Discurso durante a 202ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a mobilidade urbana.

Autor
Marta Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Considerações sobre a mobilidade urbana.
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2011 - Página 46154
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • COMENTARIO, FALTA, TRANSPORTE URBANO, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO, PAIS, REGISTRO, ANUNCIO, GOVERNO FEDERAL, INVESTIMENTO PUBLICO, AREA.

            A SRª MARTA SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Prezado Senador Geovani Borges, Senadores e Senadoras presentes, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, hoje vou tratar de um tema que é a mobilidade urbana, uma questão que afeta a vida de todos os brasileiros, de norte a sul, que penam nesses ônibus, nesses engarrafamentos.

            É um assunto que considero de extrema importância e que precisa ter mais atenção das autoridades federais, estaduais e municipais, porque vivemos um forte crescimento econômico no Brasil, que permitiu às pessoas não só adquirirem veículos mas também arrumarem emprego, o que é extremamente positivo. Então, gente que ficava em casa agora está saindo para trabalhar.

            Fora isso, vamos sediar dois megaeventos, a Copa de 2014, e os Jogos Olímpicos de 2016, e será fundamental a mobilidade urbana nas capitais que foram escolhidas. Esses eventos vão colocar à prova a infraestrutura geral ofertada. Mas eu diria que o principal, fora o campo, é ter como chegar lá e que não seja de uma forma tão desagradável a ponto de a pessoa chegar ao campo nem querendo mais assistir ao jogo. Esses grandes centros como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus padecem seriamente, hoje, nessa questão da mobilidade.

            Com base na experiência que tive quando Prefeita de São Paulo, posso dizer que esse planejamento de políticas públicas, de investimento focado no transporte é a chave para melhorar e racionalizar o tempo de deslocamento das pessoas. Agora, tem que planejar, tem que ter coragem de fazer o enfrentamento em algumas questões. Às vezes, vai se abrir um corredor de ônibus em alguma região onde as pessoas não querem que seja aberto, porque vai atrapalhar o comércio, mas vai beneficiar a cidade inteira; às vezes é preciso fazer túnel em lugares nos quais metade da cidade acha que também vai atrapalhar, mas, depois de pronto, as pessoas veem que foi bom. Então, é preciso enfrentar máfias, como muitas vezes tive de fazer em São Paulo, usando colete à prova de bala. Mas isso tem de ser feito, nós não podemos mais cruzar os braços diante do que temos visto diariamente nas grandes metrópoles.

            A cidade de São Paulo, cidade onde moro, foi apontada recentemente como a capital com o pior índice de mobilidade urbana sustentável no País, Senador Suplicy - que também é da mesma cidade. O estudo chamado Mobilize 2011, recentemente divulgado, evidencia o que todo mundo que mora em grandes metrópoles, mas principalmente quem mora na cidade de São Paulo, já viveu: o privilégio para automóveis e motos em detrimento do transporte público, no qual foi feito pouquíssimo investimento.

            De acordo com a pesquisa, numa escala de zero a dez, a capital paulista recebeu a nota 2. Como é que pode? São Paulo tem o terceiro orçamento do Brasil, é a maior capital brasileira, e tem nota 2 em mobilidade urbana! É uma avaliação tão baixa que nos leva a pensar no que pode ter ocorrido.

            Eu não tenho nenhuma dúvida quanto ao que pode ter ocorrido: foi falta de planejamento e falta de investimento. E não é que seja ruim, é péssimo mesmo. Qualquer cidadão brasileiro que vá a São Paulo - e hoje a capital de São Paulo é extremamente procurada em função das possibilidades que oferece de cultura, compras, divertimento e lazer - padece. Daqui a pouco, vamos estar como algumas cidades do mundo - vou respeitá-las e não mencionar seus nomes -, que competem por um lugar pior até do que o de São Paulo. Mas não temos de nos comparar com essas cidades, temos que nos comparar com quem arrumou solução. Essa é a boa comparação.

            Lembro agora - isso foi uma inspiração para São Paulo - de ter tomado um ônibus em Washington cujo horário previsto era 18h53. Li aquilo, 18h53, e dei risada. Assim também é em Paris. O ônibus realmente passa às 18h53. Teria sido possível fazer isso em São Paulo? Teria, sim, sido possível fazer em São Paulo, como é possível fazer em qualquer grande cidade: com planejamento e com investimento.

            E o que acontece quando se faz isso? As pessoas deixam o carro em casa e vão de ônibus ou de metrô. Agora, com um metrô superlotado, que as pessoas têm medo de usar e só usam porque não têm alternativa, que para sem motivo, atrasa, em cujos vagões as pessoas não conseguem entrar; e ônibus superlotados, sujos, a ponto de, muitas vezes, as pessoas reclamarem, principalmente quem trabalha de branco - uma enfermeira não pode trabalhar. Ninguém vai usar uma roupa branca para entrar em um ônibus paulista, porque não vai dar para entrar; a roupa normal já sai toda suja. Fora que tem que ouvir, que tem que ser encostada, as mulheres reclamam. Realmente é um pesadelo o transporte lá.

            E isso tem solução. Não adianta dizer  que tem muito carro, como ouço falar. Claro que tem carro, mas a culpa não é dos carros. Os carros podem ficar em casa e serem utilizados no fim de semana ou para situações em que você tem que ir de carro mesmo. Fazer uma compra grande no supermercado você vai de carro. Agora, você vai trabalhar, o ideal é ir de ônibus. Agora, você vai de ônibus se a passagem for barata, e não a mais cara do Brasil, se você for sentadinho confortável, se o ônibus for pontual e frequente. Aí você vai de ônibus.

            Eu lembro quando se colocou um ônibus na Av. Rebouças, em São Paulo, que passava rapidinho naqueles túneis, o pessoal até gozava um pouco, dava tchau para os carros. E várias pessoas que trabalham no Incor e no Hospital das Clínicas deixavam o carro em casa porque estava muito mais simples ir de ônibus do que de carro.

            O SR. PRESIDENTE (Geovani Borges. Bloco/PMDB - AP) - Com toda vênia, Senadora Marta Suplicy, se V. Exª me permitir, queria registrar a presença ilustre da nossa Senadora e Governadora Roseana Sarney, do Estado do Maranhão.

            A SRª MARTA SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Prazer recebê-la ex-Senadora e atual Governadora do Maranhão, Roseana Sarney.

            O SR. PRESIDENTE (Geovani Borges. Bloco/PMDB - AP) - Está assegurada a palavra a V. Exª.

            A SRª MARTA SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Então, esse estudo de 2011 mostra que a ocupação no metrô e nos trens, nos horários de pico, chega a até nove passageiros por metro quadrado. Você que está nos assistindo em casa ou nos ouvindo no rádio imagina um metro quadrado e nove pessoas dentro desse metro quadrado. Esse é o transporte na cidade de São Paulo: os corredores de ônibus não funcionam direito; entra quem bem entende; a velocidade então cai sensivelmente; e as filas são gigantescas.

            Eu queria dizer que também reajustes que os ônibus sofreram em São Paulo são reajustes que não precisariam estar acontecendo. E uma situação que impactou diretamente no aumento de demanda pelos serviços de metrô e trem foi também o ajuste no ônibus, porque as pessoas querem economizar. Então, as que iam de ônibus passaram a usar o metrô e os trens, porque, na verdade, isso acaba sendo um círculo vicioso: quanto menor o número de pessoas que acaba usando o ônibus, e é lotado, mas também acaba diminuindo a frequência, ele passa também a não dar mais lucro, tem que aumentar a passagem.

            E eu lembro quando foi posta a catraca eletrônica em São Paulo, para fazer o bilhete único, os donos de empresas diziam: “Isso vai ser um desastre, nós não vamos ter gente, nós vamos perder a frequência.” E a gente dizia: não, vai aumentar porque se o ônibus for novo, pontual e regular, nós vamos ter mais gente. Isso ocorreu num período. Então, não precisava aumentar tanto na medida em que se tinha mais gente usando o transporte de ônibus.

            E hoje ninguém vai poder criminalizar alguém porque não está usando o ônibus. Não está mesmo! Porque um desastre desse jeito quem é que vai usar? 

            Agora, as soluções existem e os cidadãos esperam e merecem o empenho das autoridades. Eu gostei muito de ver que agora o Governo Federal anunciou investimento de R$30 bilhões em obras de mobilidade urbana. E o pacote vai incluir construção de metrô, corredor exclusivo para ônibus e veículos leves sobre trilhos.

            E este é realmente o caminho. Está certo esse investimento. Investir no transporte público, com mais corredores, mais terminais, estações de transferência, o que, certamente, possibilitaria uma maior agilidade e aumento do número de usuários no transporte público. E é isso que a população quer e espera que os que vão receber esse enorme investimento de R$13 bilhões realmente invistam, não pensando no dia seguinte, mas pensando também a longo prazo. Porque investimento em transporte público tem que ser planejado, tem que ter recurso, mas recurso sem um bom planejamento vai colocar no lugar errado, no momento errado.

            Era isso, Sr. Presidente. 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2011 - Página 46154