Discurso durante a 230ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca da apuração das denúncias que envolvem o Governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO ESTADUAL.:
  • Considerações acerca da apuração das denúncias que envolvem o Governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. (como Líder)
Aparteantes
Demóstenes Torres, Ivo Cassol, Pedro Taques.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/2011 - Página 54256
Assunto
Outros > GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, APURAÇÃO, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), REGISTRO, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, GOVERNANTE, RELAÇÃO, DENUNCIA, RELEVANCIA, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, CAPITAL FEDERAL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, ao longo destes anos em que tenho estado aqui, eu creio que tenho passado a imagem de um Senador que se considera Senador da República. Eu não falo especificamente sobre Brasília, salvo em momentos especiais, por uma razão muito simples - Brasília é a capital de todos os brasileiros. Se não tivermos um bom Brasil, nós não teremos uma boa Brasília. Mas hoje eu não posso deixar de falar de Brasília, diante da situação que o Distrito Federal vem atravessando nos últimos, digamos, dois anos.

            Nós tivemos denúncias em relação ao Governador Arruda. É preciso lembrar que o Partido Democratas imediatamente tomou posição. Eu, aqui desta tribuna, cheguei a sugerir ao Governador Arruda, com quem sempre tive boa relação pessoal, que ele deveria se licenciar enquanto aquelas denúncias eram apuradas, para proteger a imagem da nossa cidade, porque, quando um governador está sob suspeita, a cidade também está.

            O Governador Agnelo foi eleito e eu fiz uma força muito grande por essa eleição. Sinto-me responsável por essa eleição, com uma tarefa acima de todas as outras: recuperar a autoestima da população brasiliense e o respeito de Brasília no cenário nacional. Até porque a nossa imagem era a imagem de pioneiros que do nada fizeram a metrópole que hoje é o Distrito Federal. Pioneiros também em políticas sociais que daqui do Distrito Federal se espalharam por todo o Brasil e até ao exterior. Essa visão de pioneiros tem sido abalada diante de suspeitas sobre a gestão feita pelos governadores que nós elegemos.

            O Governador Agnelo não pode, não tem o direito, pela importância dele, de continuar deixando as suspeitas que existem sobre ele sem uma resposta clara, nítida, dizendo “tudo isso é falso”. E não é o que a gente tem visto. O que a gente tem visto é uma posição de que já entrou na Justiça contra os caluniadores, de que não deve nada, de que a palavra do governador vale mais do que a dos outros. E não está bastando! Essa posição está constrangendo a cidade, envergonhando a cidade.

            Nós precisamos apurar. Não estou aqui jogando nenhuma ideia de que as suspeitas são a verdade. Não são, ainda, mas poderão vir a ser. E esse “poderão vir a ser” traz uma suspeita sobre toda a cidade. Nós não podemos continuar sem que o Governador mostre que essas denúncias são calúnias. E, sinceramente, eu torço para que isso aconteça, até porque eu não só votei nele; eu fiz campanha; eu pedi voto; eu disse que ele ia resgatar a nossa autoestima e a nossa credibilidade. Mas não é só ele que tem que fazer algo. É preciso que nós todos que participamos do processo eleitoral, que amamos esta cidade, que estamos envergonhados com o que pesa por causa de suspeitas tomemos posição, tomemos posição de cobrar a apuração de tudo. Aqueles que sabem e têm informações de que tudo isso é falso que digam que é falso. E aqueles que têm informação de que isso é verdade têm que dizer que isso é verdade.

            Nossos jovens de Brasília foram para as ruas pedir a cassação do Governador Arruda. Esses jovens não podem ficar encabulados agora, escondidos. Eles têm que ir para a rua, defender o Governador Agnelo ou denunciar o Governador Agnelo e pedir que ele seja tratado como foi o Governador Arruda. Não podemos ter dois pesos e duas medidas. E hoje nós estamos tendo essa posição de incômodo sem afirmação.

            Lembro que eu propus que o Governador Arruda - sugeri aqui para ele - deveria se licenciar por 30 dias enquanto tudo aquilo que era denunciado fosse apurado. Repito aqui para o Governador Agnelo o que sugeri ao Governador Arruda naquele momento. O Governador Agnelo precisa que um grupo de personalidades muito respeitadas, onde esteja gente do Ministério Público, onde haja pessoas da imprensa, pessoas sem partido, de preferência, ele tem que abrir o seu coração para essas pessoas. Ele tem que abrir suas contas para essas pessoas. Ele tem que abrir sua vida para essas pessoas. E, ao abrir sua vida, ele deve esperar que as pessoas analisem e, no final, digam: “Governador, o senhor está sendo injustiçado com calúnias” ou “Governador, nós temos informações que permitem dizer que isso tudo é verdade e que, diante disso, o senhor não pode continuar Governador sob o risco de continuar afundando a autoestima do povo de Brasilia e a credibilidade do povo de Brasília fora daqui.

            Eu quero dizer - antes de dar apartes -, Senador Moka, nosso Presidente, que faço isso com certa tristeza, porque me empenhei muito. Eu diria que talvez ninguém se tenha empenhado tanto na eleição do Governador Agnelo quanto eu próprio.

            Eu, depois de eleito no primeiro turno, suspendi todos os meus compromissos locais, nacionais, internacionais, familiares e me dediquei, das oito da manhã até a hora que fosse, pela eleição do Governador Agnelo.

            Não estou aqui, ainda - ainda -, pedindo desculpas ao povo do Distrito Federal. Estou pedindo um pouco de desculpas ao povo brasileiro, porque para a Capital da República, pela qual sou um dos responsáveis - não estou fugindo disso -, para a nossa cidade, nós não estamos conseguindo garantir o respeito lá fora, nem conseguindo manter a autoestima aqui dentro.

            Não estou ainda pedindo desculpas aqui dentro, porque ainda tenho esperança de que essas coisas que são faladas sejam falsas, uma injustiça com o Governador. Mas digo que essa esperança diminui a cada dia; que, a cada dia, a esperança se transforma em dúvida e que a dúvida se transforma automaticamente na ideia de que tudo isso pode ser verdade.

            E, quando tudo isso parecer verdade - vejam bem -, quando tudo isso parecer verdade, creio que Brasília tem de tomar uma posição.

            Neste momento, a posição tem de ser do próprio Governador: a de abrir tudo. Não pode apenas dizer que é falso: tem de mostrar que é falso, como todos nós desejamos que ele consiga mostrar. E tem de mostrar, recebendo de alguém de credibilidade acima de qualquer suspeita o aval de que, de fato, isso é uma injustiça, de que isso é calúnia, de que não é nem mesmo a suspeita que deixaria de ser, quando se mostrasse que fora calúnia.

            Isso só faz sentido, se esse grupo, seja o Ministério Público, seja o que for, ou um grupo até independente de personalidades respeitadas nesta cidade, trabalhar em um momento em que o Governador esteja sob licença.

            Que ele deixe o Governo por um período, que seja por um mês, enquanto tudo isso é apurado. E não apurado só do ponto de vista legal, porque, do ponto de vista legal, isso vai levar meses, talvez anos.

            Nós não podemos resistir meses, nós não podemos resistir anos com a cidade inteira sob suspeita, porque cada um que votou no Governador, como eu, está também sob suspeita, porque todos têm o direito de perguntar por que é que nós votamos em alguém que começa a ser alvo de tantas suspeitas.

            É um apelo que eu faço ao Governador: encontre uma forma de termos um grupo, uma comissão, um conjunto de personalidades, e coloque sua vida nas mãos dessas pessoas, não sua vida do ponto de vista biológico, mas sua vida histórica, sua biografia, seus dados, suas contas. Abra tudo e espere o que vai ser dito, de tal maneira que a imprensa fique sem argumentos para continuar levantando dúvidas, já que as dúvidas seriam sanadas. Hoje elas estão pesando muito sobre cada um de nós que mora nesta cidade, sobre cada um de nós que é eleitor na cidade, especialmente - falo por mim, mas acredito que os outros também pensam assim - sobre cada um de nós que tem obrigação de ser líder nesta cidade, nós que fomos eleitos para Deputado Distrital, para Deputado Federal ou para Senador.

            Era o que tinha a dizer, mas vejo que há dois pedidos de aparte. Quero ouvir esses dois Senadores.

            O Sr. Demóstenes Torres (Bloco/DEM - GO) - Senador Cristovam Buarque, V. Exª faz um pronunciamento sereno, é o pronunciamento de alguém que tem experiência administrativa e de alguém que, há muito tempo, está na vida pública e já está habituado com o fogo que envolve qualquer personalidade política. V. Exª dá um conselho sábio ao Governador Agnelo. Nós tivemos no DEM - V. Exª bem lembrou - o caso do ex-governador, e nós tivemos, dentro do partido, de tomar uma providência, e uma providência dura. Talvez essa providência tenha até levado ao esfacelamento do partido e gerado o núcleo de outro partido, mas nós tivemos de fazer essa atuação. Agora, não se compreende - e ressalvo a palavra altiva de V. Exª neste instante - como aqueles que estiveram ao lado do Governador e diante de uma série de, no mínimo, imprudências, mas que indicam também outras atividades, atos que podem até redundar em crimes, como é que essas pessoas se omitem, agem como se nada tivesse acontecido e como se a culpa fosse única e exclusivamente da imprensa? Ou que fosse da imprensa, porque todo mundo diz que a culpa é da imprensa. Ora, não é possível! Será que toda a imprensa, todos os segmentos, todos os setores estão contra o Governador Agnelo? Então, evidentemente, ele tem explicações a dar. E não adianta ficar adjetivando a pessoa: “Ah, isso é um bandido!”. Quando o João Dias, lá atrás, atacava o Orlando Silva e o protegia, era gente boa. “Não, esse aí, realmente eu conheci...” Chamava até de chefe. E agora, quando ele se tornou algoz, virou bandido. Então, não dá! V. Exª apresenta uma solução sensata. V. Exª é um homem que goza da confiança dos brasilienses, já foi governador, é Senador, tem uma história pública imaculada. Então, V. Exª é um desses homens que poderia fazer parte desse grupo em que o Governador confiasse. E ele poderia dizer: “olha, olha aqui minhas contas”. É claro que ele vai ter que abrir as contas para o Ministério Público. É claro que é vai ter que abrir as contas para outras instituições. Homens como V. Exª estiveram ao lado dele, e eventualmente a gente pode estar ao lado de qualquer um. Aliança política, com o tamanho que é o Brasil, é igual fotografia: existe fotografia nossa com as pessoas mais santas e com gente que, infelizmente, se acerca de nós e é desqualificado. Agora, bom discurso de V. Exª, boa palavra, aumenta a esperança nossa de que isso possa ir adiante. E a cobrança que V. Exª faz àqueles que apoiaram o Governador; muitos, talvez a grande maioria, são homens de bem, mulheres de bem, e não têm que se acovardar. O movimento social, os estudantes não podem se manifestar só quando alguém que não é do lado deles não cumpriu devidamente o seu dever. É qualquer um. Ou senão não é movimento social, não é indignação. Não podemos ter uma indignação parcial. Se fulano cometeu um crime, eu vou para cima dele, mas se outro que é do meu lado cometeu o mesmo crime, eu vou ficar quieto. Então, não dá! Parabéns a V. Exª! É um discurso de altíssimo nível. Quero crer que, se os homens de Brasília seguirem o que V. Exª acabou de dizer, nós poderemos ter uma boa solução para este caso.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Senador, agradeço.

            Antes de passar a palavra ao Senador Cassol, com muito prazer, quero lhe dizer que, primeiro, não posso fazer parte desse grupo porque eu o apoiei. E aí qualquer opinião minha levantará suspeita a favor. Segundo, porque não entrei no Governo. E aí pode ser a suspeita ao contrário.

            Tem que ser pessoa, inclusive, sem partido. Talvez sem ser político na atividade.

            Mas o senhor lembrou uma coisa que eu quero tocar aqui, Senador Pimentel: o PT tem um patrimônio neste País graças ao Lula, mas tem um patrimônio na cidade. O PT foi governo aqui e, durante quatro anos, não houve uma suspeita de nada errado. Ao contrário, durante quatro anos, o Governo do PT aqui serviu de exemplo para muitas cidades, para muitos estados e até para o Brasil inteiro, com políticas sociais que foram feitas aqui. Eu temo e me incomodaria muito de ver esse patrimônio do Partido dos Trabalhadores no Distrito Federal ser apequenado, por não está tomando uma posição de eliminação das suspeitas.

            Vejam bem: não estou defendendo que façam acusações, mas que se eliminem as suspeitas. Em nome, primeiro, do Distrito Federal é que falo aqui, mas é uma preocupação também com esse patrimônio que eu ajudei a construir aqui, que o Partido dos Trabalhadores ainda tem, mas que pode perder de um dia para o outro, porque nunca percebemos o que vai acontecendo de apequenar-se aos pouquinhos, mas é de repente que se descobre que talvez não tenha mais jeito.

            Quero dizer aqui que o meu partido, o PDT, recentemente passou por um problema como esse, e eu, o Senador Taques e mais alguns recomendamos ao Ministro Lupi que fizesse isto que eu estou recomendando ao Governador Agnelo: que ele saísse naquele primeiro momento das suspeitas e dissesse à Presidenta: “Apure tudo; se depois a Senhora quiser, eu volto; se não quiser, eu não volto”.

            No caso dele, ele não podia pedir licença, mas, no caso do Governador, ele pode pedir licença, não precisa renunciar - como o ministro precisa.

            Agradeço ao Senador Demóstenes e passo a palavra ao Senador Cassol.

            O Sr. Ivo Cassol (Bloco/PP - RO) - Obrigado, Senador Cristovam. Aproveito as suas palavras para reforçar. Nasci no Estado de Santa Catarina, mas me criei no Estado de Rondônia. Fui governador e prefeito durante dois mandatos. Todo mundo sabe que, na nossa capital federal, o governador também exerce o papel de prefeito. Todo o trabalho aqui, de embelezamento, de manutenção, é de responsabilidade dele. E a nossa capital federal, infelizmente, está desleixada, está abandonada, até parece que não tem governante. Atrás do Banco Central, por exemplo, se facilitar, dá para cercar e colocar até criação de gado, de tão alto que o capim está. E não é só lá, é nos quatros cantos. Os asfaltos que se veem nas principais rodovias aqui dentro estão cheios de buracos. O senhor foi governador, está aqui o Blairo Maggi, que foi governador do Mato Grosso, e, infelizmente, vejo com tristeza, pois é a nossa capital federal, é o nosso espelho mundial, não é só o espelho nacional. Todos os prefeitos, todos os vereadores que se deslocam de outras cidades vêm para cá e a dificuldade que têm. E, quando chove, como choveu ontem, como choveu hoje, anteontem também, a gente vem pelas avenidas e, quando a gente menos espera, está de ponta-cabeça num buraco, arrebentando o carro por baixo, porque até nisso está faltando competência. Por mais que tenha denúncia de um lado, tem que apurar, tem que se afastar, não pode deixar do jeito que está. Mas a gestão não pode parar por conta disso. Mas ela já estava parada antes das denúncias. Então, está na hora de toda a equipe, não só do Governador, mas de toda a equipe tirar o pé do chão e cuidar bem da nossa capital federal, porque está uma vergonha, e eu falo como um gestor público que fui, hoje estou aqui no Senado, mas é o nosso espelho nacional. Parabéns pela sua iniciativa, o senhor que apoiou o Governador atual, e, ao mesmo tempo, o senhor está repetindo o que o senhor fez com o seu colega Ministro, há poucos dias atrás - e não é diferente aqui -, para poder dar condições de todo mundo poder apurar, como os democratas fizeram aqui e em outros lugares também, da mesma maneira fizemos também com o PP. Um abraço. Obrigado e boa sorte.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Obrigado, Senador Cassol. De fato, quando a gente passa por um cargo como esse, prefeito, a gente nunca mais olha para as cidades do mesmo jeito. A gente olha vendo problemas que os outros não veem. É como um músico: ele ouve a música diferente de nós, que somos apenas aficionados.

            Mas eu nem quero entrar nesse detalhe da gestão do funcionamento ou não dos serviços locais. Quero me concentrar nesse lado da autoestima. Embora sujeira numa cidade também tire autoestima, cidade sem saúde funcionar também tira autoestima, eu quero ficar no outro lado. No lado dessas suspeitas que estão pesando sobre todos nós, do Distrito Federal. Quando pesa sobre o Governador, pesa sobre todos nós.

            E, tomando um pouco o Senador Demóstenes, de fato, na eleição, a gente se aproxima até por razões outras. No caso do Agnelo, não: era mais do que natural que eu estivesse junto, porque é o lado que eu sempre estive; e, do outro lado, estava o outro lado. Então, era natural. Mas, sinceramente, eu não sei se estaria se eu soubesse que pesavam tantas suspeitas, porque a única vez que apareceu algo disso foi desfeito no programa eleitoral. Quem acusou apareceu, dizendo que não tinha dito aquilo. Então, tem uma tranquilidade. Mas agora não está dando mais, não está mais podendo continuar dessa maneira. As suspeitas têm que desaparecer, ou mostrando “são calúnias”, ou mostrando “são verdadeiras”.

            Senador Taques.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Senador Cristovam, quero parabenizá-lo pela coragem e honestidade, porque V. Exª apoiou o atual Governador. Existe um ditado que diz: “Quem pariu Mateus que embale Mateus”. V. Exª, eu perguntei, um tempo atrás, sobre o apoio ao Governador. V. Exª disse que foi o último a entregá-lo num táxi. Essa foi a expressão depois da campanha.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu fechei a porta do carro dele no último ato da campanha, no 1º turno. E fiz o mesmo no último ato, no 2º turno.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Imagine a responsabilidade de V. Exª, que ajudou nessa campanha. Então, V. Exª vem aqui com responsabilidade, buscando a apuração desses fatos, sem prejulgar quem quer que seja. Mas tem que ser apurado. Precisamos entender que o tempo não é absoluto. Desde Einstein, o tempo é relativo. O tempo estático é diferente do tempo dinâmico. O tempo do Ministério Público é diferente do tempo político. O tempo político é mais rápido do que o tempo do Ministério Público, que leva em conta prazos processuais que são terríveis, sem contar as chicanas jurídicas. Eu quero parabenizá-lo por esse discurso sério, honesto e, sobretudo, corajoso. Agora, algumas pessoas falam: “Esta testemunha aqui não tem moral para falar, porque tem um passado não recomendável”. Eu pergunto: Será que, nesse tipo de atividade, nós teremos testemunhas como Dom Eugênio Sales, por exemplo, ou Dom Paulo Evaristo Arns? É lógico que não! Nós não teremos testemunhas assim. As testemunhas serão desse tipo mesmo. E existe jurisprudência consolidada, dizendo que não interessa quem seja a testemunha, ou a qualidade da testemunha; o que interessa são os fatos por ela revelados. Parabéns pela coragem do seu discurso. V. Exª ajudou na campanha, mas não tem responsabilidade sobre esses fatos, até porque não participa desse Governo. Eu quero cumprimentá-lo pela honestidade e pela coragem desse discurso.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Taques.

            Eu quero concluir, dizendo que esse é talvez um dos discursos que faço com mais tristeza, porque é reconhecimento de uma falha minha também, no processo político, não eleitoral. Naquele momento, tinha de ter sido assim o apoio ao Governador Agnelo, não tenho dúvida. Mas falo porque não fui capaz de encontrar algo que hoje estivesse acima de qualquer suspeita.

            Então, como líder da cidade, não como político apenas, mas como uma das pessoas que tem responsabilidade sobre a cidade...

            O Sr. Demóstenes Torres (Bloco/DEM - GO) - Faltou a boa e velha bola de cristal, que V. Exª não tinha obrigação de ter, não é?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - É verdade. É verdade. Mas, de qualquer maneira, é com tristeza que falo de não ter tido a perspicácia, a percepção ou a bola de cristal. Não acho nem que seja algo de coragem, Senador Taques, porque é uma necessidade tão grande que tenho de dizer isso que, quando a gente faz por absoluta necessidade, nem coragem é.

            É por necessidade que faço este discurso e este apelo também ao nosso Governador, porque o é ainda, e espero que elimine toda suspeita e fique até o último dia de seu Governo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/2011 - Página 54256