Pronunciamento de Eduardo Suplicy em 01/11/2011
Discurso durante a 198ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Manifestação de solidariedade ao ex-Presidente Lula, acometido de câncer na laringe.
- Autor
- Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM, POLITICA SOCIAL.:
- Manifestação de solidariedade ao ex-Presidente Lula, acometido de câncer na laringe.
- Publicação
- Publicação no DSF de 02/11/2011 - Página 44957
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM, POLITICA SOCIAL.
- Indexação
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- HOMENAGEM, EXPECTATIVA, RECUPERAÇÃO, SAUDE, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, RELAÇÃO, DOENÇA GRAVE, TRATAMENTO, CANCER.
- COMENTARIO, ELOGIO, ATUAÇÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, RELAÇÃO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, REDUÇÃO, POBREZA, CRIAÇÃO, PROGRAMA, BOLSA FAMILIA, PAIS.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta, Vanessa Grazziotin, Srªs e Srs. Senadores, recebi, inicialmente com apreensão, a notícia veiculada pelas redes de televisão sobre a doença que acometeu o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, à medida que as informações foram chegando, dando conta de se tratar de uma moléstia localizada e curável com quimioterapia e radioterapia, passei a interpretar este momento vivido pelo Presidente Lula como apenas mais um obstáculo dentre os muitos que ele enfrentou e ultrapassou em sua vida de grandes exemplos de vitórias.
Lula é um vencedor e já está demonstrando, desde o primeiro momento em que teve a notícia, sua capacidade de luta e superação inigualáveis. Mais uma vez, com o carinho e a atenção de sua esposa Marisa Letícia e de seus filhos, com o apoio irrestrito de seus amigos - ontem mesmo recebeu, no Hospital Sírio-Libanês, onde fez a primeira sessão de quimioterapia, a visita da Presidenta Dilma Rousseff -, ele demonstrou que vai enfrentar e superar mais esse desafio, tendo ao seu lado o povo brasileiro irmanado em preces a Deus para o seu pronto restabelecimento.
No domingo, como tantos no Brasil, orei e acendi uma vela na Igreja São José, no altar de Nossa Senhora de Aparecida, para que o Presidente Lula possa logo superar essa doença e continuar a sua batalha por um Brasil melhor.
O Presidente Lula vivenciou em seu caminho dificuldades semelhantes às de grande parte do povo brasileiro, trazendo para sua vida política a sensibilidade e a identidade com as populações em situação de vulnerabilidade social.
Em 10 de fevereiro de 1980, o Presidente Lula presidiu a fundação, e tive a honra de lá participar com tantos outros companheiros, do Partido dos Trabalhadores, que representava a união de centenas de milhares de pessoas ligadas aos movimentos sindicais, comunidades eclesiais de base da igreja, grupos de esquerda e intelectuais, que nos empenhávamos para que o Brasil pudesse construir uma nação justa e democrática.
Em toda a sua trajetória, manteve sempre o compromisso firme com a democracia. Na Presidência da República, com alta popularidade, não aceitou ser ventiladas teses de mudanças constitucionais que permitissem sua permanência no poder. Indicou, para Procurador-Geral da República, o procurador mais votado pelos seus pares e disponibilizou meios em pessoal e material, fortalecendo a Polícia Federal, de modo que a instituição pudesse realizar, junto com outros órgãos, o combate à corrupção em nosso País.
A doença, obviamente, do Presidente Lula abalou o Brasil. Há uma tristeza e uma preocupação enorme de todos os brasileiros com aquele torneiro mecânico que saiu de Garanhuns, em um pau de arara, para não morrer de fome quando criança. Ele não pôde estudar e, no seu discurso de diplomação no Tribunal Superior Eleitoral, disse: “E eu, que, durante tantas vezes, fui acusado de não ter um diploma superior, ganho o meu primeiro diploma, o diploma de Presidente da República”. Todos vimos como ele chorava quando disse isso, e com ele todo o Brasil chorou. Seus dois mandatos foram os primeiros em que se deu, efetivamente, alimentação aos pobres, tirando 30 milhões de pessoas da fome e mudando a velocidade do crescimento de nosso País com isso. Por causa dele, hoje o mundo inteiro nos respeita como a sétima, em vez de ser a sexta, potência mundial.
Soubemos pela televisão, no domingo, que entre seus planos para 2011/2012 havia muitas viagens internacionais porque 50 universidades do mundo o haviam convidado para ser doutor honoris causa em seus quadros.
Alguns anos antes, o Fórum Econômico de Davos, em que estavam presentes os maiores chefes de Estado do mundo, considerou-o o estadista do ano. Isso nos estimula a uma reflexão sobre o saber acadêmico que, por ser convencional, levou todos os outros Presidentes deste País a tratarem, em primeiro lugar, das classes mais abastadas e, muitas vezes, a ignorarem a existência dos pobres. Mas Lula deu um banho em seus opositores laureados em mesas redondas porque o saber que ele tinha vinha do estômago e do coração. E o dos outros apenas da cabeça abstrata? Isso nos mostra que o verdadeiro saber é um saber que esta cabeça, assim abstrata aos valores humanos concretos...
Lula foi, cremos, o único intelectual orgânico, isto é, inteligência mais emoção, que nosso País teve na Presidência da República e que talvez o mundo inteiro tenha tido, nesta mesma situação. Esse saber leva à aversão as guerras e ao desejo conciliador das classes, antes em luta e agora podendo conviver num mundo que pode esperar ao menos uma luz no fim do túnel, após essa terrível crise econômica global, que tem mais probabilidades de piorar do que melhorar...
(Interrupção do som.)
(A Srª Presidente faz soar a campainha.)
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ...porque nasceu de cabeças dissociadas do coração, interessando-se apenas pelo dinheiro.
Talvez isso possa levar o mundo ao caos, mas a luz que Lula emite até hoje é um contraste impossível de ser ignorado.
Por tudo isso, pedimos que todos nós, brasileiros, nos unamos numa corrente de carinho e solidariedade profunda, pedindo que ele atravesse bem esse mal-estar e volte a ser o que sempre foi entre nós: um grande líder, alguém que soube pôr o coração acima da cabeça - e, por isso, nós o consideramos o precursor de um mundo muito mais humano.
Sabedor de que o Estado somente se fortalece se aliar a implantação de políticas públicas de desenvolvimento com políticas sociais que concretizem prestações positivas para os mais carentes, Lula sempre foi e é um defensor incondicional de ações concretas que visem à redução da pobreza, tendo estabelecido, como Presidente da República, políticas de combate à fome e de erradicação da miséria.
Em 8 de janeiro de 2004, sancionou a Lei nº 10.835, que institui a renda básica de cidadania em nosso País, num franco passo em direção à almejada igualdade de oportunidades para todos os brasileiros. Em 9 de janeiro daquele ano, sancionou a Lei nº 10.856/2004, que instituiu o Programa Bolsa Família, que é um passo na direção da renda básica de cidadania.
Passado o momento inicial de apreensão, no qual cabem os sentimentos de solidariedade e a torcida positiva de rápido restabelecimento, avalio que se trata de mais uma oportunidade para que o Presidente Lula exerça o seu exemplo de perseverança e coragem, que tem caracterizado sua existência como pessoa e como homem público.
Tão bonito foi o gesto da torcida de seu time de coração, o Corinthians, em dia inspirado de vitória e de ascensão à liderança no Campeonato Brasileiro, de estender uma larga faixa com o seu rosto, em meio ao Pacaembu lotado, domingo último, em que transmitiram toda a energia positiva ao líder maior.
Força, Lula! Todos nós estamos com você, alguém que soube pôr o coração acima da cabeça. Por isso, nós o consideramos o precursor de um mundo muito mais justo, com o Brasil se tornando um exemplo.
Lula, volte logo com toda a saúde, por favor, e, sobretudo, com a sua voz tão característica e tão importante para levar os brasileiros a vibrarem com a luz de seu caminho, de suas palavras.
Muito obrigado.