Discurso durante a 208ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração pelo transcurso, ontem, do Dia Mundial da Alimentação, criado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS.:
  • Comemoração pelo transcurso, ontem, do Dia Mundial da Alimentação, criado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
Aparteantes
Casildo Maldaner, Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2011 - Página 47654
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS.
Indexação
  • REGISTRO, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, ALIMENTAÇÃO, CRIAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA (FAO), NECESSIDADE, COMBATE, FOME, COMENTARIO, AUMENTO, PRODUÇÃO, PRODUTO ALIMENTAR BASICO, IMPORTANCIA, REALIZAÇÃO, REFORMA AGRARIA, OBJETIVO, DISTRIBUIÇÃO, ALIMENTOS.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, PROFESSOR, DIRETOR GERAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), ASSUNTO, SITUAÇÃO, FOME, REGISTRO, PROGRAMA DE GOVERNO, BRASIL, OBJETIVO, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, amanhã fará cinco anos da morte do extraordinário Senador Ramez Tebet. Há dois minutos, abracei sua filha, Vice-Governadora do Estado do Mato Grosso do Sul, a paixão do Tebet, que fez uma administração espetacular na sua cidade, a querida Três Lagoas, e que, hoje, é a grande Vice-Governadora daquele Estado.

            O Tebet foi uma das pessoas que mais me emocionou e que mais admiro na história deste Senado. Existem pessoas na vida que vêm para serem dignas, para serem corretas, para fazerem o bem.

            As passagens de Tebet por esta Casa foram da maior importância. Na hora de uma grande crise no governo federal, ele foi o homem encontrado para, no ministério, simbolizar a tranquilidade e o retorno do diálogo do governo com o nosso Partido, o PMDB. Lá ele estava fazendo uma grande administração, uma excepcional administração, mas aí estourou uma crise no Senado. Foi afastado o Presidente do Senado. “O que vai ser, o que não vai ser? Quem vai ser?”. Para unificar o Senado, para unir o Senado, para unir todos os partidos, só houve uma solução: Tebet, que estava fazendo uma administração excepcional no ministério, teve de voltar, para ser Presidente do Senado e restabelecer o respeito e a tranquilidade nesta Casa.

            Em Mato Grosso do Sul, ele representou um tipo de política que, até hoje, é lembrada com muito respeito. Promotor de carreira, Vice-Governador, Governador, Senador da República, ele era a simbiose do entendimento e do diálogo: primeiro, unificava o nosso Partido, o PMDB; segundo, trazia um sistema de tranquilidade e de respeito recíproco a todos os partidos daquele Estado. Lembro que os grandes projetos, os mais delicados e difíceis nesta Casa, eram entregues ao Tebet, que era o relator. E, quando das grandes dificuldades, dos problemas e dos dramas que vivemos no nosso Partido, ele era quem resolvia.

            Eu me lembro do carinho que ele tinha pela sua querida filha. Eu me lembro do orgulho que ele tinha, quando me dizia: “Pedro, ela é muito melhor que eu”. Ele me contava que, quando ela assumiu a prefeitura, ela encontrou algumas questões muito graves e muito complexas. Ela falou que queria tomar providências enérgicas, e ele disse: “Filha, vai com calma! Tu assumiste recentemente e vais ter muito tempo para demonstrar tua seriedade e tua competência. Se mexeres nessa casa de abelha de saída, não sei o que vai acontecer”. Ela fez o contrário do que ele tinha aconselhado: demitiu, estabeleceu o seu plano de ética e de seriedade. Tebet disse para ela: “Minha filha, para que tu me telefonaste e fizeste tudo diferente do que te falei?”. A Prefeita respondeu para o pai: “Pai, fiz o que tu querias que eu fizesse. Tenho certeza de que tu farias o que fiz. Tu querias que eu fizesse o que fiz”. O pai, com lágrimas nos olhos, confirmou: “É verdade, minha filha. Meus cumprimentos”. Essa atuação da Prefeita, da querida Vice-Governadora, marcou sua administração.

            Por isso, lembro que a Dilma, quando demitiu o chefe da Casa Civil, fez o que devia fazer. O primeiro ela o demitiu e deu a marca do seu Governo, o que Lula não fez, o que o Fernando Henrique também não fez.

            Eu me lembro da última vez que fomos ao Rio de Janeiro, ao casamento do atual Governador do Rio de Janeiro. A festa era no Copacabana, e ele e eu conversamos até o sol nascer. Ele contou sua história. Ele contou o amor, o carinho e o afeto que ele tinha pelo papai dele, como o meu patrício, vindo do Líbano, do qual ele tinha um orgulho extraordinário. Ele lembrava que a formação dele tinha nascido do pai e da mãe, da família, e aquilo ele levou ao longo da vida dele.

            Quando vejo uma pessoa como Tebet, fico a me perguntar: por que a imprensa está a dizer ou está a imaginar que a índole do político é a índole do mal? Por que acha a imprensa que o político não tem condição de fugir do pensamento de que o poder corrompe e de que o poder total corrompe totalmente?

            Essa rede de jovens defende o combate à corrupção. Muitos cientistas sociais estão interpretando que isso é bobagem, que isso vai contra a natureza, que com o tempo isso vai se apagar e vai ser esquecido, que isso vai esfriar, que nada vai acontecer. Acredita-se que, com o tempo, isso vai ser deturpado. E já mostram alguns exemplos de deturpação.

            A doença do Lula algumas redes sociais a debatem e acusam Lula de não ter se tratado pela previdência social. Aliás, isso é grosseiro, é ridículo! É um desrespeito ao Lula e ao País! Mas, então, as pessoas dizem que isso faz parte da natureza humana.

            Mostro que criaturas como Tebet nasceram para fazer o bem. Se o olharmos como procurador, veremos que ele seguiu uma linha; se o olharmos na cidade dele, veremos que ele seguiu a mesma linha; se o olharmos como Governador, como Vice-Governador, como Ministro de Estado ou como Presidente do Senado, veremos que era a mesma pessoa digna, correta, decente, que não usou um tostão do dinheiro público, a não ser aquilo a que ele tinha direito.

            O SR. PRESIDENTE (Anibal Diniz. Bloco/PT - AC) - Senador Pedro Simon, peço sua atenção, para prorrogarmos a sessão por mais uma hora. O senhor continua com a palavra.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Agradeço muito a V. Exª.

            Ramez Tebet teve a mesma vida em todos os cargos. Está aí um Ministro atrás do outro caindo por corrupção. Ele foi Ministro num Ministério que estava dando uma confusão enorme. Com ele, veio a seriedade total. Ele foi à Presidência do Senado quando houve uma confusão em que queriam cassar o Presidente do Senado. E ele assumiu a Presidência do Senado com uma seriedade irrepreensível. Esse foi o Tebet, Governador do seu Estado. Como Governador, seguiu uma linha inatacável. Esse foi o Tebet!

            Não, o poder não corrompe obrigatoriamente as pessoas! É claro que a gente tem de se cuidar com o poder.

            Vejo ali e felicito pela sua indicação à Vice-Presidência do Senado o homem que Tebet dizia que deveria vir para cá ou para o Governo do Estado. V. Exª, Moka, não imagina o carinho, o afeto e a amizade que Tebet tinha por V. Exª. Exatamente aquelas qualidades que a gente apontava nele ele apontava em V. Exª. E, diga-se de passagem, é o que todo mundo falou na Câmara em todos os tempos e é o que vejo agora, com muita alegria - não digo alegria grande, porque o motivo não é para tanto. Mas é com prazer que dou a palavra a V. Exª.

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco/PMDB - MS) - Senador Pedro Simon, quero, em nome da população do Mato Grosso do Sul, agradecer-lhe o pronunciamento que faz V. Exª. Amanhã fará cinco anos do falecimento do extraordinário homem público Ramez Tebet. Hoje, por coincidência, sua filha, a Vice-Governadora do Estado, Simone Tebet, está em Brasília, acompanhada do seu marido, Eduardo Rocha.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu a abracei há poucos instantes no plenário. Ela só não está aqui porque tem de pegar o avião para viajar.

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco/PMDB - MS) - Exatamente. Eu disse à Simone que, amanhã, os Senadores do Mato Grosso do Sul farão também um pronunciamento em homenagem a Ramez Tebet. Ao agradecer-lhe, quero também testemunhar a sua amizade. V. Exª foi a Três Lagoas, deu-nos a honra da sua presença. V. Exª tem uma autoridade moral neste País por sua trajetória e por sua história política. Quero aqui, ao render homenagem ao Senador Ramez Tebet, dizer que fui testemunha dessa amizade. O Ramez tinha por V. Exª realmente uma estima muito grande. Nós, do Mato Grosso do Sul, queremos dizer a V. Exª que, quando falamos do Ramez, sempre nos lembramos também do Senador Pedro Simon. Tenho a certeza de que o que V. Exª representa para o seu querido Rio Grande do Sul o Senador Ramez Tebet representa para nós no Mato Grosso do Sul. Parabéns pelo pronunciamento que V. Exª faz e pela lembrança, embora triste, dos cinco anos do falecimento do Senador Ramez Tebet. Mas temos a alegria de dizer que seus amigos não o esquecem, porque ele, realmente, está imortalizado na nossa memória e na memória de muitos brasileiros, em especial dos brasileiros do Mato Grosso do Sul. Muito obrigado, Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Agradeço demais o aparte a V. Exª. Tenho certeza de que ninguém melhor do que V. Exª poderia ocupar a cadeira de Tebet nesta Casa. Ninguém melhor que V. Exª poderia, nessa vacância que foi meio igual à do Tebet, ocupar a Vice-Presidência desta Casa. Muito provavelmente, daqui a um ano e meio, V. Exª vai ocupar a Presidência deixada por Tebet.

            Eu me impressiono muito com a família do Tebet: a Simone, a sua irmã médica, os seus irmãos, a querida viúva, Dona Fairte. Eu me lembro de que, num domingo, sua esposa e seu filho foram comigo à missa. Eu perguntei para o Tebet: “Vamos, Tebet?”. Ele disse: “Não, vão tranquilos, que fico aqui, rezando por vocês”.

            Eu era um amigo muito grande de Tebet. Para mim, é motivo de muita mágoa, de muita tristeza, nos meus 81 anos de idade, quase 82 anos, ver partirem pessoas como o Tebet, pessoas mais moças que eu, que podiam estar aqui, dando muito mais contribuição do que eu. Pessoas como Tebet, como Ulysses, como Teotônio e como Mário Covas não poderiam ter partido. Essas pessoas deram um marco na nossa vida, na nossa luta e na nossa caminhada. Com todo respeito e com todo carinho, digo que essas pessoas estão fazendo falta hoje. Estamos precisando que gente com essa marca nos dê o caminho e nos dê a orientação: para onde vamos, com que ideia, com que pensamento?

            Eu me lembro, como se fosse hoje, de todos nós reunidos, o PMDB e os outros partidos. A crise estava feita, o Presidente estava afastado, falavam numa explosão do Senado, e se olhavam os nomes que estavam aqui. Ninguém pensava em trazer um ministro para ocupar a Presidência. De repente, alguém falou: “Que tal o Tebet?”. E houve unanimidade por parte de todos os partidos, porque ele representava isso. A primeira coisa que ele representava naquela hora de crise ética e moral era a seriedade. Essa era a primeira coisa que ele representava! E isto foi o que ele fez: marcou sua passagem.

            Por isso, essa gente faz falta. Por isso, o dia de amanhã será um dia que devemos cultuar.

            Eu me lembro, meu querido Senador, que Tebet falou daquela tribuna. Fazia três dias que eu não o via, e eu lhe disse: “Tebet, como você está bem! Parece que veio de uma estação de águas”. E ele me respondeu: “Toda vez que faço uma transfusão de sangue, fico inteiro”. E falou daquela tribuna. Vale a pena ler o último discurso do Tebet. A rigor, ele estava se despedindo, mas com que bravura, com que firmeza e com que convicção ele falava a esta Casa, à sua família, ao seu Mato Grosso e ao Brasil! Deve ser muito bom a pessoa chegar à determinada altura da sua vida e, olhando para trás, dizer: “Fiz o que eu podia. Em todas as circunstâncias, boas ou ruins, em todas as posições, grandes, humildes, eu fiz o que eu podia”.

(Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - E ele o fez com grande dignidade.

            Quando vi sua filha Simone ali, eu me lembrei de quando andei por Três Lagoas, durante quase três horas - no carro, estava ela, seu marido e eu -, e ela mostrava as obras que estavam sendo feitas. Duvido de que, proporcionalmente, haja alguma cidade no Brasil com mais progresso que Três Lagoas. Lá está a maior fábrica de celulose da América. Lá a Petrobras faz uma montagem espetacular. Lá há um centro industrial de primeiríssima grandeza. E uma estrada de ferro levará Mato Grosso ao Porto de Santos.

            Digo: “Meu amigo Tebet, tua querida esposa; teus filhos, de modo especial a Simone; o teu representante nesta Casa, o Moka, que é igual a ti, mais jovem, graças a Deus, com muita saúde; e nós, teus amigos, estamos aqui te reverenciando. Obrigado pelo que tu foste. Obrigado pela tua história. Obrigado pelo que tu és. Obrigado, meu irmão. Nosso carinho fraterno até sempre!”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2011 - Página 47654