Discurso durante a 208ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

– Homenagem ao ex-Senador Ramez Tebet pelo transcurso, hoje, dos cinco anos de seu falecimento.

Autor
Antonio Russo (PR - Partido Liberal/MS)
Nome completo: Antonio Russo Netto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • – Homenagem ao ex-Senador Ramez Tebet pelo transcurso, hoje, dos cinco anos de seu falecimento.
Aparteantes
Casildo Maldaner.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2011 - Página 47751
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RAMEZ TEBET, EX SENADOR, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. ANTONIO RUSSO (PR - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr. Presidente duas vezes, é uma honra muito grande, como cidadão do Mato Grosso do Sul e em nome dos cidadãos de Mato Grosso do Sul, me dirigir ao senhor nesta posição de Presidente do Congresso neste instante, como 2º Vice-Presidente empossado ontem.

            Saiba que dentro da homenagem que vou ter a honra de realizar, o senhor junto com ele são as duas maiores expressões do Congresso Nacional que a história de Mato Grosso do Sul nos dá. É um orgulho muito grande para mim, um principiante político, tê-lo na Presidência do Senado.

            O SR. PRESIDENTE (Waldemir Moka - Bloco/PMDB - MS) - Muito obrigado, Senador.

            O SR. ANTONIO RUSSO (PR - MS) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, este pronunciamento é uma homenagem que faço não só a um amigo, mas também a um homem que engrandeceu esta Casa e o nosso País.

            A história, amigas e amigos Senadores presentes a esta sessão, faz-se no encontro do tempo com a memória. As homenagens que fazemos a todos aqueles que um dia marcaram as nossas vidas são formas que encontramos para dizer que a alma permanece viva e que somos aquilo que deixamos para as lembranças de nossos antepassados.

            Há exatamente cinco anos, em 17 de novembro de 2006, o Brasil perdia um grande homem público: Ramez Tebet.

            Ramez Tebet é uma das principais referências políticas de Mato Grosso do Sul. Sua biografia e sua trajetória permanecem vivas no coração de cada sul-mato-grossense. Suas ideias, palavras, atos e obras estão vivos na nossa história, garantindo a presença e a participação de Mato Grosso do Sul no processo de construção do nosso País.

            Nascido na cidade de Três Lagoas, Ramez Tebet construiu uma carreira digna, honesta, pontuada pelo respeito aos bens públicos e dedicada a servir a sociedade. Ele tinha política no sangue. Hábil, inteligente, administrador competente, desde muito cedo revelou-se um homem especial.

            Em 1954, aos 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro e ingressou no curso de Direito da Faculdade Nacional, quando se interessou pelas atividades políticas. Nas horas vagas, ia ao Palácio Tiradentes para ouvir os maiores tribunos que este País já conheceu: Afonso Arinos, Otávio Mangabeira, Carlos Lacerda e muitos outros. Foi dessa maneira que descobriu sua verdadeira vocação: liderar, comunicar e se dedicar aos interesses coletivos. Foi assim que, ainda estudante, foi eleito para presidir a Associação Mato-Grossense de Estudantes, o primeiro cargo representativo de sua vida.

            Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 1959. Entre os anos de 1961 e 1964, tornou-se promotor público. Nos anos seguintes, dividiu-se entre as atividades de advogado criminalista e professor.

            A atuação do jovem advogado no Tribunal do Júri era tão brilhante que o Fórum ficava repleto de populares que gostavam de assistir as suas defesas. Sua fama de grande orador ultrapassou fronteiras e, aos poucos, ganhou o Brasil.

            Defendendo os mais humildes, Ramez Tebet consagrou-se em pouco tempo como um dos maiores criminalistas da região Centro-Oeste.

            Ingressou na vida política ao se filiar ao MDB, Partido da resistência à ditadura. Elegeu-se Prefeito de Três Lagoas em 1974. Em pouco tempo, Ramez transformou a estrutura do Município, realizando obras importantes em toda a cidade.

            Ele foi responsável pela construção da rodoviária municipal e do ginásio de esportes local, deu início à modernização urbana da cidade, colocou seu Município numa posição estratégica, cujos frutos estão sendo colhidos hoje com o intenso processo de industrialização da região do bolsão sul-mato-grossense. Deixou o cargo de Prefeito para se tornar Secretário de Justiça do Estado.

            Em 1977, foi aprovada a lei que criou o Mato Grosso do Sul. Diante disso, nascia uma nova configuração política.

            No ano seguinte, Tebet tornou-se o Deputado Estadual mais votado no Estado que acabava de nascer. Em sua primeira legislatura estadual, exerceu a importante função de relator do texto que criou a primeira Constituição estadual.

            Com o fim do bipartidarismo, Ramez filiou-se ao PMDB. Logo na primeira eleição direta para governador, em 1982, foi candidato a vice na chapa vencedora de Wilson Barbosa Martins. Quando este se afastou para concorrer ao Senado, em março de 1986, Ramez assumiu o governo, permanecendo no cargo por um ano, até o dia 15 de março de 1987.

            Uma situação relatada no livro Simplesmente Tebet, biografia de autoria de Castilho Coaraci, deixa claros alguns aspectos da personalidade marcante do ex-Senador. Tenho o livro aqui, Casildo. Recomendo.

            Vítima de câncer, doença contra a qual lutou por vários anos, Ramez manteve-se inabalável, trabalhando muito, comandando e administrando o Estado. Neste período, Ramez foi submetido a várias sessões de quimioterapia e o seu cabelo caiu completamente. Algumas pessoas recomendaram que ele usasse uma peruca. Ele experimentou a primeira que lhe chegou às mãos e perguntou a Castilho qual era a impressão que causava. O assessor foi sincero e disse que ele poderia ser apelidado de "Sinhozinho Malta", personagem de Lima Duarte de uma famosa novela da TV Globo. Ramez, então, pensou um pouco e disse: "Temos que ser verdadeiros e enfrentar a vida de frente, sem nenhum artifício".

            Ele era assim. Tomava decisões rápidas e objetivas. E, com esta determinação, Ramez foi seguindo, enfrentando as adversidades. Nunca fez da doença um fardo e nunca permitiu que isso fosse usado para colocá-lo numa posição de vítima.

            Ramez tinha noções morais claras que o faziam separar com extrema sabedoria a vida pública da vida privada. Sua carreira, neste aspecto, foi um tributo à coerência.

            Senhoras e senhores, gostaria de destacar algumas das funções e missões desse notável político brasileiro.

            Entre 1987 e 1990, Ramez foi Superintendente da Sudeco.

            Em 1994, foi eleito Senador pela primeira vez. Com sua simplicidade, adaptou-se rapidamente à nova rotina parlamentar. Muitas vezes, era visto assoviando pelos corredores, mesmo tendo à frente tarefas difíceis de enfrentar, como a Presidência da CPI do Judiciário, a Presidência do Conselho de Ética e a relatoria do Sistema de Vigilância da Amazônia - Sivam.

            Ramez atuou nas Comissões de Assuntos Econômicos, de Relações Exteriores, de Fiscalização e Controle e de Constituição, Justiça e Cidadania, participou do processo de votações ligadas à modernização do País que se seguiram ao sucesso do Plano Real, foi a favor da abolição do monopólio estatal nas telecomunicações e na exploração de petróleo, também defendeu a abertura da navegação de cabotagem às embarcações estrangeiras e o fim das distinções entre empresas de capital nacional e estrangeiro, sendo favorável à emenda constitucional da reforma administrativa, aquela que inseriu o importante princípio da eficiência no Texto Constitucional. Além disso, em 1999, foi o relator geral do Orçamento no Senado e ainda se preocupou em tipificar abusos sexuais contra crianças e adolescentes como crimes hediondos.

            Em 2000, tornou-se Vice-Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado. Em junho de 2001, foi nomeado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso Ministro da Integração Nacional. Três meses depois, por imposição da política partidária e por sua imensa capacidade de articulação, Ramez Tebet deixou o Ministério para presidir o Congresso Nacional.

            Com sua tranqüilidade e forma de agir conciliadora, ele conseguiu devolver a paz e a harmonia ao Senado, em um de seus períodos políticos mais conturbados. Ramez ocupou a Presidência do Senado logo após o processo de cassação de um Senador e da renúncia de outros dois Senadores. Este foi um momento conturbado que testou Ramez de todas as formas, mas ele conseguiu superar a crise e criar um ambiente propositivo no Senado.

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco/PMDB - SC) - V. Exª me concederia um aparte, Senador Antonio Russo?

            O SR. ANTONIO RUSSO (PR - MS) - Perfeito.

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco/PMDB - SC) - Eu não poderia deixar de me associar, neste momento, à história que V. Exª relata desse eminente homem público não só do Mato Grosso do Sul, mas do Brasil, que é o Senador Ramez Tebet. Ramez Tebet não só foi amigo nosso, amigo de Santa Catarina. Quando viemos para cá, em 1995, assumimos juntos e começamos a formar uma amizade verdadeira naquela época que continuou por uns tempos. Ele ia a Santa Catarina não só como Ministro da Integração Nacional, não só como Senador, mas como amigo também. Havia essa convivência de família. Isso eu tenho marcado profundamente. Eu não poderia deixar de aproveitar este momento, Senador Antonio Russo, para externar isso. São cinco anos que ele cá não está, mas lá se encontra, acompanhando, sem dúvida alguma, esta sessão e a homenagem que V. Exª presta a ele, ainda mais num momento extraordinário em que é o Senador Moka, que acabou de ser eleito Vice-Presidente do Senado, que preside a sessão, justamente quando V. Exª está a homenagear esse homem público do Mato Grosso do Sul. Eu não poderia deixar de prestigiar, em nome dos catarinenses, este momento tão extraordinário.

            O SR. ANTONIO RUSSO (PR - MS) - Muito obrigado, Senador Casildo. Sabedor de sua amizade com o Senador Ramez, muito antiga, agradeço em nome dele, que aqui permanece conosco, e em nome da família. Obrigado.

            Em seu discurso de posse, disse: "Meu desafio como Presidente será o de pacificar, tranquilizar e recuperar a dignidade e o respeito perante a opinião pública e colocar a pauta dos trabalhos em dia".

            Exerceu a Presidência do Senado entre setembro de 2001 e fevereiro de 2003. Em 1o de janeiro de 2003, deu posse a Luiz Inácio Lula da Silva no cargo de Presidente da República.

            Além disso, durante seu mandato, deu andamento a projetos que lhe eram caros, como o da tipificação do crime de tortura, por exemplo. Também já defendia o aumento da idade de aposentadoria compulsória dos servidores públicos de 70 para 75 anos.

            Nas eleições de 2002, foi reeleito para o Senado Federal com mais de 730 mil votos. Com isso tornou-se o político com a maior votação da história de Mato Grosso do Sul.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha).

            O SR. ANTONIO RUSSO (PR - MS) - Já termino, Presidente.

            Nesse segundo mandato, ocupou cargos importantes dentro da estrutura da Casa, sendo titular da Comissão de Constituição e Justiça e Presidente da Comissão de Assuntos Econômicos.

            Finalizo dizendo que, passados esses cinco anos, apesar de termos excelentes homens públicos no nosso Estado, podemos tranquilamente dizer que Ramez Tebet foi e será, em nossa memória, um dos nossos maiores líderes políticos.

            A ética era a sua premissa básica. Mesmo diante dos maiores desafios e dificuldades, ele nunca deixou de lado a dignidade, a correção e seus preceitos morais. Seu republicanismo era inabalável.

            Tive a honra de conviver com a Ramez Tebet. Pude, com muita tristeza, ao lado de sua filha Simone, despedir-me dele em seu leito de morte. Essa cena marcou-me profundamente.

            Deixo aqui meus especiais cumprimentos a Dona Fairte, sua companheira de todas as horas, e aos seus filhos queridos: Eduarda, Ramez, Rodrigo e nossa Vice-Governadora, Simone Tebet.

            Srs. Senadores, Ramez Tebet deixou um legado de respeito à coisa pública. Foi um exemplo para a política brasileira, um marco na história da construção do Estado de Mato Grosso do Sul.

            Que o seu espírito e o seu exemplo continuem a nos iluminar, ajudando-nos na construção do futuro deste grande País.

            Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2011 - Página 47751