Discurso durante a 234ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da participação de S.Exa. no evento da celebração da memória do capixaba Américo Buaiz, sexta-feira última, no Estado do Espírito Santo.

Autor
Ricardo Ferraço (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Ricardo de Rezende Ferraço
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro da participação de S.Exa. no evento da celebração da memória do capixaba Américo Buaiz, sexta-feira última, no Estado do Espírito Santo.
Publicação
Publicação no DSF de 22/12/2011 - Página 55305
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PIONEIRO, EMPRESARIO, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES).

            O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco/PMDB - ES. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente desta sessão, Senador Moka; Srªs Senadoras; Srs. Senadores, trago ao conhecimento desta Casa uma cerimônia de que tive a alegria e o prazer de participar na última sexta-feira em meu Estado, oportunidade em que vivemos, no Salão São Tiago, no Palácio Anchieta, sede do Governo do Estado do Espírito Santo, uma tarde tomada de muita emoção e de muito encantamento, porque tivemos a oportunidade de celebrar a vida, a história e a memória de um descendente de imigrante libanês que marcou tempo em nosso Estado por sua capacidade empreendedora, por sua ousadia, por tudo o que representou ao longo do século XX, por assim dizer, na nossa história social, na nossa história econômica. Eu me refiro, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao nosso querido, estimado e saudoso Américo Buaiz, cujas memórias foram registradas no livro que foi lançado.

            Tomo emprestadas as palavras do autor do livro, o historiador e Professor Estilaque Ferreira dos Santos, que, durante mais de um ano, dedicou-se ao estudo, à pesquisa e à vida deste extraordinário capixaba que tanta saudade deixou em meu Estado em razão de seus feitos, de sua generosidade e da forma com que contribuiu em momentos decisivos para a história do meu Estado, colaborando, de maneira efetiva, para o desenvolvimento e a prosperidade no Espírito Santo.

            Américo Buaiz, relata o Professor Estilaque, era filho de um imigrante libanês que chegou ao nosso Estado em 1908, com apenas 16 anos, quando já era órfão de pai e mãe, iletrado e muito pobre, o obstinado Alexandre Buaiz.

            Descrito como um homem trabalhador, honesto e perseverante, Alexandre mourejou durante anos como mascate pelo nosso interior, estabelecendo-se depois disso, com seu comércio, na região central da cidade de Vitória, bem próximo de onde ainda hoje se encontra aquela que foi a maior realização empresarial do nosso querido, estimado e sempre saudoso Américo Buaiz, o nosso tradicional Moinho Vitória.

            Criativo e inovador, Américo diversificou os negócios paternos, enveredando de forma resoluta pelo ramo da indústria, de pregos, de sacos de papel, do refino de açúcar, da moagem de trigo e de outros.

            É importante relatar que, à época, o nosso Estado era hegemonicamente liderado pela atividade da cafeicultura, pela atividade primária, e Américo Buaiz soube diversificar esses ramos da atividade econômica do meu Estado.

            Seu lema, como bem lembrou o querido e estimado empresário capixaba Cariê Lindenberg, amigo do peito de Américo, era o de que, “se tínhamos condições para vender, por que não teríamos condições para produzir?”. É uma atitude que lembra a dos pioneiros industriais de São Paulo - imigrantes libaneses, imigrantes italianos -, cuja maioria era formada por imigrantes que atuavam no comércio de importação e que passaram a substituir suas importações pela produção interna, constituindo, assim, o que podemos assegurar que era a base da industrialização daquele Estado e do nosso País.

            Naquela altura, porém, ou seja, na década de 50, o meu querido Estado, o Espírito Santo, continuava atavicamente vinculado à cafeicultura, e a maior parte de sua população ainda vivia no campo. Nesse período, pelo menos 80% dos capixabas viviam no interior do Estado, onde se praticava uma agricultura de subsistência muito atrasada do ponto de vista tecnológico e que mal dava para fixar com dignidade o homem, a mulher, enfim, as famílias no campo.

            De fato, o Espírito Santo se tornara, naquela época, um exportador de mão de obra para os grandes centros, principalmente para o Rio de Janeiro, em razão da ausência de atividade econômica que pudesse fixar esses capixabas em meu Estado, para que estes pudessem, através de seu sonho, do seu trabalho, do seu talento e da sua vocação, construir uma vida digna para suas famílias.

            A integração da economia regional na nova economia industrial que se projetava no País a partir de São Paulo deixava pouco espaço para o desenvolvimento de uma indústria própria no Espírito Santo, fazendo malograr, assim, qualquer tentativa de diversificação consistente de nossa economia, o que torna mais evidente, mais relevante ainda o trabalho liderado pelo saudoso Américo Buaiz.

            A crise da cafeicultura capixaba se arrastava por alguns anos. A atividade do café é uma atividade sazonal, que passa por períodos de preços que remuneram o produtor e por períodos que deixam o produtor sem a remuneraçao pelo seu esforço, pelo seu trabalho. Mas o fato objetivo é que o Governo Federal, neste momento, coloca de pé a erradicaçao das lavouras de café, tendo como fundamento a necessidade, Senadora Ana Amelia, de diminuirmos a oferta de café para que os preços possam se recuperar. E nada mais, nada menos de 55% da atividade do café foi erradicada do Espírito Santo, aquilo que era a nossa principal base econômica, geradora de mão de obra e oportunidade para os capixabas dos anos 50.

            Lideranças políticas responsáveis e visionárias como Américo Buaiz, como os ex-Governadores Jones dos Santos Neves e Carlos Lindenberg, ex-Senador da República, ambos amigos de Américo Buaiz, não mediram esforços para encontrar uma saída que estivesse à altura dos interesses fundamentais de nosso povo e que pudesse, numa visão de futuro, criar ali as novas bases desse grande Estado, que é o Estado do Espírito Santo. Eles achavam, no início, que uma austera administração dos fundos públicos poderia fornecer os recursos necessários para a busca de uma saída que implicasse a modernização da nossa economia.

            Motivado por essa situação extremamente complexa, Américo Buaiz não se satisfazia com a sua condição de empresário bem-sucedido e de sucessor de seu pai à frente dos negócios da família.

            Envolveu-se por completo, de corpo e alma - em tudo o que fazia, colocava o coração, a paixão -, na criação, em 1954, da Federação do Comérico e da nossa Federação de Indústria, um pouco mais à frente, em 1958. À frente dessa entidade, durante dez anos, ele se empenhou, de maneira patriótica, na formulação e na implementação de um projeto de desenvolvimento econômico para o Espírito Santo que implicava uma atuação positiva dos empresários, visando ao crescimento e à inovação em suas atividades e à própria requalificação do aparelho do Estado, que, no seu entender, deveria exercer um papel significativo no desenvolvimento regional, com o apoio da iniciativa privada.

            A vitória, do ponto de vista de Américo Buaiz, ajudou a definir o rumo modernizante tomado por nosso Estado naquela conjuntura crítica e tem tudo a ver com o desenvolvimento do nosso Estado.

            Por tudo isso, somos da opinião de que, hoje, quando nosso Estado enfrenta grandes desafios, a hora é muito adequada para a publicação de um livro empenhado em resgatar os esforços de desenvolvimento feitos no passado recente por um homem e por uma geração a quem nós, capixabas, e o nosso Estado, o Espírito Santo, muito devemos.

            Fica assim, Srªs e Srs. Senadores, minha homenagem a esse extraordinário homem, a esse extraordinário capixaba, Américo Buaiz, a quem o Espírito Santo tanto deve!

            Meus sinceros parabéns pelo trabalho brilhante, exitoso e detalhado que fez o Professor Estilaque Ferreira dos Santos, lançado na sexta-feira, em meu Estado, que torna viva a memória, a história e a vida desse grande capixaba chamado Américo Buaiz.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/12/2011 - Página 55305