Discurso durante a 212ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à Infraero pela precariedade na infraestrutura e na prestação de serviços dos aeroportos brasileiros.

Autor
Ivo Cassol (PP - Progressistas/RO)
Nome completo: Ivo Narciso Cassol
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Críticas à Infraero pela precariedade na infraestrutura e na prestação de serviços dos aeroportos brasileiros.
Aparteantes
Casildo Maldaner, Clésio Andrade.
Publicação
Publicação no DSF de 23/11/2011 - Página 48223
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • CRITICA, INCOMPETENCIA, GESTÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE INFRAESTRUTURA AEROPORTUARIA (INFRAERO), COMENTARIO, DIFICULDADE, DEMORA, TRANSPORTE AEREO, BRASIL, ESTADOS, FRONTEIRA, COBRANÇA, DIRETORIA, EMPRESA ESTATAL, SOLUÇÃO, PROBLEMA.

            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado.

            Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, com alegria, mais uma vez, ocupo a tribuna desta Casa, hoje, para reviver um pouquinho do que nós, brasileiros, vivemos no dia a dia dos nossos aeroportos brasileiros.

            Eu vejo com tristeza o que está acontecendo. A cada dia e semana que passa, o número de passageiros aumenta. A infraestrutura era para ter sido dobrada, triplicada, pelo que vem pela frente, que é a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Infelizmente, estamos vendo os nossos aeroportos praticamente travados.

            Quero aqui aproveitar, nesta oportunidade, para fazer um convite ao Presidente da Infraero, Sr. Antonio Gustavo Matos do Vale; ao Diretor de Operações da Infraero, Sr. João Márcio Jordão; e ao Diretor Administrativo, Sr. José Antônio Eirado Neto, para que façam algumas viagens de avião comercial indo de Brasília para Rondônia.

            Sr. Antonio, Presidente da Infraero, aproveite e leve sua mãe, seu pai, seus filhos. De repente, o senhor vá ao Acre, ou de repente o senhor vá a Boa Vista, ou ao Amapá, aos Estados que fazem fronteira com outros países, para ver o que é sentir na pele chegar com uma hora de antecedência ao aeroporto e, sem atraso nenhum, esperar por mais duas horas, quase três horas dentro de um avião, sentado, com um entulhado em cima do outro.

            Ao mesmo tempo, Sr. Presidente, depois de chegar a Brasília, você, louco para descansar, tem que aguardar a tua mala, a tua bagagem, mais quase duas horas, por incompetência do Presidente da Infraero e de toda a sua diretoria; por falta de planejamento. Não é por falta de dinheiro, não, porque dinheiro a Infraero tem - e tem muito. Falta é gestão. Eu posso falar porque fui prefeito e fui governador. Falta gestão.

            E quero parabenizar a TV Record, que fez uma matéria esta semana, ontem, mostrando os aeroportos brasileiros, a lentidão, a morosidade, a falta de visão, a falta de ação, porque aquilo a que nós assistimos é uma reunião, para marcar outra reunião, planejar, para depois planejar, mas acontecer, de verdade, não acontece.

            Por isso eu faço este convite ao Presidente da Infraero, Sr. Antonio, ao Diretor de Operações, Sr. João Márcio: aproveitem e levem a família junto. Vão visitar meu Estado, Rondônia. Aproveitem, e, já que as mulheres muitas vezes gostam de levar um pouco mais na bagagem, levem um pouco mais, porque a bagagem não vem de mão. Despachem a bagagem para ver o sofrimento para chegar aqui!

            No domingo à noite, de Porto Velho para Brasília, eu cheguei aqui, Sr. Presidente, às 6h da manhã, já sem dormir no meio do caminho, por causa do fuso horário de duas horas. Cheguei aqui e fiquei mais de uma hora e meia aguardando as bagagens. Não é diferente do que acontece com os prefeitos; não é diferente do que acontece com nossos irmãos brasileiros que ocupam nossos aeroportos brasileiros.

            Aí a Infraero diz o seguinte: “Tem que passar as malas pelo raio x”. Mas pelo menos, Sr. Presidente, que tenham competência para botar raio x, porque nem isso eles colocam. Aqui, em Brasília, existe um raio x para atender toda a população. “Ah, têm dois!” Eu sei que há dois, mas um não funciona. Só há um funcionando.

            Que falta de respeito com a população! Que falta de respeito com os seus semelhantes!

            Por isso é que eu convido a diretoria da Infraero para levar a família junto. Em vez de vocês viajarem para o exterior, viajem pelo Brasil, nos Estados de faixa de fronteira. “Estou sendo duro”. Não estou, não, porque, quando cheguei ontem de manhã, como aconteceu esses dias, como tem acontecido toda noite, por mais que vocês queiram fiscalizar as malas, até que eu concordo, mas a Infraero tem dinheiro para colocar raio x lá em Porto Velho, para colocar em Rio Branco, para colocar em Cuiabá, para colocar em Campo Grande, para colocar em todos os Estados da Federação brasileira.

            E aí, nossa Presidente, veja ao que nós assistimos! Chega-se aqui, não bastam quatro, cinco horas no meio do caminho para poder chegar ao trabalho e ainda tem que esperar, por causa da má vontade, da falta de visão, da falta de competência de toda a diretoria. Nós não podemos aceitar isso, não. É inadmissível.

            Vou avisar ao Presidente da Infraero: toda semana vou ocupar a tribuna desta Casa, se ele não tomar providências urgentes. Se não tem capacidade, não tem condições de botar estrutura, que não fique inventando moda. Se não tem condições de fiscalizar, que o faça por amostragem, como funcionou até esses dias. Pegue uma mala, por amostragem, pegue alguma bagagem por amostragem, mas coloque essa infraestrutura, planeje com competência para que nós não passemos os dissabores por que temos passado. Isso acaba dificultando muito o nosso trabalho; nós, que moramos distantes da Capital Federal. Para quem está aqui em Brasília é cômodo. Sempre digo que poucos problemas estão aqui. Na verdade, aqui estão as soluções.

            Olho do gabinete - no meu caso, no 16º andar - e, de um lado, vejo um lago bonito; do outro, tudo florido, as avenidas. Do outro lado, vejo o Banco Central, com certeza com dinheiro à vontade. Olho para o povo da Amazônia e vejo a dificuldade que temos para ter acesso a tudo isso.

            Então, não podemos comparar Brasília com o resto dos Estados da Federação, como se as demais capitais tivessem a estrutura que há aqui e que consegue atender à demanda da todo mundo.

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco/PMDB - SC) - V. Exª me concede um aparte, Senador Ivo Cassol?

            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO) - Com certeza, Senador Casildo Maldaner.

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco/PMDB - SC) - Apenas para corroborar e citar um exemplo típico. Não é o caso de Rondônia a Brasília. Há poucos dias, fui com um grupo de amigos de Foz do Iguaçu a Florianópolis. Saímos no domingo, no fim do dia, na mesma empresa. Chegamos via São Paulo, em Guarulhos, Guarulhos/Florianópolis. Chegamos a Guarulhos e nos informaram: “Olha, o avião fechou a porta. Não dá mais, não tem mais conexão. Não dá para viajar”. Dali a duas horas, uma hora e pouco, descobrimos, quando fomos pegar a bagagem, que a bagagem fez a conexão, na mesma empresa. Se fossem empresas diferentes, mas na mesma empresa! Foz do Iguaçu/Florianópolis com conexão em São Paulo. A mesma empresa fez a conexão das bagagens, mas das pessoas, não. Foi uma revolta dos amigos que estavam lá, das mulheres, das senhoras! Foi uma confusão danada! Só estou trazendo esse depoimento porque passamos por isso faz uns 15 dias. É isso. Só para relatar esse fato. Conexão das bagagens, e não das pessoas.

            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO) - As bagagens gastam muito mais tempo. Fica mais difícil, porque alguém tem de carregá-las. Já as pessoas conseguem se locomover. Portanto, não dá para aceitar.

            Portanto, nos nossos Estados que fazem parte da faixa de fronteira, a Infraero tem oportunidade de colocar os raios X, mas jamais fazer da maneira como está fazendo. De repente, o Presidente pode dizer que não tem conhecimento, mas não posso concordar. E o senhor terá oportunidade, Sr. Presidente, senhores diretores de operações e diretor administrativo, de fazer essas correções. Não deixar os nossos irmãos brasileiros sofrendo da maneira como estão.” Ah, mas não há recursos?” Há. A taxa de embarque é R$20,00.

            Eu vi no programa que a própria Record fez, só no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, são 80 mil pessoas por dia. Quantos milhões a Infraero arrecada por dia, por mês, por semana? Então, recursos há. O que está faltando é gestão, está faltando ter e não fazer de nós brasileiros cobaia para qualquer teste da falta de iniciativa, da falta da criatividade. Precisamos, sim, que se aplique este dinheiro, porque dinheiro em caixa não dá resultado para ninguém. Sem contar o que vem pela frente: Copa do Mundo, jogos olímpicos, aeroportos que na verdade não andam - parece o passo da tartaruga, do jabuti. E aí sou crítico, porque sou gestor, fui gestor, venho da iniciativa privada e tenho criatividade. E sempre digo o seguinte: nós podemos fazer, mas para poder fazer tem que ter vontade de fazer acontecer. E aqueles que não correspondem com o compromisso assumido, com certeza absoluta têm que ser substituídos. Está aí a oportunidade de nós, aqui nesta Casa, revermos na próxima vez quando vierem para cá certos nomes, que não conseguem sequer corresponder aos anseios da população brasileira.

            O Sr. Clésio Andrade (PR - MG) - Senador, V. Exª me permite um aparte?

            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO) - Pois não, Senador Clésio Andrade.

            O Sr. Clésio Andrade (PR - MG) - Senador Ivo Cassol, primeiro quero parabenizá-lo pela coragem de mostrar essas questões, nós que somos da base do Governo também temos que ter coragem de mostrar. Acho que a questão do transporte é grave no País todo, não só aeroportos, mas rodovias também. O Brasil precisa investir hoje quase R$400 bilhões em infraestrutura de transportes, sendo quase R$200 bilhões em rodovias, quase R$50 bilhões em aeroportos. E não precisa apenas reformar ou aumentar, fazer um puxadinho nos aeroportos, é necessário construir novos, ampliar, dar uma dimensão. E quando se vai para a área ferroviária é a mesma coisa, a quantidade de ferrovias no Brasil ainda é muito pequena para um país que está crescendo como o Brasil está crescendo. E não é muito se falarmos essas cifras. Estamos investindo em torno de R$15 bilhões, R$20 bilhões por ano pelo Ministério dos Transportes, e é muito pouco. Dos investimentos dos países do Brics, por exemplo, a China está investindo mais de 400 bilhões, 300 bilhões por ano; a Rússia, mais de 100 bilhões; a Índia, que é um país tão pobre quanto o nosso, está investindo 80 bilhões. Então, quando se fala nessas cifras o senhor tem razão, nós temos que denunciar. A questão dos aeroportos é mais grave, porque a Copa está aí.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Clésio Andrade (PR - MG) - Só para concluir. A Copa está aí e nós realmente precisamos completar não só a questão dos aeroportos, mas toda essa infraestrutura de transporte, até para o crescimento do País. Parabéns, Senador.

            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO) - Obrigado.

            Só para concluir, Srª Presidente.

            Afinal de contas, quem é o responsável? Aí, diz a Infraero, que são as empresas aéreas, conforme ela respondeu na matéria da Rede Record, veiculada no dia 3 de julho e reapresentada ontem em cadeia nacional. O que será que são as empresas aéreas, que culpam a Infraero e a Anac de vários problemas existentes?

            Então, portanto, têm oportunidade tanto a Infraero quanto a Anac de verificarem e consertarem. Mas a minha denúncia é, principalmente, contra a Infraero e não contra a Anac, para tomar medidas urgentes, penalizar as empresas que não têm compromisso e não cumprem com o que é estabelecido por lei, tirar o pé do chão e mostrar porque essas pessoas estão nesses cargos para poder atender à demanda nacional.

            Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/11/2011 - Página 48223