Discurso durante a 219ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca do projeto do novo Código Florestal Brasileiro, em tramitação no Senado Federal.

Autor
Blairo Maggi (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Blairo Borges Maggi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CODIGO FLORESTAL.:
  • Considerações acerca do projeto do novo Código Florestal Brasileiro, em tramitação no Senado Federal.
Aparteantes
Cyro Miranda.
Publicação
Publicação no DSF de 02/12/2011 - Página 51215
Assunto
Outros > CODIGO FLORESTAL.
Indexação
  • REGISTRO, ORADOR, CONVITE, PRODUTOR RURAL, ACOMPANHAMENTO, TELEVISÃO, SENADO, VOTAÇÃO, ALTERAÇÃO, CODIGO FLORESTAL, COMENTARIO, REFORMULAÇÃO, GARANTIA, ALIMENTAÇÃO, POPULAÇÃO.

            O SR. BLAIRO MAGGI (PR - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Moka, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, nesta tarde de quinta-feira, quando nós já estamos nos preparando e marcando posição para, passado o interstício, nossa votação do Código Florestal na terça-feira, ocupo esta tribuna para convidar os produtores rurais, todos aqueles que conhecem o problema que é a questão de conciliar o meio ambiente com a produção, para que, na terça-feira, a partir das 16h - a nossa sessão começa às 14h, mas a Ordem do Dia começa às 16h -, todos nós possamos acompanhar, pela TV Senado, pela Rádio Senado, a votação do Código Florestal, que entrará na pauta na terça-feira, no período da tarde.

            As discussões que faremos aqui serão importantes. Acho que os setores produtivos do Brasil inteiro que assistem à TV Senado... E não são poucos, Presidente Moka, pois todos os lugares por onde andamos no interior do Brasil têm uma antena parabólica pendurada. Em muitas casas, percebemos que não há uma única, são duas ou três, porque o marido quer ver futebol e a mulher quer ver novela, então, têm de ter canais diferentes, já que é um equipamento que ficou extremamente acessível a todos por este Brasil afora. Então, todos assistem à TV Senado. Acredito que será uma boa oportunidade para o produtor brasileiro, independentemente do seu tamanho, da sua qualificação, da sua dedicação, vai ser um momento interessante para que todos possam compreender um pouco o que é, quais as mudanças que estamos fazendo no Código Florestal, o que melhora para o setor produtivo, o que se fecha para o setor produtivo, quais são as responsabilidades de cada um dentro desse processo, porque nós não poderemos mais... Quando falo que nós não poderemos mais, estou incluído, porque também sou produtor rural, meu tataravô era agricultor, meu avô, meu bisavô eram agricultores, meu pai foi agricultor, eu sou agricultor, quero ver se faço do meu filho e dos meus netos agricultores também.

            Acho, Senador Moka, que não há nenhuma atividade, por mais importantes que as outras sejam, por mais importante que seja na economia, não vejo nenhuma delas tão importante quanto o homem ou a mulher que se dedicam à terra, não só ao amor pela terra que ele tem, mas a produzir alimentos, a gerar riqueza, a fazer com que o combustível da alma, que é o alimento, o combustível da vida, que é o alimento, chegue à mesa de todos com qualidade, chegue à mesa de todos com custo barato, e isso só se consegue fazendo uma agricultura moderna, uma agricultura dedicada.

            Então, vai ser um dia no qual todos nós, agricultores, poderemos observar as mudanças, como já disse, que foram feitas e que serão colocadas à apreciação de todas as Senadoras, de todos os Senadores nesta Casa. Nas comissões que frequentamos, para chegar até este momento, são 14 Senadores e Senadoras que fazem parte em cada comissão, os partidos estão ali representados, então, claro, temos, neste momento, um Código Florestal que foi discutido nas comissões, e foram três comissões importantes por onde ele passou: de Ciência e Tecnologia, de Agricultura e de Meio Ambiente e mais a outra comissão obrigatória, que é a Comissão de Justiça. Então, somos bem representados nas comissões. Cada lugar nessa comissão é um partido que indica um Senador ou uma Senadora para fazer parte dessa comissão.

            Traremos aqui, para o Plenário, na terça-feira, a síntese de tudo que foi discutido. Se colocarmos todos os papéis que o Senador Jorge e o Senador Luiz Henrique têm e as nossas presidências, passam de um metro de altura, com as sugestões, as discussões todas que foram feitas. Mas para cá virá o sumo dessa discussão, e todos os agricultores, pecuaristas, aqueles que mexem com manejo de florestas, que trabalham com florestas plantadas, enfim, todos que dependem da agricultura... E eu diria que todos nós dependemos. Porque, Senador Moka, muitas pessoas não entendem o que tem a ver cerveja com agricultura. Mas não existe cerveja ou um bom chope do final do dia, no happy hour, se não tivermos um agricultor por trás para fazer a cevada, para fazer o arroz, para fazer, enfim, o que é necessário.

            Nós não poderíamos também, no happy hour, tomar um uisquezinho para relaxar no final do dia se não tivéssemos o agricultor. Aqui no Brasil a gente não tem, mas esse agricultor está na Escócia, está na Inglaterra, onde se faz o malte para se tomar o uísque. Enfim, todos nós dependemos do dia a dia da agricultura.

            Então, na terça-feira, nós teremos um dia especial, em que todos os brasileiros conhecerão como serão as regras daí para frente. Como eu dizia, ninguém poderá alegar desconhecimento daqui para frente.

            Eu entendi que, nesse Código Florestal, nós corrigimos muitas coisas que foram feitas e ditas por não terem conhecimento. Tudo bem. Nós fizemos uma data de corte: 22 de julho de 2008. De lá para cá, não há mais como alegar qualquer desconhecimento, uma vez que, como eu já disse, a TV Senado está em todos os lugares, a Rádio Senado, os demais órgãos de comunicação. Todos sabem exatamente o que acontece nesta Casa, todos sabem o que acontece Brasil afora, todos têm a informação à disposição.

            Senador Moka, fui entrevistado aqui pela Rádio Senado, que está completando 15 anos agora, e eu dizia da importância que tem o setor da comunicação ao levar a informação, que é talvez uma das coisas mais importantes para o homem, para a liberdade do homem, para a evolução do homem, e aqui digo como gênero. Se você tem informação, você não é uma pessoa que não conhece as coisas. Não dá para alegar o desconhecimento.

            Portanto, nesse dia, nós estaremos aqui mais uma vez dizendo o que nós vamos fazer com a agricultura e com a pecuária.

            E gostaria, Senador Moka, de fazer uma homenagem aos produtores rurais, aos agricultores, aos pecuaristas, a todos os que vivem da terra. Eu estava em meu gabinete e vi quando V. Exª fez seu discurso. E eu já havia dito, hoje pela manhã, na Comissão de Agricultura, que nós não podemos aceitar mais os ataques que são feitos por alguns colegas aos agricultores deste Brasil.

            Eu já ouvi muitas vezes palavras chulas, palavras muito fortes que atingem a mim, ao meu pai, que já é falecido, ao meu avô, aos meus ascendentes e, tenho certeza, à maioria do povo brasileiro, a sua grande maioria ainda tem o pé na roça.

            É difícil, muito difícil, você conversar com uma família, por mais que more na cidade, que não tenha tido o avô ou talvez o bisavô que passou pela agricultura, passou pela roça, passou, enfim, pelas dificuldades do campo no dia a dia.

            Então, nós não podemos aceitar. A discussão é válida, é importante, nós somos políticos, estamos aqui, estamos discutindo, aceitamos as críticas, muitas vezes entendemos os momentos mais difíceis, o momento da empolgação, o momento da TV no rosto, alguma coisa assim. Nós até nos entendemos, mas não podemos mais permitir que ofendam pessoas que foram importantes para a construção deste País.

            Este País foi feito no cabo da enxada, este País foi feito no lombo do burro, este País, desde o seu descobrimento, teve a agricultura como a coisa mais importante da sua economia, e não deixará de ser. Por mais aviões que nós produzamos, por mais ciência e tecnologia que tenhamos pela frente - e vamos trabalhar para tê-la -, jamais a agricultura deixará de ser importante neste País, como não deixou na América do Norte. Os Estados Unidos da América do Norte são a maior economia do mundo, a maior economia militar, comercial, industrial e agrícola. E antes de ser as demais, ela foi agrícola. E o nosso País tem que passar por isso também.

            Então, aqueles que construíram este País, aqueles que entendem de onde nós viemos, que entendem para onde queremos ir não podem e não devem esculhambar, se posso dizer assim, xingar aqueles que construíram este País com tanta dificuldade.

            Quantas pessoas morreram pelo interior deste País promovendo o seu avanço, fazendo a agricultura, criando novas áreas de pecuária, criando novas áreas de agricultura, que foram vitimadas pela febre amarela, pela malária, pelas endemias que havia no interior deste Brasil? E não vamos longe. Aqui, ao redor da Capital federal, era assim, ao redor de São Paulo era assim. Lá, no interior do Paraná, onde nasci, onde eu vivi, eu tenho 55 anos, aquilo era uma única floresta, Senador Moka. Hoje o senhor vai lá, anda naquela região de São Miguel do Iguaçu, Foz, Medianeira, Matelândia, Céu Azul, Cascavel, em toda aquela região, parece que você está na Europa, de tão desenvolvida que ficou, com as vias asfaltadas, com as suas margens de rio preservadas, porque as pessoas têm muita responsabilidade nessa área.

            Então, nós somos assim. Nós somos um povo que saiu da roça agora, e não vamos, de forma alguma, macular aqueles que nos ajudaram no passado.

            Concedo a palavra ao meu querido amigo, Senador Cyro.

            O Sr. Cyro Miranda (Bloco/PSDB - GO) - Muito obrigado, Senador Blairo Maggi. Como fiz com o Senador Moka, quero parabenizá-lo pela sua postura. Venho também de um Estado, Goiás, Estado-irmão de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul, com vocação eminentemente agropecuária. Até parece que este País desconhece a capacidade que a agricultura tem de resolver os problemas brasileiros. Hoje, somos a mola propulsora deste País e não podemos ser tachados como criminosos. Quero me irmanar a todos os senhores, voltar o elogio para o que foi discutido nesta Casa exauridamente. Dificilmente se vê uma discussão assim, inclusive cedendo, fazendo dentro do possível, com equilíbrio. E agora vamos terminar com a pecha de que somos criminosos? Pelo amor de Deus! É para ficar revoltado! Estou enfileirado com V. Exªs nesse propósito. Podem ter certeza: nós não vamos deixar macular a imagem do agricultor na terça-feira, nem no ano que vem, e nunca! Muito obrigado, Senador.

            O SR. BLAIRO MAGGI (PR - MT) - Muito obrigado, Senador Cyro, pela sua interferência.

            Para finalizar, Sr. Presidente, eu gostaria de dizer que tivemos tanto cuidado ao construir este projeto que aqui está que agora, há menos de cinco minutos, eu estava sentado aqui com o Senador Aloysio Nunes, para ajustar com ele duas emendas em que divergimos fortemente quanto ao que ele acha, ao que eu acho e ao que o Senador Moka acha dessa matéria. Conversando com o Senador Aloysio, ele me disse: “Mas, Blairo, isso é assim, assim, assim”. Eu disse: “Mas o senhor está imputando uma responsabilidade a quem já não a tem”. Ele falou: “Quem sabe a gente pare já por aqui?”. Quer dizer, estamos aqui até o último instante, e teremos aqui emendas de supressão, de conserto de redação e coisa parecida. Estamos fazendo um projeto a oito mãos, não é nem a quatro mãos, Sr. Presidente, todos discutindo.

            Vamos sair daqui de cabeça erguida, como disse em meu último pronunciamento. Aqui não haverá o vencedor, não tem o vencedor agrícola, o ruralista, como chamam, não se trata daquele que defende o setor ambiental, os ambientalistas, como são chamados, aqui quem vai ganhar é o povo, quem vai ganhar é o País, porque teremos paz, tranquilidade e alimento na mesa.

            O Brasil não é um país, como muitos deste mundo afora, que não consegue sustentar seus filhos, que tem que comprar carne, feijão, arroz, que qualquer coisa que queira comer tem que importar. Nós importamos algumas coisas, mas importamos muito mais por relações comerciais que temos, a exemplo do trigo. Nós compramos muito trigo argentino, mas compramos porque a Argentina produz melhor que nós e a Argentina também precisa sobreviver. Mas, se fosse levar a sério mesmo e falar assim: “Não, nós não vamos importar mais trigo, nós vamos produzir trigo no Brasil”, o seu Estado, o Mato Grosso do Sul, seria um grande produtor; o meu Estado, com a irrigação nas altitudes acima de 700m, também o seria; e os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que tradicionalmente fazem isso, fariam milhões e milhões de toneladas para sustentar o povo brasileiro e também exportar.

            Então, Sr. Presidente, quero aqui, mais uma vez, convidar todos os nossos telespectadores e ouvintes para, na terça-feira, acompanhar os debates e ter uma compreensão exata do que o Senado está fazendo no Código Florestal para mandar para a Câmara, e a Câmara, depois, finalizar e encaminhar à Presidente Dilma Rousseff, que, tenho certeza, fará a mediação final e a sanção dessa lei.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, pela oportunidade de ficar aqui alguns minutos a mais que o normal.

            O SR. PRESIDENTE (Waldemir Moka. Bloco/PMDB - MS) - Agradeço ao Senador Blairo Maggi. Aliás, é importante que se diga: o Senador Blairo Maggi é um dos mais importantes produtores e é referência em produção - eu conheço a propriedade de S. Exª, que é referência. Aliás, é o primeiro exportador brasileiro, quiçá no mundo, a colocar a chamada soja totalmente rastreada, desde a sua origem até a entrega do produto.

            Parabéns a V. Exª.

            O SR. BLAIRO MAGGI (PR - MT) - Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/12/2011 - Página 51215