O SR. CÍCERO LUCENA (Bloco/PSDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Srª Presidente Marta Suplicy.

            Obrigado, Senador Anibal Diniz.

            Eu gostaria de relatar um fato, Senador Jarbas: quando assumi a Prefeitura de João Pessoa, fiz uma visita ao Arcebispo da Paraíba naquela época, Dom Marcelo Pinto Carvalheira, que, inclusive, vai ser agraciado com a Ordem, com a Medalha Dom Helder Câmara. Ao chegar ali, ele me convidou para ir ao terraço da casa dele, perto da Basílica de João Pessoa, de onde se tinha uma visão belíssima do pôr do sol. Ao mesmo tempo, a pouco mais de um quilômetro da Basílica, havia um lixão, que era uma chaga social naquela oportunidade em nossa cidade, pois cerca de 300 famílias lá moravam. Senador Cássio, não sei se V. Exª se recorda disso, mas Dom Marcelo me disse: “Veja como é a vida, Cícero: enquanto um olho meu sorri com a beleza do Criador, ao ver a natureza e o pôr do sol, o outro chora com a chaga social que é o lixão do Roger”.

            Por que estou contando essa história? Porque, ontem à tarde, o Senador representante de Pernambuco e Líder Humberto Costa, daquela tribuna, relatava três fatos, sendo dois deles de alegria e um de tristeza. O Senador manifestou tristeza ao se solidarizar com aqueles que morreram num acidente entre Pernambuco e a Bahia, mas também manifestou alegria por ter participado de dois eventos no Estado de Pernambuco: um deles foi a conclusão de um complexo de abastecimento de água, e o outro foi o lançamento da contratação dos primeiros sete mil funcionários do polo automobilístico de Pernambuco da Fiat na cidade vizinha da Paraíba chamada Goiana.

            Sr. Presidente, permita-me dizer, parafraseando um pouco Dom Marcelo, que subo a esta tribuna para os dois olhos chorarem.

            Apresentei, juntamente com o Senador Cássio Cunha Lima, um requerimento relativo a outro acidente que houve na Paraíba nesse fim de semana. O Senador Cássio e eu apresentamos voto de pesar pelo falecimento das vítimas de um acidente ocorrido na noite do último domingo na BR-230 entre os Municípios de São Mamede e Patos, no sertão da Paraíba. O veículo fazia o trajeto João Pessoa/Patos. Foi uma tragédia que abalou a Paraíba, pois treze pessoas morreram no acidente, que envolveu quatro automóveis. A Polícia Rodoviária Federal confirmou que o veículo modelo van colidiu frontalmente com um caminhão carregado de madeira. O veículo ficou totalmente destruído, e, de todos os passageiros que seguiam viagem, apenas um adolescente de 16 anos foi socorrido com vida.

            Com pesar e em nome do povo paraibano é que apresento, ao lado do Senador Cássio, a nossa solidariedade, bem como solicitamos ao Senado Federal o envio de condolências aos familiares das vítimas.

            Estas são as vítimas do acidente, de acordo com informações dos Núcleos de Medicina e Odontologia Legal (Numol) de Patos e de Campina Grande: José Alves Torres, de 52 anos; Francisca Procópio da Silva, de 35 anos; Juan da Silva Araújo, de 12 anos; Kauê da Silva Araújo, de 7 anos; José de Arimatéia Simões de Melo, de 54 anos; Janete de Sousa Emiliano, de 50 anos; Terba Monteiro do Nascimento Diniz Teixeira, de 45 anos; Josefa Carício, de 48 anos; Maria do Socorro Lucena, de 50 anos; Vinícius Serrano Gurgel, de 16 anos; Maria das Neves de Oliveira, de 65 anos; Maria Lúcia de Freitas, de idade não divulgada; Niucélia Cardoso da Conceição, de 26 anos.

            Essa é a solicitação que, em nome da Paraíba, o Senador Cássio e eu fazemos com muito pesar.

            Então, esse é o olho meu que está chorando nesta tribuna. O outro lamenta profundamente que, nos tempos de hoje, estejamos reconstruindo o Muro de Berlim com muito interesse na desigualdade regional. Não se faz política regional com essa prática que foi anunciada pelo Governo de Pernambuco. Digo isso com todo o respeito, porque está no direito de lutar pelo desenvolvimento do seu Estado e dos seus conterrâneos. Mas isso é inadmissível. Goiana é mais próxima que muitas das doze cidades que vão fazer o recrutamento dos funcionários, em que haverá o treinamento dos funcionários. A renúncia fiscal é do Brasil - é de Pernambuco, mas é do Brasil -, e não vão poder contratar funcionários que estarão a quinze quilômetros da cidade de Goiana, porque eles têm de ser contratados em Pernambuco. E o pior é que o treinamento e a qualificação vão ser feitos por uma instituição que é nacional e que deveria ter a obrigação e o dever de treinar e qualificar a mão de obra de qualquer brasileiro.

            Então, esse é o choro do meu olho, com a tristeza de ver, de forma clara e nunca vista, que há discriminação. Lamento isso em nome dos paraibanos. Se não bastasse a luta que foi empreendida em nosso Estado para que a Paraíba tivesse um porto de águas profundas como obra estruturante para seu desenvolvimento, o atual Governador do Estado, filiado ao partido do Governador de Pernambuco, que é Presidente do partido, disse que a Paraíba não precisava de porto de águas profundas porque já tinha Suape. Em março deste ano, o Governador de Pernambuco anunciou um novo porto de águas profundas para o Estado de Pernambuco - pasmem! - na fronteira com a Paraíba.

            O sentimento que, hoje, norteia a Paraíba e os paraibanos se dá em torno de um processo de submissão e de omissão por parte do Governador atual do nosso Estado. Da mesma forma, comemorou a fábrica da Fiat porque esta era radicada em Pernambuco, e a Paraíba iria se beneficiar. O que vimos foi o primeiro gesto de contratação de sete mil funcionários, que terão de ser exclusivamente pernambucanos, para nossa tristeza, discriminando os paraibanos.

            Era o que eu tinha a dizer e a chorar nesta tribuna, Srª Presidente.

            Muito obrigado.