Discurso durante a 226ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com dados do relatório do Instituto Nacional de Câncer que registraram o aumento da doença em decorrência da má alimentação infantil.

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Preocupação com dados do relatório do Instituto Nacional de Câncer que registraram o aumento da doença em decorrência da má alimentação infantil.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 13/12/2011 - Página 53500
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • APRESENTAÇÃO, ORADOR, DADOS, RELATORIO, INSTITUTO NACIONAL DO CANCER, REGISTRO, CRESCIMENTO, DOENÇA, MOTIVO, DEFICIENCIA, ALIMENTAÇÃO, INFANCIA, COMENTARIO, PROPOSTA, OBRIGATORIEDADE, ESCOLA PUBLICA, ESCOLA PARTICULAR, CRIANÇA, PRODUTO AGRICOLA, FRUTA.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Ricardo Ferraço, Senador Paulo Paim, Senador Cristovam Buarque, senhores e senhoras telespectadores da TV Senado, senhores ouvintes da Rádio Senado, sou o último orador e serei breve.

            Câncer, segundo o Presidente do Inca, Dr. Santini, nos próximos dois anos, o Brasil terá mais um milhão de pacientes de câncer. Um milhão de pacientes de câncer! É um número estarrecedor. Assusta-nos.

            Tenho uma proposta à Mesa do Senado, de que nós deveríamos escolher um tema e, naquele dia, não fazermos Ordem do Dia.

            Senadores e especialistas viríamos todos para cá para debater um grande tema nacional, por exemplo, o câncer.

            Ouviríamos as pessoas, os presidentes dos hospitais, dos institutos, o Ministro da Saúde, e aí tomaríamos pé do que está ocorrendo.

            Surgiu um estudo na Inglaterra. Cem mil casos, cem mil pessoas com câncer foram acompanhadas, estudadas e, no final, fizeram um relatório. Quarenta e cinco por cento dos pacientes masculinos, quarenta por cento das pacientes femininas tinham câncer por quatro fatores: fumo, álcool, obesidade e má alimentação. O que eles definem como má alimentação? Segundo eles, nós podemos comer filé mignon, beber um vinho da melhor safra francesa, comermos peixe, o que for, mas se, no cardápio, não houver fruta, legumes, verduras, é má alimentação.

            Ano passado, esteve uma ONG aqui no Senado Federal que estarreceu todos os Senadores. Ela nos distribuiu DVDs. Levamos esses DVDs para casa e assistimos - eu assisti com a minha esposa. A ONG trouxe para cá fatos colhidos nas escolas brasileiras, particulares e públicas. É impressionante! Os meninos e as meninas não sabem o que é um nabo, o que é um rabanete, o que é uma cenoura, uma couve-flor; as crianças não sabem o que é um repolho, uma manga, um abacate! Isso está filmado. Levaram frutas, legumes, verduras e mostraram às crianças e elas não sabiam o que era. Na mesma reportagem, mostram os salgadinhos, os biscoitos, os doces, os iogurtes, e as crianças sabiam de cor. De cor! Mostravam o pacote, e levantavam-se três, quatro mãozinhas. Nossas crianças estão sendo fidelizadas pelo açúcar, pelo sal, pela gordura. Então, os casos começam a ser incontroláveis.

            No noroeste e norte fluminense, os pacientes vão para o Inca, o maior, para orgulho nosso, instituto de câncer da América Latina. É ali que se fazem as grandes pesquisas, ali estão especialistas que o mundo vem consultar. Agora vamos dobrar o tamanho do Inca. O Governador Sérgio Cabral cedeu a área do Hospital Iaserj, dos servidores do Estado do Rio de Janeiro. Logo ele será demolido, lá há poucos leitos ainda sendo usados, e o Inca vai dobrar de tamanho. Nós vamos ter mais pesquisadores, mais médicos, mais possibilidade de atender às pessoas. É impressionante como o câncer está chegando a idades mais tenras, há crianças com câncer em grande número.

            Eu já dizia, no nordeste e no norte fluminenses, as pessoas ficam esperando as kombis da prefeitura ou os transportes solidários da ONG, de madrugada, para fazerem radioterapia, quimioterapia e, às vezes, cirurgia.

            Com 4,5 milhões, segundo o Dr. Santini, nós podemos criar um bunker lá em Macaé, grande produtor de petróleo. Em Macaé, o prefeito se dispõe, inclusive, a pagar os médicos, a manutenção e atender o povo de Campos, de Itaperuna, o povo da região. Com 4,5 milhões, nós podemos formar uma pequena clínica capaz de conter uma bomba de radioterapia, a quimioterapia e fazer cirurgias. Mas estou dizendo que já estamos pensando nisso, nós já estamos tendo que ampliar agências, clínicas, postos avançados, de tal maneira é o crescimento estarrecedor e assustador dessa doença.

            Retorno aqui a uma proposição que apresentei no Senado Federal, que a consultoria está estudando. É incluirmos na nossa grade escolar de crianças obrigatoriamente, em escolas públicas e privadas, a apresentação das frutas, legumes e verduras nacionais para as nossas crianças. Explicar a elas. Ô, Cristovam, você que é um homem da educação, já imaginou uma criança que vai à escola e não sabe o que é um nabo, não sabe o que é um rabanete, não sabe o que é um repolho, não sabe o que é uma alface? Mas ela sabe de cor e salteado todos os salgadinhos, os biscoitos, os chocolates e as balinhas?

            Cristovam, é impressionante o nível de desinformação das nossas crianças! E, segundo extenso estudo feito com 100 mil casos de câncer no Reino Unido, 45% nos homens e 40% nas mulheres se deve a álcool, tabaco, obesidade e má alimentação.

            Do Álcool e do tabaco, estamos protegidos. Nós já temos, inclusive, da lavra do Senador Ricardo Ferraço, tolerância zero para quem estiver dirigindo. Nós estamos contendo, nós estamos sendo prudentes, estamos tomando medidas. Agora, com relação à alimentação...

            E o estudo diz o seguinte: você pode comer um filé mignon argentino ou brasileiro, você pode tomar um vinho da melhor safra francesa, você pode comer uma ova de peixe, um escargô, o que for, comida requintada, melhor azeite, melhor peixe, mas, se não consumir frutas, legumes e verduras, faz uma má alimentação. E nossas crianças não estão sabendo o que é isso.

            Concedo um aparte a V. Exª com muito prazer.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Crivella, o que o senhor está falando é educação, é pura educação. Educação não é só aprender a ler, não são só saber as capitais dos Estados ou as capitais dos países, é saber comer. Por incrível que pareça, é saber comer, porque nós comemos, em parte, pela necessidade biológica da fome, mas, em grande parte, no Brasil, pelo tipo de insuflação que recebemos pela publicidade para comer determinado tipo de produtos. E, nesse processo, nós estamos perdendo uma guerra, a guerra pela alimentação sadia, em benefício de uma alimentação, em proveito de uma alimentação industrial. Nós estamos usando os estômagos das nossas crianças para gerar lucro a empresas produtoras de alguns tipos de alimentos. E só se sai disso pela educação. Essa educação, como o senhor está defendendo corretamente, é através da própria escola, no seu conceito tradicional: aulas mesmo sobre isso. O outro é com algumas medidas. Como tomamos uma medida de proibir propaganda de álcool - alguns tipos, pois outros ainda estão resistindo na televisão -, como proibimos propaganda de cigarros, temos de proibir propaganda de algumas alimentações, sobretudo em momentos em que as crianças assistem televisão. Eu vi nesta semana, num programa de televisão, que, hoje, estão dando brinquedos de presente para as crianças que compram determinada alimentação. Isso é um incentivo a uma alimentação desregulada, negativa para a saúde dessa criança, que ela vai descobrir anos depois, com o diabetes e outros tipos de doenças. E o senhor disse que as crianças crescem sem saber o que são as nossas frutas, mas felizmente, aí por um lado negativo que é bom, as crianças não têm - o que lamento muito neste Brasil - noções de patriotismo. Mas tem uma coisa positiva nisso, porque o símbolo da República, da Federação, que está aqui na mesa, bem em frente ao Presidente, tem como um dos símbolos um ramo de fumo. Uma das coisas mais antiquadas que o Brasil tem é ter como símbolo um ramo de fumo. Eu acho que está na hora de nós propormos aqui uma mudança nesse símbolo e colocarmos outra coisa no lugar de um ramo de fumo. Se nossas crianças fossem aprender, realmente, como é o nosso símbolo, estariam se preparando para serem fumantes, e nós estamos vendo o desastre que é ser fumante. Isso é educação, mas pelo lado negativo: mostrar um ramo de fumo como símbolo do País e, ao mesmo tempo, propaganda de certos produtos alimentícios que não alimentam, que, na verdade, geram lucros a certas empresas, e um vício em quem come. Vício, vício, porque o sal, o açúcar, isso vicia a gente. Então, eu fico muito feliz ao vê-lo trazer esse assunto que pouca gente trás, pouca gente defende. Quero dizer que, no Chile, o Senado, uma lei do atual Presidente do Senado do Chile, decidiu marcar em todos os alimentos o que é prejudicial à saúde, o que é neutro e o que é positivo. Porque aqui, para você entender o que é que tem em uma comida, você precisa ser químico, senão você não entende o que quer dizer aquela quantidade de componentes. Lá, eles vão colocar um sinal vermelho, um verde e um amarelo. Vermelho: cuidado, preste atenção, você pode estar comendo uma coisa negativa para a saúde! Amarelo: você está neutro. E verde é aquilo que, de fato, a gente sabe que traz saúde, na linha do que o senhor estava falando das frutas brasileiras. Parabéns pela sua fala! Eu acho que a gente deveria fazer uma audiência no próximo ano em uma das comissões, na Comissão de Educação, por exemplo, sobre o problema da alimentação de nossas crianças. Nós descobrimos o problema da falta de nutrição, nós descobrimos o problema da fome em crianças, e demos um grande salto para superar isso durante o Governo Lula, mas a gente não está olhando o outro lado, que é o lado de uma nutrição errada, não apenas desnutrição. Nós temos nutrição, desnutrição e nutrição errada. Eu acho que isso merece uma audiência. Se o senhor quiser oferecer a proposta, conte comigo para subscrevê-la.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado, Senador Cristovam Buarque.

            Gostaria de incorporar o aparte lúcido de V. Exª ao meu pronunciamento, e encerrar por aqui, dizendo que, aliás, deveria ser uma proposta do Paim, porque o Brasil começa com a cana-de-açúcar, e a cana-de-açúcar é o negro. O Brasil chega à idade dos nossos avôs com o café, e o café é o negro. É uma injustiça a gente colocar o fumo, devia ser o café, devia ser a cana, até mesmo em homenagem aos 350 anos, páginas escuras da nossa História, em que os nossos irmãos negros suaram para arrancar do solo a riqueza que construiu o nosso País.

            Senador Cristovam Buarque, nós vamos fazer essa audiência pública; vamos levar isso em frente, sobretudo porque a gente estava com medo apenas de as crianças ficarem gordinhas, mas, segundo esse estudo inglês, vasto, e segundo os números que o Dr. Santini nos enviou, de que daqui a dois anos nós teremos um milhão de pessoas com câncer neste País, nós precisamos atentar para esse estudo extenso: 100 mil casos, sendo que 45% entre os homens e 40% entre as mulheres, quatro causas, quatro fatores geradores: tabaco, álcool, obesidade e má alimentação. Mas o que é má alimentação? Má alimentação é falta de frutas, legumes e verduras.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/12/2011 - Página 53500