Discurso durante a 231ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da realização, ontem, do evento de premiação de inovações que favoreçam o funcionamento da justiça, patrocinado pela Fundação Roberto Marinho e pelo Instituto Inovare. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Registro da realização, ontem, do evento de premiação de inovações que favoreçam o funcionamento da justiça, patrocinado pela Fundação Roberto Marinho e pelo Instituto Inovare. (como Líder)
Aparteantes
Acir Gurgacz, Vital do Rêgo.
Publicação
Publicação no DSF de 17/12/2011 - Página 54640
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, ENTREGA, PREMIO, INOVAÇÃO, FAVORECIMENTO, FUNCIONAMENTO, JUSTIÇA, AUTORIA, FUNDAÇÃO CULTURAL, PAIS.
  • APREENSÃO, ORADOR, UTILIZAÇÃO, POPULAÇÃO, DIFERENÇA, FORMA, IDIOMA OFICIAL, PAIS, NECESSIDADE, CUMPRIMENTO, PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, REAJUSTE, PISO SALARIAL, PROFESSOR.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, ontem, foi a entrega de um prêmio, organizada por um instituto chamado Instituto Innovare.

            O Instituto Innovare e a Fundação Roberto Marinho têm um prêmio para aqueles que consigam inovar mais no funcionamento da Justiça. É surpreendente como no Brasil há grandes experiências para melhorar o funcionamento da Justiça, inovações que são feitas por pessoas, por grupos, encontrando brechas que permitem fazer com a Justiça se faça de forma mais rápida e mais próxima dos interesses das pessoas.

            Diversos prêmios foram dados, ontem, pela Fundação Roberto Marinho e pelo Instituto Innovare. Por exemplo, uma juíza gaúcha, Salise Monteiro, tem um projeto que coloca deficientes visuais para fazer transcrição de audiências e sessões de julgamentos. Empregou pessoas que não teriam emprego de outra maneira com facilidade.

            O promotor de Justiça Pedro Borges Mourão, do Rio, foi contemplado por causa do projeto que permite maior rapidez nas investigações de homicídio.

            O defensor público Thiago Tozzi ganhou o prêmio por conseguir - vejam que interessante - que a concessionária de energia do Ceará perdoasse a dívida de pacientes que mantêm equipamentos médicos ligados em casa. Com isso, estão reduzindo o custo da saúde pública. Não conseguiam pagar a conta de luz e, se a luz fosse cortada, as pessoas morreriam. Ele conseguiu esse perdão.

            O advogado Darci Frigo saiu vitorioso porque garantiu a famílias de Curitiba o direito de morar em endereços regularizados.

            Mas houve um dos prêmios, da desembargadora Marilene Melo Alves que vale a pena nós considerarmos aqui. A desembargadora Marilene criou um programa pelo qual soldados da Polícia Militar que estão nos morros do Rio de Janeiro graças às UPPs passassem a ser intermediários das discussões entre pessoas, entre moradores. Dois moradores, duas casas; eles têm uma divergência. Em vez de entrar na Justiça, no sistema tradicional, que a gente sabe que nunca vai resolver as coisas e o tanto de tempo que demora, nem eles teriam recursos para isso, eles procuram esse soldado da PM, que conversa com os dois e dirime esse problema. Essa iniciativa dessa desembargadora mereceu o prêmio. E eu creio que é um premio válido e é um exemplo.

            Isso merece que aqui seja citado para dar um prêmio ao Instituto Innovare e à Fundação Roberto Marinho por, juntos, estarem promovendo experiências como essas.

            Mas eu quero falar de outra coisa. Hoje de manhã, eu vi, no programa Bom Dia Brasil, uma entrevista com a desembargadora e com um soldado que fazia esse trabalho de intermediação entre as partes, de solução de desentendimentos. Esse soldado disse que uma das primeiras coisas que ele teve que aprender quando chegou lá no morro para fazer esse trabalho de intermediação foi aprender a falar como o povo dali.

            Senador Vital do Rêgo, veja que coisa: ele precisou aprender a falar como o povo local fala. Sabe por quê? Porque o Brasil está tendo dois idiomas português: dos que aprendem na escola e dos que ficam nas ruas. Não é igual. Já é diferente. Os outros países estão lutando porque têm muitos idiomas; a Bolívia, o Paraguai. O Brasil teve a sorte de uma integração que espalhou um único idioma. E nós, por erros de concepção econômica, por desprezo à educação, estamos criando duas formas diferentes, três formas, cinco, mil formas diferentes de falar o português. Isso, porque temos um integrador, que é o meio de comunicação.

            Se não fossem as rádios, as televisões, hoje, o português, não de uma região para outra, isso é sotaque, mas o português entre as classes sociais seria tão diferente de um grupo para o outro que a gente poderia considerar dois dialetos: o dialeto - chamemos - erudito e o dialeto popular. Isso é uma tragédia para a organização e o funcionamento de um país; uma tragédia social porque, mesmo que eu reconheça que é preciso respeitar o português popular, vamos falar claro, ninguém consegue um bom emprego falando o tal do português popular, porque nas provas e exames se exige o português formal, que todos têm que aprender.

            Fiquei vendo o Instituto Innovare, fiquei vendo a Fundação Roberto Marinho dando prêmios, vendo essa coisa maravilhosa de um soldado da PM trabalhar colocando duas partes do morro em contato e resolvendo os problemas entre eles; mas, ao mesmo tempo, preocupado porque de repente constato, ao ouvir o depoimento dele na televisão, esta situação que venho denunciando há muito tempo: que a falta de escola leva até o idioma a se distanciar de um grupo para o outro, dos que estudam para os que não estudam.

            Aí aproveito para dizer que, em uma realidade como esta, em uma tragédia como esta, o Governo Federal está caminhando, Senador Vital do Rêgo, para reduzir, reduzir o piso salarial do professor. É tão absurdo isso que eu preciso explicar de onde vem esta minha preocupação.

            O piso salarial do professor é uma inovação. Apesar de termos 500 anos de história, isso surgiu recentemente. Durante a Constituinte, o Deputado Severiano Alves, do PDT, colocou artigo na Constituição que permitia criar piso salarial do professor. Eu tenho orgulho de dizer que aqui no Senado eu coloquei o projeto de lei que criou o piso. A Constituição permitia, graças ao Severiano, e eu fiz o projeto de lei que foi aprovado graças ao interesse do Ministro Fernando Haddad, graças ao Presidente Lula. Finalmente, o Presidente Lula sancionou esse projeto. O Brasil passou a ter piso salarial a partir de 2008; não tinha piso salarial para professor. Há piso salarial para todo mundo, há até o salário mínimo, mas o piso salarial do professor não existia. Criamos o piso.

            Eu achava que a luta tinha terminado ali. Nada. Estava começando, porque cinco Governadores entraram na Justiça para dizer que o piso era inconstitucional.

            Eu me lembro de que disse que dizer que o piso salarial do professor era inconstitucional era o mesmo que dizer, em 1888, que a Lei Áurea era inconstitucional, porque cada Estado deveria ter o direito de dizer se teria ou não teria escravo, como, aliás, nos Estados Unidos, em que, durante décadas, a escravidão era aceita em um Estado e não o era em outro. Felizmente, os Governadores de 1888 não eram iguais aos de hoje; nenhum deles entrou na Justiça pedindo a inconstitucionalidade da Lei Áurea, assinada pela Imperatriz em exercício, Princesa Isabel.

            Felizmente, a Princesa Isabel teve sua lei aceita imediatamente. No Brasil, o piso dos professores enfrentou resistência. O pedido de inconstitucionalidade foi para o Supremo e se arrastou por muito tempo. No fim, o Supremo disse: “Esta lei é constitucional”, e criou-se o piso. Mas o piso precisa ser reajustado. A gente não pode criar um piso e dizer que ele vai valer por dez, vinte anos igual. Foi preciso reajustar o piso, que era de R$975,00. Foi necessária uma lei para dizer como reajustar o piso salarial. O Governo Federal tomou a iniciativa de mandar o projeto para o Congresso. Aqui, eu, como Relator, junto com o Ministro, com toda a simpatia que ele tinha, porque o projeto começou com ele, acertamos como deveria ser o reajuste.

            Senador Casildo, o que nós definimos no projeto de lei foi que nos anos de crise não haveria reajuste real; o reajuste seria pelo INPC, ou seja, o professor não perderia. A taxa da inflação seria aplicada a cada ano ao piso salarial, Então, o professor ficaria com o mesmo salário real; não perderia. O valor monetário cresceria de acordo com o INPC, que mede a inflação no período, mas, nos anos em que tivéssemos alguma bonança, tivéssemos uma boa situação, o reajuste seria acima da inflação.

            Qual taxa,Senador Casildo?

            Uma taxa que imaginamos que era boa: todo ano o Governo Federal, quando há bom desempenho na economia, transfere um valor, chamado Fundeb, um valor que vem do Fundo para o Desenvolvimento da Educação de Base (Fundeb) por aluno. Pega o valor total do Fundeb, divide pelo número de alunos e transfere esse dinheiro para o Estado e o Município.

            O que nós dissemos foi o seguinte: “nesses anos bons, em que é possível até ao Fundeb crescer, nós faríamos o reajuste do piso salarial do professor proporcional, na mesma taxa, ao crescimento do Fundeb por aluno”. Ou seja, na mesma proporção do recurso que o Fundeb transfere ao Estado, dividido pelo número de alunos.

            Duas formas. Quando o Fundeb fosse bom, a gente colocaria o reajuste conforme o Fundeb. Isso seria acima da inflação. É impossível este País dar certo se o salário do professor for tão baixo como está. É preciso valorizar.

            O Plano Nacional de Educação, que o Governo propôs, diz que o piso salarial terá que ser reajustado acima da inflação até quando os professores do Brasil tiverem uma remuneração equivalente à dos outros profissionais com a mesma qualificação dos professores.

            O Plano que o Governo está fazendo diz isso. O Plano está sendo discutido na Câmara. E, antes mesmo disso, decide-se rasgar o Plano Nacional de Educação e eliminar a possibilidade de o reajuste ser conforme o aumento dos recursos desse tal de Fundeb. Querem que o reajuste seja apenas conforme o INPC. Ou seja, o professor vai ter sempre o mesmo piso.

            O Sr. Vital do Rêgo (Bloco/PMDB - PB) - V. Exª me permite?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Se houver inflação, reajusta, mas só conforme a inflação. Logo, você reajusta o salário, mas o preço de todas as mercadorias subiu igual. Então, é o mesmo.

            Mas tinha algo mais grave, Senador Vital, a quem, com prazer, concederei o aparte em seguida. É que querem aplicar ao salário, ao piso salarial, o INPC da inflação de doze meses, mas os salários não são reajustados a dezesseis ou dezoito meses. Ou seja, quando você faz as contas, o reajuste que querem dar ao piso salarial do professor será inferior à inflação do período.

            Isso é um crime, Presidenta Dilma, contra o Brasil!

            Como é que este País que gasta 50 bilhões para a Copa, 50 bilhões para as Olimpíadas, 50 bilhões para uma ferrovia, o trem-bala, 50 bilhões para Belo Monte - estou simplificando o número apenas para dar uma ênfase - não consegue transferir aos professores o mesmo reajuste que se dá ao Fundeb, um dinheiro que já é transferido?!

            Quando houve o aumento do salário dos Senadores, há um ano, eu coloquei um projeto de lei dispondo que, toda vez que houvesse um aumento de salário para parlamentar, ia se dar o mesmo reajuste para o piso salarial. É o mínimo que a gente podia fazer.

            Agora, está-se propondo reduzir o valor real do piso. Eu não acredito que isso vá prevalecer quando chegar à Presidenta Dilma, mas é preciso lembrar que a origem da mudança do projeto que elaboramos e de que fui o relator veio por influência do Governo Federal, do Ministério da Fazenda. O Ministro Fernando Haddad está de acordo com essa proposta que nós fizemos aqui e que foi feita conversando com ele. Eu estive no gabinete dele e ele está sensível. Ele é uma pessoa sensível. Não foi ele. Quando eu falo Governo, parece que é uma coisa só, mas não. Têm mais de uma coisa dentro do Governo. O Ministro da Educação estava de acordo com o reajuste do piso salarial dos professores acima da inflação, quando possível. Quando possível! Aí vem o da Fazenda e diz que não, de jeito nenhum. Pior, como eu já disse: a taxa de inflação que servirá para o reajuste do piso é referente a 12 meses, mas os salários não sobem há 16 ou 18 meses. Então, essa taxa de 6,5% é inferior ao aumento dos preços no período. É absurdo imaginar isso!

            Senador Acir, eu confesso que fica difícil ser da base de apoio de um governo que reduz salário de professor. É muito difícil para mim! Como é possível uma coisa dessa?! Eu estou dizendo com sinceridade e esperança: com a sinceridade de dizer que não é possível ficar na base de apoio de um governo que reduz - reduz! - o valor de um piso salarial e com a esperança de que isso não vá acontecer. É perfeitamente possível se negociar ainda; é perfeitamente possível que a Presidenta pense diferentemente.

            Hoje, qual é a situação? A Comissão de Fiscalização da Câmara aprovou a política de que haverá redução no valor real. Haverá uma elevação, mas abaixo da inflação. A Deputada Fátima Bezerra, do Partido dos Trabalhadores, de apoio ao Governo, pediu e está coletando assinaturas para que o assunto chegue ao plenário e seja discutido e modificado a favor dos professores. Eu espero que a Deputada Fátima Bezerra ganhe essa luta que está fazendo. Eu espero que o Plenário discuta outra vez e desfaça o que a Comissão de Fiscalização fez. Que volte ao que o Senado inteiro aprovou e as três Comissões da Câmara aprovaram, e que o reajuste do piso salarial se dê como foi proposto a partir daqui, nas conversas com o Ministro. Que haja duas possibilidades: quando as coisas estiverem bem, a gente reajusta conforme o Fundeb; quando as coisas não estiverem bem, a gente reajusta conforme a inflação.

            Eu faço aqui um apelo para que a Presidenta dê orientação ao Partido, à sua base de apoio, que tem seguido tudo que ela manda, na verdade, ao ponto, Senador Vital, de, às vezes, a gente discutir se temos uma democracia mesmo ou se temos apenas uma maioria tão forte que se impõe independentemente de qualquer coisa. Ela tem condições de propor que a sua base não aprove dessa maneira e, se aprovar, ela tem condições de vetar essa maneira e fazer de uma forma diferente.

            Esse é o apelo que eu faço para que, no Brasil, quando tivermos uma coisa tão bonita como esta de um PM ser pacificador em disputas familiares, em descontentamentos familiares, uma coisa tão bonita, o PM não precise aprender o português local. Que ele chegue lá falando a mesma língua que fala o povo, e que essa mesma língua seja construída numa escola igualmente boa para todos.

            Esse era o meu discurso, Senador. Mas eu vejo dois pedidos de aparte e, com o maior prazer, eu concedo aos dois Senadores.

            Senador Vital.

            O Sr. Vital do Rêgo (Bloco/PMDB - PB) - Senador Cristovam, sempre ouvir V. Exª é motivo, para mim, de aprendizado. Não deixo de fazer registro do seu envolvimento com o País e, principalmente, com os assuntos que versam sobre a educação brasileira. Aí, navegando com as suas palavras, eu me lembrei de que a síntese que eu poderia fazer num aparte, para não fazer nenhum discurso dentro deste aparte, era dizer que essa é uma questão de prioridade. V. Exª traz um assunto que é uma decisão política do Governo, porque é muito clara, é muito transparente essa redução, essa retração àqueles que, sem dúvida alguma, serão os grandes fiadores do Brasil que nós queremos. Há dez anos, houve uma política de priorização nos investimentos de infraestrutura do País. Chegou-se ao ponto de criar o famoso PAC. Por quê? Porque era necessário. O Presidente Lula, em boa hora, entendeu que precisava dar um choque de gestão, atacando a infraestrutura. Criou-se o PAC. Há um ano, eu ouço a Presidente Dilma comprometida com a saúde. E nós estamos trabalhando fortemente - eu falo isso ao lado do Senador Acir - no Orçamento para que, este ano de 2012, seja, Presidente, um orçamento da saúde. Nós estamos injetando na saúde R$12,5 bilhões agora. Então, se V. Exª traz outro assunto, que para mim é tão ou mais importante - quero deixá-lo, pelo menos, no mesmo patamar de prioridade -, por que não o Congresso Nacional dar um exemplo a partir de uma política de valorização dos nossos professores? Porque já é evidente, já é claro: nós estamos andando para trás. Se o Brasil conseguiu, com a comunicação que V. Exª colocou, integrar os nossos dialetos indígenas - e quantas tribos nós temos? -, se nós conseguimos integrar o sotaque do Norte com o do Nordeste, o do Sul com o do Sudeste, se eu posso conversar com a gaúcha Ana Amélia com o mesmo estilo, falando a mesma língua, apesar disso, hoje já há, claramente, com os ruídos do nosso português, com as gírias, com as diferentes formas de falar, duas línguas: a língua da rua e a língua da escola. E, se não cuidarmos, vamos ter a ponte sendo destruída entre essas duas línguas. Vamos integrar, e quem integra, quem é o cirurgião dessa operação é o professor. Se a gente o desmoraliza... Hoje eu vejo que a licenciatura, as oportunidades do ensino superior na área de educação estão cada vez menos atrativas para os jovens. Para que ser professor se não tem sequer aquilo que é elementar na sua sobrevivência física? Então, por isso, é sempre bom ouvir V. Exª. Acho que esse discurso é um alerta. A Presidente Dilma é uma mulher comprometida com a causa da educação - V. Exª conhece a formação -, é uma Presidente que tem a necessidade do tema como um tema de Governo, de Estado, e tenho absoluta certeza de que os erros que V. Exª está colocando serão dirimidos, e nós vamos atacar, colocando a educação como prioridade.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador.

            Quero dizer que, quanto a essa visão dos dois idiomas, se prestarem atenção, conversando com seus eleitores, vão ver que isso acontece. Não foi por uma, duas nem três vezes que ouvi pessoas dizerem: “Eu gosto muito de ver a TV Senado, vocês falando. Só que eu não entendo o que vocês dizem”. Já ouvi mais de uma vez. Eles dizem: “Eu não entendo direito o que vocês falam. Vocês falam difícil comigo”. Já disseram - aliás, não só do conjunto, mas de mim: “Gosto muito, Senador, quando o senhor fala, mas, às vezes, eu não entendo. O senhor fala muito difícil”. Eu teria de mudar a maneira de falar, falar de uma maneira inteligível, e isso significa que temos duas formas diferentes de falar o português. Então, era isso que queria colocar para o senhor.

            Tenho esperança, sim, de que a Presidenta resolva, mas, quando vou negociar, o que me dizem os do Governo Federal? “Falem com os governadores e com os prefeitos. Eles que estão contra”. De fato, são eles que vão pagar mais, até que aconteça o que defendo: a federalização da educação de base. A responsabilidade de educar, de dar educação de base deve ser pelo menos igual à de educar no ensino superior, em que as universidades são federais. O ensino fundamental é, no mínimo, tão importante quanto as escolas técnicas, que são federais.

            Disseram-me: “Fale com os governadores e prefeitos”.

            Então, governadores e prefeitos, se vocês não têm dinheiro, defendam a federalização, coloquem isso nas mãos do Governo Federal, mas não fiquem contra os professores, por favor. Ficar contra o professor é ficar contra o futuro do País.

            Senador Acir.

            O Sr. Acir Gurgacz (Bloco/PDT - RO) - Senador Cristovam, para mim, é sempre um aprendizado lhe ouvir aqui no Senado Federal, da tribuna ou nas nossas reuniões do nosso Partido. E quero me solidarizar com V. Exª na defesa do ensino em nosso País. Nós precisamos fazer com que as crianças possam aprender lá em Rondônia a mesma coisa que aprendem, e com a mesma qualidade, do que aprendem aqui no Distrito Federal, que aprendem lá em São Paulo, que aprendem lá em Porto Alegre, que aprendem lá no Nordeste. Nós precisamos unificar isso. Fazer com todo o Brasil cresça, junto, da mesma forma. E como fazer isso? É por meio do ensino, por meio da unificação, da federalização. E fazendo com que os nossos professores sejam bem remunerados. Nós não podemos imaginar que um professor possa ganhar menos do que um motorista de ônibus. Eu não quero diminuir a categoria, em hipótese alguma.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu entendo.

            O Sr. Acir Gurgacz (Bloco/PDT - RO) - Que não me entendam mal os meus colegas que trabalham junto conosco. Mas um professor tem uma responsabilidade de conduzir a vida futura dos nossos jovens. Assim como o motorista tem a responsabilidade de conduzir um ônibus cheio de vidas dentro de seu veículo, dentro da sala de aula, temos crianças que estão sendo projetadas para o futuro, para a vida lá na frente. Então, precisamos fazer com que os nossos professores sejam bem remunerados, tenham uma qualificação, e que o ensino seja unificado no nosso País, para que o que se aprende lá em Cerejeiras, o que se aprende em Costa Marques, o que se aprende em Ji-Paraná seja a mesma coisa, e com a mesma qualidade, do que os alunos aprendem aqui no Distrito Federal, em Brasília, em São Paulo, em Curitiba, em Fortaleza. O Brasil que quer ser uma das lideranças do futuro precisa urgentemente investir em educação. Tenho certeza de que a nossa Presidenta Dilma também pensa dessa forma, e ela não vai deixar que isso aconteça com os nossos professores, se não seria realmente um problema e uma lástima para todos nós, brasileiros. Meus cumprimentos a V. Exª pelo seu pronunciamento hoje, Senador.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador. O senhor falou como pedetista, que põe a educação em primeiro lugar, como nos ensinou Brizola, Darcy Ribeiro e outros.

            Quero concluir, dizendo, na linha do que o Senador Acir colocou, que um país, Senador Casildo, pode perfeitamente ter desigualdade na roupa, desigualdade de onde passa as férias, desigualdade no tamanho no carro, até não terem carro uns e terem carro outros. Essa desigualdade não é boa, mas é tolerada. Mas há duas coisas que a gente não deveria nem chamar de desigualdade, deveria chamar de imoralidade: quando o acesso à educação e à saúde não são iguais para todos. É claro que umas pessoas têm uma biologia que facilita a saúde. Claro que umas pessoas são mais preparadas ou têm mais vocação ou persistência do que outras, mas não pode haver desigualdade no acesso à educação ou à saúde. Não deveríamos nem chamar de desigualdade, mas de imoralidade uma pessoa viver e outra morrer, porque esta tem dinheiro, e a outra não. Isso é uma imoralidade. Uma pessoa poder estudar, uma criança, porque desta os pais têm dinheiro, e os da outra, não. Isso é imoralidade. Se a gente iguala essas duas coisas, acesso à educação e à saúde, as outras desigualdades vão começar a diminuir, e, se existirem, é porque alguns têm mais talento, mais persistência, mais vocação que outros, mas não porque têm mais dinheiro no banco.

            Não é no berço que nasce a desigualdade. É na escola que a gente constrói a desigualdade ou a igualdade.

            Era isto, Senador, que eu tinha para colocar, o meu descontentamento e a minha esperança de que tudo isso que estou dizendo, que ainda não aconteceu - felizmente, nesta semana é que deve ser votada no Plenário, se a Deputada Fátima Bezerra conseguir -, mas que, nessa votação, se consiga que se volte ao relatório que fiz e que prevê essas duas formas diferentes do aumento do piso salarial: uma, reajustando pela inflação, quando as coisas não estiverem bem - vejam que eu fui responsável -, e a outra, reajustando acima da inflação, quando as coisas forem bem. Como, aliás, a gente vem fazendo com o salário mínimo, que tem sido reajustado com base na inflação e com o PIB. É isso que a gente quer para os professores, e muito menos, porque não se põe PIB, nada disso; põe-se Fundeb.

            É isso que eu tinha para dizer como um recado, como uma sugestão, como um pedido à Presidenta e com muita esperança, na linha mesmo do que falaram o Senador Acir e o Senador Vital, de que ela não vai deixar passar isso, porque ela não deve querer ficar com a marca de que foi a Presidenta da redução do valor do piso salarial.

            O SR. PRESIDENTE (Casildo Maldaner. Bloco/PMDB - SC) - A Mesa quer congratular-se com V. Exª, Senador Cristovam Buarque, pela luta, pelas caminhadas. Aliás, V. Exª é conhecido no Brasil inteiro como o peregrino pela educação.

            Ainda ontem, uma associação de professores do oeste catarinense, situada na cidade de Maravilha, através da Prof. Ivonete, ligou-me: “Maldaner, será que é possível conversar com o Prof. Cristovam Buarque para ele voltar a Santa Catarina, no oeste catarinense, em Maravilha, em meados de março do ano que vem, para dar uma palestra?” Eu disse: “Olhe, faça o ofício, vamos tentar, porque ele é chamado não só no Brasil, mas no mundo para dar palestra, mas vamos tentar”.

            Os cumprimentos a V. Exª também pela menção que fez, no seu pronunciamento, aos condecorados do Instituto Innovare e da Fundação Roberto Marinho.

            Meus cumprimentos.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Senador, é a primeira vez que recebo um convite transmitido ao vivo pela televisão. Eu, mesmo que não quisesse - e eu quero -, teria que aceitar. Então, já está aceito o seu convite, só precisa a gente marcar a data.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/12/2011 - Página 54640