Discurso durante a 223ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre a estagnação econômica do País registrada neste terceiro trimestre, e sua relação com vários aspectos da vida social.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • Reflexão sobre a estagnação econômica do País registrada neste terceiro trimestre, e sua relação com vários aspectos da vida social.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2011 - Página 52360
Assunto
Outros > POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • COMENTARIO, RESULTADO, TRIMESTRE, FALTA, CRESCIMENTO, ECONOMIA NACIONAL, REFERENCIA, POSSIBILIDADE, DIFICULDADE, FUTURO, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, TECNOLOGIA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta Marta Suplicy, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, ontem foi comunicada a performance da economia brasileira no último trimestre. Ficou indicado zero de crescimento, ficou indicado que o Brasil, neste trimestre, não teve nenhum crescimento na sua economia, o que significa uma redução quando a gente leva em conta o aumento da população. Claro que esse não é o resultado do ano inteiro. No ano inteiro, ainda teremos uma taxa de crescimento provavelmente abaixo, embora perto de 3%.

            Esta tragédia que é uma economia sem crescer não seria trágica se, ao lado do não crescimento da produção, Senador, estivéssemos melhorando em outros aspectos da vida social. Se a gente pudesse dizer que a economia não cresceu, mas o número de acidentes de trânsito diminuiu, a criminalidade reduziu, a qualidade da escola melhorou, o tamanho das filas nos hospitais diminuiu. Se pudéssemos mostrar que, ao lado da crise na economia, tínhamos um bem-estar crescente, não era para se comemorar nem ficar triste com o fato da economia, porque a economia é um meio, a economia não é a finalidade do processo social.

            Precisamos que a economia seja dinâmica para que, criando renda, possamos comprar aquilo de que precisamos. Mas a parte pública dos bens oferecidos, como a paz no trânsito, como a redução da criminalidade, como a melhoria da escola pública, como um sistema de saúde que funcione, essa parte, sendo pública, não é refletida no PIB na sua totalidade.

            O problema é que a economia não cresceu e o social não melhorou como deveria. A melhora é pequena. Agora, além disso, o que preocupa é que esse primeiro sinal de uma economia que não cresce pode ser a indicação, um sinal amarelo de que a economia vai ter problemas.

            Faz alguns meses que eu fiz aqui um discurso sobre a economia estar bem, mas ela não vai bem, e listei uma quantidade de pontos que nós temos adiante, que ameaçam o bom funcionamento da economia. Eu fiz com que esse discurso fosse transformado em um pequeno texto, que está acessível para qualquer um que vá ao site www.cristovam.org.br, onde eu coloco que a economia está bem, mas ela não vai bem. Não vai bem, porque os gastos públicos continuam crescendo e se a gente reduzir os gastos públicos gera uma crise de demanda e, portanto, de crescimento. Não vai bem, porque nós sabemos que a taxa de inflação não está descontrolada, mas não está nos deixando tranquilos. Não vai bem a economia, a médio prazo, porque a nossa infraestrutura não está condizente para permitir um salto.

            A economia está bem, mas não vai bem, porque a educação não está dando o salto necessário e o apagão de mão de obra é a prova melhor de que a falta de educação levará a um freio na economia em algum momento no futuro. E, sobretudo, a economia não vai bem, porque nós não conseguimos ter a nossa sociedade como uma sociedade de inovação. Nós produzimos bens tradicionais, velhos. Mesmo quando a gente produz soja graças ao avanço científico e tecnológico da Embrapa, a soja é um produto tradicional. Essa tecnologia da Embrapa pode ser repetida, hoje, em qualquer país, como a China, provavelmente, vai fazer no território da África, e ela não precisará importar a nossa.

            O que garante demanda é o produto novo, é o tablet, e nós não temos os produtos novos. Nós compramos tudo que é intensivo em conhecimento científico, desde os remédios, desde os equipamentos médicos, desde os sistemas de telecomunicações, desde esses aparelhos todos que nós usamos.

            O único item que o Brasil tem de ponta na ciência e tecnologia são os aviões da Embraer, que representam apenas 1,3% das nossas exportações. O resto da nossa balança são produtos tradicionais: ferro, soja, açúcar, café...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - ...açúcar, café, carne, produtos que dependem dos outros quererem comprar, e não de a gente produzir para que eles sintam necessidade de comprar da gente. E aí está uma amarra fundamental, e nós não vemos as medidas corretas para enfrentá-la porque se fala em formação técnica. Não há mais como formar técnicos sem um bom ensino fundamental antes do ensino médio. Como não há como ter boas faculdades em quantidade se não tivermos bons ensinos médios de qualidade para todos.

            Nossa economia está bem, apesar do zero no crescimento deste trimestre, vai chegar perto de três ao longo do ano, mas ela não vai bem quando a gente olha o longo prazo. E, entre as coisas que faz com que a economia não vá bem, que eu listava já naquele discurso de meses atrás, está o excesso de otimismo. O excesso de otimismo é uma das causas mais sérias das crises econômicas no médio prazo. O pessimismo gera a crise no imediato, mas o otimismo gera a crise no médio e longo prazos.

            Vamos aproveitar essa taxa zero de crescimento para uma reflexão de duas formas: primeiro, como melhorar o bem-estar, mesmo que a economia não cresça? E, segundo, como limpar o terreno adiante, desbastando os obstáculos que nós temos, para que a economia brasileira não seja apenas grande, mas seja também boa? Que não seja apenas grande no que exporta, mas boa no tipo do que a gente exporta.

            Era isso, Srª Presidente, que eu queria falar como uma comunicação inadiável, lembrando: taxa de crescimento zero pode não ser nenhuma tragédia se o social melhora, mas pode ser uma coisa muito boa se leva a gente a perceber os problemas que temos adiante para vencer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2011 - Página 52360