Discurso durante a 227ª Sessão de Premiações e Condecorações, no Senado Federal

Concessão da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara aos agraciados em sua 2ª premiação.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, DIREITOS HUMANOS.:
  • Concessão da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara aos agraciados em sua 2ª premiação.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/2011 - Página 53525
Assunto
Outros > HOMENAGEM, DIREITOS HUMANOS.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, SENADOR, PRESENÇA, SESSÃO ESPECIAL, CONCESSÃO, COMENDA, DIREITOS HUMANOS, ELOGIO, VIDA PUBLICA, BISPO, LUTA, DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente dos trabalhos, Senador Cícero Lucena; querida Presidenta da Comissão Especial; senhores agraciados; e distintas autoridades, embora a singeleza desta reunião, eu acho que é um momento de uma afirmativa muito importante do Congresso Nacional.

            Em primeiro lugar, como salientou a ilustre Presidenta, Senadora Anita Rita, o nome do prêmio Dom Hélder Câmara, como disse muito bem V. Exª, o nome já diz tudo. Ao escolher a figura de Dom Hélder Câmara para nós destacarmos as pessoas que se apresentaram na luta pela defesa dos direitos humanos, nós estamos dizendo tudo.

            Eu já disse várias vezes desta tribuna que a figura de Dom Hélder foi uma figura que mais me impressionou na minha vida. Eu era jovem, dirigente da Junta Governativa da UNE, e fomos conversar com Dom Hélder

            A figura de D. Hélder, o magnetismo da fórmula com que ele falava, as palavras que brotavam do fundo da sua alma. Ele nos dando uma lição do que tinha que ser... Acompanhei sua vida o tempo todo.

            Não é por nada que a ditadura proibiu o seu nome de sair em jornal, rádio e televisão; não é por nada que ele é que deveria ser o chefe da igreja no Rio de Janeiro e foi transferido para o Recife. O que não o impediu de ele ser a grande figura e a grande liderança que foi no Brasil e no mundo.

            A companheira Ana Rita, salientou a importância dos nossos agraciados. D. Eugênio de Araujo Sales, Cardeal do Rio de Janeiro, D. Marcelo Pinto Cavalhera; a figura lendária de D. Tomás Balduino, uma figura épica que o Brasil aprendeu a respeitar, a amar, pela grandeza, pela coragem, pela dignidade de sua ação. Em memória a Paulo César Fonteles de Lima, o Ministro Aires Brito, uma figura emocionante - ah se o Judiciário brasileiro seguisse a rota do Ministro Aires Brito, que tem dado uma lição de civismo, de dignidade, de bravura e nós do Rio Grande do Sul apresentamos a figura de Jair Krischke.

            Olha, Jair Krischke é mais que do um cidadão, é uma lenda; mais de duas mil, não sei quantas mil pessoas não foram assassinadas pelo trabalho de Jair Krischke 

            Desde 64, ele se dedica a essa causa, não apenas como Presidente da Comissão de Direitos Humanos, mas já antes, sua figura é emocionante no Cone Sul, Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai.

            Primeiro levando os brasileiros do Rio Grande do Sul para o Uruguai, quando lá era uma democracia; depois, atuando nos dois sentidos, de cá para lá e uruguaios, e os brasileiros que estavam lá, exilados, com a ditadura que lá se estabeleceu, para que retornassem ao Brasil e fugissem para algum país da América ou da Europa.

            O trabalho de Jair Krischke foi qualquer coisa de fantástico no Rio Grande do Sul. O seu nome é uma bandeira de respeito, de dignidade, de correção. Muitos, inclusive eu, tentamos entrar com seu nome na vida política, podia estar nesta Casa, Senador da República. Nunca aceitou. Nunca aceitou nem cargo político e nem qualquer cargo. Poderia ter um escritório de primeiríssima grandeza com grandes causas, se dedicou aos presos políticos, se dedicou aos perseguidos, se dedicou aos torturados, a sua vida inteira, anos e anos, e anos, e anos. Começou em 64 e não parou até hoje. Olha, acompanho a sua vida, a modéstia e a singeleza da sua vida. É uma pessoa que a qualquer momento do dia, da noite, a qualquer hora, em qualquer instante, é solicitado por milhares de pessoas e milhares de pessoas que encontraram a salvação e conseguem se manter vidas, conseguindo um caminho, no mundo, que lhes dá condições de sobreviver.

            Também na luta da ação pelo restabelecimento da democracia lá estava o Jair. Na luta pela anistia, pelas Diretas Já, na luta contra a tortura, na convocação da Assembléia Nacional Constituinte, na luta contra a censura à imprensa. Ao lado dele, com seu exemplo, posso garantir, ninguém mais do que Jair foi um norte no Rio Grande do Sul que, talvez, tenha sido o Estado que mais sofreu na ditadura. O Presidente deposto foi João Goulart - o líder da legalidade, Brizola, estava lá ao lado, no Uruguai. As tropas do Exército praticamente cercaram a fronteia do Brasil, do Uruguai e da Argentina. O Rio Grande se levantou, nunca se dobrou, teve coragem de resistir sempre. Por um momento, o Congresso foi fechado, todas as assembléias legislativas do Brasil foram fechadas. A Assembléia do Rio Grande do Sul ficou aberta. Fez-se um grande Congresso quando a Oposição era um anarquia e não se sabia o que se queria ou o que não se queria, qual o caminho a ser traçado. Lá no Rio Grande se fez um Congresso de toda a Oposição para escolher a linha. A linha não é da luta armada, é luta democrática, pelas Diretas, pela Constituinte, pela anistia, pelo fim da tortura, pela liberdade da imprensa. Quem mais orientou, quem mais serviu de padrão, quem mais foi o exemplo que atrás dele as pessoas caminharam, foi o Jair.

            A figura impávida dele andando, trabalhando, lutando, debatendo. A figura dele enfrentando, arrostando a polícia, o exército, indo de peito aberto, e todos tinham que respeitá-lo, porque o Rio Grande e o Brasil olhavam para a figura dele. Era o grande exemplo e o grande mote.

            Eu tenho a convicção absoluta de que o exemplo do Jair no Rio Grande do Sul, naquela região, lá no Uruguai, porque ele fez o mesmo o que fez no Rio Grande do Sul, fez na luta pela democracia no Uruguai. Lá na Argentina, com as Mães da Praça de Maio. Lá no Chile. A luta contra o projeto Condor, onde a luta contra a ditadura do Brasil, da Argentina, do Uruguai, do Chile se uniu sob o comando americano para impor a ditadura. O seu trabalho, o seu esforço e a sua resistência.

            Olha, meu amigo Jair, acho que é a primeira vez que tenho a chance de dizer isso para ti frente a frente: eu tenho uma admiração e um respeito por ti que tu não imaginas. E digo mais, Jair, o Brasil e de modo especial o Rio Grande do Sul, você é uma figura que vai ficar na nossa história, nessa tua simplicidade, nessa tua modéstia, nessa tua negativa de receber cargos, posições, nessa tua vida onde tu sacrificaste tudo, podia ser um grande advogado, podia crescer, podia avançar e, no entanto, não fez nada a não ser trabalhar pela tua causa. Você é um grande nome.

            O Congresso faz aqui uma justiça muito grande.

            Vejo que estás bem acompanhado com as figuras que estão ao teu lado, mas para nós do Rio Grande do Sul que, ao lado da luta do Brasil, temos algumas lutas a mais. O Rio Grande do Sul é Brasil porque quis ser porque era para ser Espanha, era para ser América espanhola, mas a pátria do cavalo, nós do Rio Grande, definimos a fronteira e o Brasil.

            Tivemos muitas lutas inclusive com o Brasil com a Revolução de 30, com a Revolução farroupilha. Temos princípios arraigados, temos uma tradição de fé, de amor à terra, à pátria que é difícil encontrar alguém mais do que nós. Igual, muitos, mas não mais. E é esse Brasil que olha para o Rio Grande e vê no Rio Grande a tua figura.

            Temos grandes heróis. Estamos festejando o aniversário da legalidade. Festas, banquetes, estátuas ao Brizola. Merecido. Festas, homenagens a muitos que participaram. Merecido. Mas você no silêncio, no anonimato. Pois que se diga aqui, neste momento, eu não vejo no Rio Grande do Sul ninguém que tenha mais o respeito, a admiração pelo que fez, do que tu és. Não conheço ninguém que tem a grandeza, a pureza de sentimento, a dedicação de corpo e alma acima da família, acima de tudo pela tua causa, pela tua luta, noite dia, percorrendo, andando por toda a América do que você.

            Estou muito feliz por poder te dizer, daqui da tribuna do Senado, em nome do Brasil, mas em nome do Rio Grande, isso o que você merece. Você é o símbolo da pureza, da grandeza, da beleza, da humildade, da singeleza, do caráter, da luta da resistência. É um orgulho ser Da singeleza, do caráter, da luta, da resistência.

            É um orgulho ser teu amigo, é orgulho ser teu conterrâneo, é uma felicidade vê-lo ainda firme e forte. Se Deus quiser continuando nessa caminhada, que é fazer do Brasil, que está a caminho, diga-se de passagem, a grande Pátria de respeito e amor entre todos os brasileiros.

            Muito obrigado.(Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/2011 - Página 53525