Discurso durante a 233ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da promoção, hoje, da Juíza de Direito Luislinda ao cargo de Desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, JUDICIARIO.:
  • Registro da promoção, hoje, da Juíza de Direito Luislinda ao cargo de Desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia.
Publicação
Publicação no DSF de 21/12/2011 - Página 55123
Assunto
Outros > HOMENAGEM, JUDICIARIO.
Indexação
  • REGISTRO, DECISÃO, CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ), REFERENCIA, POSSE, JUIZ, NEGRO, FUNÇÃO, DESEMBARGADOR, TRIBUNAL DE JUSTIÇA, ESTADO DA BAHIA (BA), IMPORTANCIA, DEFESA, DIREITO A IGUALDADE, PAIS.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Enquanto o Senador Randolfe Rodrigues sobe à tribuna, permita-me aqui transmitir um texto do jornalista, escritor e poeta, Daniel Campos, sobre o fato de hoje ter ocorrido algo que V. Exª tem acompanhado de perto.

Saravá, desembargadora Luislinda Valois, saravá! Luislinda da Luz, saravá! Luislinda Dias melhores, saravá! Luislinda de todos os Santos, saravá! Depois de anos e anos de preconceito, de perseguição, de guerra, a justiça foi feita. Feita como filha de santo, da cabeça aos pés. Kao Kabiesilê! Salve Xangô! Eu, cavaleiro verde, que acompanhei de perto muitas vezes as chibatadas do racismo, do desrespeito e da diferenciação que estalaram sobre essa baiana, lavo, com essa nomeação, as escadarias da minh'alma em águas salgadas para acabar de vez com todo mau-agouro. O doyá Iemanjá! Carrega todo esse período de tristeza pro fundo do mar. Começa uma nova época. A riqueza tão sonhada finalmente chegou para um povo cansado de sofrer. Arroboboi Oxumarê!

A menina que nasceu de um ventre negro, filha de lavadeira e motorneiro de bonde, neta de escravos, sobrinha de uma das grandes mães de santo, renasceu mais uma vez. A mulher que enfrentou a fome, a humilhação e a morte, ocupa, finalmente, com todas as honras e com todas as glórias, uma das cadeiras destinadas aos desembargadores no Tribunal de Justiça da Bahia. Um título que não é prêmio, mas obra de merecimento. Os quilombolas, os ribeirinhos, os rastafáris estão em festa. Uma posse que chega com a batida do atabaque. Luislinda entregou sua vida ao tempo - Iroko i só! Eeró! - e o tempo não lhe faltou. Ontem foi dia de nos curar da dor da injustiça! Afinal, é na segunda-feira que Omolu nos cura de toda e qualquer enfermidade. Atotô!

Eparrei Oyái! lansã venceu mais uma vez. Com a força dos raios e das tempestades, Luislinda mostrou o valor de seu povo. Guerreira como Ogum, jamais abaixou a cabeça. Seguiu sempre em frente tendo o sonho como escudo. Ogunhê! A menina da periferia, desacreditada por muitos, ganhou o mundo. Èpa Bàbá Oxalál Sua nomeação é uma esperança bonita de se ver como Oxum. Ora yê yê ô! Esperança de um mundo mais justo, mais igual, mais humano. E que como Exu, Laoryê Exu, sua posse abra caminho para esse Brasil branco, preto, mulato. E que como eu, os cavaleiros verdes de Oxóssi anunciem aos quatro ventos essa boa nova: Luislinda Desembargadora Valois.

            Luislinda Dias Valois dos Santos, por decisão do Conselho Nacional de Justiça, há duas semanas, registrado por V. Exª, tomou posse hoje como Desembargadora.

            Permita-me, Senador Randolfe Rodrigues, registrar essa boa nova, porque o último prazo para essa primeira juíza negra do Brasil se tornar Desembargadora seria antes de ela completar 70 anos de idade em 20 de janeiro próximo.

            O Conselho Nacional de Justiça, por mérito, por antiguidade, disse ao Tribunal de Justiça: “Ela merece e precisa ser nomeada Desembargadora”, e isso ocorreu hoje, em Salvador, no Tribunal de Justiça da Bahia.

            Avaliei que era importante registrar o fato até em homenagem ao Presidente Paulo Paim, que tem acompanhado a luta por maior igualdade entre as pessoas de qualquer origem em nosso País.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/12/2011 - Página 55123