Discurso durante a 201ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro de pesquisa divulgada pela Confederação Nacional dos Municípios sobre o crescimento do crack no Brasil; e outros assuntos.

Autor
Acir Gurgacz (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RO)
Nome completo: Acir Marcos Gurgacz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA.:
  • Registro de pesquisa divulgada pela Confederação Nacional dos Municípios sobre o crescimento do crack no Brasil; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2011 - Página 45889
Assunto
Outros > DROGA.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, PESQUISA, CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA, MUNICIPIOS, RELAÇÃO, CRESCIMENTO, NUMERO, USUARIO, DROGA, PAIS, SOLICITAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MINISTERIO DA SAUDE (MS), CRIAÇÃO, SERVIÇO, TRATAMENTO, DEPENDENTE, DEPENDENCIA QUIMICA, NECESSIDADE, PROGRAMA, SEGURANÇA, FRONTEIRA, OBJETIVO, IMPEDIMENTO, ENTRADA, ARMA, ENTORPECENTE, BRASIL.

            O SR. ACIR GURGACZ (Bloco/PDT - RO. Para uma comunicação inadiável.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nesse domingo, o Brasil assistiu estarrecido à morte de um jornalista que foi baleado durante o cumprimento de seu dever. Também todos nós ficamos chocados ao nos confrontarmos com uma realidade de guerra ocorrendo dentro de nosso território. Vimos ruas ocupadas por narcotraficantes, policiais e jornalistas encurralados no meio do fogo cruzado, impossibilitados de caminhar sem o risco de morte à sua espreita. Tudo isso ocorre porque o narcotráfico se espalhou como uma praga em todo o País. Armados até os dentes, eles enfrentam a polícia, matam jornalistas e debocham da sociedade exatamente por um único motivo: para manter seu lucrativo negócio de milhões e milhões de reais. E esse rentável mercado de drogas somente existe porque há demanda, porque há compradores, porque existe um consumo crescente no País.

           Hoje, nesta segunda-feira, o Brasil, além de acompanhar o sepultamento do cinegrafista Gelson Domingos, de 46 anos, toma conhecimento também dos dados de uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) revelando o crescimento do mercado do crack no nosso País.

           O novo estudo feito a partir de pesquisa com mais de 4,4 mil Municípios, que foi apresentado na tarde de hoje na Câmara dos Deputados, indica que 63,7% enfrentam problemas na área da Saúde por causa da circulação da droga. Na Segurança e na Assistência Social, esse percentual é de 58,5%. E 44,6% dos Municípios relataram problemas preocupantes por causa do crack e de outras drogas.

           A primeira pesquisa da CNM mostrou que o crack já se havia espalhado pelo País, e 98% dos Municípios pesquisados confirmaram a presença da droga em sua região. A base de dados foi expandida por meio do Portal Observatório do Crack, e problemas comuns foram relatados, entre os quais está o aumento da violência, a falta de estrutura para atendimento de usuários e a quase unânime falta de recursos financeiros para aplicar em políticas de prevenção, de tratamento, de reinserção social e de combate ao tráfico.

           Gelson Domingos - que Deus o tenha e conforte a sua família! - une-se a Tim Lopes e a muitos outros jornalistas que morreram nas mãos do tráfico e do crime organizado, que, no final das contas, são a mesma coisa. Ouso dizer que essas e muitas outras pessoas morreram, porque há gente que consome drogas e coloca, com seu dinheiro, armas nas mãos dos narcotraficantes.

           Esse armamento, Srªs e Srs. Senadores, não existe apenas para enfrentar policiais, mas também para alimentar as guerras entre quadrilhas e as conquistas de boca de fumo e para achacar e intimidar os próprios consumidores, sem falar na população civil, que se vê encurralada no meio dos incontáveis tiroteios e chacinas que vêm sendo promovidos por todo o País pelo narcotráfico.

            Não vamos nos iludir, amigos de Rondônia e de todo o Brasil, que essa é uma realidade apenas do Rio de Janeiro e de São Paulo. O tráfico mata por todos os cantos do País e, se não mata por bala, mata através da própria droga.

            Dados da pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios revelam que 30% dos usuários de crack morrem em função do uso da droga em poucos meses. E, dos que conseguem entrar em algum tipo de tratamento, muitos acabam voltando a usar o crack e acabam morrendo de qualquer maneira.

            Os criminosos, homens e mulheres que produzem o crack com esse potencial devastador de envenenar a nossa juventude, são os mesmos que apertam os gatilhos de seus fuzis automáticos contra a nossa sociedade.

            Já assomei à tribuna do plenário do Senado Federal para pedir que o Ministério da Saúde criasse condições de oferecer tratamento compulsório para os dependentes químicos, para pedir que o Governo Federal ampliasse o número de Centros de Atendimento Psicossocial (CAPs) pelo Brasil, em cidades pequenas, com menos de 50 mil habitantes. Também já solicitamos que o programa de segurança na fronteira fosse implementado, ampliado e melhorado, para podermos impedir a entrada de armas e de drogas em nosso País, e virei aqui quantas vezes for necessário para cobrar isso do Governo, como também para cobrar da nossa sociedade que pare de entregar dinheiro aos traficantes.

            Solicitamos encarecidamente aos nossos jovens e adultos de todo o Brasil que pensem duas vezes antes de comprar drogas.

            Organizações internacionais de combate às drogas já revelaram que a maior parte do consumo de drogas no Brasil é destinada a fins recreacionais, à diversão. Mas que diversão é essa, que fornece dinheiro para criminosos matarem nossos filhos, matarem pais de família, espalharem terror pelo Brasil? Que diversão é essa?

            Não é apenas o consumo do crack que se expande. Várias outras drogas estão tomando conta da sociedade e alimentando o crime organizado. E esses bandidos vêm aumentando seu poder não somente usando armas, mas também se disseminando no meio da sociedade como um todo.

            No mesmo dia em que o cinegrafista Gelson Domingos foi morto com tiros de fuzil, estudantes ocupavam a Universidade de São Paulo (USP), pedindo liberdade para fumar maconha nas suas instalações. Essa não é uma realidade apenas na USP. Estudantes, infelizmente, só reconhecem a necessidade de policiamento depois que a presença desses mesmos traficantes, fornecedores de drogas de todos os tipos, não apenas de maconha, atraem toda a criminalidade para os seus corredores e estacionamentos.

            É disso que estamos aqui falando hoje, dessa hipocrisia da sociedade brasileira que consome drogas e, depois, chora quando um jornalista é morto com um tiro de fuzil.

            Todo brasileiro que viu as imagens da morte do cinegrafista assassinado por traficantes no Rio de Janeiro e que também viu as ruas da capital carioca tomadas como um cenário de guerra tem o dever de se decidir a dar um basta nessa situação. Não podemos mais fomentar o crime neste País.

            Eram essas as minhas palavras na tarde de hoje, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2011 - Página 45889