Discurso durante a 227ª Sessão de Premiações e Condecorações, no Senado Federal

Concessão da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara aos agraciados em sua 2ª premiação.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, DIREITOS HUMANOS.:
  • Concessão da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara aos agraciados em sua 2ª premiação.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/2011 - Página 53527
Assunto
Outros > HOMENAGEM, DIREITOS HUMANOS.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, SENADOR, PRESENÇA, SESSÃO ESPECIAL, CONCESSÃO, COMENDA, DIREITOS HUMANOS, ELOGIO, VIDA PUBLICA, BISPO, LUTA, DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Deputada Luiza Erundina, que honra esta Casa ao vir aqui.

            Sr. Presidente, quero, inicialmente, agradecer a cada um de vocês a homenagem que estão prestando ao Senado ao aceitarem essa comenda. Esta Casa precisa mais de pessoas como vocês, recebendo uma homenagem dela, da Casa, do que vocês precisam de nós. Esses nomes que citamos hoje, como homenageados, e o nome de Dom Hélder Câmara, ao estarem aqui dentro hoje prestam uma homenagem que esta Casa precisa e no momento em que, mais do que aos direitos humanos, pelo menos a impressão que passa, é que estamos servindo aos interesses privados. E às vezes nem só os interesses privados de outras pessoas, mas até mesmo interesses privados de nós próprios.

            Por isso, meu agradecimento por estarem aqui. Vocês fazem parte de um grupo, lembrando um artigo de Luiz Cláudio Cunha, desta semana, no blog em que ele agarrou a foto que aparece a Presidente Dilma, com 22 anos, sendo jogada e os jornalistas, os juízes cobrindo o rosto. O jornalista, que nos orgulha aqui com a sua presença, mostrou que naquele tempo alguns tinham que cobrir os rostos envergonhados, aqui nós temos um grupo que não esconde o rosto. Aqui nós temos um grupo que atravessou o período mais difícil da nossa história, com o rosto transparente, aberto e lutando pelas causas justas, pelas grandes causas que o Brasil e o nosso povo precisa.

            Desses, eu quero citar dois e mais um. Obviamente, Dom Balduíno, que de muito longe, lá do meu Recife, eu ouvia falar, eu lia, eu tomava conhecimento da sua luta. Quero aqui agradecer, Dom Balduíno, a inspiração que o Senhor nos trouxe, naquele momento, a muitos jovens brasileiros, e a inspiração que vem nos trazendo na sua luta, especialmente pelos sem-terra, pelos nossos camponeses.

            Quero falar também do Dom Marcelo Carvalheira, cuja Irmã Cristina e o seu marido Olimar são dois dos mais antigos amigos que tenho. Marcelo, como chamávamos arrogantemente, porque não deveríamos chamar um padre de Marcelo, mas era assim que o chamávamos, representou, na minha geração, em Recife, o irmão mais velho na política; aquele que, às vezes, cutucava para avançarmos e, às vezes, nos freava, quando era preciso. Eu gostaria muito que ele estivesse conosco. Pena que não pôde vir. Mas quero que ele saiba da admiração, do respeito, do carinho que tenho por tudo que ele significou para um grande grupo de pessoas jovens que lutavam pela democracia, pelo socialismo neste país.

            E Dom Hélder Câmara, que não está recebendo homenagens; está nos homenageando ao ceder o seu nome a esta Casa, a cada um que recebe a Comenda, ao ceder o seu nome para lembrarmos aqui os direitos humanos. Dom Hélder foi, para uma geração inteira de brasileiros - eu diria que até mais, um pouco para nós, pernambucanos que convivemos com ele -, uma luz naquele tempo. Mais do que uma luz, ele foi um exemplo, um exemplo de como é possível não ter medo de enfrentar as coisas com tranqüilidade, como quando ele abria aquele portão sem saber quem estava do outro lado, na sua casa, na Rua das Fronteiras. Às vezes, não era porque as pessoas o procuravam; era porque ele saía; parava ali um carro que obviamente queria lhe dar carona, e ele entrava sem querer saber quem era. Uma coragem que, com todo respeito a essa figura, beirava a irresponsabilidade que todo corajoso carrega dentro de si. Segundo, a lucidez como ele analisava os problemas, como ele nos dizia o que era certo e o que era errado na opinião dele; terceiro, a modéstia de ele estar falando com a gente como se nós fôssemos o bispo e tivéssemos a idade e a experiência dele. Sair à rua... Em minha casa, por exemplo, eu devia ter 20 ou 22 anos, ele ia ali conversar e, obviamente, a rua inteira se mobilizava em função de ele estar passando. Eu o via com uma simplicidade e uma firmeza que impressionavam. Eu fico muito feliz de estar aqui e podendo falar de nome como esses. Todos os outros eu quero reconhecer a trajetória; mas a estes três, pela convivência: Dom Balduíno, de longe; Marcelo e Dom Hélder, de perto, eu quero dizer aqui como vocês foram importantes na formação de nossas cabeças e de nossos corações, como vocês foram importantes ao nos dar o exemplo de que é preciso viver com o rosto aberto, sem cobrir os rostos, e isso significa viver de acordo com sua consciência e do lado certo.

            Vocês nos deram esse exemplo, vocês nos deram essas luzes e eu os agradeço muito. Eu não estou aqui como Senador; eu estou aqui como o jovem que lá atrás, graças a vocês, pode seguir um rumo e continuar com o rosto aberto, sem cobri-lo. Muito obrigado a vocês, muito obrigado em meu nome pessoal e, como Senador, muito obrigado por estarem aqui nos homenageando. E à Senadora Ana Rita, muito obrigado pelo papel que teve na escolha, e ao Senador Cícero por estar presidindo esta sessão. Muito obrigado é o mais que eu posso dizer ao ser parte daqueles que condecoram vocês e, através da condecoração que dá, recebem uma muito maior, muito melhor, que é a condecoração do exemplo. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/2011 - Página 53527