Pronunciamento de Lídice da Mata em 16/11/2011
Discurso durante a 207ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Destaque às comemorações pelo transcurso, no dia 20 do corrente, do Dia Nacional da Consciência Negra; e outros assuntos.
- Autor
- Lídice da Mata (PSB - Partido Socialista Brasileiro/BA)
- Nome completo: Lídice da Mata e Souza
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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DIREITOS HUMANOS.:
- Destaque às comemorações pelo transcurso, no dia 20 do corrente, do Dia Nacional da Consciência Negra; e outros assuntos.
- Publicação
- Publicação no DSF de 17/11/2011 - Página 47537
- Assunto
- Outros > DIREITOS HUMANOS.
- Indexação
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- REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, ENCONTRO, ANO INTERNACIONAL, NEGRO, ASCENDENTE, AMERICA, REALIZAÇÃO, MUNICIPIO, SALVADOR (BA), ESTADO DA BAHIA (BA), DEBATE, CRIAÇÃO, AÇÕES, MELHORAMENTO, DIREITO, GRUPO ETNICO.
A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco/PSB - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero iniciar parabenizando o Senador Waldemir Moka, eleito 2º Vice-Presidente desta Casa na tarde de hoje, praticamente por unanimidade, o que demonstra a sua capacidade de agregação e o reconhecimento do seu trabalho e companheirismo na Casa. Quero, portanto, mais uma vez, parabenizar o Senador Waldemir Moka.
Também na linha dos parabéns, Sr. Presidente, quero parabenizar o Senado, que hoje realizou o projeto Senado Mirim e destacar a Senadora mirim, a baiana Adriele Henrique Souza, do Colégio Estadual Helena Assis Suzarte, em Feira de Santana. Quero dar os parabéns a essa jovem que se destacou e recebeu o prêmio de melhor redação no nosso Estado com o título “Construindo o Brasil que queremos”, algo em torno disso, ou seja, em torno da ideia da construção de um novo Brasil, de um Brasil democrático e com justiça social.
Sr. Presidente, é com satisfação que registro que, na tarde desta quarta-feira, está sendo assinado o protocolo de intenções entre o Governo do Estado da Bahia e a JAC Motors para a implantação de uma unidade da montadora chinesa no Polo Industrial de Camaçari, a primeira no Brasil.
Parabenizo o Governador Jaques Wagner por essa importante conquista para o povo brasileiro e em especial para o Estado da Bahia.
A JAC Motors investirá R$1,350 bilhão na montagem dessa planta até o ano de 2014, quando a montadora iniciará suas operações no País, gerando 3,5 mil empregos diretos e outros dez mil indiretos, para produzir 100 mil carros por ano.
A planta da JAC Motors do Brasil ocupará uma área de cinco milhões de metros quadrados, espaço equivalente ao da Ford.
E é importante destacar que os efeitos da chegada da JAC Motors poderão ser notados ainda no primeiro trimestre do próximo ano, quando a empresa tem a expectativa de passar a importar os veículos destinados ao mercado nacional pela Bahia, primeiramente utilizando uma estrutura provisória e, posteriormente, pelo próprio terminal da Ford no porto de Aratu, em Candeias, que será ampliado com um investimento de R$100 milhões para atender as duas montadoras.
Quero saudar também, Sr. Presidente, esta semana damos início às comemorações do dia 20 de novembro, data em que, no Brasil inteiro, nós nos posicionamos, comemoramos e principalmente rememoramos a luta de Zumbi dos Palmares, o Dia da Consciência Negra.
Estaremos realizando aqui no Senado, dia 21, segunda-feira próxima, uma audiência pública proposta por mim e pelo Senador Paulo Paim.
Amanhã inicia-se, na cidade de Salvador, o Encontro Ibero-Americano do Ano Internacional dos Afrodescendentes, que tem o nome de Afro XXI. Inclusive, estarei viajando hoje à noite, Sr. Presidente, bem mais tarde, para me integrar, amanhã, à abertura desse encontro, na saudação e na hospitalidade que o povo da Bahia demonstrará àqueles que visitarão o nosso Estado, e o nosso País para analisar e refletir sobre a realidade da população negra nos países da América Latina e do Caribe, além de propor novas ações que assegurem os direitos dos povos afetados pelo racismo. Líderes da sociedade civil e de Governo, além de parlamentares de países ibero-americanos, participam da Afro XXI. Estão sendo esperados 12 Chefes de Estado, entre os quais a nossa Presidente Dilma Rousseff, que já confirmou sua presença.
Esse evento é extremamente importante, pois foi decidido pela ONU o estabelecimento desse marco, qual seja, de considerarmos 2011 o ano da população afrodescendente no mundo, e que se realiza na cidade do Salvador justamente no momento em que, na última segunda-feira, no mapa da população preta e parda do Brasil, com base nos indicativos do Censo de 2010, Salvador novamente registra-se como a cidade com maior número de negros do País, com 743,7 mil pessoas que se autorreconhecem negras. A capital baiana está na frente de São Paulo, com 736 mil, e a do Rio de Janeiro, com 724 mil.
Esses dados, embora sem maior novidade, porque todos reconhecem que a Bahia é o berço da "africanidade" brasileira, reforçam a relevância de estarmos realizando esse encontro na nossa cidade e no Estado da Bahia - Salvador é considerada a maior cidade negra fora da África.
Não por outra razão, recebemos também com muita alegria a abertura, no último domingo, no Centro Histórico de Salvador, do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira, instalado no prédio onde funcionou o antigo Tesouro do Estado, cedido pelo Governo da Bahia para abrigar esse importante Museu, que registra toda a história e a cultura do povo negro no nosso País.
Se no passado o prédio abrigou o Tesouro, hoje abriga outro tesouro talvez muito maior, mais significativo, que é um centro de referência da memória do povo negro, das nossas tradições religiosas e culturais, que serão guardadas naquele local, naquele lugar, naquele sítio tão precioso do ponto de vista histórico e da sua arquitetura para o povo baiano e para o Brasil.
Lá nós estaremos fazendo reconhecer os heróis anônimos, os negros ilustres na esfera das ciências, das letras, das artes, no campo do popular e do erudito.
Em Brasília, tive a oportunidade de participar também da abertura dessa exposição, que, na verdade, é parte, um acervo inicial do Museu, que foi aqui exposto no Museu Nacional, e fiz pronunciamento aqui também destacando esse momento especial.
O Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira registra, abrindo as suas portas, as de um museu que ainda está inconcluso, tanto do ponto de vista físico quanto do ponto de vista do seu acervo, mas que já tem e já apresenta um acervo de extrema importância para cultura nacional, os trabalhos de Octávio Araújo, Heitor dos Prazeres, Mestre Didi, Manoel Bonfim, Cláudio Roberto, Rubem Valentim, Sidney Amaral, Tiago Gualberto, Rosana Paulino, Ieda Maria dentre tantos outros nomes importantes da cultura afro-brasileira em nosso País.
O Museu, conforme define o seu Diretor Emanoel Araújo, tem como missão precípua à descentralização do estereótipo de imagens deturpadas e de expressões ambíguas sobre personagens e fatos históricos relativos ao negro, desconstrução de expressões que fazem pairar sobre os afrodescendentes obscuras lendas do imaginário perverso, que ainda hoje inspiram a que agem silenciosos sobre nossas cabeças como guilhotinas prestes a entrar em ação a cada vez que vislumbra alguma conquista que represente mudanças ou conhecimento da verdadeira contribuição do negro na cultura brasileira.
Estarei, na próxima semana, nesta sessão, fazendo o meu pronunciamento e, na oportunidade, falarei com maior destaque sobre a importância desse Museu Afro na cidade de Salvador, de sua importância para a Bahia, para a nossa cidade e para o Brasil em ter um centro de referência da cultura e da história da contribuição dos negros em nosso País.
Um Museu que reflita, como num espelho, o jovem negro, para que ele possa se reconhecer, reforçando a autoestima de uma população que apesar de majoritária é excluída e com a identidade estilhaçada, que busca na reconstrução da autoestima a força para vencer os obstáculos à sua inclusão numa sociedade, cujos fundamentos seus ancestrais nos legaram
São movimentações que se somam, estas, às movimentações de abrirem o Museu Nacional da Cultura Afrodescedentes na Bahia.
Com esse encontro internacional da população afrodescendentes em nosso Estado, essas duas ações se unem justamente às vésperas da comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra em nosso País.
Paralelamente a esse encontro de chefes de estado da América Latina e do Caribe, que discutirão e refletirão sobre a contribuição do negro na história ibero-americana, estaremos realizando um encontro de parlamentares negros ibero-americanos, que, certamente, trarão grande contribuição a esse nosso fazer político e à luta contra o racismo em nosso País, na América Latina, no Caribe e no mundo. Serão recebidos aqui no Brasil, no Estado da Bahia, na cidade de Salvador, para refletir sobre esse momento histórico para a população afrodescendente no mundo.
Eu falo da Bahia, mas não há um Estado deste País em que não esteja registrada, com muita força, a contribuição do trabalho do negro brasileiro, do trabalho escravo. Digo isso porque do Rio Grande do Sul ao Norte do nosso País, no Centro-Oeste e em todos os nossos Estados temos uma contribuição sem igual da participação do negro na nossa tradição cultural e econômica, portanto, uma extraordinária contribuição. Até na arquitetura está registrada a participação dos negros na nossa sociedade brasileira, nas diversas formas de organização da nossa sociedade.
Temos a obrigação de trazer a esta tribuna a representação do povo da Bahia que, de forma muito digna, tem buscado para si o reconhecimento. Somos um povo que não abdica da contribuição dos negros e nos consideramos uma sociedade negra, um povo negro. Queremos, portanto, cultivar as tradições culturais e religiosas desse povo que tanta contribuição deu - e continua a dar - para a formação da identidade do Brasil e precisa ter o seu reconhecimento, a sua participação, a sua inclusão nas oportunidades de emprego, saúde, educação e assistência social garantidos em nosso País.
Muito obrigada.