Discurso durante a 196ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários acerca de matéria publicada pela revista Veja, em sua última edição, intitulada “A Vingança dos Corruptos”; e outro assunto.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. HOMENAGEM.:
  • Comentários acerca de matéria publicada pela revista Veja, em sua última edição, intitulada “A Vingança dos Corruptos”; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 28/10/2011 - Página 44766
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. HOMENAGEM.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), GESTÃO, MINISTERIO DO ESPORTE, RELAÇÃO, CORRUPÇÃO, AUSENCIA, PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSUNTO, DADOS, PREJUIZO, PAIS, CORRUPÇÃO, MINISTERIOS, EXCESSO, BUROCRACIA.
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, SERVIDOR PUBLICO CIVIL.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente, Senador Clésio Andrade, que preside esta sessão.

            Telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, Srªs e Srs. Senadores, mais um ministro do Governo Dilma caiu! Mas convenhamos: o Ministro do Esporte caiu tarde e deixou um tremendo estrago na imagem do Brasil perante a comunidade internacional.

            Não bastassem todos os arranhões causados pelo atraso das obras para a Copa, os puxadinhos de aeroportos e a falta de infraestrutura nas cidades-sedes, a Presidente da República cozinhou o Ministro até onde pôde. Agiu somente depois de o Supremo Tribunal Federal ter acolhido a denúncia contra o Ministro Orlando Silva.

            Fazendo um parêntese, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desde 2007 que nós sabemos que seríamos sede da Copa. A confirmação veio em 2009. Um planejamento, um projeto sequer foi colocado na prancheta! Isso é realmente um demérito. Enquanto as outras nações, com muito mais antecedência, as que serão sede da Copa do Mundo pós-2014, já estão se preparando, nós estamos parados!

            Srªs e Srs. Senadores, lamentamos dizer, mas, pelo andar da carruagem, esse não será o último escândalo de corrupção do atual Governo. Mas o que nos causa espécie é mais uma ação do Governo Federal.

            Eu penso o seguinte, Sr. Presidente: quando é premiado um ministério para um determinado partido, esse partido tem por obrigação zelar, levar equilíbrio, exatamente ter ponderação e retidão. Quando isso não acontece, simplesmente cai o ministro, e o prêmio do partido é que ele indique outra pessoa.

            É o que está acontecendo mais uma vez. Nada contra o Exmo ex- Deputado e agora Ministro de Esportes Aldo Rebelo. Tenho comigo uma pessoa ilibada, mas não é o prêmio que o seu partido merecia. Após essa lambança, devíamos ter apartado: “Os senhores não têm mais direito a nada”. Mas também não quero ser injusto. Quero ver as provas. Nós devemos ir até o fim. Não podemos... Ele tem que ser afastado, já foi, e agora nós vamos até o fim. A história não pode terminar aí. Se ele realmente não for culpado, a Nação brasileira, a imprensa tem que lhe fazer um pedido de desculpa e devolver-lhe o cargo, mas, se ele for culpado, nós temos que confiscar os seus bens e colocá-lo na cadeia! Isso, sim, é justiça, a meu ver.

            No Ministério do Esporte, dos Transportes e do Turismo e, com certeza, infelizmente em outros órgãos, esquemas de corrupção estão enraizados. Se não for feita uma verdadeira devassa para acabar de vez com a erva daninha da corrupção, as denúncias vão continuar, uma após a outra.

            Trocar ministros acalma os ânimos da opinião pública, mas não resolve o problema da corrupção no Governo da Presidente Dilma.

            Trata-se de um mal endêmico que se alastra desde o Governo do Presidente Lula. Herança maldita! Eta herança maldita!

            Sr. Presidente, eu acabo de chegar de São Paulo, onde vim de um debate na CNI com mais de quase dois mil empresários, dos diversos setores, inclusive também do setor que V. Exª preside. E a pergunta era sempre esta: “Quando nós vamos acabar com isso? Em que momento o Brasil vai reduzir os seus custos?” A corrupção traz um dano maior de todos, que é o lesa-pátria. E ficamos de mãos atadas, dizendo: “Olhe, nós torcemos para que a gente passe este País a limpo”. E eles dizem assim: “Senador, nós não podemos compactuar e continuar com isso; o custo Brasil é por demais, e ele está aí, está evidente; por quê?” Logo nós vamos ver, mais à frente, o quanto já foi desviado, segundo a imprensa.

            A esse respeito, gostaria de registrar em plenário a matéria publicada pela revista Veja, na última edição, sob o título A Vingança dos Corruptos. Trata-se de uma matéria, baseada em dados da Fiesp, que impressiona e deve servir de alerta para todos nós representantes políticos e, em particular, para o atual Governo.

            O quadro publicado na reportagem da revista demonstra os campeões de irregularidades:

            - nos Ministérios da Previdência e da Ciência e Tecnologia, os prejuízos estão na casa de mais de R$100 milhões;

            - no Ministério do Meio Ambiente, a cifra sobe para R$260 milhões;

            - nos Ministérios do Planejamento e no do Trabalho e Emprego, as irregularidades chegam a quase meio milhão;

            - no Ministério da Fazenda, são R$617 milhões;

            - no Ministério da Educação, R$700 milhões.

            Os campeões de irregularidades são o Ministério da Integração Nacional, com mais de R$1 bilhão em irregularidades, e o Ministério da Saúde, com mais de R$2 bilhões.

            A corrupção, de acordo com a revista, drena R$85 bilhões todos os anos.

            Sr. Presidente, não há quem aguente. Isso é custo Brasil! Isso é lesa-pátria! É o dinheiro suado do trabalhador e de todos aqueles que recolhem seus impostos!

            Essa quantia representa 2,3% de toda a riqueza produzida pelo País.

            Ao longo da última década, a corrupção chegou a R$720 bilhões, dos quais apenas uma parcela ínfima foi recuperada.

            A corrupção contamina as esferas municipais e estaduais e, como bem observam os jornalistas Otávio Cabral e Laura Diniz, reproduzindo um dito popular: "A cada enxadada, uma minhoca!"

            Os R$85 bilhões da corrupção, como já dissemos aqui em plenário, e a matéria da revista Veja confirma, seriam suficientes para concluir todas as obras para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016.

            Oitenta e cinco bilhões de reais que construiriam 28 mil escolas para 360 mil alunos, ou 33 mil unidades de pronto atendimento, ou ainda 1,5 milhão de casas populares.

            Oitenta e cinco bilhões de reais que poderiam erradicar a miséria do Brasil, que tanto a Presidente persegue, tirando 16 milhões de pessoas dessa condição, ou construindo 241 quilômetros de metrô, mais que o dobro existente no Rio e em São Paulo.

            Em grande parte, as raízes da corrupção, como observam os jornalistas da revista Veja, estão em instituições frágeis, hipertrofia do Estado, burocracia e impunidade.

            Diz Cláudio Abramo, diretor da Transparência Brasil:

O Governo Federal emprega 90 mil pessoas em cargos de confiança. Nos Estados Unidos, há 9.051. Na Grã-Bretanha, cerca de 300. Isso faz com que os servidores trabalhem para partidos, e não para o povo, prejudicando severamente a eficiência dos Estados.

            A probabilidade de um funcionário corrupto ser condenado é de menos de cinco por cento. A possibilidade de cumprir pena de prisão é de quase zero por cento.

            A máquina burocrática cresce mais que o PIB e asfixia a livre iniciativa.

            A corrupção se disfarça de desperdício e se reproduz nos labirintos da burocracia e nas insondáveis trilhas da selva tributária brasileira.

            Passamos da hora, Sr. Presidente, de rever o Estado Brasileiro, racionalizar o sistema tributário e acabar com o cabide de empregos em que se transformaram os órgãos públicos sistematicamente aparelhados pelo Governo.

            Este Estado, lento, paquidérmico e burocrático, consome 40% da riqueza nacional e não devolve em serviços um décimo dessa quantia.

            Srªs e Srs. Senadores, a personagem do justiceiro do filme "V" de Vingança, que tem sido o símbolo de diversas marchas contra a corrupção, não pode ser ignorada por nenhum de nós, representantes políticos do povo e dos Estados.

            São milhares de pessoas que têm tomado as ruas em diversas cidades do Brasil, num movimento cívico merecedor de respeito e atenção.

            Quando a classe média cresce, aumentam também o grau de cobrança e a consciência política dos eleitores, que já não suportam mais ver tanto dinheiro sendo desviado por desperdícios e corrupção.

            Há muito os brasileiros estão indignados com a corrupção. Há muito os brasileiros estão inconformados com a impunidade.

            É temerário, portanto, que o Governo da Presidente Dilma não demonstre muita preocupação para além da retórica.

            É temerário que a tal da faxina tenha sido colocada de lado e que o ex-Presidente Lula pareça desejar que se pegue leve com os corruptos. Aliás, já explicitou isso na imprensa.

            O Brasil precisa fazer uma reviravolta na história, ou as instituições poderão ser ultrapassadas pelos movimentos populares.

            O Parlamento precisa e deve agir com firmeza nesse contexto para cumprir o papel fiscalizador, tão caro à República e à democracia.

            Sr. Presidente, antes de encerrar, eu gostaria de parabenizar todos os servidores públicos pelo transcurso do seu dia. Essa é a homenagem que, desta Casa, nós devemos render a uma classe que nos presta um serviço inestimável. É uma classe também que depende de todas as diretrizes do Governo; uma classe a que devemos o maior respeito, a que devemos o nosso muito obrigado e que parabenizamos, mais uma vez, pelo transcurso do seu dia.

            Sr. Presidente, muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/10/2011 - Página 44766