Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Reverência à memória do ex-Senador e ex-Presidente da República Itamar Franco.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória do ex-Senador e ex-Presidente da República Itamar Franco.
Publicação
Publicação no DCN de 11/08/2011 - Página 2267
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, AUTORIDADE, SENADOR, PRESENÇA, SESSÃO SOLENE, HOMENAGEM POSTUMA, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, CONDUTA, ETICA, PRESIDENTE, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do oradora.) - Sr. Presidente desta sessão, Senador Aécio Neves, Deputado Rodrigo de Castro, Sr. Augusto Franco, irmão do nosso grande Itamar, meu amigo Henrique Hargreaves:

            Inicialmente, quero cumprimentá-lo, Senador Aécio Neves, bem como aos demais Senadores Clésio Andrade e Zezé Perrella, pela iniciativa da proposição desta homenagem mais do que justa. É um tributo dos colegas Senadores não apenas mineiros, mas Senadores de todos os Estados a este homem que orgulha demasiadamente a política brasileira e também as instituições democráticas.

            Imagino, Sr. Augusto Franco, que hoje o senhor sinta sentimentos ambivalentes: de um lado, a perda do querido irmão; de outro, no decorrer de tantos pronunciamentos para enaltecer as virtudes e as qualidades de um irmão tão querido, como foi Itamar Franco, o senhor deve estar sentindo, com toda razão...

            Em seu nome, queria cumprimentar as filhas, o genro e também o neto, que, pacientemente, assiste a esta sessão, dando demonstração do carinho que tem pelo avô e pela memória dele.

            É com muito pesar e com muita honra, Senador Aécio Neves, que ocupo esta tribuna, neste final de manhã e início de tarde. Pesar por falar da perda de um amigo; honra por ter a oportunidade de homenageá-lo nesta tribuna.

            Durante o período em que fui jornalista - e foram algumas décadas -, por muitas vezes tive a oportunidade de conversar e entrevistar Itamar Franco. Conhecê-lo de longa data me permite falar de suas virtudes com propriedade.

            O convívio com Itamar gerou em mim respeito e admiração não só por sua carreira política, mas principalmente pela sua postura como ser humano e pela sua conduta ética, que se sobressai agora, neste momento em que nós, aqui, nesta Casa e no País, somos sobressaltados por denúncias graves de corrupção.

            A figura de Itamar Franco continua fazendo ainda mais diferença e exaltando mais a sua grandeza como ser humano e como político. A história já está fazendo justiça à memória de Itamar Franco. 

            Quando assumiu a Presidência da República, em 1992, Itamar Franco tinha diante de si um dos maiores desafios já enfrentados por um político em nosso País: chefiar um País onde as instituições democráticas estavam desacreditadas, a economia fragilizada e a população sem esperanças.

            Itamar assumiu esse desafio com a serenidade e a autoridade moral que o Brasil tanto precisava naquele momento. Mesmo tendo sido eleito na mesma chapa do Presidente que estava deixando o cargo, nosso colega que até há pouco estava aqui, Fernando Collor, Itamar conseguiu demonstrar isenção e independência, montando um Governo de coalizão, do qual participaram as principais forças políticas do País. Isso requer uma grande engenharia, mas, sobretudo, uma grande virtude na capacidade de entendimento, de consenso e de negociação.

            À época Itamar não tinha partido e essa foi uma sinalização importante para que todo o sistema político brasileiro entendesse a sua missão: a de realizar um mandato de transição. Mas, mais do que isso, ele fez tudo isso e hoje, sem nenhum ressentimento, o tempo ajudou, e a grandeza de sentimento, a sensibilidade e a responsabilidade foram vistas aqui nesta Casa, porque muitas vezes eu, como jornalista, observava os colegas fotógrafos, no início do mandato, tentando captar uma imagem que identificasse alguma animosidade, algum desconforto na relação com o colega aqui na Casa. E em nenhum momento, em nenhum momento, Itamar revelou ressentimento, o que revela a grandeza de um grande homem, mas, sobretudo, de um grande político, que faz da civilidade um ato de relação política que engrandece também esta Casa. Presenciei isso, o que me comoveu muitas vezes, por ver a grandeza que teve Itamar Franco nesse relacionamento humano, que, para mim, supera o próprio relacionamento político.

            O então Presidente foi muito além de garantir o fortalecimento das nossas jovens instituições democráticas brasileiras. Aliando conhecimento técnico à sua habilidade política, Itamar montou uma equipe ministerial de caráter técnico. Agora há pouco o Senador Paulo Bauer exaltou nosso Ministro da Educação. Ele venceu a inflação e abriu caminho para um novo Brasil: o Brasil da estabilidade, com o Plano Real.

            Hoje nosso País vive um momento ímpar em seus aspectos econômicos. Os brasileiros dispõem de boas condições de emprego e renda, de alta capacidade de consumo; a moeda está valorizada e, mais do que isso, está sobrevalorizada. A hiperinflação ficou em passado recente. Com a estabilidade econômica o País conseguiu reduzir seus índices de pobreza e também de desigualdade social. O Brasil se tornou um País de oportunidades e os brasileiros puderam ascender econômica e socialmente.

            Concordo com o que disse há pouco aqui o Senador Jarbas Vasconcelos a respeito desses ganhos, que são ganhos de todos os cidadãos brasileiros.

            Itamar Franco foi o Presidente que deu início a este virtuoso ciclo de desenvolvimento.

            Srªs e Srs. Senadores, familiares de Itamar Franco, nosso querido colega, o legado de Itamar vai além das suas ações na chefia dos governos ou no exercício da sua atividade parlamentar. Itamar foi um homem de reputação ilibada, que deu diversos exemplos de como deve ser o comportamento de um homem diante do poder. Itamar sempre pautou suas ações pelo bem público e, em nome disso, em nome dele, sempre procurou abdicar dos privilégios que de o cargo dispunha. Discreto, sempre esteve acima das vaidades do poder.

            O Senado perde muito. Perdeu muito com a morte de Itamar. Em poucos meses, no exercício de seu terceiro mandato nesta Casa, já vinha se destacando pela lucidez, pela coerência e pela coragem na defesa das suas convicções. Realizava uma oposição com muita responsabilidade e inteligência, sempre voltada para defender os interesses não apenas de Minas, que ele, constitucionalmente, teria a responsabilidade de fazê-lo, mas os interesses nacionais.

            Itamar Franco deixa muita saudade no coração dos amigos e um grande vazio na política brasileira.

            Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 11/08/2011 - Página 2267