Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Reverência à memória do ex-Senador e ex-Presidente da República Itamar Franco.

Autor
Fernando Collor (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/AL)
Nome completo: Fernando Affonso Collor de Mello
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória do ex-Senador e ex-Presidente da República Itamar Franco.
Publicação
Publicação no DCN de 11/08/2011 - Página 2244
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, AUTORIDADE, SENADOR, FAMILIA, PRESENÇA, SESSÃO SOLENE, HOMENAGEM POSTUMA, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, PERIODO, ORADOR, DURAÇÃO, ESCOLHA, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. FERNANDO COLLOR (PTB - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmo Sr. Presidente do Congresso Nacional, Senador Presidente José Sarney; Exmo Sr. Ministro de Estado das Relações Exteriores, Ministro Antonio Patriota; Exmo Sr. Governador do Estado de Minas Gerais, Antonio Anastasia; Exmo Srs. Senadores, Sr. Senador Aécio Neves, um dos signatários do requerimento para a realização desta sessão; Exmo Sr. Deputado Federal Rodrigo de Castro, também signatário; Exmo Sr. Representante do Governo de Minas Gerais em Brasília, nosso muito querido e prezado Henrique Hargreaves; Srs. Representantes dos Comandos Militares do nosso País - eu gostaria especialmente de me referir ao representante do Comandante do Exército, o ínclito e honrado General de Exército Comandante Enzo; Sr. Representante do Ministério da Defesa; Sr. ex-Governador de Minas Gerais e ex-Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Eduardo Azeredo; Srªs e Srs. Senadores;

            Ex-Senador Arlindo Porto; senhores familiares do saudoso Presidente Itamar Franco: seu irmão, seu sobrinho, Augusto César Franco, suas filhas, Georgiana e Fabiana, seu genro David Forrester, seu neto, Stephen - quem sabe um dia não estará aqui sentado nesta bancada, honrando-a da mesma maneira como fez o nosso Presidente Itamar Franco? -; funcionários que trabalharam com o Presidente Itamar Franco; Srªs e Srs. Parlamentares; minhas senhoras e meus senhores; depois de apresentar requerimento no último dia 4 julho para a realização de sessão especial no Senado Federal, fiz questão de subscrever a solicitação de autoria do Senador Aécio Neves e dos Deputados Antônio Carlos Magalhães Neto e Rodrigo de Castro, a qual motivou a realização da presente Sessão Solene em homenagem ao Presidente e Senador Itamar Franco. Além disso, proferi, no dia 5 do mês passado, discurso reverenciando a memória e a trajetória deste que foi um dos principais personagens da vida pública brasileira nos últimos 35 anos.

            Vivíamos o ano de 1989, momento do reencontro dos brasileiros com as urnas para a escolha de seu presidente quase 30 anos depois da última eleição direta que sufragou, em 1960, o nome de Jânio Quadros como primeiro mandatário da Nação.

            Exercia eu o Governo do Estado de Alagoas, eleito que fui em 1986. Decidi, no decorrer do mandato, concorrer à Presidência da República. Eleito pelo PMDB, dele me afastei no decurso da Assembleia Nacional Constituinte e encontrava-me sem partido. Recebi a visita do então presidente do PJ - Partido da Juventude - Sr. Daniel Tourinho, que me ofereceu a sigla para poder disputar aquelas eleições. Aceitei com entusiasmo o oferecimento, e começamos a trabalhar na reformulação do nome do partido, que passou a se chamar Partido da Reconstrução Nacional - PRN -, e na elaboração de seu estatuto, regimento e programa.

            Tudo caminhava no sentido de minha desincompatibilização das funções de Governador para disputar a eleição, o que acabou ocorrendo em maio daquele ano.

            Faltava-me, contudo, escolher meu companheiro de chapa, o vice-Presidente.

            Intuía eu, e pesquisas posteriores assim indicaram, que o escolhido deveria vir de Minas Gerais. Minha situação eleitoral em São Paulo e no Paraná encontrava-se boa, com tendência de crescimento. Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul eram Estados comprometidos com a candidatura do saudoso Governador Brizola e em Minas Gerais pesquisas mostravam que o eleitorado com intenção de votar comigo pedia que fosse escolhido um vice mineiro. Tudo isso associado ao fato de que Minas Gerais sempre teve participação decisiva nos momentos cruciais da política brasileira em que pontificaram nomes de grande realce e projeção nacional e internacional.

            Decidi então que iria empenhar-me para encontrar entre os filhos daquele tão admirado Estado alguém que pudesse trazer o sentimento das Gerais para a chapa que eu estava compondo.

            Iniciei contatos diversos. Cheguei a convidar o então Governador Hélio Garcia, que declinou do convite por não acreditar nas possibilidades de uma vitória e, ao mesmo tempo, por estar exercendo o mandato de Governador de Minas Gerais. Prossegui entendimentos outros, entre eles com a Deputada Márcia Kubitschek. Não pude atender as reivindicações feitas por ela, o que inviabilizou sua participação.

            Nesse meio tempo, o Deputado Federal Hélio Costa, já simpático à postulação, havia me trazido o nome de um Senador de Minas Gerais por quem tinha ele estima e admiração pela sua determinada atuação no Senado. Levou-me então ao Senador Itamar Franco, à época no PMDB. Conversamos sobre assuntos diversos, sobre nossa visão de Brasil, sobre o cenário político e eleitoral que se delineava. Depois de duas longas conversas em diferentes dias, combinamos que eu iria ao seu gabinete no Senado para fazer oficialmente o convite para que ele comigo formasse a chapa que disputaria a eleição que se avizinhava. Assim foi feito. Tão logo chego ao Senado, encontro o entusiasmo do Senador Ney Maranhão, que me acompanhou até o local do encontro, o Gabinete do Senador Itamar Franco. Convite feito, convite aceito; apertamo-nos as mãos, abraçamo-nos e começamos juntos a trabalhar no programa de governo que iríamos oferecer à sociedade brasileira.

            Foi um período de estreita convivência e expressiva convergência de idéias, objetivos e determinações. Enfrentamos a campanha eleitoral unidos em torno de um projeto comum, efetivamente voltado para os interesses maiores da Nação. O cenário de transformações políticas, econômicas e sociais no mundo, àquela altura, especialmente com o fim da bipolaridade nas relações externas e a consolidação do processo de globalização, demandava uma acurada e abrangente visão de estadista, que pude constar e encontrar em Itamar Franco. Aliado a isso, tive a oportunidade de me valer de sua experiência política e de sua postura nacionalista. Juntos, conseguimos formar uma chapa vitoriosa naquele histórico e inédito pleito de 1989, em que pesem inúmeras opiniões adversas inicialmente emitidas e todas as forças de resistência que tivemos de enfrentar.

            Apesar de tudo, jamais esmorecemos. Em Itamar Franco encontrei um sólido apoio e uma permanente companhia de estímulo, dedicação e aconselhamento.

            Logrado nosso êxito eleitoral, iniciamos o governo focados, primeiro, na reunificação das forças políticas capazes de sustentar o necessário apoio para implantação de nosso projeto de reconstrução nacional; segundo, determinados na implantação de um ousado e urgente plano econômico que fosse capaz de restabelecer a normalidade inflacionária.

            E aqui, Sr. Presidente, José Sarney, Srªs e Srs. Parlamentares e demais convidados, vale resgatar as palavras do então Senador Itamar Franco, em 14 de março de 1990, quando de sua despedida desta Casa para, no dia seguinte, tomar posse neste mesmo Congresso Nacional como Vice-Presidente da República. Por meio delas, pode-se constatar a estatura do homem público e a envergadura do político conciliador que foi Itamar Franco. Disse ele:

A democratização, conquista por todos, foi concretizada na última eleição. Durante vários meses, a Nação assistiu aos candidatos exporem livremente suas idéias. A Justiça Eleitoral soube, irrepreensivelmente, assegurar a livre manifestação dos eleitores.

Houve excessos, tumultos, lutas lamentáveis, mas, como bem disse [e aqui ele se refere a mim] o Presidente Fernando Collor, os episódios eleitorais estão superados. Temos de esquecer esses atritos para buscarmos, juntos, a solução dos diferentes problemas nacionais”.

E continua, mais adiante, com sua humanista visão:

“No instante em que a Nação vivencia um momento de renovação política, consolidam-se as instituições democráticas e legítimas expectativas de um porvir promissor são acalentadas por milhões de brasileiros - hoje angustiados pela crise que assola o País -, impõe-se não só aos governantes, mas a todos os que ocupam uma posição de liderança na sociedade ter presentes as circunstâncias e as especificidades que marcam este quadrante da História da Humanidade”.

            São trechos que bem denotam a essência democrática de Itamar Franco. Após dois anos e meio de nossa posse, ele assume a Presidência da República em virtude de minha renúncia decorrente do processo de impeachment a que fui submetido. No exercício da chefia de Governo, Itamar Franco demonstra sua capacidade executiva e seu perfil estadista, especialmente na composição política, que ele construiu, de apoio à aprovação e implantação do programa de estabilização econômica, o Plano Real.

            Assim, Sr. Presidente José Sarney, Srªs. e Srs. Parlamentares, senhores familiares, ao aquilatar a trajetória e a figura pública de Itamar Franco, restrinjo-me a citar seu principal legado à sociedade brasileira, refletido em duas épocas e duas vertentes distintas: como Senador, sua contribuição ao processo de redemocratização do país ao compor, por dois mandatos consecutivos, a partir de 1975, o grupo oposicionista de resistência ao regime de exceção vivido pelo Brasil até 1985, que teve,a partir daí, como condutor do processo de transição democrática o Exmº Sr. Presidente José Sarney, e como Presidente da República, sua determinação, de Itamar Franco, e acuidade política na implementação do plano de estabilização de nossa economia, que finalmente deu cabo ao processo inflacionário.

            Mais uma vez, permitam-me repetir que Itamar Franco foi um amigo e um companheiro inexcedível nos momentos em que militamos juntos na política. Um homem digno, coerente e, acima de tudo, na inquietude positiva de seu temperamento, um defensor intransigente dos seus ideais. Após um período em que nossos destinos se afastaram, retomamos, por intermédio deste querido amigo Henrique Hargreaves, este ano, o convívio, nesta Casa, pelo exercício da senatória, no qual prevaleceram a amizade, a admiração e o respeito mútuo.

            Assim, senhoras e senhores, rendo as minhas mais sinceras homenagens ao homem público e à pessoa que foi o Presidente Itamar Franco.

            À população mineira, a S. Exª o Sr. Governador, que aqui representa as Minas Gerais, aos seus familiares e amigos mais próximos renovo aqui, mais uma vez, os meus votos de paz e de conforto.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 11/08/2011 - Página 2244