Discurso durante a 229ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com valor proposto em emenda aposta ao Orçamento da União que destina verba para concessionárias de estradas de ferro; e outros assuntos.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ORÇAMENTO, POLITICA DE TRANSPORTES. SENADO.:
  • Indignação com valor proposto em emenda aposta ao Orçamento da União que destina verba para concessionárias de estradas de ferro; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 15/12/2011 - Página 54012
Assunto
Outros > ORÇAMENTO, POLITICA DE TRANSPORTES. SENADO.
Indexação
  • REPUDIO, COLOCAÇÃO, EMENDA, ORÇAMENTO, UNIÃO FEDERAL, REFERENCIA, DESTINAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, CONCESSIONARIA, ESTRADA, FERROVIA.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, POLICIA, SENADO, AGRESSÃO, ESTUDANTE, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE).
  • ORÇAMENTO, POLITICA DE TRANSPORTES.

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco/PMDB - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Quero me colocar à disposição dos Srs. Parlamentares e dos partidos que atuam no Senado Federal para subscrever CPIs que digam respeito ao livro do Amaury Ribeiro, A Privataria (...), e quero também me colocar à disposição dos membros da oposição para subscrever, se assim entenderem, uma CPI sobre a consultoria do Ministro Pimentel.

            Eu apoio o Governo da Presidente Dilma com entusiasmo, mas acredito que o Congresso Nacional é o espaço para a investigação de tudo que no Governo estiver opaco. Assino, sem nenhum constrangimento, CPIs que investiguem tudo que permanece na escuridão.

            Por outro lado, como o meu espaço é muito pequeno e requeri a palavra para uma comunicação inadiável, quero colocar a minha desconformidade, a minha indignação com uma emenda colocada no Orçamento da União que destina R$498 milhões para concessionárias de estradas de ferro.

            Dinheiro público a fundo perdido e que, inicialmente, teve a resistência firme do Senador Delcídio, Presidente da Comissão de Economia. O Senador Delcídio, no entanto, acabou cedendo a pressões e incorporou essa monstruosidade.

            Se são concessionárias, se privatizadas foram porque se dizia que o Governo da União não teria recursos para nelas investir, como é que nós podemos aceitar que, agora, se coloque dinheiro da União para uma prise direta, uma injeção na veia das concessionárias, sem retorno? Ah! Não. Sem retorno não!

            O Senador Delcídio me informa que o Bernardo Figueiredo, da ANTT, declarou a ele que negociaria com as concessionárias uma mudança no frete. Não tem rigorosamente nenhum cabimento.

            Quem é o Sr. Bernardo Figueiredo, Senador Moka? É o cidadão que, no governo de Fernando Henrique Cardoso, foi o preposto do setor privado, assinando o contrato das concessões. Assinou como representante do setor privado. Já foi presidente da Associação das Empresas Ferroviárias Concessionárias Privadas de Serviços Públicos e foi presidente da América Latina Logística. Consta, em dossiês que já chegaram a minha mão e que eu passei à Presidência da República, que teria sido também acionista de quatro das empresas privatizadas e, posteriormente, teria se desfeito dessas ações, vendendo-as para uma offshore. Essa operação de venda para offshore, tão bem analisada no livro do Amaury Ribeiro: “manda para fora e volta para dentro, sem que a titularidade tenha sido alterada”. Depois, passou a ser assessor da Casa Civil e, hoje, é o Diretor-Geral da ANTT.

            Senador Cafeteira, não é assim que lá no nosso Maranhão nós definimos a situação como colocar a cabra para cuidar da horta?

            E o Presidente da Associação das Empresas Privadas, proprietário, tendo parte da propriedade de quatro delas, passa, de uma hora para outra, a ser o diretor da ANTT, que deve fiscalizá-las.

            Fica, aqui, de forma clara, a minha mais completa e absoluta indignação.

            E, aproveitando um pouco da sua boa vontade, um protesto em relação ao comportamento da Polícia do Senado, que impedia hoje, nas portas do Anexo II, a entrada de 15 rapazes da União Nacional dos Estudantes. Recorreram a mim. Desci e fui informado pelo comandante do processo que havia um pedido explicito do Senador Eunício, Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, para que os meninos não entrassem no Senado. Procurei o Senador Eunício, que me disse que jamais fez pedido dessa natureza. Um dos meninos acabou sendo vaporizado com gás mostarda, uma agressão dura aos seus olhos. Fica aqui o meu protesto por uma medida arbitrária, inútil. Fiz com que a rapaziada subisse e assistisse à reunião, numa tranquilidade absoluta, exercendo o direito cidadão de assistirem às decisões dos Senadores.

            Alguém já disse, se não me engano, Lord Acton, numa teoria sobre democracia, que pode-se fazer quase tudo com uma baioneta, menos sentar-se em cima dela. Dê-se poder à Polícia do Senado e esse poder será exercido de forma inconveniente, fora de hora e de maneira a deslustrar a imagem do Senado e do conjunto dos Senadores, que jamais impediriam a entrada dos meninos da União Nacional dos Estudantes para assistirem a uma decisão de uma comissão.

            Estou à disposição dos partidos para as CPIs que acharem necessárias. Essa é a função do Congresso Nacional.

            E registro o meu protesto contra as emendas Mandrake em favor de concessionárias de estradas de ferro. E, um protesto que quero seja levado à Mesa do Senado, da qual V. Exª é Vice-Presidente, quanto a este comportamento inconveniente de violência desnecessária da Policia do Senado Federal.

            Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/12/2011 - Página 54012