação em termos de população, numa recente operação da Polícia Federal constatou-se o roubo de R$30 milhões, numa jogada de compra e venda falsa de medicamentos, de comprar medicamentos já vencendo para jogar fora. Enquanto isso, a população numa fila para ter atendimento, numa fila para fazer cirurgia.

            Aqui mesmo, no Distrito Federal, estou acompanhando uma pessoa de Roraima que está há várias semanas aqui para conseguir uma hospitalização para se operar de câncer.

            Então, é preciso realmente que nós façamos uma revisão no Sistema Único de Saúde. O SUS é, sim, um plano de saúde espetacular. Eu fui Constituinte, participei dessa elaboração da concepção do SUS. Ele é um plano que não é para ser extinto, agora, é um sistema que tem que ser aperfeiçoado e melhorado. Aí dizem: “Não, mas hospital público tudo é igual”. Não é não. Vejam aí a Rede Sarah Kubitscheck, é uma rede pública com uma forma de administração diferente, que valoriza o profissional, paga-o bem, exige-lhe dedicação exclusiva, e todo mundo lá é muito bem atendido, e lá não há roubo. Temos outras instituições também nesse nível, mas estou dando exemplo do Sarah para que possamos refletir neste Dia do Médico.

            Portanto, quero encerrar cumprimentando todos os médicos do Brasil, todas as médicas, especialmente os meus colegas e as minhas colegas de Roraima e dizer que tenho muito orgulho de ser médico. Espero que os jovens não percam o interesse de ser médicos, como hoje já se constata nas estatísticas que ninguém mais quer ser professor, porque o professor ganha pouco. Oito Estados não pagam o piso salarial de R$1.200,00. Então, não é possível um país que quer ser grande não investir na educação e na saúde.

            Parabéns, médicos e médicas do Brasil, especialmente de Roraima!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/10/2011 - Página 42509